Um mandado de reintegração de posse terminou em confusão na manhã desta quinta-feira (29). Cerca de 200 famílias que ocuparam um terreno localizado na Rua Castro Alves, no bairro doTorreão, Zona Norte do Recife, resistiram à determinação judicial e a polícia usou a força para retirar os populares. Na confusão, sete pessoas foram presas e alguns barracos foram incendiados.
Segundo o advogado Eduardo de Sousa Leão, que representava a construtora A.B. Côrte Real, proprietária do terreno, as famílias teriam sido avisadas e se recusaram a deixar o local pacificamente. “Tentamos contato com os ocupantes e não foi possível a negociação para a saída. Então entramos com um pedido de reintegração de posse, que foi concedido através de liminar na 24ª vara cível de Pernambuco. A polícia ainda chegou a vir aqui para avisá-los que teriam 15 dias para sair, mas eles informaram que não o fariam”, explicou.
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A líder comunitária Vânia Lúcia Lemos contestou a versão. De acordo com ela, apenas na última terça-feira (27), um oficial de justiça teria vindo avisá-los sobre a desocupação, mas não teria entregue nenhum documento. “Não nos entregaram nada e nos deram um dia para sair. O choque chegou aqui e arrombou o portão, sem conversar com ninguém, querendo que a gente saísse a pulso. Resistimos, mas não somos nada perto da polícia”, contou ela.
Os ocupantes chegaram ao terreno no dia 4 de março, segundo advogado da construtora, sob liderança da Organização e Luta por Moradia Digna (OLMD), que tem Chiquinho e dona Vânia como líderes. Vários barracos foram montados e até pequenos comércios. “Isso aqui era ponto de droga, prostituição e criminalidade há mais de 20 anos. Depois que entramos, fazem esse carnaval para nos retirar”, disse Vânia Lemos.
As sete pessoas presas, segundo o Major Gilmar, da Polícia Militar, foram encaminhadas para a central de flagrantes. “Alguns moradores tiveram a iniciativa de tocar fogo nos barracos e tivemos que usar a força somente em alguns casos de resistência ao cumprimento de mandado e desacato”, afirmou um dos comandantes da ação policial no local.
Ao fim da confusão, o líder comunitário Chiquinho, muito festejado no local, afirmou ter conseguido com a Companhia Estadual de Habitação e Obras (CEHAB), que as famílias sejam cadastradas para passar a receber auxílio moradia. Além disso, segundo ele, há uma possibilidade de que as famílias voltem ao terreno na Rua Castro Alves. Pertences dos ocupantes estavam sendo recolhidos e colocados em um caminhão, que segundo o motorista, foi alugado pela construtora proprietária do terreno.
Reunião com a polícia – Segundo integrantes do Núcleo de Assessoria Jurídica Popular, formada por estudantes da UFPE, os moradores da Vila Nova, como foi batizada a ocupação, foram convidados para uma reunião no quartel da Polícia Militar, no dia 14 de maio, e se recusaram a participar. “Seria apenas uma forma de pressioná-los a sair e não uma negociação. O próprio Ministério Público desaconselha que se participe de reuniões como essa”, explicaram.