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No início da década de 1970, cinco rapazes decidiram reunir seus instrumentos e fazer música nos terreiros de Nova Jerusalém, distrito de Fazenda Nova, município de Brejo da Madre de Deus, no interior de Pernambuco. Eles eram Toinho Alves (1943 – 2008) (voz e baixo), Fernando Filizola (viola), Marcelo Melo (voz, viola e violão), Luciano Pimentel (1941 – 2003) (percussão) e Alexandre dos Anjos, o Sando (flauta), jovens inquietos, afim de tocar e brincar. Mal sabiam eles que a ‘brincadeira’ renderia 50 anos de um trabalho que revolucionaria a música nordestina, influenciaria diversas gerações de artistas e daria à cultura popular do Nordeste um lugar de destaque no mundo através do ‘brinquedo’ que criaram: a banda Quinteto Violado. 

Parte dessa história é contada e cantada na canção ‘Tempo’, composta por Dudu Alves, tecladista e diretor musical do grupo que neste ano de 2021 celebra suas bodas de ouro. Dudu é filho de um dos fundadores do Quinteto, o baixista Toinho Alves, falecido em 2008. Em entrevista exclusiva ao LeiaJá o músico fala sobre a passagem desse tempo em tom de leveza porém com a mesma energia de um estreante: “Chegar aos 50 anos é para poucos grupos no Brasil, uma data tão marcante, e pra gente passou como um flash. Mas quando você olha pra trás, o tanto de coisa que a gente já fez é impressionante, o quanto já rodamos o mundo e fizemos pela música pernambucana e nordestina”. 

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Dudu Alves é o tecladista e diretor musical dos violados. Foto: Rafel Bandeira/LeiaJáImagens

Não é exagero. Os violados, como foram chamados desde o início de sua trajetória, já fizeram muitas coisas mesmo. São mais de 30 álbuns lançados, cinco DVDs e diversas circulações nacionais e internacionais que mostraram não só ao exterior como ao próprio Brasil, a cultura popular nordestina e pernambucana de um jeito nunca antes visto. Com arranjos diferenciados, que buscavam misturar elementos tradicionais à musicalidades diversas, como o jazz e o rock, o grupo pernambucano criou um modo todo particular de fazer música, que chamou atenção de outros grandes nomes do meio como Luiz Gonzaga, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

Segundo Dudu, a inquietação de misturar ritmos e “inovar” sempre foram elementos fundamentais no processo criativo da banda. Um “DNA” fortemente implementado pelo seu pai, Toinho Alves. “O grupo, quando surgiu, veio com a proposta de trazer para a música nordestina uma leitura diferente. Na época, existia uma dúvida grande sobre o que era o estilo do Quinteto Violado, se era um grupo de carnaval, folclórico ou de São João e, na verdade, é uma mistura de tudo isso, só que com o toque da influência do mundo. O próprio Gilberto Gil colocou isso para a imprensa, ele disse que o estilo do Quinteto é um ‘free nordestino’, foi uma sacada do Gil porque é exatamente isso”. 

Os violados Sandro Lins (direita), Roberto Medeiros (meio) e Ciano Alves. Foto: Rafael Bandeira

O espírito de renovação dos violados respinga também na própria formação do grupo. Nas últimas cinco décadas, já passaram cerca de 15 músicos pela banda - o único remanescente da formação original é Marcelo Melo (voz e violão). Junto a ele e a Dudu, estão, hoje, o flautista Ciano Alves, o contrabaixista Sandro Lins e o percussionista Roberto Medeiros. A circulação de integrantes e colaboração de convidados, porém, mantém firme o “DNA” implementado por Toinho Alves, o que garante o caráter experimental e jovial da obra do Quinteto. “Ao longo desse tempo ele (Toinho) veio passando isso pras pessoas que entravam no grupo. Todos os músicos que passaram pelo grupo vestiram a camisa e assumiram essa proposta”.

Sendo assim, o Quinteto Violado chega aos 50 anos “com muita juventude”, como diz Dudu. O grupo conseguiu manter-se ativo atravessando uma Ditadura Militar - período em que chegou a ter músicas proibidas pelo regime, como ‘Mourão Voltado’ -, enfrentando as mudanças tecnológicas que respingam nos modos de fazer e consumir música, e até uma pandemia de dimensões globais, a do novo coronavírus.

Hoje, a banda figura como uma das mais importantes e longevas da música popular brasileira soando mais atual do que nunca e com públicos que se renovam constantemente. “Essas gerações, a gente vai atravessando, atravessando esses momentos fortes. Hoje em dia, eu acho que a gente também sofre muito com essa forma de colocar a cultura de uma forma mais restrita e aí termina que envenenou com a história da pandemia, que foi outra forma de também polir muito o que a gente vem fazendo, mas eu acho que a gente tá aqui pra atravessar e mostrar que a arte está viva independente de quem esteja no comando do nosso país, isso faz parte da nossa cultura”.  

Marcelo Melo é o único remanescente da formação original do Quintento. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

50 anos dos violados

O cinquentenário do Quinteto Violado chega no momento em que a pandemia finalmente dá uma arrefecida possibilitando o relaxamento de medidas de segurança e a volta de eventos sociais. Isso permitiu aos violados a retomada de alguns projetos, como o Na Estrada, realizado em parceria com a Banda de Pau e Corda (nascida por influência do próprio Quinteto). Juntos, os grupos pernambucanos devem rodar o Brasil mostrando sua música após o Carnaval de 2022. Além disso, em dezembro o Quinteto lança um novo álbum nas plataformas digitais de um show ao vivo gravado em Minas Gerais.

Já para celebrar o aniversário, a banda sobe ao palco do Teatro de Santa Isabel, nesta quarta (20), em um reencontro com o público depois de uma temporada de muitas lives durante a quarentena. O show será exclusivo para uma plateia de 200 convidados, segundo Dudu, elaborar um repertório que contemplasse cinco décadas de muita produção musical de qualidade não foi tarefa fácil. "Vai ser o primeiro show para o público, nossa retomada, no Santa Isabel que a gente chama de nossa casa aqui no Recife, porque é um teatro que tem muita ligação com nossa história. Vai marcar muito porque além de ser o primeiro (show de retomada) é a data do aniversário do Quinteto, 20 de outubro é a data que marca nossos 50 anos. Vai ser muito emocionante”.

Reprodução

Além disso, nesta quarta (20) também será o lançamento da terceira edição do livro Lá Vem os Violados, escrito pelo jornalista José Teles. A biografia do grupo, lançada originalmente em 2012, ganhou nova versão na qual Teles repassa a trajetória da banda desde seu início, em 1971, destacando o envolvimento dos músicos com a cultura nordestina, as mudanças de integrantes, o sucesso em solo internacional e a influência do Quinteto em outras gerações de músicos. Haverá um ponto de venda do livro no hall do Teatro de Santa Isabel. A obra também pode ser encontrada no site da editora Cepe. 

 

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