Tópicos | 10ª fase

A Justiça Federal decretou o sequestro de R$ 40 milhões nas contas do lobista Adir Assad e de seis empresas ligadas a ele, usadas para movimentar propina, segundo a Operação Lava Jato. Foi decretado ainda o bloqueio em contas de três pessoas que eram usadas como 'laranjas' por Assad.

O lobista foi preso na manhã desta segunda-feira, 16, na décima fase da Lava Jato batizada de Operação 'Que País É Esse?'. O alvo principal é o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, que também foi preso preventivamente.

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O advogado Miguel Pereira, que defende Adir Assad, rechaçou enfaticamente as suspeitas da Polícia Federal contra seu cliente. Pereira não admite a comparação dos investigadores que atribuem a Assad o papel que foi protagonizado por Marcos Valério, operador do mensalão. "Assad não é Marcos Valério, é um engenheiro civil de formação, sempre trabalhou em obras, efetivamente trabalha em obras", declarou Miguel Pereira.

Assad é apontado pela PF como operador de propinas da empreiteira Delta, alvo de outro escândalo envolvendo o contraventor Carlinhos Cachoeira, em 2012.

O advogado disse que vai tomar ciência do que consta formalmente contra Assad nos autos da Operação Lava Jato e definir a estratégia para tentar derrubar a ordem de prisão preventiva.

"Os autos correm em segredo, ainda vamos ter acesso a eles. O ideal é que o processo corra de acordo com toda a segurança jurídica e o respeito ao devido processo legal."

Miguel Pereira disse que "existem elementos para buscar a revogação dessa prisão preventiva".

"A situação (de Assad) não preenche nenhum requisito para a prisão preventiva", pondera o advogado. "Ele não é Marcos Valério, não é lobista, não é doleiro. É engenheiro e também trabalha na área de shows."

No pedido de prisão preventiva de Renato Duque, o Ministério Público Federal destacou "o papel fundamental desempenhado (pelo ex-diretor da Petrobrás) na organização criminosa" - grupo que instalou na estatal um esquema de corrupção e propinas a políticos. Os procuradores da República que integram a força tarefa da Operação Lava Jato juntaram ao pedido o resultado do rastreamento bancário que mostram as transferências realizadas por Duque da Suíça para o Principado de Monaco, num total de 20,56 milhões de euros, cerca de R$ 70 milhões.

"A prisão preventiva deve ser decretada como garantia da ordem econômica, na medida em que a recente operação de ocultação e a dissimulação do produto de milhões de reais de crimes contra a administração pública certamente lesa gravemente a ordem econômica", assinalam os procuradores.

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"Dessa forma, em primeiro lugar o esforço recente do investigado para continuar a proceder à ocultação e à dissimulação do produto de crimes indicam que a liberdade representa um sério risco à ordem pública, pois é muito possível, e, mais que isso, muito provável que o ex-diretor Duque continue operando suas contas bancárias com valores ocultos em outros países."

"Sua segregação cautelar, de outro lado, desestruturaria o esquema criminoso e evitaria a reiteração delitiva, razão pela qual deve ser decretada", sustentam os procuradores.

Os integrantes da força tarefa da Lava Jato observam, ainda. "O manejo dos recursos ilícitos no exterior demonstra o inequívoco propósito do investigado (Duque) de dificultar e obstruir a investigação da organização criminosa, mormente no que se refere ao encontro da prova materializada de seus crimes no estrangeiro. Vale frisar que as transferências das contas de Duque envolvem diversos países, o que levanta a possibilidade de o ex-diretor se utilizar do mesmo expediente em outros locais em que os valores ainda não se encontram bloqueados."

Os procuradores fazem referência à primeira ordem de prisão decretada contra Duque, em novembro de 2014. Na ocasião, o ex-diretor da estatal foi preso, mas dias depois acabou conseguindo a liberdade por decisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).

"Atualmente, com o avanço das investigações, foram produzidas ainda mais provas concretas e contundentes do envolvimento de Renato de Souza Duque com o fatos, havendo novos fundamentos para a decretação da prisão preventiva para a garantia de ordem pública e ordem econômica", anotam os procuradores.

No despacho em que mandou prender preventivamente Renato Duque, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Operação Lava Jato, ressaltou que é "assustador" o fato de que o pagamento de propinas para o ex-diretor de Serviços da Petrobrás continuou ocorrendo ainda no segundo semestre de 2014 - meses depois da deflagração da investigação sobre o esquema de corrupção na estatal petrolífera.

O magistrado destacou que o rastreamento bancário mostra que Duque "transferiu os saldos milionários de suas contas na Suíça para contas em instituições financeiras em outros países, entre eles o Principado de Monaco". Todos os ativos nas contas de Duque já foram bloqueados pelo Principado.

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As autoridades do Principado de Monaco embargaram, nos últimos dias, valores em contas offshore controladas por Renato de Souza Duque mantidas no Banco Julius Baer: conta em nome da off shore Milzart Overseas Holdings Inc, com saldo de 10.274.194,02 euros; - conta em nome de Pamore Assets Inc, com saldo de 10.294.460,10 euros. O total de 20.568.654,12 euros representa aproximadamente R$ 70 milhões.

"Esses fatos encontram prova documental nos autos, inclusive a afirmação expressa das autoridades de Monaco de que as duas contas são controladas por Renato Duque", anota o juiz Sérgio Moro. "Oportuno destacar que Renato Duque não declarou, à Receita Federal, qualquer valor mantido no exterior, que jamais admitiu perante o Juízo ou ao Supremo Tribunal Federal que teria contas no exterior, e ainda que o montante bloqueado é absolutamente incompatível com os rendimentos que recebia como ex-diretor da Petrobrás."

O rastreamento mostra que ainda no segundo semestre de 2014, a conta em nome da offshore Milzart Overseas, no Banco Julius Baer, no Principado de Monaco, que tinha como beneficiário e controlador Renato Duque, recebeu, em diversas operações de crédito, cerca de US$ 2.220.517. Já a conta em nome da offshore Pamore Assets, no Banco Julius Baer, também no Principado de Monaco recebeu, no segundo semestre de 2014, a quantia de 208.643,65 euros.

"Esses valores foram provenientes de contas mantidas em nome das offshores Tammaroni Group e Loren Ventures, no Banco Lombard Odier, na Suíça, que também seriam controladas por Renato Duque, ainda em 2014?, assinala o juiz Moro.

O juiz da Lava Jato citou, na decisão, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, que detinha soma superior a US$ 26 milhões em contas na Suíça. "Os indícios são de que Renato Duque, com receio do bloqueio de valores de suas contas na Suíça, como ocorreu com Paulo Roberto Costa, transferiu os fundos para contas no Principado de Monaco, esperando por a salvo seus ativos criminosos."

O juiz destacou trechos do relato do engenheiro Shinko Nakandakari, apontado como um dos onze operadores de propinas na Diretoria de Serviços, cota do PT na Petrobrás. Em delação premiada, Shinko revelou ter intermediado o pagamento de propinas da empreiteira Galvão Engenharia a Pedro Barusco, ex-gerente e braço direito de Duque. Segundo Shinko, os repasses a Duque eram realizados "em valores milionários".

"(Shinko) Declarou que entregou pelo menos um milhão de reais em espécie a Renato Duque", assinala o juiz no novo decreto de prisão contra Duque. "O mais assustador é que Shinko confessou o pagamento de propinas ainda no segundo semestre de 2014, quando a assim denominada Operação Lava Jato já havia ganho notoriedade na imprensa. Indagado, admitiu que, mesmo com a notoriedade da investigação, nem ele ou a empreiteira sentiram-se tolhidos em persistir no pagamento de propinas, o que também parece ser o caso de Renato Duque, já que realizou operações de lavagem em 2014, já durante o curso das investigações."

O empresário e lobista Adir Assad, preso nesta segunda feira, 16, pela Polícia Federal na Operação 'Que País é Esse?', é apontado como o 'Marcos Valério do esquema Delta', a empreiteira que se associou ao contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Segundo a PF, Assad agia como operador dos esquemas da Delta para repasse de propinas a políticos, o que lhe valeu a comparação com o operador do mensalão - Marcos Valério foi acusado de fazer repasses de dinheiro ilícito a políticos.

Na Operação Lava Jato, dois delatores - os executivos Júlio Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça - afirmaram terem pago propinas de até R$ 60 milhões ao ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque e ao PT. Eles indicaram ainda a conta 'Marinelo' mantida por Duque no exterior, na qual depositaram US$ 1 milhão. Revelaram, ainda, que o esquema envolvendo a diretoria controlada pelos petistas na estatal petrolífera movimentava dinheiro via empresas de fachada ligadas à construtora Delta e ao lobista Adir Assad.

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Assad tem um longo histórico de ligações com empresas de fachada geralmente usadas para financiamento de campanhas com recursos desviados de obras públicas. A empreiteira Delta foi alvo das investigações que resultaram na prisão de Carlinhos Cachoeira.

Agora na mira da Operação 'Que País é Esse?', na qual também foi capturado o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, o lobista Assad aparece como sócio majoritário ou gestor de dezenas de companhias que só existem no papel, segundo os investigadores.

Em setembro de 2013, a PF deflagrou a Operação Saqueador. Na ocasião, a PF informou que a Delta e seu controlador, o empresário Fernando Cavendish, transferiram R$ 300 milhões para 19 empresas de fachada entre 2007 e 2012. O dinheiro era sacado em espécie, nos bancos, por pessoas que tinham procurações das empresas fictícias.

Na Operação Saqueador, 100 policiais federais cumpriram 20 mandados de busca e apreensão no Rio, São Paulo e Goiás. Amparada na quebra do sigilo bancário de cerca de 100 pessoas físicas e jurídicas, autorizada em 2012 pela CPI do Cachoeira, a Polícia Federal constatou que Assad aparece como laranja de quase uma dezena de empresas de fachada, por meio das quais fazia emissão de notas frias de serviços e locação de máquinas e equipamentos para a empreiteira.

O sistema, segundo os federais, permitia que recursos desviados de obras públicas retornassem ao caixa da empreiteira e, depois, eram usados para duas finalidades: corromper servidores para ganhar licitações e financiar campanhas eleitorais por meio de caixa 2.

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