Tópicos | Quartas Intenções

Nas quartas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz mais intenções do que impressões. Dia de juntar leituras, eventos e outras coisas programadas.

Terminar de ler O cemitério de praga, de Umberto Eco (Record, 480 páginas, R$ 37). Que os desavisados não se assustem, o autor de O nome da rosa e O pêndulo de Foucault não escreveu um Dan Brown, apesar da sinopse-caça-leitores-de-best-seller: “Personagens históricos em uma trama na qual se desenrola a história de complôs, enganos, falsificações e assassinatos, em que encontramos o jovem médico Sigmund Freud (que prescreve terapias à base de hipnose e cocaína), o escritor Ippolito Nievo, judeus que querem dominar o mundo, uma satanista, missas negras, os documentos falsos do caso Dreyfus, jesuítas que conspiram contra maçons, Garibaldi e a formação dos Protocolos dos Sábios de Sião. A única figura inventada nesse romance é o protagonista Simone Simonini, embora o autor defenda que basta falar de algo para esse algo passar a existir”.

Marcar gravações do NotaPE. Depois da primeira fase, que serviu para refletirmos sobre formato, ajustes técnicos e resposta dos internautas, o programa de TV originado do blog NotaPE, e realizado pelo portal LeiaJá, voltará na quinta-feira da semana que vem. Um convidado já está agendado, o professor e pesquisador Luis Reis. Conversa poderia ser sobre bocado de coisas, mas, nesta oportunidade, tema será Hermilo Borba Filho. Até porque...

Segunda-feira é dia de lançamento hermiliano: Editora Bagaço republicou a estupenda tetralogia de romances Um cavalheiro da segunda decadência, composta por Margem de Lembranças, A porteira do mundo, O cavalo da noite e Deus no pasto. Até lá, trarei detalhes do evento para a coluna Redor da Prosa. Pegando carona em notícia tão boa, decidi atender ao pedido de um amigo, listando escritos em prosa que mais me marcaram, entre autores pernambucanos ou radicados:

Minha lista dos 10 romances, novelas ou livros de contos de pernambucanos (por nascimento ou vivência) não apresenta as melhores, apenas as mais visitadas obras, nessas noites quase sempre insones:

Rainha dos cárceres da Grécia,
Avalovara e
Nove Novena – todos de Osman Lins;
Margem de Lembranças, de Hermilo Borba Filho;
Somos pedras que se consomem e
Sombrias ruínas da alma, de Raimundo Carrero;
Faca, de Ronaldo Correia de Brito;
Aspades, ETs etc., de Fernando Monteiro;
A pedra do reino, de Ariano Suassuna;
Morcego cego, de recém eleito na Academia Pernambucana de Letras, Gilvan Lemos.

Foi Joaldo Diniz primeiro a dizer que gostava das Quartas Intenções, notinhas publicadas semanalmente aqui na Redor da Prosa. Depois, mais dois amigos disseram que essa ideia era melhor do que publicar entrevistas, como eu pretendia. Sendo assim, conVencido por goleada, madruguei juntando algumas vontades:

Retomar a coluna Redor da Prosa. Após a Fliporto, deixei de enviar textos por alguns dias. Tempo de pensar sobre as possibilidades de um espaço diário para a literatura. Crônicas, notas, entrevistas, críticas... Independente do que seja publicado, iniciativas como esta geralmente requerem sacrifício. Elas não pagam as contas, costumam ser mal ou nada remuneradas, restam tocadas nas raríssimas horas vagas que aparecem. Consomem energia danada e, por mais aceitação que recebam, sempre criam desafetos, gente que nasceu com peça faltando – aquela que transforma as críticas em oportunidades de reflexão. Resumindo, negócio de doido. Por isso, vez por outra, preciso fazer autoanálise, descobrir se minha falta de juízo ainda é suficiente para tocar o bonde.

Dar um gás ao NotaPE, que também estava parado. Já de visual novo e algumas boas notícias, o blog (www.notape.com.br) vive aquele momento crítico. Quem tocou projeto de militância cultural na web, sem grana, sabe que, após aniversário de um ano, os meses seguintes são decisivos. Lá estão as duas dezenas de colaboradores e os trezentos visitantes/dia, no entanto, para deixar essa decisão um bocadinho mais simples. O programa de entrevistas NotaPE, realizado em parceria com o portal LeiaJá, apesar de pedir ajustes, é outra motivação. Falando nisso...

O poeta, tradutor e editor Everardo Norões, que foi entrevistado do programa NotaPE da semana passada, conquistou o Prêmio Literário Cidade de Manaus, da Fundação Municipal de Cultura e Artes (Manauscult). E na categoria contos, com o livro O fabricante de histórias. Coisa boa! Preciso arranjar tempo para um café, tardinha onde parabenizá-lo, além de explorar alguns de seus ensinamentos – quanto mais críticos, mais indispensáveis.

Bater um papo no Festlatino. Evento ainda pouco conhecido pelo público, o congresso, que faz parte do Movimento Internacional de Culturas, línguas e literaturas neolatinas, acontece pela tarde, até a sexta-feira, na Fafire. Hoje, às 17h00, participarei da mesa “Mídia e literatura”, com Cássio Cavalcante (UBE), Marcelo Sandes (Programa de rádio Café Colombo), Carolina Leão (Prefeitura do Recife) e Fernandino Neto.(jornal Vanguarda, de Caruaru).

Nas quartas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz mais intenções do que impressões. Dia de elencar leituras, eventos e outras coisas programadas.

Ler Alvo Noturno, do argentino Ricardo Piglia, que chega às prateleiras na próxima semana (pela Companhia das Letras, com 256 páginas). Crime, mistério, dialogismo; em outros autores, nada disso promete coisa além, são elementos bem rodados nas calhas editoriais, faz tempo. Mas Piglia é assunto outro, que requer texto separado, crítica mesmo. Era em escritores como ele que eu pensava, por exemplo, quando indaguei Cristovão Tezza (em evento) por que ele sempre repete que “os imitadores de Borges são horrorosos”. Creio que o problema está na imitação – ou melhor seria dizer no resultado da imitação – e não na fonte copiada. Sei montes de seguidores de Machado que nunca conseguiram melhor sorte.

##RECOMENDA##

Ir ao lançamento de O destino das metáforas, livro de contos de Sidney Rocha, em edição caprichada da Iluminuras (R$ 38,00 /114 págs.). Acontece hoje, às 19h00, na Livraria Cultura (Recife Antigo). Intenção que é dívida. Devo por conta da obra em questão, das conversas com o autor (que tanto tem me estimulado em reflexões recentes sobre os caminhos e possibilidades da crítica) e também das férias que não tive. É sempre descanso raro estar com os amigos.

Escrever sobre Faca, de Ronaldo Correia de Brito, para coluna futura. Prefiro este livro ao premiado romance do autor, Galiléia (vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, em 2011). E por razões opostas às qualidades que tantos veem na obra. Por enquanto, no papel rabisquei apenas dois parágrafos e o título: Sobre uma Faca pouco afiada. Como em O imperfeito, impreciso e bom livro de Sidney Rocha, acredito que as virtudes dos contos de Ronaldo não precisam nem podem surgir de lugares-comuns da crítica, como a “depuração da linguagem” e o “domínio da narrativa”.

Preparar o programa NotaPE, que será outra parceria com o portal LeiaJá. Coisa anda atrasada, mas ideia aparenta chances grandes de sucesso. Gravaremos talk show em teatro, com plateia, de modo que funcione como televisivo e também como evento sobre temas ligados à leitura, e não só à literatura.

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