A comunidade internacional "está perdendo a paciência" com a atitude dos talibãs, disse um funcionário da ONU durante uma reunião do Conselho de Segurança, que analisou a situação no Afeganistão.
"Acredito que muitos na comunidade internacional estão perdendo a paciência em relação a uma estratégia de diálogo com as autoridades talibãs", declarou Markus Potzel, representante adjunto das Nações Unidas no Afeganistão.
"Houve alguns desenvolvimentos positivos nos últimos meses, mas foram muito poucos e muito lentos e não compensaram os negativos", acrescentou.
Em seu relatório trimestral publicado nesta terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou que "os talibãs permanecem ambíguos quanto à medida em que gostariam de ter contatos com o exterior".
O anúncio dos Estados Unidos, em agosto, sobre a morte do líder da Al-Qaeda, Ayman Al Zawahiri, em um ataque de drone em Cabul "mostrou as ligações contínuas entre o grupo terrorista e o Talibã, o que seria contrário aos compromissos antiterroristas" assumidos por este último, disse ele.
O relatório também denuncia as "restrições severas" ainda impostas pelos fundamentalistas islâmicos aos direitos das mulheres e meninas afegãs, em particular a proibição de frequentar as escolas de Ensino Médio.
De acordo com a ONU, "mais de um milhão de crianças", principalmente na faixa de 12 a 18 anos, não frequentaram a escola no último ano.
Desde seu retorno ao poder, os talibãs anunciaram severas restrições para as mulheres, para que se ajustem à visão extremamente rigorosa que o movimento tem do islã, o que significou o afastamento das mulheres da vida pública.
Em uma declaração conjunta focada na educação das meninas, os 10 membros não permanentes do Conselho de Segurança e os cinco países que farão parte desse órgão no próximo ano pediram ao Talibã "que reverta imediatamente essa decisão".
"A comunidade internacional não esqueceu e não esquecerá as mulheres e meninas afegãs", disseram.
"Trabalhamos muito para ter uma declaração de todo o Conselho, mas não conseguimos", comentou, por sua vez, a embaixadora da Noruega, Mona Juul, à imprensa, sugerindo a oposição de pelo menos um dos membros permanentes com direito ao veto na instância.
Segundo uma fonte diplomática, a China e a Rússia se opuseram a uma declaração conjunta que não incluía um pedido para liberar os bens afegãos congelados desde que o Talibã voltou ao poder.
Na reunião, o embaixador chinês Geng Shuang, enfatizando a necessidade de garantir os direitos das meninas, disse que "os bens afegãos congelados no exterior devem ser usados prontamente para melhorar a vida dos afegãos e a reconstrução econômica".