Tópicos | olimpíadas 2024

Nascido na periferia de Nova Iorque (EUA), no início da década de 1970, o movimento Hip Hop logo se expandiu mundo afora. A força dos quatro elementos que representam essa cultura - breaking, DJ, rap e o grafite - garantiram que ela tivesse potencial suficiente para subverter as dificuldades mais óbvias possíveis, sendo essa uma expressão originária dos guetos e de base fundadora fixada na cultura negra. 

Meio século após seu surgimento, o Hip Hop ultrapassou os limites das periferias. O movimento  ganhou um dia para chamar de seu (12 de novembro, Dia Mundial do Hip Hop) além de ter conquistado seu espaço nas paradas musicais do mainstream, através do rap; nas galerias de arte, com o grafite;  e possivelmente, nas Olimpíadas de Paris, em 2024, com o breaking dance, a popular dança de rua. A modalidade, é ligada à Federação Mundial de Dança Desportiva e foi disputada nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires, em 2018. A experiência agradou ao Comitê Olímpico Internacional (COI) que deve decidir até o final de 2020 sobre sua inclusão nos jogos que acontecerão na Europa. 

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O Brasil conta com um elenco estrelado de profissionais do break dance. O paranaense Fabiano Carvalho Lopes, o Neguin - campeão mundial pelo Battle Pro de 2019 -; o cearense Mateus Melo, o Bart -  vencedor nacional do BC One, o torneio mais importante do país, em 2018 -; e a mineira Isabela Rocha, a Itsa, que além de bgirl também é dançarina do Cirque du Soleil; são só alguns exemplos. Isso sem contar com a lenda viva da dança de rua, Nelson Triunfo. 

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Conhecido como o ‘pai do Hip Hop’ no país, Triunfo, o Nelsão, foi um dos maiores responsáveis pela disseminação do break dance em solo nacional e há mais de cinco décadas é tido como uma grande referência. O artista deixou o sertão de Pernambuco para ganhar o Brasil com sua dança no início da década de 1970 e, desde então, o Estado vem revelando vários outros talentos no breaking, um deles é o bboy Marcos Gaara. 

Gaara tem apenas 25 anos de vida, dos quais a metade passou dançando. Quando criança, ele começou a praticar a dança e outros esportes para dar vazão ao excesso de energia, já que “não parava de dar cambalhotas” dentro de casa. Mas, o que parecia ser apenas uma terapia para o menino super ativo acabou se tornando profissão e hoje o bboy viaja o país mostrando sua arte e participando de competições. 

Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens

A  trajetória na carreira de Marcos, no entanto, não foi de todo tranquila. Morador da Bomba do Hemetério, bairro da Zona Norte do Recife, o artista precisou dar muitas piruetas para se destacar na cena. A falta de recurso foi sendo driblada com muito esforço, a medida que participava de projetos e também fazia seus 'corres' com outros bboys dançando nos sinais da capital pernambucana.  “A gente foi treinando, passamos perrengues juntos, fomos sentindo a evolução, muitos desistiram outros continuaram como eu”, relembra. 

O preconceito, ainda enfrentado por quem abraça a cultura Hip Hop, também foi um desses ‘perrengues’ que Gaara precisou enfrentar até mesmo dentro de casa. “O bboy ser um artista profissional é uma coisa que ainda está tendo uma adequação, pra gente e para o público. O Hip Hop é uma coisa marginalizada, então você acha que a pessoa vai tá ali pra se drogar ou só pra passar o tempo e não é assim. Já tô há 12 anos na cultura, competindo, trabalhando, e o resultado é sólido. Agora eu consigo ajudar minha família, que antes era contra, com a minha arte”. 

Entre esses resultados positivos da dedicação e do trabalho, estão temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, com participações bem sucedidas em competições. Gaara também é membro do Gang Gangrena, coletivo de bboys e bgirls da Paraíba com atuação em todo território nacional.  “Tem gente que dança pra se sentir bem, eu sempre quis me profissionalizar para as competições. Eu economizei - o movimento aqui (Pernambuco) é fraco -, eu juntei uma grana e fui para o Rio, São Paulo, tentar me destacar e foi isso que me deixou mais firme na cultura e como atleta”. 

Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens

Especialista no estilo power move, mais focado nas acrobacias e saltos, Gaara diz ser “mais acrobata do que bailarino”. No desenvolvimento de sua arte, ele tenta aliar os movimentos acrobáticos aos elementos tanto do Hip Hop quanto de outras culturas, como o frevo e o maracatu, por exemplo, para representar bem Pernambuco nas competições. Também atleta de artes marciais, parkour e arte ninja, ele mantém uma rotina pesada de treinos e garante que o “compromisso” é o que faz a diferença no desenvolvimento do bboy. “Às vezes demora anos pra você executar um único movimento”.

 A falta de apoio e patrocínios - que aparecem apenas de forma pontual para algumas competições específicas -, é driblada com muita força de vontade. “Eu sou raça, eu mesmo faço meu investimento, vou até lá e dou o meu suor.” A certeza de estar dando conta de uma verdadeira missão, também impulsiona. “Eu digo que isso estava escrito. Já tentei abrir negócios, fazer outras coisas, e nada dá certo. Só a arte me puxa. Pra quem tá dentro sente bem mais forte isso”

Break olímpico

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Gaara se diz muito animado com a possibilidade de ver o breaking nas Olimpíadas de Paris, em 2024. Embora acredite que daqui a quatro anos já estará “coroa” para competir, ele vê a inclusão da modalidade entre os esportes olímpicos como uma oportunidade de espaço não só para dançarinos mas também para técnicos e preparadores físicos, o que se descortina como uma bela oportunidade para sua carreira.  Sem falar no que representa para uma cultura vinda do gueto ter um reconhecimento como esse. “Vai ser uma grande evolução, uma coisa que veio da favela, de negros empoderados, estar numa olimpíada, vai ser um up tridimensional”.

O COI decide, no próximo mês de dezembro, se esse elemento do Hip Hop estará ou não nas Olimpíadas da França, em 2024. Se entrar, o break dance dividirá espaço com outras modalidades recém admitidas na competição, como escalada, surfe e skate, que estrearão em Tóquio, no ano que vem. As previsões são positivas, sobretudo após a experiência feita durante os Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, ocorridos em Buenos Aires. A competição de dança em Paris deverá ser organizada pela World Dance Sport Federation (WDSF), que é reconhecida pelo COI há mais de 20 anos como a entidade responsável pela dança esportiva mundial.. 



 

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