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Fase musical final do artista foi predominante roqueira, com a banda jaboatonense "Má Companhia" ou outros amigos de Candeias. (Nemo Côrtes/cortesia)

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Uma casa colorida, repleta de amigos, música, quadros e de portas invariavelmente abertas. É assim que os frequentadores do “aparteliê” de Lula Côrtes em Candeias, no município de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, descrevem o local escolhido pelo multiartista recifense para viver seus últimos anos de vida. Àquela altura, o mundo inteiro já cabia na cabeça de um pirata que se recusava a deixar de vislumbrar o mar como possibilidade máxima de conexão com outros sons e povos. Dado à uma incorrigível informalidade, Luiz Augusto Martins Côrtes logo entraria para história da música como Lula Côrtes, parceiro de Zé Ramalho em Paêbiru (1975), que conduziu com sua cítara marroquina (apelidada de “tricórdio”) pelas veredas da música experimental nordestina, reencontrando as origens árabes das escalas e timbres locais. Caso estivesse vivo, Lula completaria 70 anos neste maio de 2019, e certamente ainda moraria em Candeias.

“A casa de Lula era assim: se eu chegasse lá oito horas da manhã, começava a fazer alguma coisa. Quando davam 10 horas, ele me chamava para fazer um peixe e eu ia ao mercado comprar um uísque ou uma cana, quando a gente estava nas vacas magras. Aí poderiam chegar pescadores, as amigas dele ou Zeca Baleiro”, brinca Igor Sales, amigo com quem Lula Côrtes dividiu uma de suas moradas em Candeias, além de seu “digitador oficial”, ocupação que derivou da recusa do artista de deixar a escrita à mão. Estudante de comunicação, Igor se aproximou do gênio pernambucano durante as farras em Candeias. Sempre bem frequentado, o apartamento de Lula no bairro, segundo Igor, chegou a ser visitado pelo falecido príncipe da Holanda Johan Friso e por um dos guitarristas dos Rolling Stones, Ronnie Wood, que também era afeito à pintura. “Ele chegou a pintar um quadro pequenininho em Candeias. Lula guardou esse objeto por um tempo, na parede. Depois que morreu não sei onde foi parar”, lamenta Igor.

Assista ao Minidocumentário "Além-mar: os últimos anos de Lula Côrtes em Candeias":

À época, Igor era um estudante de comunicação perdido, interessado em desenvolver seus conhecimentos em pintura, uma das muitas artes que o “mago de Candeias” dominava. “ fizemos um acordo: ele me ajudaria a pintar e eu digitaria no computador os manuscritos dele. Na época, eu tinha uma banda de rock, chamada ‘Transmissão Clandestina’, e ele gostava e tinha muito essa atitude rock n’roll. Era um cara que rasgava a camisa em cima do palco, tomava uma e descia para arengar com alguém no público”, diverte-se Igor.

Apesar disso, ele destaca que o período em que conheceu Lula foi de altos e baixos para o artista. “Ele descobriu um câncer, não sei se foi depois disso que passou a viver um dia de cada vez. Se ele pegasse uma grana agora, a gente ia almoçar num restaurante, depois ia tomar uma não sei onde e, caso chegassem outras pessoas, ele fazia tudo de novo. Agora também acontecia de a Celpe vir e cortar a luz, porque ele esquecia de pagar, ou de faltar comida. Muitas vezes, eu e outros amigos chegamos junto com marmitas”, lembra.

"Digitador oficial": Igor colocou no computador três livros inteiramente manuscritos por Lula. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Paralelamente às oscilações financeiras, Lula parecia produzir como nunca, na música, na literatura e nas artes plásticas. Depois de domar a rebelde caligrafia do artista, por vezes vomitada por fluxo criativo contínuo em enormes folhas de papel A3, Igor calcula ter digitado e ter sido o primeiro a ler pelo menos três livros de Lula Côrtes, alguns deles ainda inéditos. “Ele tinha umas sacadas muito boas e obras interessantíssimas de ficção e poesia. Só que ainda mais interessante do que consumir a obra, era conviver com ele. Era um cara com quem eu aprendia o tempo todo”, completa.

O papa de Candeias

Blusão, sunga e uma rede de pesca. Era só o que Lula Côrtes costumava carregar no corpo em suas andanças diárias à beira do mar de Candeias. Entre os lugares onde era quase certo encontrá-lo estavam a antiga peixaria, o Bar do Rock e o Bar do Xexéu, onde costumeiramente tocavam amigos da cena local como Morcego, Beto Kaiser e Xandinho, membro da Má Companhia (última banda de Lula Côrtes) até hoje. “Abri o bar na orla e, como sou músico, outros artistas passaram a frequentar o espaço. Lula virou uma peça fundamental aqui no bairro, era um ícone da música. Para a gente era uma satisfação tê-lo conosco”, lembra o músico Carlos Roberto Xavier, conhecido como Xexéu.

Bar do Xexéu era parada certa de Lula Cortês em Candeias. (Xexéu/cortesia e Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Com diversos interesses em comum, Xexéu e Lula passaram a se encontrar quase todo dia. “A gente ia andando até o rio, para pescar tabocas. Às vezes, quando ele via que estavam batendo ondas, tirando o referencial pelo Pico dos Abreus, vinha me encontrar no mar. Sabia que eu estaria pescando lagosta e a gente cozinharia junto”, comenta Xexéu. Para o músico, a rotina mudou radicalmente em decorrência de efeitos ambientais negativos causados pela construção do Porto de Suape. Outras intervenções humanas intensificaram os efeitos do avanço do mar e algumas partes da orla do bairro perderam toda a faixa de areia. “Lula sentiu impacto disso tanto quanto nós, locais. Por um tempo, não pudemos mais andar na praia, porque fizeram aterros com areia do fundo do mar, com cascalhos, e até do rio, que algumas pessoas diziam ter micróbios e bactérias. O prédio dele chegou a ter o muro derrubado pelo mar, o que o deixou assustado”, relata Xexéu.

Cada vez mais engajado à cena musical de Candeias, Lula passou a sentir a necessidade de interferir de forma ainda mais profunda na vida do bairro. De acordo com a produtora, jornalista e amiga do artista, Ana Patrícia Vaz Manso, o músico chegou a fundar uma Organização Não Governamental (ONG) chamada Sociedade de Arte Lula Côrtes (SALC). O objetivo da iniciativa seria o de utilizar o espaço de uma das casas em que morou para oferecer oficinas culturais. “Só que a vida dele era de muitas fases e as doenças atrapalharam um pouco esses planos. Apesar disso, ele foi padrinho de várias bandas aqui em Candeias e um verdadeiro embaixador da arte e da cultura de Jaboatão dos Guararapes”, frisa.

Contrastes: o Lula "rocker" foi o mesmo Lula que conquistou o título de cidadão Jaboatonense e assumiu a gerência de cultura da cidade. (Nemo Côrtes/cortesia e Xexéu/cortesia)

O ativismo rendeu ao artista o Título de Cidadão Jaboatonense, concedido no dia 3 de dezembro de 2004, pela Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes. Aos 55 anos, Lula recebeu a homenagem em estado de profunda emoção, segundo relatam amigos. “Para ele, isso daí foi tudo. Lula abraçou esse lugar como se fosse filho do litoral de Candeias”, completa Xexéu.

Retomada

A todo vapor entre seus últimos anos de vida, 2010 e 2011, Lula Côrtes conciliava o novo cargo de gestor de cultura de Jaboatão dos Guararapes com a conclusão dos livros “Aparição”, “Na Casa de Praia” e “Jardim do Éden”, montava novas exposições e pretendia lançar um álbum triplo intitulado “Tarja Preta Lula Córtex Mil Miligramas” com a “Má Companhia”. O trabalho teria nada menos do que 36 músicas, mas não foi concluído nem lançado. “Ele descobriu uma hepatite e a urgência de parar de beber e fumar, então parecia que ele sabia que ia partir e queria deixar muita coisa encaminhada. Após algumas tentativas se viu mal, não estava conseguindo encarar o caminho do cuidado. Foi muito importante para mim quando ele disse: ‘eu vou morrer de viver’”, lembra Nemo Côrtes, filho caçula do artista com a médica Alcione Móes.

Em sua casa, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, Nemo ainda guarda um violão antigo, quadros e vários manuscritos do pai". (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Diante do estado de saúde do pai, Nemo tomou, aos 21 anos, a decisão de se mudar para Candeias. “Eu e minha mãe morávamos no Janga e meu pai tinha tido um ‘bocadinho’ de ausência na minha criação, acho que por causa dessa vida de artista e da própria imagem do homem que reproduz essa alienação. Nosso contato acabou sendo de final de semana”, completa. Para Nemo, o processo de “reconexão” com o pai foi mais do que bem-sucedido. “Foi lindo. Era acordar de manhã, fazer um cafezinho, cuscuz e ovo, para dar aquela força e aí começava o dia. Talvez a pintura fosse o principal eixo de trabalho dele, desde as questões de subsistência à dedicação de horas por dia. Ele tem uma produção que alguns pesquisadores estimam ser de mais de mil obras”, comenta Nemo.

Dentre as temáticas do pai, que iam de coleções como o “Diário Político Poético”- que retratava o cotidiano de localidades como Candeias- a telas que retratavam o zodíaco, Nemo escolhe a dos “atípicos” como predileta. “Nos anos 1970, meu pai e Kátia Mesel, sua esposa na época, fizeram uma viagem por países como Marrocos, onde ele descobriu o tricórdio e a temática musical do nordeste oriental, Portugal e Espanha, inclusive passando por Girona, cidade em que Salvador Dalí morava. Meu pai bateu na porta dele e passou um tempo morando lá”, conta.

De fato, o mestre catalão do surrealismo costumava receber artistas de todo o mundo em sua excêntrica mansão. Talvez tenha sido ele uma das maiores influências do Lula Côrtes pintor. “Meu pai dizia que a coisa mais importante que aprendeu com Dalí foi a limpar os pincéis, que era essencial saber fazer isso. O tema dos atípicos vem desse encontro. É uma viagem com as plantas, os órgãos sexuais, umas coisas meio fálicas ou vulvas”, explica.

Versátil também na pintura, Lula ia do surrealismo a composições paisagísticas. (Betânia Gomes/cortesia)

Agora, Nemo inicia, com alguns parceiros, os trabalhos da Rede Lula Córtex, cujo objetivo é o de resgatar inéditos e divulgar a obra de seu pai. “Ele já tinha demonstrado interesse na criação de um instituto ou algo que perpetuasse o trabalho dele. O projeto leva o nome do trabalho inacabado com a Má Companhia. Na área de literatura já temos três romances revisados”, coloca. Além disso, o grupo se prepara para lançar o “Atípicos”, um mapeamento que objetiva fazer uma cartografia da produção de Lula nas artes plásticas. “Aproveito para pedir a quem tiver alguma obra dele para entrar em contato com a rede, porque vamos catalogar esse material e disponibilizar tudo em um acervo virtual”, apela Nemo.

Peixaria de Candeias

Uma semana antes de morrer em consequência de um câncer na garganta combinado à hepatite, em março de 2011, Lula participou, junto com o músico Zé da Flauta, do show “Vivo!”, de Alceu Valença, em São Paulo, com a proposta de relembrar a estética udigrudi pela qual os três militaram nos anos 1970, ao lado de nomes como Flaviola, Zé Ramalho e da banda Ave Sangria. Sua relevância inquestionável para a música brasileira e mundial (até hoje, seus discos são disputados às tapas por colecionadores estrangeiros) lhe rendeu uma estátua que eterniza sua postura contemplativa diante do mar. Acomodada em um dos batentes que circundam a atual peixaria de Candeias, a estrutura de 1,30m é assinada pelo artista plástico Junior Bola e foi inaugurada no dia 11 de março de 2017. Apesar disso, as partes do concreto que representavam o tricórdio e os braços do artista foram arrancadas por vândalos.

Estátua está em más condições e Peixaria sofre com falta de estrutura e insegurança. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Em termos gerais, a destruição da estátua é só mais um signo do abandono enfrentado pelo tradicionalíssimo Mercado do Peixe, onde atualmente resistem seis peixeiros. Um deles, sem se identificar, disse à reportagem do LeiaJá que as condições de trabalho são atrapalhadas por fatores como a insegurança e a falta de banheiro químicos. No local, a reportagem do LeiaJá encontrou apenas um banheiro químico, que é compartilhado com os transeuntes. “Eles demoram muito para higienizar. Além disso, já fomos vítimas de dois arrombamentos e três assaltos. Por isso, tivemos que começar a fechar a peixaria mais cedo”, lamenta o trabalhador.

Há dez anos, durante a gestão do prefeito Newton Carneiro, os peixeiros foram transferidos para um box a alguns metros da estrutura original, para viabilizar a construção do calçadão de Candeias. Jaboatão, cujo nome vem de “Yapoatan” (do indígena, uma árvore comum na região, utilizada para construir barcos), viu um voraz processo de urbanização substituir as vilas de pescadores por arranha-céus à beira mar, alterando completamente a cadência de Candeias, dentre outros bairros. “Não existe mais a festa do Dia do Pescador, no dia 29 de junho, que era super tradicional na Peixaria. Era dia de sair uma procissão marítima que ia até a Igreja de Piedade e voltava com a imagem de São Pedro. Eu acredito que acabou por falta de incentivo e pelo fato de os pescadores estarem sendo cada vez mais segregados”, comenta o produtor Leonardo Batista, um dos membros do movimento Ocupe Peixaria, cuja pauta gira em torno da revitalização do espaço e sua utilização para finalidades culturais.

Produção do Ocupe Peixaria em reunião de planejamento para organização de evento no espaço. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Amigo e músico parceiro de Lula Côrtes, Allen Jerônimo é um dos moradores de Candeias que está elaborando um projeto de revitalização para a estátua e a Peixaria. “Isso aqui passou muitos anos abandonado, então criamos um grupo chamado 'Somar'. No apanhado que estamos construindo, constam todas as ocupações culturais que estamos promovendo para chamar atenção da prefeitura para o espaço. É nossa forma de mostrar que é viável e que o local pode ser frequentado”, explica Allen.

O sonho de transformar a Peixaria em um espaço cultural que conviva com os peixeiros parece ter sido herdada pela juventude do bairro de seu mais prodigioso mestre. “Lula conversava muito comigo sobre o sonho de criar um palco aberto para os artistas de Candeias. Ele adoraria isso aqui”, conclui Xexéu.

Segundo trem de passageiros do Brasil, com 400 pessoas, partindo do Pátio rumo à Vila do Cabo, em 1858. (Acervo do Museu do Trem)

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O oito de fevereiro não é um dia comemorativo para o Estado de Pernambuco por mera desatenção. Nessa data, no ano de 1858, um trem com 400 pessoas a bordo partia do Pátio das Cinco Pontas rumo à Vila do Cabo e à história ferroviária e urbana do país. Segunda composição brasileira e primeira pernambucana a transportar passageiros, ela percorreu o célebre trajeto sob os trilhos da Estrada de Ferro Recife-São Francisco, inaugurada em 1958, para também se tornar a segunda mais antiga do Brasil. Apesar de sua importância, a estação foi demolida na década de 1960, tendo como último resquício o Pátio das Cinco Pontas, localizado no interior do Cais José Estelita e inscrito como Patrimônio Ferroviário do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Agora, o Pátio das Cinco Pontas corre o risco de ser completamente apagado do mapa do Recife, ao lado dos armazéns de açúcar do Cais José Estelita, que voltaram a sofrer com demolições na manhã desta segunda (25).

“É importante destacar o pioneirismo da Estrada de Ferro Recife-São Francisco, onde, pela primeira vez no Brasil, se estabeleceu o ticket de ida e volta, além do abatimento do valor da passagem das pessoas que construíram casas em seu entorno. Infelizmente, o que sobrou de Cinco Pontas foi o Pátio”, comenta Josemir Camilo, doutor em história pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autor do livro “A primeira Ferrovia Inglesa do Brasil”. Conforme denuncia seu nome, a ferrovia foi criada para chegar ao Rio São Francisco, objetivo que nunca conseguiu concretizar. Apesar disso, a Estrada de Ferro Recife-São Francisco teve seu trajeto prolongado até Garanhuns, no Agreste pernambucano, a partir de onde foi conectada à cidade alagoana de Imperatriz (atual União dos Palmares), através da já existente Estrada de Ferro Sul de Pernambuco.

Registros da antiga Estrada de Ferro Recife-São Francisco, de 1905. (Acervo Fundação Joaquim Nabuco)

De lá, foi novamente integrada a outra linha férrea, desta vez, a Estrada de Ferro Central de Alagoas, estendendo-se até Maceió, Alagoas. “As três foram unificadas quando a Great Western, em 1901 ganhou a concessão da Recife-São Francisco e da Sul de Pernambuco, e em 1903, tornou-se também responsável pela Central de Alagoas. É nesse período que a companhia inglesa cria a chamada Linha Sul”, comenta o coordenador do museu do trem, André Cardoso.

Demolição do Cais José Estelita

Assim, a Sul se tornou uma das três linhas que orientaram a formação do metrô do Recife e parte do desenvolvimento urbano da cidade, intimamente ligado aos trens. Apesar disso, o projeto escolhido para ocupar o espaço do Pátio de Cinco Pontas, de autoria do consórcio formado por Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos, Moura Dubeux e GL empreendimentos, foi intitulado “Novo Recife” e não faz nenhuma referência à história do patrimônio. Nele, está prevista a construção de 12 torres comerciais e residenciais de alto padrão serão erguidos e acomodarão uma estrutura que incluirá “terraços gourmet”, “piscina aquecida” e “quadra de tênis”. “A situação de degradação do Pátio de Cinco pontas é fruto de um duplo desamparo: do governo e das empresas. O Estelita poderia ter seus antigos armazéns mantidos para finalidades sociais e próprio pátio continuar existindo como museu aberto, vivo. Não há como conciliar arranha-céus com uma memória tão chã”, lamenta o pesquisador Josemir Camilo.

Tratores destroem o pouco que restou dos armazéns de açúcar do Cais. (Chico Peixoto/LeiaJáImagens)

A advogada do Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH) Tereza Mansi questiona ainda o leilão do Cais José Estelita. “O Ministério Público Federal entrou com uma ação para anular esse leilão. Como o terreno era Patrimônio da Rede Ferroviária transferido para a União, antes da venda, ela teria que ter dado preferência ao IPHAN, que inclusive já tinha uma parecer demonstrando seu interesse na área”, completa. Posteriormente, a Polícia Federal (PF) verificou que apenas o consórcio se candidatou durante o processo de licitação. “Por fim, o terreno acabou sendo vendido por um valor muito baixo”, conclui a advogada, referindo-se ao subfaturamento de R$ 10 milhões do leilão, também apurado pela PF.

Em reação à retomada das demolições, o Ministério Público Estadual deu entrada em uma ação na 5ª Vara da Fazenda Pública, que demanda a anulação da lei 18.128/2015, que prevê um plano urbanístico para os bairros do Cabanga, Cais José Estelita e Cais de Santa Rita. “Além disso, o CPDH entrou com uma ação popular na 3ª Vara da Fazenda Pública, em que a gente questiona a ilegalidade do início das obras, no qual não foi colocada a placa de transparência com informações sobre a obra. O espaçamento dos tapumes também está em desacordo com a lei. A gente pede para embargar a obra até que essas questões sejam corrigidas”, afirma Mansi. 

Segundo CPDH, tapumes foram colocados em desacordo com a lei. (Chico Peixoto/LeiaJáImagens)

Nesta segunda-feira, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) da Prefeitura do Recife publicou nota alegando que o alvará de demolição dos armazéns do Cais para o empreendimento Novo Recife foi concedido. “O documento foi emitido atendendo à solicitação dos responsáveis pelo projeto e está em conformidade com as normas de licenciamento vigentes, inclusive com anuência do IPHAN. É importante esclarecer que os 28 armazéns próximos ao Viaduto das Cinco Pontas serão preservados e restaurados pelo empreendedores”, informa o comunicado.

Ainda de acordo com a Prefeitura, um novo alvará ainda precisará ser expedido para que as obras sejam iniciadas. “O alvará de demolição concedido estava suspenso pela gestão municipal desde 2014, com o objetivo de rediscutir o projeto. Após amplo debate com a sociedade, o novo projeto, com 65% da área para uso público, foi aprovado em 2015. Vale salientar que, entre as melhorias no projeto, uma delas é o início das obras pela parte de uso público”, conclui a nota.

Também nesta segunda-feira, a reportagem do LeiaJá acompanhou o processo de demolição e a participação de ativistas e autoridades contrários à obra. Confira no vídeo a seguir:

Após a liberação do alvará de demolição do Cais José Estelita na manhã desta segunda-feira (25), e o início das intervenções do Consórcio Novo Recife, um grupo já se reúne na localidade em oposição ao empreendimento Mirante do Cais. Entre os tapumes e a retroescavadeira, um princípio de confusão foi registrado.

Sob o lema de "Ocupar e Resistir", manifestantes do Ocupe Estelita realizam frente em contraposição ao projeto Mirante do Cais, que prevê a construções de espigões no local. "A gente tem testemunhado o poder público servir como agente do interesse privado", declarou um dos representantes do Ocupe Estelita, Leonardo Cisneiros ao LeiaJá. "Vão dizer que está tudo legal, mas o que a gente sabe é que tudo foi distorcido para favorecer o interesse privado. O alvará saiu em tempo recorde", complementou.

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O representante do movimento garante que o grupo vai brigar para suspender a autorização e afirmou que a mudança veio por pressão da PCR.  "A Fundarpe chegou a dizer para preservar partes desse galpão, mas depois mudou de ideia por causa da pressão da prefeitura e da atuação do João Braga”. Mesmo com o novo projeto apontando 65% de espaço público, para Leonardo Cisneiros o empreendimento não preservará elementos que antes eram preservados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), “a demolição é só uma parte, o projeto não está autorizado. Tem duas ações pendentes, até o parecer do Iphan indica a preservação de certos elementos do terreno que não são compatíveis com o projeto".

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Com informações de Jorge Cosme

Esqueça os shoppings. Ao contrário do que pode parecer, o centro do Recife está recheado de boas opções de restaurantes, bares e cafés que, além de boa comida, oferecem a experiência de vivenciar a cidade, fazendo uso de alguns de seus espaços mais esquecidos. São lugares criados com o objetivo de fazer reviver estes espaços, ou ainda, outros  que resistem ao passar do tempo e ao crescimento desmedido da metrópole, mantendo sua atmosfera cheia de memórias afetivas e tom nostálgico. Confira este roteiro com alguns dos pontos mais vivos do centro do Recife.

1 - Restaurante São Pedro

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Localizado na casa de número 52, no Pátio de São Pedro, o restaurante, comandado pelo chef Thiago das Chagas, é dedicado às iguarias do mar e faz questão de adicionar aos seus temperos a adoração pelo largo de São Pedro. O restaurante abre de segunda a sexta, durante o almoço (12h às 15h), e trabalha com insumos trazidos de um sítio localizado em Goiana e outros produtos frescos vindos do vizinho Mercado de São José.

2 - Mate Brasília

Em meio às barraquinhas do Sebo, no centro, o Mate Brasília conserva suas delícias há 33 anos. O lugar oferece diferentes tipos de chás gelados, leite maltado, salgados e bolos, além da atmosfera de clássico do Recife. Funciona de segunda à sexta, das 8h às 19h, e sábado, das 8h às 13h; na rua Siqueira Campos, 279, bairro de Santo Antônio.  

3 - Bule Vegetariano

É em um sobrado preservado da avenida Manoel Borba que funciona o Bule Vegetariano. O restaurante fica dentro do espaço Oasis, aberto com a proposta de ocupar esse pedaço do centro, dando-lhe novo uso e manutenção. Lá é possível encontrar um cardápio vegano, no almoço e no jantar, kit festas e, ainda, refil de suco verde diretamente saído da parede. Funciona de terça a sábado, no número 861 da Manoel Borba, na Boa Vista.

4 - Sovaj Veg Bar

Rua Princesa Isabel, esquina com a Sete de Setembro. Um endereço talvez pouco provável para um bar vegano, mas foi este o local escolhido para o Sovaj. O local também se propõe a dar nova cara e uso para o centro com instinto de resistência. No cardápio, anéis de cebola empanados na cerveja e molho barbecue, coxinha vegana e caipirinha, entre outros quitutes e drinques. De terça a sábado, a partir das 18h.

5 - Café Lumiere

Mais uma opção para veganos e vegetarianos, é o Café Lumière. Localizado na rua da União, em Santo Amaro, o espaço vai além do seu interior, se aproveitando das calçadas, para que os clientes possam apreciar seu café junto com o vai e vem da rua. Além de diversos tipos da bebida quente, também oferece doces e saladas.

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6 - Villa Ritinha

O antigo casarão, fundado em 1835, na rua da Soledade, Boa Vista, deu abrigo para a Casa Cultural Villa Ritinha. O espaço é um café-bistrô que mistura arte - exposições, concertos e cursos - com gastronomia. Funciona de terça a sábado, das 13h às 21h.

7 - Delta Expresso Cais do Imperador

Localizada na Estação Ecoturística Cais do Imperador, em pleno coração do centro, no bairro de Santo Antônio, o café oferece, além de seu cardápio, uma bela vista para o rio Capibaribe e as pontes Giratória e Maurício de Nassau. De segunda a quarta, das 8h às 21h, e quinta a domingo, das 8h às 22h.

8 - Mercearia do Braz

Outro antigo sobrado restaurado e ocupado com o objetivo de manter o centro vivo e ativo. A Mercearia do Braz fica na rua Visconde de Goiana, no bairro da Boa Vista, e oferece, além do happy hour, uma variedade gastronômica chefiada por Andrea Pires. Aberto nas quartas e quintas, a aprtir das 17h; e sextas e sábados, a partir das 12h.  

9 - Padaria Santa Cruz

Não poderia ter sido batizada de outra forma uma padaria localizada ao lado do Largo de Santa Cruz, no bairro da Boa Vista. O local mantém seu ar tradicional, com produtos embalados em papel amadeirado e barbante, e seus quitutes artesanais. Na rua da Santa CRuz, 101, todos os dias, das 5h às 19h30.

10 - Vegostices

O Vegostices tem almoços e lanches veganos, além de uma lojinha com vários itens como produtos de beleza veganos e objetos decorativos. Mas, o local também oferece uma incrível vista para o centro do Recife. Localizado no prédio que abriga o cinema São Luiz, na rua da Aurora, Boa Vista, da janela é possível ver o rio, pontes, e o vai e vem frenético do centro. De segunda a sexta, das 11h40 às 17h.

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Após a ação de reintegração de posse do Pátio Ferroviário das Cinco das Pontas, no Cais José Estelita, iniciada pela Polícia Militar na manhã desta terça-feira (17) – segundo os manifestantes, de forma truculenta – o Ministério Público Federal (MPF) enviou uma nota oficial à imprensa, repudiando o ato.

O MPF enumerou seis pontos para justificar o repúdio, entre eles, o fato do Novo Recife estar impedido de executar qualquer obra ou demolição no local e o desrespeito aos protocolos de execução de ordens de reintegração de posse das Secretarias de Defesa Social e de Direitos Humanos, que visam à desocupação pacífica e à garantia da integridade física dos ocupantes.

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Segundo o MPF, o mandado de reintegração de posse foi cumprido de forma arbitrária e com medidas típicas de cumprimento de ordens contra criminosos, sem conhecimento prévio do Ministério Público e dos representantes do movimento de ocupação.

Leia a nota na íntegra:

O Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco, surpreendido com a notícia da reintegração de posse da área do Pátio Ferroviário das Cinco das Pontas, no Cais José Estelita, no início desta terça-feira (17/6), vem a público repudiar o ato executado pela Polícia Militar, pelas seguintes razões:

(1) desde a noite dia 21 de maio de 2014, ativistas, após impedirem a continuidade das obras demolição iniciadas no mesmo dia sem o conhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério Público e da Justiça Federal, ocupavam área do imóvel até o início do dia de hoje, em protesto, como é notório;

(2) no dia seguinte, em 22 de maio de 2014, a Justiça Federal reconheceu a ilegalidade da demolição e, a pedido do MPF, suspendeu imediatamente qualquer demolição/construção no local, decisão contra a qual não foi interposto recurso. O Iphan, no mesmo dia, também embargou as obras. Portanto, o Consórcio Novo Recife está impedido de executar qualquer obra no imóvel;

(3) no dia 29 de maio de 2014, foi expedida ordem de reintegração de posse monocraticamente pelo Juiz Márcio Aguiar, atuando em substituição no Tribunal de Justiça de Pernambuco. Desta decisão recorreu o Ministério Público Estadual, através da Procuradoria de Justiça, desde o dia 02 de junho de 2014, embora o recurso não tenha sido julgado até o momento ;

(4) desde o início da ocupação, os Ministérios Público Federal e Estadual, por meio das procuradoras da República Carolina Furtado e Mona Lisa Ismail e pelos promotores de Justiça Maxwell Lucena Vignoli e Ricardo Coelho, realizaram reuniões com as partes envolvidas no intuito de intermediar as negociações para a desocupação pacífica do imóvel pelos manifestantes. Após o convite formulado pelo MPF e pelo MPPE ao prefeito do Recife para participar direta e pessoalmente das negociações, o debate foi ampliado por iniciativa do prefeito, que incluiu a participação de outros atores da sociedade, tendo sido acordado que seria apresentada uma proposta de redesenho do projeto com o fim de celebração de acordo;

(5) não obstante a proposta de acordo formalizada aos Ministérios Públicos pelo Município do Recife na data de ontem, o mandado de reintegração de posse foi cumprido de forma arbitrária e com medidas típicas de cumprimento de ordens contra criminosos, sem conhecimento prévio do Ministério Público e dos representantes do movimento de ocupação, descumprindo todos os protocolos de execução de ordens de reintegração de posse das Secretarias de Defesa Social e de Direitos Humanos, que visam à desocupação pacífica e à garantia da integridade física dos ocupantes;

(6) após a prática desse lamentável ato, o Ministério Público Federal, como órgão de defesa da cidadania, questiona a maneira pela qual o ato foi executado, ao mesmo tempo em que reitera a defesa do direito de manifestação popular pacífica, bem como do cumprimento dos acordos firmados entre órgãos públicos, representantes da sociedade civil e do setor privado, visando à solução legal dos conflitos e à proteção dos interesses difusos, coletivos e individuais do cidadão.

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