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Em 2011, a cantora e compositora pernambucana Dani Carmesim decidiu bancar uma carreira fazendo rock autoral. Mulher, preta, gorda, e vindo da periferia da Região Metropolitana do Recife, ela reuniu todos os fatores que poderiam ser usados como limitação para sua trajetória e com eles pavimentou um caminho de sucesso, cheio de força e representatividade.

Nesta sexta (26), Carmesim dá início à celebração de suas Bodas de Zinco com a música. Os 10 anos de carreira começam a ser comemorados com o lançamento do primeiro episódio de um documentário que ilustra o ‘corre’ dela e sua banda para produzir o disco Resumo da Ópera, o segundo de sua discografia, que chega para o público no segundo semestre deste ano. 

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O ano de 2021 será de comemoração das 'Bodas de Zinco' de Dani Carmesim. Foto: Divulgação/André Insurgente

Antes de assumir o nome e a carreira solo, Dani passou por algumas bandas locais fazendo backing vocal. Pouco tempo depois, a inquietação da artista que também compõe a fez mudar o direcionamento do seu trabalho a fim de levar suas próprias músicas aos palcos recifenses.

O compromisso com a música autoral, no entanto, veio acompanhado de desafios comuns a (quase) todos aqueles que escolhem a mesma trajetória, como falta de espaço, oportunidade e dinheiro. “Nesses 10 anos eu fiz tudo na raça, tirando do próprio bolso, fazendo do jeito que eu podia, eu mesma junto com André (Insurgente) e com os meninos (da banda). Tudo na base do ‘faça você mesmo’, bem underground mesmo naquela raiz do punk”, diz Dani em entrevista exclusiva ao LeiaJá

Como se tais dificuldades não fossem o bastante, Dani trazia em si própria outros elementos que poderiam transformar a jornada ainda mais desafiadora. E transformaram. “Você não espera uma mulher fazendo rock, já começa por aí; e quando a mulher faz rock você não espera que ela seja preta e nem que ela seja gorda, então são muitos estereótipos que eu venho tentando quebrar. E ainda, uma pessoa periférica fazendo rock.  Se você olhar a história do rock, ele fica ali em volta da galera da classe média, é muito difícil o rock surgir da favela ou da periferia, embora exista isso e as pessoas não deem holofote. A gente não tem espaço pra mostrar”. 

Porém, a roqueira pegou todas as ‘pedras’ que poderiam atravancar o caminho e com elas pavimentou uma estrada sólida. Em seu segundo EP,  Tratamento de Choque (Desconstruindo a Imagem Ideal), lançado em 2012,  ela deixou bem claro que não se intimidaria com tão pouco, nem mesmo com muito, e que a força do seu rock’n’roll havia chegado para ficar. “São 10 anos de luta, de resistência, de quebra de estética, levantando bandeiras. Aos pouquinhos a gente vê que muita coisa já mudou, mas toda luta é árdua. A batalha (para a mulher) é mais longa pra chegar na vitória e nem sempre a gente consegue as coisas do jeito que a gente quer e planeja. Essa é a vida do artista”.

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Bodas de Zinco

A última década de trabalho duro, no entanto, não foi feita apenas de dificuldades e luta. Durante esse tempo, Dani construiu parcerias importantes  na cena musical de Pernambuco, teve seu trabalho reconhecido - como quando ganhou o Sétimo Prêmio da Música de Pernambuco da Associação dos Cantores e Intérpretes de Pernambuco (ACINPE), com seu disco de estreia, Das Tripas Coração; e também quando conquistou espaço em webrádios de todo o mundo, durante a pior crise sanitária enfrentada pelo planeta -; além de ter consagrado seu nome como um dos mais respeitados do rock pernambucano. 

Para comemorar tanta história, Dani Carmesim vai lançar uma série de vídeos, um minidoc sobre essa estrada e, por fim, seu segundo disco, o Resumo da Ópera. Abrindo as celebrações, nesta sexta (26), será lançado Lapada, dose e bronca, com cenas dos bastidores da gravação do novo álbum. Até meados de abril, serão mais dois vídeos como esse (nos dias dois e nove), exibidos através do canal do YouTube da cantora, sempre às 20h. 

“São 10 anos de luta, de resistência, de quebra de estética, levantando bandeiras". Foto: Divulgação/André Insurgente

Já no segundo semestre, chegam um documentário, que conta mais detalhes sobre a carreira de Carmesim, e o seu segundo álbum: “O disco novo faz uma quebra no meu estilo musical, eu acrescentei elementos mais pop e mais dançantes, mas não abandonei o rock’n’roll”, avisa Dani. 

Daqui pra frente, a pernambucana pretende seguir trabalhando árduamente - enquanto assim como milhares de brasileiros aguarda pela vacina contra o coronavírus. Apesar da dificuldade em prospectar um futuro, diante das incertezas impostas pela pandemia, ela não para e, certamente, em breve a comemoração será de Bodas de Porcelana (20 anos). “É uma batalha, uma construção aos poucos. Dolorosa, mas vale muito a pena. Se eu me ligasse só em grana, em fama, eu não tava fazendo arte”. 



 

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