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Levantamento feito pelo Estadão mostra que, no Amazonas, a maioria das principais minas de potássio, substância usada em fertilizantes para o agronegócio, está localizada fora de terras indígenas. Os dados contrariam declarações do presidente Jair Bolsonaro, que tem defendido a aprovação de projeto de lei que libera a mineração em áreas demarcadas como forma de superar a dependência brasileira da Rússia no acesso a fertilizantes.

Bolsonaro alega que os locais mais importantes para extração de potássio do Brasil estão bloqueados por estarem dentro de aldeias. "Como deputado, discursei sobre nossa dependência do potássio da Rússia. Citei três problemas: ambiental, indígena e a quem pertencia o direito exploratório na foz do Rio Madeira. Nosso Projeto de Lei 191 permite a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas. Uma vez aprovado, resolve-se um desses problemas", disse o presidente na semana passada.

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Para pressionar o Congresso, o líder do governo pediu então urgência na votação do projeto de lei. Ontem, Bolsonaro voltou a dizer que a guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe uma "boa oportunidade" para o Brasil aprovar a exploração de terras indígenas.

Desde a foz do Rio Madeira, que deságua no Rio Amazonas, passando por municípios como Autazes, Nova Olinda do Norte e Borba, há dezenas de áreas, em diferentes etapas de pesquisa mineral, em nome da Petrobras e da companhia Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan. As duas empresas praticamente controlam os projetos de potássio na região, concentrando a maioria dos títulos minerários do insumo.

Esses dados fazem parte do levantamento feito pela reportagem nos registros de pedidos de pesquisa e lavra de potássio ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM). O Estadão também solicitou à Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM) que elaborasse um mapa com pedidos ativos ao longo da calha do Rio Madeira, no Amazonas, que concentra as maiores minas de potássio do Brasil. Foi feito cruzamento com a localização das terras indígenas da região.

O resultado mostra que não há sobreposição na imensa maioria dos casos, o que significa que não são as terras indígenas que impedem a exploração de potássio no País. O levantamento mostra que um pequeno número de blocos de exploração teria impacto direto em terras demarcadas, como ocorre na região de Nova Olinda do Norte, em áreas que estão em fase de pesquisa na região das terras indígenas Gavião, Jauary e Murutinga/Tracajá.

LEGISLAÇÃO

Presidente da ABPM, Luís Maurício Ferraiuoli Azevedo afirmou que a questão indígena não tem sido entrave aos projetos. "O que nós vemos são essas áreas de amortecimento no entorno das minas, não impacto direto. A prova está aí, nos dados. O que é preciso é que haja uma análise técnica de cada empreendimento, apenas isso", disse ele.

Pelas regras do licenciamento ambiental, quando um empreendimento é instalado numa área próxima a terras indígenas e comunidades ribeirinhas, por exemplo, situações comuns ao longo do Rio Madeira, é preciso que o processo de autorização da obra contemple medidas para reduzir os impactos, já que são áreas que serão afetadas de alguma maneira pela exploração, com aumento de tráfego, poluição, ruídos etc. Para chegar a um acordo sobre compensações ambientais, realizam-se audiências públicas previamente à instalação do empreendimento. Isso não significa, portanto, que ele seja inviável. Basta que se cumpra a lei.

Apesar de boa parte do registro de exploração das reservas de potássio ser antiga, elas não são exploradas. Procurada, a Potássio do Brasil declarou que seu projeto na região de Autazes obteve licença prévia do governo estadual, mas que esta foi suspensa num acordo na Justiça Federal para que houvesse a consulta prévia ao povo indígena mura, que habita áreas a 8 quilômetros de distância do projeto. Trata-se de consulta obrigatória para busca de um acordo em relação ao impacto na região, mas não de inviabilidade do projeto, uma vez que não há sobreposição.

"Assim que a licença de instalação for obtida pela Potássio do Brasil, as obras de implantação do projeto serão iniciadas", afirmou a empresa. "A Potássio do Brasil tem como princípio respeitar as normas ambientais e os direitos dos povos indígenas e tradicionais e reconhece a importância da consulta prévia, livre e informada ao povo mura."

A reportagem questionou a Petrobras sobre as razões de a empresa manter dezenas de títulos minerários de potássio desde os anos 1970 na região, e quais as expectativas de exploração dessas áreas. Em nota, a companhia disse apenas que "mantém títulos de lavra e de pesquisa com potencial de potássio na Bacia do Amazonas" e que "estuda alternativas para os ativos, considerando sua estratégia de negócio".

O presidente da ABPM critica o fato de a Petrobras ter títulos minerários, mas não explorá-los. "A Petrobras está parada há mais de uma década com essas áreas. O que nós vemos é que esse é um negócio pequeno demais para a empresa, que tem saído de poços maduros de petróleo e ido para o pré-sal. O potássio seria uma distração para a empresa. Então, se ela não quer, tem que vender", disse Azevedo.

Em 2008, por pressão do Palácio do Planalto e da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a Petrobras voltou atrás em um negócio estimado em US$ 150 milhões que previa a venda de parte de uma mina de potássio em Nova Olinda do Norte, para a empresa canadense Falcon, também controlada pelo banco Forbes & Manhattan. O negócio acabou sendo cancelado, e a Petrobras se viu obrigada a pagar uma multa para rescindir o acordo. À época, declarou que "a alta administração, por razões estratégicas, decidiu não prosseguir com a venda".

JAZIDAS

O potássio é um elemento químico usado, majoritariamente, na agricultura, mas também tem aplicações na medicina e equipamentos de respiração, entre outras finalidades. O cloreto de potássio é formado na natureza, em lagos que estavam conectados ao mar há milhares de anos, e que secam. Na região de Autazes, esse lago existiu há cerca de 270 milhões de anos e, após secar, foi recoberto por outros sedimentos. Hoje, segundo a Potássio do Brasil, jazidas de sal de potássio no local estão localizadas a cerca de 800 metros de profundidade.

O Brasil adquire no exterior 85% do volume de fertilizantes aplicado anualmente nas lavouras. A Rússia é uma das principais exportadoras - em janeiro, respondeu por 30,1% do adubo que entrou em território nacional, segundo o Ministério da Economia. No ano passado, os russos foram responsáveis por 23,3% do fertilizante que chegou ao Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira, 3, em transmissão ao vivo nas redes sociais que o advogado-geral da União, ministro Bruno Bianco, negocia liberação na Justiça para exploração potássio na região de Autazes, no Amazonas.

O objetivo é tentar reagir à interrupção do fornecimento de fertilizantes da Rússia desde a emergência da guerra com a Ucrânia, já que o potássio é matéria-prima para o insumo essencial para as lavouras. Como mostrou o Estadão, o governo também pressiona o Congresso a aprovar um projeto de lei que prevê a exploração mineral em terras indígenas.

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De acordo com Bolsonaro, a exploração de potássio em Autazes, onde há reservas indígenas, está proibida pela Justiça. "Há minoria de magistrados pelo Brasil que faz trabalho que inviabiliza nosso trabalho", disparou na live o presidente, que costuma ter atritos com juízes, em especial do Supremo Tribunal Federal (STF).

"Bruno Bianco está conversando para chegar a um denominador comum. Agora há fato novo, a crise mundial de fertilizantes", acrescentou Bolsonaro, sobre a possibilidade de se liberar retirada de minerais na região. "Se não fosse problema jurídico, já poderíamos estar produzindo aqui o nosso potássio".

O aperto na oferta de fertilizantes é acompanhado pelo governo desde antes da guerra entre Rússia e Ucrânia, em razão da própria crise energética.

Ao lado de Bolsonaro na live, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o plano nacional dos fertilizantes, que pode apontar um caminho de longo prazo para a autossuficência nesses insumos, deve ser lançado na última semana de março. "Precisamos prospectar mais nosso subsolo para saber onde temos mais potássio", declarou a ministra.

Bolsonaro ainda disse na transmissão ao vivo que, se os impasses para a exploração forem resolvidos, o Brasil poderá se tornar um exportador de fertilizante. "País que é dependente de outro pode sofrer consequências. Aumentou fertilizante, aumentará na ponta da linha o que a gente produz no campo".

Contato: eduardo.gayer@estadao.com

 O PT publicou um artigo assinado pelo o ex- ministro, Aloizio Mercadante (PT), no qual afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) era o “pária internacional”, e que o Brasil pode sofrer consequências econômicas da invasão da Rússia à Ucrânia. 

Sobre a guerra, Mercadante afirmou, "pode ter consequências dramáticas para a já combalida economia brasileira", visto que interfere no petróleo e alimentos, duas coisas que ele classifica como dois pilares da inflação no Brasil. 

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 O ex-ministro levantou também, a pauta dos impactos do conflito na importação de Potássio da Rússia. “O potássio já está em falta e, assim como petróleo, também está em alta. É evidente que alta do preço terá impacto no custo de produção dos produtos agrícolas, pressionando o preço dos alimentos e impactando de forma dramática na cesta básica e na inflação”, pontuou Mercadante no artigo.

  Ainda sobre a guerra, ele opinou pela construção da paz. “Nada justifica uma guerra e acreditamos na construção da paz por meio do diálogo e da diplomacia, mas é inegável que, o fim União Soviética poderia ter gerado uma ação pacificadora do Ocidente. Mas, ao contrário disso, a forças ocidentais da OTAN optaram por aprofundar uma política agressiva de expansão, passando de 12 membros originais para 30 Estados, inclusive com nações fronteiriças à Rússia, como tentam fazer agora com a Ucrânia".  

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou neste domingo, em sua conta no Twitter, que tem analisado o potencial de exploração de reservas de potássio, cálcio e magnésio no Brasil.

Segundo ele, a análise tem sido feita em conversas com o futuro ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima Albuquerque Júnior, e a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

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"Junto aos futuros ministros de Minas e Energia e Agricultura, estamos analisando o potencial de exploração de reservas de potássio, cálcio e magnésio em regiões do nosso País. Hoje, mesmo com as maiores reservas, dependemos de matéria-prima importada para produzir fertilizantes", escreveu Bolsonaro.

A Potássio do Brasil anunciou nesta segunda-feira (11), a descoberta de duas novas jazidas de potássio na Bacia Sedimentar do Amazonas, em Novo Remanso e em Itacoatiara. Segundo nota enviada pela empresa, a projeção é de uma produção anual mínima de dois milhões de toneladas de Cloreto de Potássio e início de produção no primeiro trimestre de 2018. Com essas duas áreas, de acordo com a empresa, as descobertas da companhia já somam quatro.

"Conforme havíamos ressaltado no início deste ano, várias jazidas poderiam ser encontradas nesta região. Contudo, os furos pioneiros em Novo Remanso e Itacoatiara apresentaram espessuras da camada de potássio superiores a 4 metros, além de mostrar a presença de sulfatos em proporção significativa", afirmou, no comunicado, o diretor-presidente da Potássio do Brasil, Hélio Diniz.

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A Potássio do Brasil já investiu R$ 160 milhões no projeto. Para os próximos 12 meses, os aportes deverão ficar entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões no detalhamento técnico e licenciamento do projeto, incluindo a pesquisa em novas áreas na Bacia Amazônica.

A Vale do Rio Doce paralisou, por tempo indeterminado, as obras das jazidas de potássio de Rio Colorado, no município de Malargue, no sul da província de Mendoza, na Argentina. O motivo da paralisação temporária, segundo porta-vozes da empresa em Buenos Aires, foram as flutuações dos preços internacionais do produto. O investimento projetado era de US$ 5,9 bilhões. Até outubro de 2012, segundo a Vale, já havia sido investido US$ 1,08 bilhão. O investimento era o maior privado da história da Argentina.

O secretário de Infraestrutura e Energia de Mendoza, Ronaldo Baldasso, afirmou que o projeto não está cancelado. Segundo ele, "existem questões financeiras que estão levando a uma reestruturação operacional". Rio Colorado prometia ser a maior mina de potássio da Argentina, pois previa a produção de 4,3 milhões de toneladas de potássio, por ano. O empreendimento está localizado no sul da província de Mendoza, a 200 quilômetros da cidade de Malargue. A Potássio Rio Colorado foi adquirida pela Vale,  em 2009, da anglo-australiana Rio Tinto.

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Durante alguns meses em 2011 o projeto sofreu atrasos por causa da pressão de sindicatos da construção civil em Mendoza, além de pressões por parte dos governos de Mendoza e Neuquén, que exigiam grande participação dos fornecedores locais. No ano passado algumas de suas instalações foram tomadas por desempregados.

No ano passado, a presidente Cristina havia celebrado o investimento da Vale afirmando que a Argentina se transformará no quinto produtor mundial e no terceiro maior exportador de potássio. Na época, a presidente sustentou que o projeto serviria para equilibrar o saldo comercial argentino com o Brasil, "além de gerar 16.750 postos de trabalho ao longo dos próximos 40 anos".

Obras

Até a suspensão, as obras de instalação da mina de potássio em Malargüe incluíam a construção de uma fábrica processadora na mesma área, um terminal portuário, além de uma usina termelétrica. Além disso, as obras pretendiam englobar a construção de uma ferrovia de 360 quilômetros para unir Malargüe com Zapala. Esta cidade seria ligada pela ferrovia Ferrosur com a cidade de General Cerri. Dali, segundo o projeto original, a produção seria levada até o porto de Bahía Blanca.

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