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Brasília – Uma tese de mestrado defendida na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) analisa a dificuldade dos estudantes surdos de seguirem nos estudos após concluir o ensino médio. Mas o autor da tese, Ademar Miller é surdo e provou que é possível avançar. Após concluir o mestrado ele planeja fazer doutorado.

Ademar cursou pedagogia na UFES e foi o primeiro aluno surdo a obter o título de mestre na instituição. Em entrevista por Skype, com a participação de um intérprete de libras, Ademar contou que um dos desafios enfrentados ao longo do mestrado foi compreender alguns conceitos teóricos. “Senti dificuldades com os conceitos encontrados ali, com as questões filosóficas, mas com o tempo fui ampliando os conhecimentos”, disse.

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Ele conta que teve uma orientadora com quem se comunicava por meio da linguagem de libras e outra que sabia a língua dos sinais e acompanhava as orientações. “Outros professores que também estavam cursando mestrado na época e sabiam a língua dos sinais debatiam o texto comigo, o projeto, os textos, e fazíamos um trabalho conjunto na compreensão dos textos e na produção da dissertação”, relata.

Para orientar o estudante, a instituição e a equipe precisaram se adaptar. A professora orientadora, Ivone Martins de Oliveira, conta que aceitou o desafio mesmo não sabendo a linguagem de libras. “Ademar foi nosso aluno no curso de pedagogia e avaliamos que seria interessante investir. Desse desafio veio um grande aprendizado para mim e para o programa de pós-graduação”, disse a orientadora do programa de pós-graduação em Educação que trabalhou em conjunto com profissionais com conhecimentos de libras.

A orientadora conta que a barreira da língua exigiu um acompanhamento mais intenso do trabalho de Miller. “No caso do estudante surdo, a relação com a leitura e escrita em português acabam sendo um desafio para ele também”, explica. Ela acrescenta que o papel dos intérpretes foi fundamental durante todo o processo e professores de outras áreas da universidade também colaboraram com o processo.

Com o título de mestre, Ademar Miller conta que foi grande o desgaste até chegar a defesa da dissertação, no último mês de julho, e ele pretende descansar um período para partir para o mestrado. O tema da tese de Miller foi A Inclusão do Aluno Surdo no Ensino Médio.

No dia (3) foi celebrado o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que existem no Brasil aproximadamente 45 milhões de pessoas com alguma deficiência, o que representa 23,91% da população.

As dificuldades que enfrentou na escola por ser surda despertaram o interesse de Adriana Gomes Batista em seguir o magistério para tornar mais fácil o aprendizado de crianças na mesma condição. Atualmente, ela é professora da rede pública de ensino do Distrito Federal e dá aulas na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito.

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Quando estudou, a professora Adriana sofreu com a falta de material adequado e de intérprete em sala de aula. “Eu precisei me esforçar muito para avançar nos estudos. Foi muito exaustivo. Não tinha intérprete na sala de aula, eu não tinha o recurso visual. Quando criança, aprendi o português lido e isso era mais difícil. Por isso, tive o sonho de estudar para trabalhar com as crianças que tinham dificuldade”, relatou Adriana em linguagem de sinais, traduzida a Agência Brasil pela coordenadora da escola.

Para o futuro, ela quer mais. A intenção é ter material filmado para fazer avançar o trabalho em sala. “A linguagem de sinais envolve expressões e o ideal é material filmado”, explica. A educadora relata que quando ingressam na escola muitos alunos surdos ainda não entraram em contato com a linguagem de Libras. Além de ensinar os alunos, a escola tem também cursos voltados para a família, destinados a facilitar a comunicação dos estudantes em casa. 

Na Escola Bilíngue onde a professora Adriana ensina, as aulas são ministradas diretamente na linguagem de sinais, com o uso frequente de datashow e em turmas formadas por surdos. O modelo é diferente do adotado nas escolas inclusivas, onde as turmas são mistas e o professor dá aula oral com a presença de um intérprete de Libras.

“Antes, existia apenas o modelo de inclusão. O aluno tinha um limite de conteúdo e ele acabava perdendo muito”, avalia a professora. “O principal desafio é vencer as limitações dos alunos surdos. Queremos que eles ultrapassem as limitações que existiam no modelo de inclusão”, acrescenta.

Professores da rede estadual de ensino de Pernambuco participaram, nessa terça (6) e quarta-feira (7), da formação continuada que teve como tema “Leitura de imagem como estratégia de aprendizagem”. A qualificação, realizada na Secretaria de Educação do Estado (SEE), localizada no bairro da Várzea, no Recife, contou com palestras e trabalhos sobre a surdez.

Alguns dos assuntos abordados no evento foram estratégias visuais, atuações especializadas e escolarização dos jovens com deficiência auditiva. “Tiramos nossas dúvidas e acalmamos nossas inseguranças com relação ao rendimento do jovem em sala de aula. Queremos vê-lo progredir sempre”, declara uma das participantes da formação, Marinalda Napoleão, conforme informações da SEE.



O mestrando Marcelo Lúcio Correia de Amorim defenderá na próxima sexta-feira (31) às 10h no Centro de Informática (CIn) da UFPE, a tese "Estilos de Interação WEB de navegação e ajuda contextual para usuários surdos em plataformas de gestão da aprendizagem". A apresentação e o assunto é especial devido a condição do aluno, que é surdo e sente na pele a problemática envolvida em sua pesquisa.

Após quatro anos de estudos em sua segunda graduação na modalidade de Ensino à Distância (EAD) num turma formada apenas por surdos, Marcelo observou que todos os alunos apresentavam dificuldades em utilizar o ambiente virtual de aprendizagem.

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À partir daí, Marcelo resolveu desenvolver para o Amadeus (projeto de plataforma EAD do Centro de Informática da UFPE) uma melhor interface para alunos com deficiência auditiva. 

Em sua pesquisa, o jovem sugere melhorias envolvendo acessibilidade e usabilidade em ambientes virtuais para alunos surdos na modalidade EAD, com foco no projeto Amadeus do CIn/UFPE, cuja próxima versão (1.0) terá recurso de acessibilidade para alunos surdos, promovendo assim uma melhor inclusão dos mesmos no ensino superior. 

A experiência com Marcelo foi pioneira no CIn na inclusão de um estudante surdo em aulas com rotinas normais, rotina que Marcelo se adaptou bem. Para Fernando Fonseca, professor do Centro e orientador do trabalho, essa foi uma experiência diferente. “O CIn é um lugar de acessibilidade. Quando o aluno tem interesse e capacidade de se engajar nas atividades, a oportunidade chega”, explica Fonseca.  

Para Marcelo, a sua surdez não foi um obstáculo para o desenvolvimento de sua pesquisa. "os professores e alunos se mostraram disponíveis para ajudar no que fosse preciso, através do intérprete de Libras para Português e vice-versa, ou seja, fui aluno pesquisador como todos" afirma o mestrando.

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