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Com cerca de 300 mil nascimentos prematuros anualmente, o Brasil se tornou um dos países com maior demanda para a acolhida de bebês pré-termo, ocupando a 10ª posição no ranking mundial. Os dados são, respectivamente, do Ministério da Saúde e Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que acompanham o cumprimento dos protocolos de acolhimento em todo o país. 

Nesta quinta-feira, 17 de novembro, é realizado o Dia Mundial da Prematuridade, campanha global que integra o Novembro Roxo e promove a conscientização acerca dos desafios nos cuidados diários ao longo dos primeiros anos de vida, assim como incentiva uma rotina pré-natal regular e que evite partos prematuros — estes são 11,7% do total de partos no Brasil. 

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Além da cor roxa, que representa sensibilidade e excepcionalidade, a linha de meia se tornou um símbolo do dia mundial. O par de meias roxas – emolduradas por nove pares meias de tamanho normal – simboliza: um em cada 10 bebês nasce prematuro no mundo todo. Este ano, o tema global da campanha é:  “O abraço dos pais: uma terapia poderosa. Permita o contato pele a pele desde o momento do nascimento”. 

O Método Canguru 

O método, de acordo com a Saúde, busca realizar atendimento humanizado, promovendo o contato pele a pele (posição canguru) precoce entre a mãe, o pai e o bebê, favorecendo o vínculo afetivo e estimulando a amamentação e o desenvolvimento da criança. Além de reduzir o tempo de internação, incentiva o aleitamento dos recém-nascidos de baixo peso. 

O Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife, foi pioneiro nesse tipo de cuidado com bebês prematuros em todo o Brasil, tendo-o implantado na Unidade Neonatal desde 1994. 

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“O Imip foi o primeiro hospital no Brasil a elaborar o Método Canguru e hoje nós temos um treinamento, realizado pelo Ministério da Saúde, e todos os profissionais que trabalham com o recém-nascido recebem o treinamento. Eles são técnicos de enfermagem, enfermeiras, médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas; todos têm o curso. Inclusive, há o curso on-line do Ministério, além do presencial, que foi interrompido na pandemia”, explica a pediatra neonatatolosita Geisy Lima, que coordena as unidades Canguru e Neonatal do Imip há 43 anos. 

De acordo com a especialista, os profissionais precisam ser treinados para trabalhar na perspectiva de orientar a mãe ao cuidado integral, e o treinamento é obrigatório. “A mãe precisa se empoderar do filho”, acrescenta Lima. 

A proximidade dos pais com o bebê permite o bom sono, o início e manutenção da amamentação, favorece a estabilização de parâmetros vitais como frequência cardíaca e glicemia, e auxilia o estabelecimento de uma microbiota saudável, aspectos importantes no processo de adaptação à vida extrauterina, a médio e longo prazos. Desde que a estabilidade clínica permita, o contato pele a pele em prematuros é essencial para uma experiência saudável e sensível. 

É fundamental que as equipes de saúde conheçam as evidências disponíveis sobre os múltiplos benefícios dessa prática para o bebê e para a família, e que se comprometam e promovam as condições adequadas para que o cuidado pele a pele seja realizado de forma otimizada. Da mesma forma, é necessário continuar trabalhando com as famílias para acompanhá-las e orientá-las no cuidado adequado aos bebês nascidos prematuramente. 

Assim, a sociedade geral surge como uma terceira parte ainda carente de familiaridade com a rotina da maternidade e paternidade prematuras. Muitas pessoas não sabem, mas essas famílias, nos primeiros meses de vida do bebê, precisam de cuidado integral com o corpo da criança. E não, essa rotina não é a mesma que a dos pais que passaram por um processo gestacional padrão e completamente saudável. 

O cuidado integral significa uma rotina de observação, memorização e prática 24 horas por dia, em um método que sugere que, quanto mais tempo o bebê estiver no colo, pele a pele, mais fatores favorecerão o aumento de peso e a chegada da alta médica. 

 Adriana Maria na Unidade Canguru do Imip, no Recife. Foto: João Velozo/LeiaJá Imagens

Os desafios  

Adriana Maria da Silva, de 33 anos, é mãe de Laura Sophia, uma bebê nascida em 32 semanas e que acabou de completar um mês de vida, nessa quarta-feira (16). Desde que a filha nasceu, a mãe deixou a sua casa, em Piedade, no município de Jaboatão dos Guararapes, para viver uma nova rotina no Imip, que fica no Centro do Recife. Silva não voltou para casa desde o internamento na Unidade Canguru. 

Ela compartilhou com a reportagem algumas das suas dificuldades e revelou que não vê a hora de ir para casa. Ansiosa e hipertensa, a mãe de segunda viagem às vezes se sente um pouco confinada por não deixar a unidade médica, mas reconhece que é um esforço temporário e necessário para a saúde de Laura. 

A hipertensão foi o principal fator da complicação na segunda gravidez, estando associada, também, a um aborto espontâneo que Adriana sofreu dois anos atrás. A filha mais velha, de 13 anos, foi fruto de uma gestação comum. 

“Eu fiquei com medo da gestação, porque sabia que não conseguiria levá-la até o final, também por causa da eclâmpsia. Quando o médico disse que ia me internar, meu mundo desabou. Toda hora tentavam controlar a minha pressão, e nada. Há uns quatro anos sou hipertensa, que eu saiba, mas desconfio que seja há muito mais tempo, porque ela é silenciosa e durante a gestação, chegou em uns picos diversas vezes”, compartilhou a interna. 

Segundo ela, os sinais da hipertensão se assemelham aos de outros quadros clínicos comuns, especialmente pela enxaqueca, então ficou difícil identificar os sintomas. Próximo à gravidez de Laura, ela desconfiou que o anticoncepcional que usava à época estava cortando o efeito do remédio para pressão, e então decidiu priorizar a própria saúde. Poucas semanas depois, soube da segunda gestação.  

Apesar de, até então, não ter filhos no segundo casamento, a mãe ficou preocupada e chegou a se informar sobre o acesso à laqueadura, que é um plano futuro. Ela diz ter medo da hipertensão prejudicar uma outra gestação e está contente com a família que construiu, mas revelou também que o processo é mais burocrático do que parece. 

“Pedimos no hospital mesmo, após o nascimento de Laura, e nos negaram, falaram que, no meu caso, não era permitido, e que era um serviço disponível apenas para mães sob risco. Eu argumentei: ‘eu sou de risco’, mas não permitiram. Meu esposo pensa da mesma forma que eu e chegou a fazer a solicitação comigo, se dispôs a assinar algo caso preciso, mas não deu em nada”, relatou. 

Atualmente, Laura está com aproximadamente um quilo e deve continuar na Unidade Canguru até ser considerada apta para continuar o processo de casa. A situação da menina é a mesma que a das dezenas de crianças prematuras atendidas no Imip semanalmente. Confira os relatos completos das mães de crianças pré-termo na entrevista abaixo: 

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