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O Ministério das Relações Exteriores, as Forças Armadas e outras instituições da Noruega foram vítimas, recentemente, de um ciberataque por parte de um grupo suspeito de vínculos com as autoridades russas - informaram os serviços de Inteligência noruegueses, nesta sexta-feira (3).

Conhecido como APT 29, o grupo já tinha sido denunciado por ter interferido na campanha eleitoral americana no ano passado. "Nove contas de e-mail foram atacadas por meio do que se conhece como 'spear phishing'. Em outras palavras: e-mails maliciosos", explicou o agente dos serviços de Inteligência PST Arne Christian Haugstoyl, em declarações à rede de televisão TV2.

"É difícil saber qual era o objetivo" da operação, afirmou. A Noruega foi alertada sobre o ataque por um país aliado. Haugstoyl descreveu o APT 29 como um grupo "relacionado com as autoridades russas".

Citado pelo jornal Verdens Gang (VG), o porta-voz dos PST Martin Bernsen indicou que "não há motivos para pensar que informações confidenciais tenham sido hackeadas em conexão com esse ataque". O ataque, cuja data não foi revelada, também afetou a agência de proteção contra as radiações, uma escola e o grupo parlamentar do Partido Trabalhista, atualmente na oposição.

O país vai realizar eleições legislativas em 11 de setembro. Nenhum vínculo foi estabelecido até o momento entre a invasão cibernética e o pleito eleitoral.

Os atentados de sexta-feira, em Paris, reativaram o debate sobre as comunicações criptografadas utilizadas pelos jihadistas, que podem deixar os serviços de inteligência e de vigilância "na escuridão" ante estas novas tecnologias.

Ainda se desconhece exatamente que tipo de comunicação foi utilizada pelos terroristas para preparar sua série de atentados, mas vários veículos especializados reportam que o grupo Estado Islâmico (EI) utiliza cada vez mais aplicativos e formas de comunicação criptografadas para evitar serem detectados pelas forças de ordem.

O diretor da Agência Nacional de Inteligência (CIA), John Brennan, afirmou em uma reunião, na segunda-feira, em Washington, que certas tecnologias "tornam extremamente difícil aos serviços de vigilância ter acesso aos elementos necessários" para prevenir eventuais ataques.

Brennan não é a única pessoa que se inquieta diante deste fato: os chefes da polícia federal americana (FBI) e da Agência de Segurança Nacional (NSA) já tinham advertido que os jihadistas empregam comunicações criptografadas para encobrir suas pistas.

"Penso que vão descobrir que estes indivíduos se comunicam com aplicativos comerciais criptografados, que são muito difíceis, até mesmo impossíveis, de decifrar pelos governos", afirmou no domingo à emissora CNN o diretor-adjunto da CIA, Michel Morell.

O chefe da polícia de Nova York, Bill Bratton, também expressou suas inquietações sobre o tema, afirmando que seus serviços frequentemente se deparam com comunicações criptografadas, cada vez mais utilizadas nos novos smartphones que dispõem de software da Apple ou do Google.

"Estamos vendo isto o tempo todo", lamentou Bratton em entrevista à rede MSNBC.

"Temos uma grande operação em Nova York, na qual trabalhamos estreitamente com a divisão antiterrorista e encontramos este tipo de situação com muita frequência. Vigiamos suspeitos e desaparecem: utilizam estes aplicativos codificados, com sites aos quais nós não temos acesso", disse.

Até o momento, as grandes empresas de novas tecnologias repudiaram os pedidos de acesso a dados codificados em investigações importantes e, ao contrário, continuaram avançando em seus esforços com o tema da codificação após as revelações de Edward Snowden, em 2013, sobre a capacidade de vigilância da Agência Nacional de Segurança.

Acesso secreto

Mas depois dos sangrentos atentados em Paris, uma mudança pode ocorrer, afirmam os observadores.

"A prova de que os terroristas utilizaram ferramentas de codificação para se comunicar e matar pessoas pode provocar uma reviravolta na discussão, até agora definida pelo temor diante da Agência Nacional de Segurança" e suas operações de vigilância, afirmou Benjamin Wittes, que edita o blog jurídico Lawfare.

Steve Vladek, professor de direito na American University e editor do blog Just Security, considera que é cedo demais "para determinar se algo a propósito dos atentados em Paris deve mudar a escala de valores no debate atual sobre a codificação".

Vários especialistas em tecnologia e militantes pelas liberdades civis continuam destacando que permitir às autoridades dispor de um acesso especial às comunicações criptografadas não faria mais que reduzir a segurança online de forma geral.

Também significaria que os jornalistas ou pessoas que vivem sob regimes autoritários perderiam um meio de se comunicar livremente.

"Nunca pudemos criar uma 'porta dos fundos' que distinguisse os bons dos maus", disse Joseph Hall, do Centro para a Democracia e a Tecnologia. Permitir acessos especiais "significaria introduzir vulnerabilidades" nestes sistemas.

Mark Rotenberg, presidente do Electronic Privacy Information Center, advertiu que até o presente "não há provas de que um software de criptografia tenha dificultado uma investigação em relação aos atentados de Paris". "Pode muito bem se tratar de um fracasso humano em Inteligência", disse.

"Vão tentar usar (os atentados em Paris) para convencer as pessoas de que se necessita uma porta de acesso secreto", advertiu Bruce Schneier, criptógrafo e diretor da sociedade de segurança Resilient Systems. "Isto poderia mudar a situação porque as pessoas estão assustadas", concluiu.

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