Gustavo Krause

Gustavo Krause

Livre Pensar

Perfil: Professor Titular da Cadeira de Legislação Tributaria, é ex-ministro de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, no Governo Fernando Henrique, e da fazenda no Governo Itamar Franco, além de já ter ocupado diversos cargos públicos em Pernambuco, onde já foi prefeito da Capital e Governador do Estado.

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Sobre o Céu e a Terra

Gustavo Krause, | ter, 20/08/2013 - 07:44
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Quem leu o livro SOBRE o CÉU e a TERRA não se surpreendeu com as ideias inspiradoras dos discursos do Papa Francisco em sua passagem pelo Brasil.

Com um título inteligentíssimo, este livro, publicado em 2010, tem por conteúdo um diálogo entre o então cardeal Jorge Bergoglio e o rabino Abraham Skorka. É uma obra profunda na reflexão, simples na revelação e verdadeira nas convicções, atributos de fascinante sabedoria.

No livro, são objetos da iluminada conversa 29 temas versando sobre Deus, fundamentalismo, morte, política e poder, ateus, ciência, casamento de pessoas do mesmo sexo, globalização, pobreza, holocausto, etc... A insuficiência deste espaço estimula o conhecimento integral da grandeza deste encontro e a mensagem dele extraída que entrelaça as coisas do céu e da terra. A solução é ler, reler, aprender e apreender a humildade sacerdotal e a compaixão pela dimensão humana que somente os espíritos elevados são capazes de manifestar e exercer no mundo real.

 

Com insuperáveis limitações, arrisco destacar algumas passagens do livro.

 

Sobre o diálogo. Skorka: “Dialogar, em seu sentido mais profundo, é aproximar a alma de um à do outro, a fim de revelar e iluminar o seu interior”; Bergoglio: “Dialogar implica uma acolhida cordial e não uma condenação prévia”.

 

Sobre Deus. Bergoglio: “Como é boa a palavra caminho! Diria que encontramos Deus caminhando, andando, buscando-o e deixando-nos buscar por Ele”; Skorka: “Deus, em meu entender, revela-se a nós de um modo muito sutil”.

 

Sobre os ateus. Bergoglio: “Não encaro a relação para fazer proselitismo com um ateu, eu o respeito e me mostro como sou [...] conheço mais gente agnóstica do que ateia; o primeiro é mais dubitativo, o segundo está convencido [...] não tenho o direito de julgar a honestidade dessa pessoa”; Skorka: “O primeiro passo é respeitar o próximo [...] a posição mais rica é daquele que duvida [...] o agnóstico pensa que ainda não encontrou a resposta, agora o ateu tem certeza 100% de que Deus não existe. Tem a mesma arrogância de quem garante que Deus existe, tal como existe esta cadeira sobre a qual estou sentado [...] Deus está além de toda lógica e seus paradoxos”.

 

Sobre a oração. Skorka: “A oração tem que ser um ato de profunda introspecção, cada um deve se encontrar si mesmo e começar a falar com Deus”; Bergoglio: “Orar é um ato de liberdade [...] A oração é falar e escutar”.

 

Sobre o fundamentalismo. Skorka: “O fundamentalismo é uma atitude: as coisas são de um jeito e não se discute, não podem ser de outro [...] É preciso encontrar o caminho do meio”; Bergoglio: “O sacerdote que se atribui o papel diretivo, como nos grupos fundamentalistas, anula e castra as pessoas na busca de Deus”.

 

Sobre a eutanásia, ambos concordam no prolongamento da vida, asseguradas a qualidade de vida e a dignidade humana. Sobre os idosos, condenam o conceito de velhos como material descartável aplicado, de um modo geral, aos excluídos da civilização “consumista, hedonista e narcisista”.

 

Impressiona como ambos, ao tratar de assuntos atuais, explosivamente polêmicos, a exemplo do casamento de pessoas do mesmo sexo, distinguem o religioso do que Bergoglio chama “retrocesso antropológico”, ao mesmo tempo em que reconhece que “Deus deixou em nossas mãos até a liberdade de pecar”. Sobre globalização convergem com a genial comparação feita por Bergoglio “Se concebermos a globalização com uma bola de bilhar, anulam-se as virtudes ricas de cada cultura”.

 

Saltando capítulos importantes, deixei para o fim o que eles pensam sobre a política e o poder, com ênfase em Bergoglio pelo fato de encarnar, como Papa, um enorme poder e exercer a política. Diz ele: “Somos todos animais políticos [...] A pregação de valores humanos, religiosos, tem uma conotação política gostemos ou não [...] o desprestígio do trabalho político precisa ser revertido, porque a política é a forma mais elevada de caridade social. O amor social se expressa no trabalho político para o bem comum”. 

 

No Brasil, com simplicidade franciscana, o Papa fez uma pregação em 16 primorosos pronunciamentos e, diante dos representantes da sociedade brasileira, aconselhou “diálogo, diálogo, diálogo” na construção da “cultura do encontro”. Sobre a responsabilidade dos que são chamados a enfrentar o futuro, invocou o olhar proposto por Alceu Amoroso Lima: “com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade”.

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