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Batalhas de estilo, contestação política ou acessos de raiva. Em 70 edições, muitos escândalos atingiram a história do Festival de Cannes e contribuíram, também, para sua lenda.

- "Dolce Vita"/"Avventura": escândalos à italiana -

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Em 1960, "L'Avventura" ("A Aventura"), de Michelangelo Antonioni, desconcerta o público ao lançar pelos ares as convenções narrativas clássicas. A projeção é um desastre. O filme é vaiado, a atriz, Monica Vitte, começa a chorar. Trinta e sete artistas, incluindo Roberto Rossellini, enviam uma carta de apoio a Antonioni, que recebe o Prêmio do Júri.

Retrato deslumbrante de uma Itália desencantada, "La Dolce Vita" ("A Doce Vida"), de Federico Fellini, chega no mesmo ano a Cannes precedida de um cheiro de enxofre. O Vaticano condena um filme decadente, rebatizado por ele de "La sconcia vita" (A vida repugnante). Apoiado pelo presidente do Júri, o romancista Georges Simenon, leva a Palma de Ouro.

- O ambiente de maio de 1968 inunda Cannes -

No dia 10 de maio de 1968, enquanto Paris se cobre de barricadas, as estrelas se encontram no 21º Festival de Cannes. Os ventos do protesto cruzam rapidamente as portas do festival. Truffaut, Godard, Lelouch propõem interromper o festival e ocupar o palácio. Cineastas contestatários detêm uma projeção; os membros do júri renunciam, os diretores retiram seus filmes da competição. O Festival de Cannes de 1968 será uma manifestação sem vencedor.

- Cannes digere mal "A Comilança" -

Em 1973, a seleção francesa comove a Croisette. Cru e provocativo, "La maman et la putain" ("A mãe e a puta"), de Jean Eustache, divide a crítica e os presentes no Festival. A investida verbal do triângulo amoroso de Jean-Pierre Léaud, Françoise Lebrun e Bernadette Laffont é classificada de "obra-prima" por uns e de "escândalo" por outros.

E isso não é nada comparado com "La grande bouffe" ("A Comilança"), de Marco Ferreri. O suicídio coletivo em forma de festa gigantesca de Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Ugo Tognazzi provoca assobios, vaias, náusea, mas também aplausos por esta feroz crítica à sociedade de consumo.

Os dois filmes levam o prêmio da crítica internacional e "A mãe e a puta" o Grande Prêmio Especial do Júri.

- Os fotógrafos ignoram Adjani -

Em 1983, Isabelle Adjani, protagonista feminina de "L'été meurtrier" ("Verão assassino"), deixa os jornalistas na mão ao se negar a comparecer à tradicional coletiva de imprensa. Privados de suas imagens, os fotógrafos se vingam na mesma noite.

Para protestar contra o capricho da artista, deixam suas lentes no chão e lhe dão as costas quando sobe as escadas do Palácio dos Festivais para a projeção oficial.

- O punho ameaçador de Pialat -

No dia 20 de maio de 1987, Maurice Pialat coloca fim a 21 anos de penúria para os diretores franceses ao ganhar a Palma de Ouro por "Sous le soleil de Satan" ("Sob o sol de Satã"), adaptado do livro de Georges Bernanos. Mas o prêmio foi mal recebido pelos presentes no Festival, que lançam assobios. No palco do Palácio dos Festivais, o irascível cineasta alfineta: "Vocês não gostam de mim, pois saibam que também não gosto de vocês", com o punho cerrado.

- Lars von Trier, persona non grata -

Em 2011, Lars Von Trier, que participava com "Melancholia" ("Melancolia"), provoca polêmica com comentários ambíguos sobre Hitler e o nazismo. Na coletiva de imprensa, expressa sua "simpatia" por Hitler e declara que "Israel é um pé no saco".

Apesar de seu pedido de desculpas, a direção do festival declara o diretor dinamarquês "persona non grata", uma sanção sem precedentes.

"Melancolia" segue, no entanto, em competição e a atriz americana Kirsten Dunst recebe o prêmio de melhor interpretação feminina por seu papel no filme.

O diretor dinamarquês, premiado em 2000 com a Palma de Ouro por "Dancer in the dark" ("Dançando no escuro"), não foi convidado ao Festival desde então.

A crise dos refugiados, as mudanças climáticas e o ativismo entraram na programação do Festival de Cannes, dando um colorido político à edição da maior mostra de cinema do mundo.

"Espero que a Coreia do Norte ou a Síria não ofusquem esta edição, que queremos que seja estável, que seja festiva", declarou o presidente do festival, Pierre Lescure, ao apresentar a seleção deste ano.

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"Esperamos que este festival seja uma folga que permitirá não falar só de cinema, mas do cinema como reflexo do mundo (...), falamos de política e de grandes temas", postulou.

O destino dos refugiados é um tema abordado em vários filmes programados este ano, alguns deles inclusive na mostra oficial.

Em "Happy end", o diretor austríaco Michael Haneke, que já tem duas Palmas de Ouro, volta a trabalhar com Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintigant para contar a história de uma família burguesa do norte da França, que vive perto de um acampamento de imigrantes.

O húngaro Kornél Mandruczo (prêmio Um Certo Olhar em 2014 por "White God") apresenta "Jupiter's Moon", um filme de gênero fantástico sobre a acolhida dos refugiados.

O mexicano Alejandro González Iñárritu volta à Croisette, desta vez com um projeto de realidade virtual sobre a experiência de ser um migrante. "Carne y arena", apresentado fora da competição, acompanha um grupo de refugiados "vivendo intensamente parte de seu périplo", segundo declarações do cineasta mexicano, citado em um comunicado.

Por outro lado, a atriz e ativista britânica Vanessa Redgrave apresentará "Sea Sorrow", um documentário com esta mesma temática.

Na seção paralela Um Certo Olhar, o eslovaco Gyorgy Kristof descreve em "Out" o mundo dos trabalhadores migrantes na Europa.

Nesta mesma seção, o thriller político "La cordillera", do argentino Santiago Mitre, é protagonizado por Ricardo Darín, que inteprteta um presidente argentino reunido com vários colegas latino-americanos no topo da Cordilheira dos Andes, no Chile.

Outro filme com temática política, "Napalm", de Claude Lanzmann, será exibido em sessão especial. O diretor de "Shoah" se concentra aqui na Coreia do Norte, aonde viajou quatro vezes desde 1958.

O filme pode suscitar polêmica, o que não desagradaria o cineasta. "A Coreia do Norte não é o eixo do mal, segundo George W. Bush", disse em entrevista recente à AFP.

No plano ambiental, será exibida a segunda parte do documentário sobre as mudanças climáticas do ex-vice-presidente americano Al Gore, "Uma verdade inconveniente", 11 anos depois da estreia do primeiro filme. Em "An Inconvenient Sequel: Truth to Power" (Uma Sequência Inconveniente), Gore prossegue com sua luta por todo mundo para formar um exército de defensores do clima.

O francês Robin Campillo ("Eastern boys") escolheu como tema de seu novo filme, "120 battements par minute", a luta da associação Act Up para fornecer tratamento a doentes de Aids nos anos 1990. Este filme disputa a Palma de Ouro.

Além disso, a 70ª edição do festival prestará homenagem ao grande cineasta polonês Andrzej Wajda, falecido em outubro de 2016 e ganhador da Palma de Ouro em 1981 por "O homem de ferro", sobre as origens do sindicato Solidariedade. O líder histórico do Solidariedade, Lech Walesa, deverá assistir o ato.

Veja alguns números da seleção oficial do Festival de Cannes 2017:

- 49 longas-metragens de 29 países foram selecionados de um total de 1.930 propostos para o maior festival de cinema do mundo, contando com os trabalhos apresentados fora de competição, em "sessões da meia-noite" ou "mostras especiais". O número de filmes inscritos foi de 1.869 em 2016.

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- Deste total, 18 longas estão em competição e 16 serão exibidos na mostra paralela "Un certain regard".

- Entre os diretores que disputam a Palma de Ouro, apenas o austríaco Michael Haneke já foi premiado, e em duas ocasiões, por "A fita branca" em 2009 e "Amour" en 2012.

- Dos 18 filmes que concorrem à Palma de Ouro, quatro são assinados por cineastas franceses, quatro por americanos, dois por coreanos, um por um húngaro, um por um britânico, um por um austríaco, um por um russo, um por um ucraniano, um por um grego, um por um alemão e um por um japonês.

- 3 mulheres cineastas estão disputando a Palma de Ouro, o mesmo número que no ano passado: a americana Sofia Coppola, a japonesa Naomi Kawase e a britânica Lynne Ramsay.

Veja alguns números da seleção oficial do Festival de Cannes 2017, que acontecerá de 17 a 28 de maio:

- 49 longas-metragens de 29 países foram selecionados de um total de 1.930 propostos para o maior festival de cinema do mundo, contando com os trabalhos apresentados fora de competição, em "sessões da meia-noite" ou "mostras especiais". O número de filmes inscritos foi de 1.869 em 2016.

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- Deste total, 18 longas estão em competição e 16 serão exibidos na mostra paralela "Un certain regard".

- Entre os diretores que disputam a Palma de Ouro, apenas o austríaco Michael Haneke já foi premiado, e em duas ocasiões, por "A fita branca" em 2009 e "Amour" en 2012.

- Dos 18 filmes que concorrem à Palma de Ouro, quatro são assinados por cineastas franceses, quatro por americanos, dois por coreanos, um por um húngaro, um por um britânico, um por um austríaco, um por um russo, um por um ucraniano, um por um grego, um por um alemão e um por um japonês.

- 3 mulheres cineastas estão disputando a Palma de Ouro, o mesmo número que no ano passado: a americana Sofia Coppola, a japonesa Naomi Kawase e a britânica Lynne Ramsay.

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