Diante da pandemia do novo coronavírus, o mercado de trabalho enfrenta desafios e alterações. Profissionais passaram a exercer atividades em casa, outros enfrentam redução salarial e até demissões. Ainda não se sabe como será, de maneira concreta, o futuro dos trabalhadores. No entanto, para analisar e projetar como serão as questões trabalhistas pós-pandemia, o LeiaJá entrevistou profissionais da área de Recursos Humanos, direito do trabalho, bem como ouviu a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
De acordo com o presidente da CUT-PE, Paulo Rocha, em relação ao salário, ele comenta que “os empresários e a maioria dos governantes irão tentar encontrar alguma forma de pelo menos congelar os salários, a exemplo do PLP 39, que procura congelar salários dos servidores federais, estaduais e municipais, mesmo sabendo que grande parte dos servidores recebem apenas o salário mínimo ou até menos".
##RECOMENDA##"Essa é a mesma lógica da MP 905, o governo tem atacado os direitos dos trabalhadores de forma geral para que o capital acumule mais lucro através da redução dos salários”, acrescenta o presidente da CUT-PE.
A análise do advogado trabalhista Paulo Rodrigo, sobre a questão salarial pós-pandemia, não foge muito da perspectiva do presidente da CUT. “Acredito que as chances de ocorrer uma redução salarial é muito grande, principalmente em relação aos novos contratos de trabalho pós-pandemia. Estamos vivendo e ainda teremos inúmeros desafios na área do direito do trabalho e sem sombra de dúvidas, muitos assuntos serão colocados em pauta para debate e reflexão, e um dos mais importantes será a questão salarial”, comenta Rodrigo.
O presidente da CUT ainda diz que é possível que tentem reduzir custos por meio do trabalho intermitente, dos acordos individuais sem a participação dos sindicatos, da carteira verde e amarela, do aumento da jornada do trabalho por meio do home office, da quebra dos planos de cargos, retirada do vale alimentação, gratificações e outros mecanismos. “Antes da pandemia, trabalhadores informais representavam 49% das pessoas ocupadas, ou seja, corre o risco de após essa crise, termos mais trabalhadores informais que formais, e entre os formais é provável que haja um enorme percentual de trabalho precarizado”, afirma.
“Os desafios dos sindicatos serão ampliados. Além de todo esse quadro citado, ainda enfrentaremos a revolução tecnológica que está ocorrendo e tudo isso tem a capacidade de desempregar. Precisaremos que as pessoas tenham acesso às novas profissões. Precisaremos combater a informalidade, reduzir a jornada de trabalho e ampliar as políticas sociais para garantir uma vida digna à todos e todas", finaliza Paulo Rocha.
Para Jessé Barbosa, especialista em Recursos Humanos, o mercado de trabalho não será mais o mesmo pós-pandemia. “As empresas precisarão reestruturar a forma de trabalho e sua concepção, para que possam atender a nova dinâmica do mercado. Dessa forma, o perfil das vagas que surgirão irá focar mais no gerenciamento do tempo e disciplina para atuar com home office”, projeta.
Sobre a dinâmica de contratação, Jessé explica que “levará um tempo para que o mercado reaja, isso se deve aos fatores que não estão sobre controle como cenário político e econômico". Para Barbosa, "essas instabilidades irão gerar receio aos investidores que tendem a ser mais conservadores, limitando a ampliação e geração de empregos.”
O especialista ainda analisa que “muitas empresas puderam comprovar que é possível desenvolver trabalho remoto, outras tiveram que adotar práticas de trabalho em formato de rodízio, salários ajustados e carga horária reduzida". De acordo com Barbosa, mesmo diante das dificuldades, é possível inovar e buscar soluções para a sustentabilidade da empresa.
Jessé ainda acrescenta que, devido o isolamento social, é possível identificar uma forte atuação das empresas prestadoras de serviços. “Neste nicho de mercado há oportunidades e haverá uma grande ascensão devido à pandemia, pois o isolamento social deve ser gerenciado por mais algum tempo”, finaliza.
A previsão dos desafios que o mercado de trabalho pode enfrentar não é das melhores. Há muitas perguntas acerca do mercado de trabalho, muitas delas sem respostas firmes. “Por exemplo: como estará a economia do país e como será a reabertura dos estabelecimentos comerciais, principalmente das micro e pequenas empresas?. Estamos enfrentando algo inimaginável e o maior desafio será o restabelecimento dos contratos de trabalho. Possivelmente, teremos medidas legais para flexibilizar a jornada de trabalho e redução dos salários pós-pandemia, como as que foram adotadas na Medida Provisória nº 936/2020. Reafirmo que é imprescindível observar as diretrizes esculpidas em nossa Constituição Federal/88 para não precarizar as atividades laborais, muito menos, suprimir direitos trabalhistas protegidos na Carta Magna”, analisa o especialista em direito do trabalho Paulo Rodrigo.