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“O Ulysses não pode fechar. O que será dos doentes e das famílias?”, esse é o discurso mais ouvido quando o assunto é o fechamento do conhecido hospital da Tamarineira, localizado no bairro de mesmo nome, na zona norte do Recife. 

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Por trás da arquitetura antiga e pouco zelada, a estrutura abriga pacientes com doenças psiquiátricas no seu setor de internação e também atende aqueles que precisam de assistência emergencial. Apesar da estrutura precária e grande demanda difícil de ser suprida, o Hospital Ulysses Pernambuco (HUP) é a esperança para muitas famílias que possuem parentes que necessitam de atendimento psiquiátrico em todo o estado. De acordo com Elizabeth Barros, assistente social funcionária da instituição, cerca de 50% da procura por serviço é de pessoas vindas do interior. Ela explica que apesar de haver outros sanatórios no estado, muitos atendimentos são encaminhados para lá com a finalidade de conseguir internação. 

No entanto, assim como outros sanatórios por todo o país, o hospital da Tamarineira corre riscos de encerrar suas atividades e essa questão tem assustado familiares dos doentes que ali se encontram ou que precisam dos serviços da emergência hospitalar. 

Para a senhora Katia Cirlene, acompanhante do filho, o hospital tem grande importância, pois, durante as crises, o rapaz fica muito agressivo e os membros da família não conseguem controlá-lo, então a solução é levá-lo ao HUP. Ela explica que lá, apesar da precariedade estrutural, o bom atendimento supre as necessidades do seu filho, afinal, lá ele recebe consulta, acompanhamento e as medicações necessárias para que ele se reestabilize. 

Embora haja um bom atendimento, outro problema encontrado, é a falta de distinção entre os níveis de gravidade entre os pacientes, pois, muitas vezes eles são colocados juntos no mesmo ambiente. “Fico com o coração apertado em ter que deixar o meu filho junto com pacientes mais graves porque sei que ele vai passar por uma experiência complicada e, nessas alas, o familiar não pode acompanhar”, conta Abraão Francisco, de 65 anos, que veio de Abreu e Lima acompanhando o filho.

No entanto, há casos que o atendimento emergencial não é o suficiente. É o caso contado por Cíntia Lazaro, acompanhante do seu irmão que sofre de esquizofrenia refratária – alto grau da doença e que os medicamentos já não conseguem estabilizar o paciente. Após passar três dias de espera na recepção do hospital, seu irmão apenas havia sido sedado, mas não tinha entrado no setor de atendimento. Ela conta que a espera por atendimento é constante, mas no caso do seu irmão, o paliativo realizado na emergência não é suficiente e que é necessária a internação, no entanto, o hospital não está recebendo mais pacientes. “Eu sei que os funcionários não têm culpa por esse tipo de atendimento e a impossibilidade de internação, mas há casos em que o paciente não pode estar nas ruas”, explica. 

Atualmente, o serviço psiquiátrico no Estado para quem possui família é realizado de forma emergencial e encaminhado para os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), porém esta forma de tratamento não inclui internação, o que dificulta o processo de estabilização do paciente, pois exige dedicação exclusiva dos familiares. Além disso, outro entrave é a resistência dos doentes a seguirem o tratamento fora do ambiente hospitalar, visto que eles vão aos centros, mas voltam para casa.

“É muito complicado fazer um doente mental ir ao Caps, já que ele, muitas vezes se sente desestimulado, visto que chegando lá, ele realiza atividades como pinturas. Uma pessoa agressiva não vai queres sair de casa para fazer isso, então, é necessário usar da força física para que ele saia de casa”, conta Lazaro. “Os hospitais são obrigados a internar os doentes que estão nas ruas, então, por isso, muitas famílias que não conseguem controlar seu familiar doente, deixam ele na rua porque sabem que só assim ele será internado e receberá o tratamento em ambiente hospitalar. Não é por falta de amor, é porque é muito difícil lidar com isso”, acrescenta. 

Funcionários lamentam situação do HUP

Apesar de serem elogiados pela dedicação e boa vontade, por parte dos acompanhantes dos pacientes, os funcionários do Ulysses Pernambucano explicam que o trabalho no hospital exige muito amor pelo que faz, afinal, conviver com a falta de estrutura e a grande demanda de casos é angustiante. 

A assistente social do HUP, Adriana Galdino, conta que está trabalhando no hospital há três anos e presta assistência aos familiares e faz a articulação quanto às vagas para os pacientes nos Caps. “O sentimento que a gente tem é de angústia e frustração, porque você quer resolver a situação da família, mas se sente impotente”, lamenta. 

De acordo com Elizabeth Barros, há um funil no sistema psiquiátrico no Estado, pois a demanda recebida no hospital é grande, mas as vagas para encaminhamento dos pacientes para os Caps e para internação são bem pequenas. “A rede substitutiva é falha e a que temos não dá conta da demanda que recebemos, então não há o suporte que nós precisamos”, esclarece. 

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Cremepe e Secretaria Estadual de Saúde se pronunciam

No início do mês de setembro, o Conselho Regional de Medicina (Cremepe) decidiu em plenária pelo indicativo de interdição ética do Hospital Ulysses Pernambucano (HUP), após ter recebido denúncia do corpo clínico e ter passado por fiscalização. Foi estabelecido o prazo de um mês para que melhorias fossem realizadas, tais como o combate à proliferação de gatos, higiene, cotenção de mofo e infiltrações. De acordo com o vice-presidente do Cremepe, André Dubeux, no final deste mês, será realizado uma nova fiscalização para verificar a realização das melhorias e o próximo passo da intervenção será decidida em mais uma plenária. “Acreditamos que o prazo de um mês é suficiente para resolver problemas mais simples como a proliferação dos gatos nas dependências do hospital, assim como a eliminação de mofos e infiltrações. É fato que outros problemas precisam de mais tempo para serem resolvidos, como a estruturação da escala dos médicos, alimentação dos pacientes e acompanhantes, entre outras questões”, esclarece. 

>> Hospital Ulysses Pernambucano pode ser fechado em 30 dias 

Dubeux também informa que não há nenhum indicativo de fechamento do HUP por parte dos médicos, no entanto, ele afirma que, caso os problemas não sejam resolvidos, as atividades médicas podem ser encerradas, o que impossibilita a realização de serviços na instituição. 

Já a Secretaria Estadual de Saúde se pronunciou em nota e descarta a possibilidade de risco de fechamento do Hospital Ulysses Pernambucano, além de afirmar estar demandando esforços para realizar melhorias estruturais e profissionais do sanatório. 

Confira a nota na íntegra:

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) esclarece que garante a assistência aos pacientes no Hospital Ulysses Pernambuco, principal emergência psiquiátrica de Pernambuco, e informa que vem dialogando diretamente com os órgãos de classe sobre a situação da unidade. A SES já apresentou ao Cremepe, Simepe e médicos que atuam no serviço um plano estratégico de ações com foco na melhoria da gestão, assistência e qualificação das áreas físicas, incluindo aquisição de novos equipamentos. As ações imediatas já estão sendo implantadas, como reforma de alguns ambientes. Por fim, junto com a direção do Hospital, a SES vem trabalhando para garantir o quantitativo adequado de profissionais para o funcionamento da unidade.

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