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No domingo (25), Marwa, uma jovem de 18 anos, desafiou os talibãs armados estacionados em Cabul, com seu cartaz reivindicando o direito das mulheres à educação no Afeganistão.

"Pela primeira vez na minha vida, me senti muito orgulhosa, forte e poderosa, porque me levantei contra eles e reivindiquei um direito que Deus nos deu", disse Marwa à AFP, recusando-se a informar seu sobrenome.

Na terça-feira passada (20), o governo talibã baniu as mulheres do ensino universitário, o que provocou indignação da comunidade internacional.

Alguns grupos de mulheres organizaram manifestações esporádicas contra a proibição, mas as autoridades rapidamente dispersaram a multidão.

Marwa, por sua vez, optou por protestar sozinha.

A jovem visitou a Universidade de Cabul, a maior e mais importante do instituição de ensino do país, no domingo. Por cerca de dez minutos, Marwa, filmada por sua irmã de um carro, manteve-se, corajosa, diante dos guardas talibãs posicionados na entrada do estabelecimento.

Em um vídeo obtido pela AFP, ela aparece segurando, silenciosamente, um cartaz, no qual estava escrito "Iqra" ("Ler", na tradução do árabe).

"Enquanto isso, eles (os talibãs) me insultaram, mas fiquei tranquila", disse Marwa à AFP.

"Queria mostrar o poder de uma adolescente afegã e mostrar que mesmo uma pessoa sozinha pode se levantar contra a opressão", explica.

"Quando minhas outras irmãs (estudantes) virem que uma jovem sozinha se ergueu contra os talibãs, isso vai ajudá-las a fazer o mesmo e a vencê-los", acrescentou.

- Uma prisão -

As manifestações de mulheres são cada vez menos frequentes no Afeganistão desde que os talibãs recuperaram o controle do país em agosto de 2021. As participantes são, regularmente, detidas e sujeitas à violência.

Poucos dias depois da proibição de acesso das mulheres ao ensino universitário, as autoridades também ordenaram que as ONGs parassem de trabalhar com mulheres.

Os talibãs alegam que ambas as proibições foram decididas porque as mulheres não respeitavam o código de vestimenta islâmico. No Afeganistão, as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto e o corpo inteiro.

Nos últimos 16 meses, os talibãs também proibiram os acesso das adolescentes ao Ensino Médio e de mulheres a boa parte dos cargos públicos. Foram, ainda, proibidas de visitar parques, academias e banhos públicos.

Para Marwa, que sonha em ser pintora, morar no Afeganistão é como viver em uma prisão.

"Não quero ser presa. Tenho grandes sonhos que quero realizar. Por isso, decidi protestar", afirma.

O Talibã proibiu as mulheres afegãs de entrar em parques e jardins de Cabul, um dos últimos espaços de liberdade que tinham diante das severas restrições impostas pelo regime fundamentalista islâmico.

No início da semana, os talibãs pediram aos administradores dos parques e jardins que fechassem as portas às mulheres, como constataram os jornalistas da AFP na capital.

Até agora haviam sido estabelecidos horários e dias diferentes para que homens e mulheres não se encontrassem.

"Em muitos lugares, as regras foram violadas", declarou à AFP na quarta-feira Mohammad Akif Sadeq Mohajir, porta-voz do Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício.

"Havia mistura e o hijab (o véu que cobre a cabeça e o pescoço) não estava sendo respeitado. Por isso esta decisão foi tomada", acrescentou.

Sentada em um restaurante em Cabul com vista para um parque da cidade, Wahida observa seus filhos brincarem através do vidro, mas não pode se juntar a eles.

"Não há escola, não há trabalho, deveríamos pelo menos ter um lugar para nos divertirmos", comentou a mãe à AFP, chateada depois que teve a entrada no parque negada.

Desde seu retorno ao poder em agosto de 2021, após 20 anos de guerra e a retirada das tropas americanas, os talibãs adotaram uma interpretação fundamentalista do Islã.

As autoridades não param de cercear as liberdades das mulheres: são obrigadas a usar um véu integral, não podem frequentar o Ensino Médio e são proibidas de viajar sozinhas para fora de sua localidade.

Os parques eram um dos últimos espaços de liberdade.

"Precisamos de um lugar para nos divertir, nossa saúde mental está em jogo. Já estamos fartos de ficar em casa o dia todo, estamos cansados de tudo isso", se desespera Wahida, sem emprego, como o marido.

Na mesa ao lado, Raihana, de 21 anos, compartilha a mesma tristeza. "Estávamos muito empolgadas com a ideia de vir ao parque. Estamos cansadas de ficar em casa", conta a jovem tomando um sorvete com as irmãs.

Estudante de Direito Islâmico, Raihana está confusa com essa nova medida. "Obviamente o Islã permite que você saia e visite parques", diz.

- "Muçulmanos precisam se divertir" -

A vários quilômetros de distância, na parte alta de Cabul, a roda-gigante do parque mais importante do Afeganistão está parada. Também os balanços, vagões e outras atrações de lazer do complexo.

Apenas alguns homens caminham pelas ruas silenciosas do Parque Zazai, criado há mais de seis anos.

Antes das restrições do Talibã, podia receber até 15.000 visitantes por dia nos fins de semana.

O seu co-administrador não compreende esta decisão, que o condena a encerrar o negócio em que investiu 11 milhões de dólares e que emprega cerca de 250 pessoas.

"Sem mulheres, as crianças não virão sozinhas", diz Habib Jan Zazai.

"Gostaria que o Talibã apresentasse razões convincentes", lamenta.

"No Islã você pode ser feliz. O Islã não permite que as pessoas sejam presas em casa", diz este homem na casa dos trinta anos.

"Com essas decisões, vão desencorajar os investidores. E sem empresários que paguem impostos, como vão governar?", questiona.

Mohammad Tamim, de 20 anos, professor de uma escola religiosa na cidade de Kandahar, reduto do Talibã, condena "essa má notícia" enquanto toma chá com amigos no parque.

"Todo ser humano precisa psicologicamente se divertir, estudar... Os muçulmanos precisam se divertir principalmente depois de 20 anos de guerra", defende.

Os talibãs dispersaram com tiros para o alto uma manifestação de mulheres diante da embaixada do Irã em Cabul em apoio às iranianas, com as quais afirmam compartilhar a mesma luta.

O Irã foi abalado nas últimas semanas por protestos após a morte da jovem Mahsa Amini, que havia sido detida em Teerã pela polícia da moral da República Islâmica.

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Com gritos de "mulher, vida, liberdade", 25 mulheres protestaram durante 15 minutos na rua diante da embaixada do Irã. Elas foram dispersadas pelos tiros para o alto dos combatentes talibãs mobilizados no local.

Os guardas também tentaram agredir as manifestantes, segundo os correspondentes da AFP.

As mulheres exibiam cartazes com frases como "Irã levantou, agora é a nossa vez" e "De Cabul ao Irã, diga não à ditadura"

Os talibãs rasgaram os cartazes diante das manifestantes.

As mulheres, algumas de óculos escuros e máscaras, recolheram os cartazes rasgados e formaram bolas de papel para jogar nos talibãs.

Os homens armados também ordenaram que os jornalistas apagassem as imagens dos protestos.

O Irã é cenário de protestos todas as noites desde 16 de setembro, data da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, três dias depois de sua detenção pela polícia da moral por supostamente violar as regras severas impostas às mulheres sobre as vestimentas na República Islâmica, onde devem cobrir o cabelo em público.

"Estamos aqui para mostrar nosso apoio e nossa solidariedade a povo iraniano e às mulheres vítimas dos talibãs no Afeganistão", declarou uma das mulheres na manifestação de Cabul, que pediu anonimato.

- Normas muito rígidas -

Desde o retorno dos talibãs ao poder em agosto de 2021 foram registradas manifestações esporádicas de mulheres na capital afegã e em outras cidades do país, apesar da proibição, seja pela perda de emprego ou para exigir o direito ao trabalho.

Algumas foram foram reprimidas com violência e as ativistas que convocaram protestos foram detidas pelos talibãs.

Após 20 anos de guerra e da saída do exército americano do Afeganistão, o novo governo do país impôs regras muito rígidas para as mulheres, com a exigência do uso de véu integral em público, de preferência a burca.

Também decretaram a separação de homens e mulheres nos parques públicos de Cabul e proibiram a presença das mulheres nas escolas do Ensino Médio na maioria das províncias.

O temido ministério para a Propagação da Virtude e a Prevenção do Vício substituiu a pasta dos Assuntos da Mulher.

Em 10 de setembro, dezenas de jovens protestaram em Gardez, leste do país, quando constataram o fechamento de suas escolas, que haviam sido reabertas uma semana antes sob pressão das alunas e dos líderes das tribos.

Um relatório da ONU denunciou as "restrições severas" impostas aos direitos das mulheres, especialmente no que diz respeito ao Ensino Médio, e pediu aos talibãs a revogação "imediata" da medida.

A suspensão das restrições é uma condição essencial para o reconhecimento oficial do governo talibã, reitera a comunidade internacional.

Até o momento, nenhum país reconheceu o governo talibã.

A comunidade internacional "está perdendo a paciência" com a atitude dos talibãs, disse um funcionário da ONU durante uma reunião do Conselho de Segurança, que analisou a situação no Afeganistão.

"Acredito que muitos na comunidade internacional estão perdendo a paciência em relação a uma estratégia de diálogo com as autoridades talibãs", declarou Markus Potzel, representante adjunto das Nações Unidas no Afeganistão.

"Houve alguns desenvolvimentos positivos nos últimos meses, mas foram muito poucos e muito lentos e não compensaram os negativos", acrescentou.

Em seu relatório trimestral publicado nesta terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou que "os talibãs permanecem ambíguos quanto à medida em que gostariam de ter contatos com o exterior".

O anúncio dos Estados Unidos, em agosto, sobre a morte do líder da Al-Qaeda, Ayman Al Zawahiri, em um ataque de drone em Cabul "mostrou as ligações contínuas entre o grupo terrorista e o Talibã, o que seria contrário aos compromissos antiterroristas" assumidos por este último, disse ele.

O relatório também denuncia as "restrições severas" ainda impostas pelos fundamentalistas islâmicos aos direitos das mulheres e meninas afegãs, em particular a proibição de frequentar as escolas de Ensino Médio.

De acordo com a ONU, "mais de um milhão de crianças", principalmente na faixa de 12 a 18 anos, não frequentaram a escola no último ano.

Desde seu retorno ao poder, os talibãs anunciaram severas restrições para as mulheres, para que se ajustem à visão extremamente rigorosa que o movimento tem do islã, o que significou o afastamento das mulheres da vida pública.

Em uma declaração conjunta focada na educação das meninas, os 10 membros não permanentes do Conselho de Segurança e os cinco países que farão parte desse órgão no próximo ano pediram ao Talibã "que reverta imediatamente essa decisão".

"A comunidade internacional não esqueceu e não esquecerá as mulheres e meninas afegãs", disseram.

"Trabalhamos muito para ter uma declaração de todo o Conselho, mas não conseguimos", comentou, por sua vez, a embaixadora da Noruega, Mona Juul, à imprensa, sugerindo a oposição de pelo menos um dos membros permanentes com direito ao veto na instância.

Segundo uma fonte diplomática, a China e a Rússia se opuseram a uma declaração conjunta que não incluía um pedido para liberar os bens afegãos congelados desde que o Talibã voltou ao poder.

Na reunião, o embaixador chinês Geng Shuang, enfatizando a necessidade de garantir os direitos das meninas, disse que "os bens afegãos congelados no exterior devem ser usados prontamente para melhorar a vida dos afegãos e a reconstrução econômica".

Os talibãs deram gritos de vitória nesta segunda-feira (15) em Cabul, perto da antiga embaixada dos Estados Unidos, para celebrar o primeiro aniversário de seu retorno ao poder no Afeganistão, depois de um ano turbulento marcado por um grande retrocesso nos direitos das mulheres e o agravamento da crise humanitária.

Em 15 de agosto de 2021, os extremistas capturaram Cabul após uma ofensiva relâmpago contra as forças do governo, após o fim da intervenção militar internacional de 20 anos liderada pelos Estados Unidos.

"Cumprimos a obrigação da jihad e libertamos nosso país", afirmou Niamatulah Hekmat, um combatente que entrou em Cabul em 15 de agosto do ano passado.

"Hoje é o dia da vitória e da felicidade para os muçulmanos e o povo afegão. É o dia da conquista e da vitória da bandeira branca do Emirado Islâmico", destacou no Twitter o porta-voz do governo afegão, Bilal Karimi.

A retirada caótica das forças estrangeiras prosseguiu até 31 de agosto, com dezenas de milhares de pessoas correndo desesperadas para o aeroporto de Cabul com a esperança de embarcar em um voo de saída do Afeganistão.

As imagens da multidão invadindo o aeroporto, pessoas tentando entrar nos aviões, incluindo algumas penduradas em aeronaves militares de carga quando estavam prestes a decolar, foram observadas nos noticiários de todo o mundo.

Nesta segunda-feira, feriado no país, muitos talibãs faziam selfies na Praça Masud, que recebeu várias bandeiras brancas do Emirado Islâmico, diante da antiga embaixada dos Estados Unidos.

"Viva o Emirado Islâmico! Alá é grande!", gritaram os talibãs.

Nas ruas de Cabul, a movimentação era pequena, mas como é habitual diversas patrulhas de talibãs eram observadas em postos de controle.

Os combatentes talibãs expressam alegria com o retorno ao poder, apesar da informação das agências de ajuda humanitária de que metade do país de 38 milhões de habitantes enfrenta pobreza extrema.

"Quando entramos em Cabul e os americanos saíram, estes foram momentos de alegria", disse Hekmat, integrante das forças especiais que protegem o palácio presidencial.

- Vida sem sentido -

Mas para os afegãos comuns, em particular as mulheres, o retorno dos talibãs apenas agravou as dificuldades.

Inicialmente, os talibãs prometeram uma versão mais suave em comparação com a linha dura de seu primeiro governo, de 1996 a 2001. Mas rapidamente adotaram uma série de restrições para as mulheres, para cumprir com sua visão rigorosa do islã.

Dezenas de milhares de alunas foram excluídas do Ensino Médio e as mulheres estão impedidas de assumir diversos cargos públicos. Além disso, elas estão proibidas de viajar sozinhas para fora de suas cidades.

Em maio receberam ordens de cobrir o corpo dos pés à cabeça em público, de preferência com a burca.

"A partir do dia em que chegaram, a vida perdeu o sentido", lamenta Ogai Amail, moradora de Cabul. "Nos tiraram tudo, entraram inclusive em nosso espaço privado".

No sábado, em Cabul, os talibãs dispersaram com agressões e tiros para o alto um protesto de 40 mulheres, que defendiam o direito ao trabalho e à educação.

Nesta segunda-feira, 30 mulheres se reuniram em uma residência e publicaram fotos nas redes sociais com frases como "a história do Afeganistão sente vergonha do fechamento das escolas para as meninas".

"Nossa defesa da justiça foi silenciada pelos tiros, mas hoje continuamos pedindo a partir de nossa casa", afirmou uma das manifestantes, Munisa Mubariz.

Embora os afegãos reconheçam a violência diminuiu com a chegada dos talibãs ao poder, a crise humanitária deixa muitos desesperados. A ajuda internacional, que financiava 80% do orçamento afegão, está apenas começando a ser retomada, depois de ser completamente interrompida.

"Pessoas que visitam as nossas lojas reclamam muito dos preços elevados", declarou Noor Mohammad, gerente de um estabelecimento em Kandahar, centro de poder dos talibãs.

Até o momento, nenhum país reconheceu o regime talibã.

Os talibãs dispersaram violentamente, com tiros para o ar e coronhadas, uma manifestação de mulheres exigindo o direito ao trabalho e à educação neste sábado em Cabul, quase um ano depois que os fundamentalistas islâmicos tomaram o poder no Afeganistão.

Cerca de 40 mulheres, que gritavam "Pão, trabalho e liberdade!", desfilaram em frente ao ministério da Educação. Mas cerca de cinco minutos após o início da marcha, um grupo de combatentes do Talibã as dispersou disparando rajadas para o ar.

As manifestantes carregavam uma faixa que dizia: "15 de agosto é um dia sombrio", referindo-se à data da tomada de Cabul em 2021 pelo Talibã.

"Justiça, justiça. Estamos fartas da ignorância", gritavam antes da dispersão.

Os talibãs, em uniforme militar e armados com rifles de assalto, bloquearam a passagem e começaram a atirar para o ar por vários segundos.

Um deles simulou um tiro contra as manifestantes, observou um repórter da AFP.

Algumas manifestantes se refugiaram em lojas próximas, mas foram perseguidas e agredidas com coronhadas.

"Infelizmente, os talibãs que fazem parte dos serviços de inteligência vieram e atiraram para o ar", disse à AFP Zholia Parsi, uma das organizadoras da manifestação.

"Eles dispersaram as meninas, arrancaram suas faixas e confiscaram os celulares de muitas delas", acrescentou.

Munisa Mubariz, uma das manifestantes, prometeu continuar lutando pelos direitos das mulheres. "Se o Talibã quiser silenciar essa voz, não conseguirá. Vamos protestar de nossas casas".

Os talibãs também espancaram alguns jornalistas que cobriam o protesto.

As manifestações de mulheres para exigir mais direitos são cada vez mais raras na capital, especialmente após a prisão no início do ano de várias organizadoras.

- Véu integral obrigatório em público -

Depois de retornar ao poder em agosto de 2021, os fundamentalistas islâmicos acabaram gradualmente com as liberdades que as mulheres conquistaram nos últimos 20 anos, após a queda de seu regime anterior (1996-2001).

O Talibã impôs uma série de restrições à sociedade civil, muitas das quais destinadas a submeter as mulheres à sua concepção fundamentalista do Islã.

Na última restrição, anunciada no início de maio, o governo publicou um decreto, aprovado pelo líder supremo do Talibã e do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, que tornou obrigatório que as mulheres cubram totalmente seus corpos e rostos em público.

O Talibã disse que preferia a burca, o véu geralmente azul que cobre o rosto inteiro com uma malha para esconder os olhos, que já era obrigatório em seu primeiro governo.

No entanto, indicou que toleraria outros tipos de véus mostrando apenas os olhos.

Também determinou que, a menos que tenham uma razão convincente para sair, é "melhor que as mulheres fiquem em casa".

As Nações Unidas e grupos de direitos humanos criticaram nos últimos meses o governo talibã por impor as restrições às mulheres.

A organização Human Rights Watch pediu na quinta-feira que o Talibã "reverta sua decisão horrível e misógina" de banir as mulheres da educação.

"Isso enviaria uma mensagem de que o Talibã está disposto a reconsiderar suas ações mais hediondas", disse Fereshta Abbasi, pesquisadora da ONG sobre o Afeganistão.

Nas últimas duas décadas, as mulheres afegãs ganharam liberdade, voltando à escola ou candidatando-se a empregos em todos os setores.

Atualmente, foram expulsas da maioria dos empregos públicos ou receberam cortes salariais e ordens de ficar em casa.

Isoladas da vida pública pelas restrições ao trabalho, aos seus deslocamentos e à maneira como se vestem, as mulheres afegãs sofrem o peso do retorno do Talibã ao poder há um ano.

Raras são as mulheres que não perderam um parente masculino nas guerras sucessivas. Muitos maridos, pais, filhos e irmãos perderam seus empregos ou viram sua renda cair drasticamente devido a uma crise econômica cada vez mais profunda.

A AFP fez uma série de retratos em grandes cidades afegãs como Cabul, Herat e Kandahar de mulheres que tentam por todos os meios fazer suas famílias sobreviverem.

"Nestes tempos difíceis, meu trabalho me deu sorte", diz Shafari Shapari, uma padeira de 40 anos, à AFP.

"Meu marido está desempregado e fica em casa. Consigo alimentar meus filhos", acrescenta.

As mulheres foram expulsas da maioria dos empregos públicos, ou receberam cortes salariais e ordens para ficar em casa.

Também são as primeiras pessoas a serem demitidas de empresas privadas em dificuldades, especialmente aquelas que não podem garantir a segregação de gênero no local de trabalho, como exige o Talibã.

Mas algumas portas ainda estão abertas.

Rozina Sherzad, de 19 anos, é uma das poucas mulheres jornalistas que conseguiu continuar trabalhando apesar das crescentes restrições impostas à profissão.

"Minha família está comigo. Se minha família fosse contra meu trabalho, não acho que a vida continuaria a ter sentido no Afeganistão", afirma.

Outra mulher fotografada pela AFP começou a apicultura depois que seu marido perdeu o emprego.

Mesmo antes do retorno do Talibã ao poder, o Afeganistão era um país profundamente conservador e patriarcal. O progresso nos direitos das mulheres nas duas décadas de intervenção estrangeira foi essencialmente limitado às cidades.

As mulheres continuaram cobrindo geralmente os cabelos com lenços, e a burca, obrigatória sob o primeiro governo talibã (1996-2001), continuou sendo amplamente usada, especialmente fora da capital.

No início deste ano, a polícia religiosa ordenou que as mulheres se cobrissem totalmente em público, incluindo o rosto.

Dezenas de mulheres e meninas se manifestaram, neste sábado, em Cabul, sob a palavra de ordem "abram as escolas" para protestar contra a decisão dos talibãs de fechar os institutos secundaristas horas depois de terem aberto esses colégios.

Em 23 de março, milhares de meninas chegaram alegres às escolas secundaristas no dia em que o Ministério da Educação estabeleceu para a retomada das aulas.

Porém, algumas horas depois, as autoridades anunciaram que reverteram a decisão, pela qual as jovens disseram se sentir traídas, o que gerou indignação dos governos estrangeiros.

"Abram as escolas!", gritaram as manifestantes, algumas delas portavam seus livros de aula.

Muitas levavam cartazes com a mensagem "A educação é nosso direito fundamental, não é um plano político", antes de se dispersarem após a chegada dos talibãs ao local.

Os talibãs não explicaram sua decisão, que se produziu após uma reunião de altos quadros na cidade de Kandahar, no sul do país, que é a capital de fato e o centro espiritual para esse grupo islâmico radical.

O plano de abrir as escolas para as mulheres foi produzido após meses de trabalho com governos estrangeiros para apoiar o pagamento dos professores.

As meninas e adolescentes afegãs estão sem acesso à educação há sete meses.

Desde seu retorno ao poder, em 15 de agosto, os talibãs reverteram décadas de avanços nos direitos das mulheres, que foram afastadas de muitos trabalhos no governo, impedidas de viajar sozinhas e obrigadas a seguir um código de vestimenta de acordo com uma interpretação rigorosa do Alcorão.

Um dos apresentadores de televisão mais conhecidos do Afeganistão foi detido pelos talibãs, aparentemente por ter noticiado que as autoridades proibiram a transmissão de séries de drama estrangeiras - confirmou o canal de televisão independente TOLOnews, nesta sexta-feira (18).

O apresentador Bahram Aman foi detido na noite dessa quinta-feira (17) nas instalações da TOLOnews, junto com o diretor de Informação, Khpalwak Sapai, e o assessor jurídico Nafi Khaleeq, informou a principal rede independente afegã, em um comunicado.

Os dois últimos foram liberados rapidamente, acrescenta o canal.

"Os três foram presos por divulgarem informações, segundo as quais as autoridades proibiram as emissoras de televisão de transmitirem séries dramáticas estrangeiras", detalhou a empresa.

Um membro da família de Aman, que pediu para não ser identificado, disse à AFP que está "preocupado", pois os talibãs "já haviam ameaçado" o jornalista anteriormente.

Em novembro passado, o Ministério talibã para a Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício proibiu a transmissão de séries de televisão com mulheres, salvo nos casos de promoção de temas islâmicos.

Esta norma já era aplicada de diferentes maneiras e, agora, os talibãs parecem querer aplicá-la de forma mais rigorosa, conforme a TOLOnews.

A notícia da prisão dos três homens provocou uma rápida reação da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA, na sigla em inglês).

Pedimos "a libertação de todas as pessoas detidas pelos homens armados e o fim das intimidações e ameaças contra jornalistas e meios de comunicação independentes", tuitou a ONU.

Um grupo de cerca de 100 mulheres com véu foi às ruas de Cabul, nesta quarta-feira (26), expressar seu apoio ao regime talibã e exigir a liberação dos ativos nacionais congelados por países ocidentais, em um momento de profunda crise humanitária no Afeganistão.

Neste protesto, organizado pelos talibãs, a maioria das manifestantes usava burca, um véu integral com uma rede na altura dos olhos, ou um niqab, que também cobre o rosto, mas permite ver os olhos, observou um jornalista da AFP no local.

Reunidas em frente à antiga embaixada dos Estados Unidos, levantaram cartazes em inglês, pashtun e dari, para afirmar seu "apoio ao emirado islâmico", nome dado pelos talibãs ao seu regime, e exigir "o desbloqueio do dinheiro congelado".

Desde que voltou ao poder em agosto passado, os talibãs dominaram um Afeganistão que enfrenta uma grave crise humanitária.

A ajuda internacional, que representava cerca de 80% do orçamento, foi subitamente interrompida, e os Estados Unidos congelaram US$ 9,5 bilhões em ativos do Banco Central do Afeganistão.

De acordo com a ONU, hoje, a fome ameaça 55% da população.

"Os Estados Unidos deveriam liberar imediatamente o dinheiro do Afeganistão", disse Basri Deedar, diretora de uma escola particular que liderava o manifesto.

"A comunidade internacional não deve usar os direitos das mulheres como desculpa para perseguir os afegãos", acrescentou.

Os talibãs usaram gás pimenta para dispersar um grupo de mulheres que protestava neste domingo (16), em Cabul, exigindo seu direito ao trabalho e à educação - disseram três manifestantes à AFP.

Desde que retomaram o poder no país à força, em meados de agosto passado, os talibãs impuseram, progressivamente, restrições aos afegãos - em particular às mulheres.

Cerca de 20 mulheres se reuniram na frente da Universidade de Cabul, gritando "Igualdade e justiça!". Nas mãos, levavam cartazes que diziam "Direitos das mulheres, direitos humanos".

Os combatentes talibãs chegaram ao local a bordo de vários veículos, usando o gás para dispersar o grupo, relataram as manifestantes.

O grupo islâmico proibiu as manifestações não autorizadas e, com frequência, dispersa à força os atos pelos direitos das mulheres.

As autoridades não permitiram que muitas mulheres voltassem ao trabalho no serviço público e, em alguns casos, as meninas são rejeitadas nas escolas. Também se proibiu a televisão de transmitir séries, por causa da participação de atrizes.

"O Daesh é o Talibã, mas ainda pior". Um dia após o atentado contra um hospital de Cabul reivindicado pelo Estado Islâmico, os moradores da capital do Afeganistão temem o novo inimigo, que utiliza os antigos métodos talibãs contra os atuais governantes do país.

"Os talibãs nos chamavam de infiéis. Agora são eles que morrem porque são considerados infiéis pelo EI", resume um comerciante no bairro do hospital militar atacado, ainda em estado de sítio.

"E nesta guerra, eles não têm nenhuma chance de ganhar", analisa.

Na rua do hospital, onde pelo menos 19 pessoas morreram na terça-feira, segundo um balanço que não é definitivo, um funcionário da limpeza joga água sobre as machas de sangue.

Um guarda talibã aponta com o fuzil para a cerca de arame farpado que ainda têm restos mortais.

"Nós falamos para que não deixassem que veículos circulassem por esta rua. O hospital já havia sido atacado, mas não nos escutaram", disse à AFP um médico que pediu anonimato.

O hospital foi alvo de um ataque em março de 2017, executado por criminosos com uniformes médicos. A ação também foi reivindicada pelo EI.

Durante seis horas eles massacraram as pessoas dentro do edifício. O balanço foi de dezenas de mortos, mas algumas fontes das forças de segurança citaram mais de 100 vítimas fatais.

- Ataque após o atentado -

Para o médico do hospital militar, "Daesh (o acrônimo árabe do EI) e o Talibã são as duas orelhas da mesma cabeça de burro".

"Não sei dizer a diferença, eles têm a mesma barba, a mesma roupa. Para mim, eles são religiosos que atacam os que são diferentes deles, aqueles que não foram educados na religião como eles".

Mas ao falar sobre os métodos, ele tem uma definição: "O Daesh é o Talibã, mas ainda pior. Seus ataques são ainda mais complicados e perigosos".

Desta vez, uma moto-bomba se aproximou da entrada principal do hospital e o piloto detonou a carga explosiva. Em seguida, homens armados abriram fogo e entraram no local.

Após 20 minutos, quando as forças especiais dos talibãs chegaram ao hospital, outro carro-bomba, com aspecto de táxi, apareceu no local, de acordo com testemunhas.

A tática de executar um segundo ataque aproveitando a confusão do primeiro, utilizada pelos talibãs quando eram insurgentes e não aceitavam o governo apoiado pelo Ocidente, virou o pesadelo dos habitantes de Cabul.

"Depois da primeira explosão, eu vi pessoas feridas, mas não podia socorrê-los porque sabia que aconteceria uma segunda explosão, e aconteceu", relata o médico.

- Talibãs inquietos -

Já presentes no resto da cidade, as patrulhas de talibãs armados até os dentes foram enviadas ao local do ataque. Param veículos, verificam documentos, inspecionam as malas.

Hazrat Noor, fazendeiro da região de Yauzyan (norte) que está há várias semanas no hospital de Cabul, afirmou que "não se sentia tão seguro há 40 anos".

"O Daesh não ousará voltar a atacar. Era sua última tentativa, os talibãs são fortes, têm o controle em todos os lados. O Daesh não é nada", afirma o idoso, com uma roupa tipicamente talibã.

Mas os talibãs exibiam uma inquietação um dia após o ataque. Os guardas solicitavam aos jornalistas que evitassem aglomeração "porque a área não estava limpa" e dirigiam olhares suspeitos a qualquer pessoa que se aproximasse do perímetro.

Responsável pela segurança na área, Mohamad Torbi, que estava no local no momento do atentado, afirmou que consegue reconhecer os membros do EI "porque têm sotaque e comportamento diferente".

"Mas ontem estavam com nossos uniformes", explica.

Combatentes do Talibã mataram dois convidados de um casamento por tocarem música, informaram neste sábado (30) autoridades locais e testemunhas, num ato condenado pelo governo talibã.

Um dos parentes das vítimas relatou que milicianos talibãs abriram fogo durante um casamento organizado na cidade de Sorkhood (leste) porque os convidados estavam ouvindo música afegã, matando duas pessoas e ferindo outras duas.

Toda música laica foi proibida pelo Talibã durante seu regime anterior (1996-2001).

Embora o novo governo islâmico ainda não tenha legislado sobre o assunto, ainda considera que ouvir música não religiosa é contrário à sua visão da lei islâmica.

"Os jovens tocavam música em uma sala separada, três talibãs vieram e atiraram neles. Os dois feridos estão em estado grave", disse uma testemunha.

Qazi Mullah Adel, porta-voz da província de Nangarhar, confirmou o incidente sem dar mais detalhes.

Em Cabul, o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, não confirmou a autenticidade do incidente, mas acrescentou que o Talibã se opõe a tais atos.

A adolescente afegã Amena viu dezenas de colegas de classe morrerem quando sua escola foi alvo de um ataque do Estado Islâmico, em maio. Mesmo assim, ela queria continuar estudando, mas os talibãs proibiram.

Os novos líderes do Afeganistão não permitem que a maioria das estudantes do ensino fundamental retomem as aulas. "Queria estudar, ver meus amigos e construir meu futuro, mas não tenho mais esse direito", lamenta Amena, 16, com quem a AFP conversou em Cabul. “Desde a chegada dos talibãs, estou triste e com raiva.”

Em 18 de setembro, os novos dirigentes islâmicos do Afeganistão permitiram que professores homens e meninos a partir de 13 anos voltassem às aulas, mas não as professoras e meninas. Posteriormente, informaram que permitiriam que as meninas voltassem aos centros de ensino fundamental uma vez garantida a divisão por gênero nas salas de aula, o que já era feito.

Algumas jovens puderam retornar aos institutos, como na província de Kunduz, mas a grande maioria permanece sem acesso à educação. Já as escolas primárias foram reabertas a todas as crianças.

- 'Por que não podemos estudar?' -

Amena reside perto da escola Sayed Al-Shuhada, onde 85 pessoas, a maioria adolescentes, foram mortas em ataques a bomba cuja autoria foi reivindicada pelo grupo Estado Islâmico. "Ainda assim, queria voltar para o colégio", diz.

Em vez disso, a jovem vive fechada em casa, com alguns livros e "nada de especial para fazer". Ele sonhava em ser jornalista, mas "agora já não há esperança no Afeganistão".

Os irmãos mais velhos de Amena a ajudam em casa, e de vez em quando ela é atendida pela psicóloga que cuida de sua irmã mais nova, traumatizada após o ataque à escola. “Meu irmão traz livros de história e eu os leio”, conta a jovem. "E sempre vejo as notícias."

Amena não entende por que as meninas têm acesso proibido ao ensino fundamental. "Elas também têm o direito de estudar, são metade da sociedade. Não há diferença entre nós."

Após a invasão dos Estados Unidos que expulsou os talibãs, em 2001, houve avanços na educação das meninas. O número de escolas triplicou e a taxa de alfabetização das mulheres quase dobrou, para 30%. Mas a mudança limitou-se às cidades.

“As mulheres afegãs tiveram grandes conquistas nos últimos 20 anos”, diz Nasrin Hasani, professora de 21 anos, que trabalhava em uma escola do ensino fundamental e se transferiu para uma escola primária. Mas a situação atual "mina nosso moral e o dos alunos. Que eu saiba, o islã nunca criou obstáculos à educação e ao trabalho das mulheres."

Nasrin não foi intimidada pelos talibãs, mas a Anistia Internacional informou que uma professora de educação física havia recebido ameaças de morte e sido convocada a um tribunal local por ensinar a prática de esportes a crianças.

Nasrin se apega à esperança de que os talibãs de 2021 sejam "um pouco diferentes" dos que estiveram no poder entre 1996 e 2001, que proibiam as mulheres de sair sozinhas.

- Sonhos enterrados -

Zainab, 12, lembra-se do dia em que as crianças puderam voltar para a escola. Ela os viu pela janela, com "uma sensação ultrajante". “Eu era feliz na escola”, conta. "Podia estudar o dia todo e sonhar com o futuro. Agora, as coisas pioram a cada dia."

“Se as escolas não reabrirem logo, o ano letivo irá terminar e não poderemos passar de ano", lamenta a menina, cujo nome foi alterado para proteger sua identidade.

Malalay, 16, irmã de Zainab, diz, emocionada, que sente "desespero e medo". “Não saímos, não vamos à escola, está tudo ruim. Os homens não deveriam me privar dos meus direitos. Tenho o direito de frequentar o colégio e a universidade. Todos os meus sonhos e projetos foram enterrados", lamenta.

Em Bamiyan, vale mítico no centro do Afeganistão, os talibãs vigiam as cavidades que abrigavam os dois famosos budas gigantes que seus chefes e companheiros destruíram com explosivos em 2001.

"Os budas foram destruídos pelas autoridades talibãs em 2001", menciona uma placa de bronze gravada, selada na pedra. A bandeira do movimento radical sunita está plantada em uma guarita, onde dois jovens armados parecem muito entediados.

De acordo com Ali A. Olomi, historiador especialista em Oriente Médio na universidade estadual Abington em Penn, Estados Unidos, o mulá Mohamad Hasan Akhund, nomeado primeiro-ministro do governo talibã no mês passado, é "um dos artífices da destruição dos Budas".

Ao ser questionado se, em retrospecto, foi uma boa ideia dinamitar as estátuas - ato considerado um dos maiores crimes contra o patrimônio mundial - Saifurahman Mohamadi, um jovem talibã recém-nomeado para a Direção de Assuntos Culturais da província de Bamiyan, mal consegue esconder sua vergonha.

"Não posso comentar este assunto", disse à AFP.

"Eu era muito jovem. Se fez isso, o emirado islâmico deve ter tido seus motivos. Mas a verdade é que, agora, nós nos comprometemos a proteger o patrimônio histórico do nosso país. É nossa responsabilidade", afirma.

O esplêndido Vale de Bamiyan, localizado a uma altitude de 2.500 metros no coração do maciço do Hindu Kush, é o ponto mais ocidental alcançado pelo budismo, o que fez dele um importante local de peregrinação.

Ao longo dos séculos, as influências indiana, persa, turca, chinesas, mogol e helênica se cruzaram, formando uma encruzilhada de civilizações únicas no mundo e deixando para trás, em vários lugares - muitos dos quais ainda inexplorados -, um patrimônio extraordinário.

Atuais e ex-funcionários da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em Bamiyan, refugiados no exterior, ou que entraram de forma clandestina, garantem à AFP que mil peças de valor inestimável, armazenadas em três sítios em Bamiyan, foram roubadas, ou destruídas, após a volta dos talibãs ao poder em meados de agosto.

- Budas nunca serão reconstruídos -

"Confirmo que houve saques, mas foi antes da nossa chegada", diz Mohamadi.

"Fizemos uma investigação e estamos tentando recuperá-las. Além disso, o trabalho do centro cultural da Unesco continua", completou.

De fato, os jornalistas da AFP observaram que os carpinteiros trabalham nos dois edifícios monumentais que dominam Bamiyan e estão quase concluídos.

Estimado em cerca de US$ 20 milhões e financiado pela Unesco e pela Coreia do Sul, o projeto seria inaugurado no início de outubro.

"Agora tem que ver como vai funcionar", diz, de Bruxelas, o diretor do programa Cultura, do escritório da Unesco em Cabul, Philippe Delanghe.

"Recebemos sinal verde de Nova York. Estou pensando em voltar ao Afeganistão na semana que vem. O atual governo quer que a gente volte. Vou ver como faço para chegar a Bamiyan", acrescentou.

"Estão tentando mostrar que está tudo bem e que estão interessados no patrimônio", explicou o diretor da delegação arqueológica francesa no Afeganistão, Philippe Marquis, que está na França agora.

"Eles se deram conta de que as atividades de proteção do patrimônio geram empregos e uma receita regular", no momento em que a situação econômica do país é desastrosa, acrescenta.

Enquanto isso, pedaços dos Budas jazem sob pobres telhados de madeira e tecidos rasgados pelos ventos do vale. No século XVII, eles sobreviveram aos ataques do imperador mogol Aurangzeb e, no século XVIII, aos do rei persa Nader Shah, que se contentou com desfigurá-los.

Depois de tanto tempo, especialistas mundiais parecem ter chegado a um consenso: eles nunca serão reconstruídos.

Os talibãs anunciaram, nesta segunda-feira (4), que destruíram uma célula do Estado Islâmico (EI) na capital afegã, Cabul, horas depois de um suposto ataque da organização jihadista contra uma mesquita que deixou cinco mortos.

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse que os combatentes fizeram a operação no norte de Cabul na noite de domingo (3).

"Como resultado da operação, que foi muito decisiva e bem-sucedida, o centro do EI foi completamente destruído, e os membros do EI em seu interior morreram", tuitou Mujahid.

Testemunhas e jornalistas da AFP ouviram explosões e disparos na capital no momento do assalto, enquanto imagens publicadas nas redes sociais mostravam uma grande explosão e fogo no local.

Abdul Rahaman, um funcionário do governo em Cabul, disse à AFP que um "grande número" de membros das forças especiais dos talibãs atacou pelo menos três casas em seu bairro.

"Os confrontos continuaram por várias horas", disse ele, acrescentando que não conseguiu dormir pelo som dos tiros.

"Não sei quantos morreram, ou foram presos, mas o combate foi intenso", completou.

A operação foi lançada horas depois de um ataque mortal a um lugar de oração na mesquita de Eid Gah, em memória da mãe de Mujahid, o porta-voz talibã. Ela faleu na semana passada.

Um funcionário da comissão cultural do governo, que pediu para não ser identificado, disse à AFP que cinco pessoas foram mortas, e 11 ficaram feridas. As baixas incluem civis e talibãs.

"Também prendemos três pessoas ligadas à explosão", acrescentou.

Segundo a mesma fonte, o artefato foi colocado na entrada da mesquita. Explodiu no momento em que as pessoas saíam, depois de apresentarem suas condolências a Mujahid e sua família.

Nesta segunda-feira, Mujahid disse à AFP que uma investigação está em andamento, mas que "a informação inicial sugere que grupos ligados ao EI cometeram o ataque".

Tanto os talibãs quanto o braço afegão do EI, conhecido como Estado Islâmico-província de Khorasan, são islâmicos sunitas de linha-dura. Divergem, porém, em temas como religião e estratégia, o que já provocou sangrentos confrontos entre eles.

Quase 1.500 simpatizantes do movimento Talibã se reuniram neste domingo (3) para celebrar a vitória no Afeganistão, no primeiro encontro organizado fora de Cabul, sete semanas após o retorno dos fundamentalistas ao poder.

A concentração aconteceu no município de Kohdaman, perto da capital do país.

No palanque, Mawlawi Muslim Haqqani, vice-ministro de Assuntos Religiosos, elogiou a vitória do movimento islamita que, segundo ele, marca a derrota dos "cristãos e dos ocidentais".

Apenas homens e meninos estavam presentes na celebração, organizada em um terreno baldio.

Do lado de fora, dezenas de guardas armados vigiavam, enquanto os combatentes talibãs chegavam de caminhonetes.

"Estados Unidos derrotado. Impossível. Impossível. Mas possível", afirmava uma das canções de boas-vindas, apesar de a música, em tese, ser proibida pelo movimento islamita.

O ato começou com um desfile de homens armados vestidos com roupas de combate e que exibiam a bandeira do Talibã com a profissão de fé muçulmana. Alguns carregavam lança-foguetes no ombro.

Muitos civis que participaram no encontro usavam roupas tradicionais. A maioria estava desarmada. Quando os organizadores chegaram, eles entoaram o tradicional "takbir", a frase religiosa "Alá Akbar" (Deus é grande) repetida várias vezes. Alguns gritaram slogans pró-Talibã.

Outro orador, que se identificou apenas como Rahmatullah, afirmou que após uma guerra de 20 anos no país, onde os combates parecem ter sido interrompidos, a vitória foi possível graças "às fileiras de jovens que se apresentaram como candidatos ao martírio".

- "Termos" -

"ONU é simplesmente o outro nome dos Estados Unidos e seu mandato consiste em destruir os países muçulmanos. Caso aceitem os seus termos, não farão melhor que o governo anterior", disse Mohamad Akram, líder de um comando Talibã.

Sete semanas após a tomada de poder, o "Emirado Islâmico", novo regime decretado pelos talibãs, tenta estabelecer sua legitimidade tanto entre a população como a nível internacional.

Milhares de afegãos e parte da oposição fugiram do país pelo temor de represálias do movimento fundamentalista.

A oposição civil se tornou impossível. Desde 8 de setembro, o Talibã reprime todas as manifestações e adotam "ações legais severas" contra quem não obedece suas normas.

Nas últimas semanas, combatentes talibãs armados dispersaram manifestações em várias cidades, incluindo Cabul, Faizabad e Herat - duas pessoas morreram nesta última.

Na capital, milícias armadas dispersaram à força as poucas manifestações que reuniram algumas mulheres para exigir o direito à educação.

Ao mesmo tempo, o Talibã convidou 300 mulheres, completamente cobertas por véus, para expressar apoio público ao novo regime em uma conferência organizada na Universidade de Cabul em setembro.

No início de agosto, o grupo anunciou um governo liderado por Mohamad Hasan Akhund, colaborador e próximo ao fundador do movimento, o mulá Omar, falecido em 2013. Todos os membros são talibãs e quase todos da etnia pashtun.

O governo enfrenta o desafio da gestão civil em um país paralisado economicamente e ameaçado por uma grave crise humanitária.

Nenhum país reconheceu até o momento o novo regime do Afeganistão, embora Paquistão, China e Catar tenham apresentado sinais de abertura.

A subsecretária de Estado americana, Wendy Sherman, viajará ao Paquistão durante a semana e pretende abordar, entre outros temas, a maneira de pressionar o novo regime Talibã a respeitar os direitos fundamentais.

O primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, anunciou que, pela primeira vez desde 2014 estão acontecendo negociações de paz com os talibãs no território do país, que representam uma insurgência local e diferente do movimento afegão, embora próximos ideologicamente.

"Penso que dentro do TTP (Tehreek-e-Taliban Pakistan, os talibãs paquistaneses) há grupos abertos às conversações de paz e à reconciliação com nosso governo. E estamos conversando com estes grupos", declarou na sexta-feira ao canal de televisão turco TRT.

O ministro paquistanês da Informação, Fawad Chaudhry, confirmou as negociações, mas não revelou detalhes.

Os atos violentos dos talibãs do TTP começaram em 2007. Desde então, milhares de civis e de membros das forças de segurança paquistanesas morreram em ataques reivindicados por este movimento islamita.

Uma fonte do TTP confirmou à AFP as negociações, que começaram há um mês e ainda não chegaram a nenhuma conclusão.

O Paquistão, acusado pelo governo dos Estados Unidos de ter apoiado a partir de 2001 os talibãs afegãos por meio de seus serviços de inteligência militar, ainda não reconheceu o novo regime de Cabul, apesar de ter sido um dos três países do mundo a reconhecer o governo talibã que administrou o Afeganistão entre 1996 e 2001.

A vice-secretária de Estado americana, Wendy Sherman, viajará ao Paquistão na próxima semana e terá reuniões com autoridades do governo com o objetivo, segundo afirmou, de criar uma "associação forte de contraterrorismo".

"Isto é o Afeganistão", grita com alegria um combatente talibã ao sentar em um barco pirata com alguns colegas de armas em um parque de diversões ao oeste de Cabul.

Com os fuzis Kalashnikov ou MP4 amarrados ao peito, os soldados se agarram a bancos de aço coloridos enquanto são jogados para frente e para trás, com seus lenços e turbantes ao vento.

Eles decidiram que o lança-foguetes que um deles carregava minutos antes deveria ficar no chão. Por precaução.

Os combatentes talibãs parecem tranquilos seis semanas após a chegada do movimento islamita à capital afegã e seu retorno ao poder, duas décadas após a expulsão de Cabul durante uma intervenção internacional liderada pelos Estados Unidos.

Desde então, a população teme o retorno do regime fundamentalista imposto nos anos 1990, quando a maioria das opções de entretenimento - como a música, fotografia e televisão - foram proibidos.

Os islamistas tentam tranquilizar os afegãos e a comunidade internacional e afirmam que serão menos rígidos que no passado. Mas as promessas provocam ceticismo entre os analistas.

Este grupo - com integrantes de 18 a 52 anos - aproveita um pequeno parque de diversões próximo do lago Qarghah, nos arredores da capital afegã. De modo geral, o local atrai famílias e crianças para aproveitar a roda gigante e o carrossel.

Desde que assumiram o poder, milhares de talibãs de todo país, geralmente procedentes da área rural, chegaram a Cabul.

Dentro deste pequeno grupo de combatentes, a maioria entra pela primeira vez em um parque de diversões. Após a volta de três minutos termina, eles aplaudem e sorriem. E o lança-foguetes volta para os braços de seu dono.

Às margens do lago pitoresco, outros membros do Talibã entram em pedalinhos com a forma de cisne, enquanto o sol começa a se pôr atrás das colinas próximas.

Ainda com suas armas, eles partem em pares através da água nos pequenos pedalinhos com as cores rosa, azul, verde e amarelo. Os talibãs sorriem durante os choques dos pequenos barcos.

Vestidos com uniformes de camuflagem ou roupas tradicionais afegãs, eles posam com seus fuzis enquanto amigos tiram fotos.

Alguns membros mais velhos do Talibã aproveitam o momento para rezar no pequeno cais, onde depositam seus xales entre dois botes.

Os talibãs pediram para se dirigir à Assembleia Geral das Nações Unidas, celebrada esta semana em Nova York, informou um porta-voz da organização. O comitê de credenciais terá que decidir sobre o caso, disse à AFP o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, recebeu a carta do grupo na qual "solicita participar" no debate de alto nível, disse Dujarric. A missiva tem data de segunda, 20 de setembro, acrescentou o porta-voz.

É assinada por Amir Khan Muttaqi na qualidade de "ministro das Relações Exteriores", que informa que o representante anterior, Ghulam Isaczai, "não representa mais" o Afeganistão nas Nações Unidas.

Isaczai era o representante permanente do governo afegão deposto em agosto, coincidindo com a retirada das tropas americanas do país, pondo fim a 20 anos de ocupação. A carta assegura que os talibãs nomearam seu porta-voz estabelecido em Doha, Suhail Shaheen, como novo embaixador do Emirado Islâmico do Afeganistão na ONU.

O novo "ministro das Relações Exteriores" talibã assegura que Ashraf Ghani foi "deposto" em 15 de agosto, no dia em que o então presidente deixou o país.

"Países em todo o mundo já não o reconhecem como presidente", diz a carta, segundo a ONU. O porta-voz da ONU também garantiu que o secretário-geral recebeu outra carta de Isaczai, datada de 15 de setembro, com a lista da delegação afegã.

"Após consultas com o gabinete do presidente da Assembleia Geral, a secretaria enviou as duas cartas aos membros do comitê de credenciais da 76ª sessão da Assembleia Geral", informou.

O comitê é integrado por Rússia, China, Estados Unidos, Suécia, África do Sul, Serra Leoa, Chile, Butão e Bahamas. Não é certo que o comitê vá se reunir antes da segunda-feira, quando estava prevista a intervenção do Afeganistão no fórum multilateral.

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