O comércio do Recife não é mais o mesmo. Ruas tradicionalmente conhecidas pelo efervescência comercial já não mantêm o mesmo ritmo. Ainda assim, a sensação é que o pior já passou e pequenas melhoras começam a surgir.
A famosa Rua da Imperatriz, no bairro da Boa Vista, foi a que mais sofreu. Vários imóveis seguem fechados. Placas de "aluga-se" em diversos estabelecimentos e uma rua deserta se comparada a anos anteriores.
##RECOMENDA##"A situação dos últimos anos foi a pior que já vi", diz Horácio Amorim, proprietário da histórica Padaria Imperatriz. Ele, que está no local há 55 anos, afirma que a clientela caiu drasticamente. Além da crise, ele aponta um outro motivo para o esvaziamento da rua: "Mobilidade. Os ônibus não param aqui perto, é tudo muito longe", avalia.
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Para a gerente da Cattan da Rua da Imperatriz, Simone Vicente, a saída do posto de carregamento do Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) da via teve um impacto importante também. "Antes havia um fluxo grande de pessoas por causa disso e consequentemente elas paravam para comprar", resume. Para Simone, apesar do período de vacas magras, a expectativa é que o comércio volte a aquecer.
Os especialistas concordam com Simone, porém não acham que o quadro vá se reverter tão rapidamente. "O fechamento de lojas é um fenômeno nacional. Houve uma queda na demanda forte. A gente verifica que cada cidade está mostrando recuperação em seu devido tempo. Tem que esperar como vai ser aqui", diz o economista Rafael Ramos, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE).
O principal motivo para o fechamento de lojas em ruas como Imperatriz, Concórdia e Palma foi a chamada crise financeira que atingiu o país principalmente nos anos 2015 e 2016, explica Ramos. "O lojista começa a vender menos, ele começa a fazer ajustes, cortando despesas como energia, telefone, etc. Chega nos funcionários e começa a cortar pessoal, até que não dá para continuar com o estabelecimento aberto", argumenta.
Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Recife (CDL Recife), Cid Lobo de Mendonça, há uma dificuldade para negociar preço de aluguéis de imóveis. "A bolha de aluguéis estourou. Muitos aluguéis altíssimos, aumentando progressivamente. Chega um ponto em que o profissional não aguenta. Alguns proprietários não aceitam negociar. Aí às vezes o lojista tem duas ou três lojas no mesmo corredor e ele acaba optando por fechar uma", diz Cid Lobo.
"A questão do fechamento de lojas parou de piorar e a recuperação está acontecendo, mas muito lentamente", avalia o presidente da CDL. "A melhora do comércio e da perspectiva econômica é muito ligada ao emprego e o emprego está se recuperando muito lentamente. Só vai melhorar aos padrões de antes de 2015 quando o emprego der retomada forte".
O economista Rafael Ramos ainda detalha outros fatores que só agravaram o quadro do comércio de rua do Recife. "Houve uma abertura muito forte de shoppings na Região Metropolitana do Recife (RMR). Pela sensação de insegurança no Centro, muitos tendem a ir ao shopping. Parte da população evita o grande centro. A mobilidade também é importante. Vivemos um caos em questão de transporte, trânsito muito complicado. A pessoa pensa duas vezes antes de vir ao centro. Ela prefere fazer feira no próprio bairro por questão de deslocamento".
Entre janeiro e março de 2017, 154 lojas fecharam em Pernambuco, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O mesmo período no ano anterior foi ainda pior, com o encerramento de atividades de 843 estabelecimentos. Em todo o ano de 2016, foram 2511 estabelecimentos formais encerrados no estado contra 2588 em 2015.
O crescimento no último ano foi de 4,7%, com destaque para o setor equipamentos para escritório, informática e comunicação (57%) e móveis e eletrodomésticos (20%)."Existem segmentos ainda negativos. O comércio sinaliza uma recuperação, mas em cima de uma base muito deteriorada", opina Rafael Ramos.
Enquanto o Centro do Recife se mantém com o comércio desaquecido, Ramos vê, ao menos, uma vantagem. "As famílias foram obrigadas a ter educação financeira. A partir do momento da crise, aumenta desemprego, aumenta inflação e o consumidor valoriza o orçamento, começa a procurar mais e pesquisar o preço. Ele tenta consertar primeiro para ver se o produto tem volta. O consumidor está mais exigente", conclui.