Faltando apenas quatro dias para as eleições e sabermos, neste pleito histórico com duas mulheres na disputa do segundo turno, quem será a governadora de Pernambuco, a candidata Raquel Lyra (PSDB) aparece na frente nas pesquisas, com oito pontos de diferença da candidata Marília Arraes (SD), de acordo com o Ipec divulgado na terça-feira (25). Nesta reta final, a expectativa é que as candidatas não mudem a estratégia de campanha para não correr o risco de perder votos.
Seguindo essa linha, o cientista político Alex Ribeiro detalhou que, por estar na frente na corrida, o esperado é que a tucana seja mais propositiva e não reaja aos ataques de Marília Arraes, diferente da estratégia de Marília. “Marília precisa crescer e, para crescer em reta final de campanha, ela precisa desconstruir a candidatura de Raquel tentando trazer erros em sua gestão, os apoios bolsonaristas que ela tem em seu palanque. A ideia é aumentar a rejeição de Raquel, enquanto a tucana, por sua vez, deve tentar ser mais propositiva”, observou.
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Enquanto Marília tem o apoio do ex-presidente Lula (PT) no Estado, Raquel usa a estratégia de se manter neutra e não declarar voto em nenhum candidato à presidência. Isso fez com que a tucana atraísse o eleitorado tanto do petista quanto do bolsonarista em Pernambuco, segundo explica o cientista político e professor da UFPE, Arthur Leandro. “Por não estar vinculada a nenhum candidato na disputa nacional, Raquel adotou o discurso de que quem quer que seja o presidente, ela vai buscar diálogo com o governo federal. Ela conseguiu espaço expressivo no sentimento do eleitorado e isso a credencia como a principal candidata neste segundo turno”, afirmou. Vale destacar que a pesquisa do Ipec desta terça também mostrou que Lula tem 69% do eleitorado pernambucano, ante 26% de Bolsonaro.
"Não tem muito tempo para Marília fazer nada de diferente. Qualquer mudança no discurso, na orientação, tende a ser mal visto pelo eleitor. A campanha foi construída dessa forma desde o início. Na verdade, para o ator político Marília Arraes, a candidatura foi forjada ainda em 2018. Então, ela tem a campanha mais longa dos candidatos que disputaram ao governo do Estado”, complementou Arthur.
Já Alex pontuou que o fato de Raquel ter o apoio dos bolsonaristas em Pernambuco pode ter uma implicância negativa na sua votação, já que a maioria do Estado é lulista. “Marília tem que ficar ao lado do efeito Lula, que tem uma porcentagem significativa e isso pode ajudar. Já Raquel tem que se manter propositiva. O que pode fazer com que ela perca votos além do efeito Lula é o apoio dos bolsonaristas, como os Tércios [a deputada federal eleita Clarissa Tércio e o deputado estadual eleito Júnior Tércio, ambos do PP], por exemplo. Apoios da extrema direita que estão em seu palanque. Não é só se tornar neutra na eleição que, por enquanto, é uma estratégia ótima, e sim estar no mesmo palanque com bolsonaristas. Isso pode prejudicar”, disse.
No entanto, como já mencionado, a grande questão é que a tucana também atrai os votos de Lula entre os eleitores pernambucanos. “Associar o seu nome [de Marília] ao de Lula não foi o suficiente para colocá-la em posição de liderança. Não dá para saber que medida a estratégia de não participar dos debates, de não aceitar se expor na campanha a outros candidatos por estar na liderança teve. O fato é que ela encerrou o primeiro turno com uma posição bem menos confortável do que ela esperava ter”, detalhou. O professor da UFPE lembrou da condição gestacional de Arraes, o que implica, naturalmente, numa possível mudança de estratégia.
Arthur Leandro lembrou do pedido da equipe de campanha de Raquel Lyra para adiar o início do guia eleitoral no rádio e na TV em Pernambuco em respeito ao luto pela perda do seu marido, que faleceu na votação do primeiro turno, e que não foi acatado pela equipe de campanha de Marília Arraes. De acordo com ele, a atitude da campanha da neta de Arraes foi vista pelo eleitor como um ato de insensibilidade. “Marília está numa condição feminina delicada, mas não demonstrou sensibilidade a uma outra condição também feminina delicada, que foi a viuvez de Raquel. Nessa ‘disputa’ humanitária, Raquel foi beneficiada”.
O cientista político Alex Ribeiro expôs que o cenário do resultado ainda é imprevisível, diferente do nacional, que a expectativa é que seja apertado. “Não sei se terá uma diferença de 10 pontos, por exemplo. Faltam alguns dias para a eleição e pode ter, de última hora, diminuir essa vantagem e, quem sabe, acontecer alguma surpresa e passar [de Raquel]”. Arthur Leando, por sua vez, corrobora com a expectativa do cenário do resultado. “Raquel conseguiu construir uma grande rede de apoios, como foi o caso de Lula no segundo turno. Se a gente reproduzir essa disputa em nível nacional, Marília não conseguiu ser essa força política tão expressiva em termos locais, como Bolsonaro em termos nacionais”.