Entra inverno e sai inverno e os recifenses passam pelos mesmos velhos problemas: ruas e avenidas alagadas, famílias ilhadas e sem terem como sair de casa. O Instituto Maurício de Nassau, na pesquisa que registra um diagnóstico da cidade,mostra que 52% da população da mora justamente em áreas onde em dias de chuva normalmente costumam alagar.
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Diante de um cenário tão repetitivo, a certeza de que no ano seguinte a situação será a mesma traz uma pergunta que parece ser difícil de responder: por que o Recife sofre tanto com alagamentos na época chuvosa?
O professor do Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Jaime Cabral explica que a morfologia do Recife dificulta o escoamento das águas, já que a cidade está praticamente no mesmo nível do mar. Em função disso, basta que a maré atinja pontos altos para que algumas ruas recebam o refluxo dessas águas e alaguem. “O Recife é uma cidade predisposta a sofrer alagamentos, tem chuvas intensas e se configura numa planície cercada por morros. Por conta dessa configuração, a água da chuva escorre devagar, do morro para a planície, e aí acontecem os alagamentos”, comenta Jaime Cabral.
José Orlando Vieira, professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e doutor em Engenharia Civil e Urbana, reforça que a ação dos moradores também contribui para o agravamento do problema. Por mais batido que seja, jogar lixo em galerias provoca a obstrução de canais e reduz a vazão da água que deveria escoar para as estruturas de drenagem. O professor ainda lembra que tais estruturas, hoje, não são eficazes o suficiente. “Alguns sistemas de drenagem são antigos. Além disso, com o desenvolvimento da cidade e a construção de mais vias pavimentadas, a área de infiltração da água diminuiu, o que tornou esses sistemas insuficientes para a estrutura que temos no Recife”, acrescenta.
Sem ter uma solução à vista, os recifenses podem custar a acreditar que esse seja um problema passível de ser, ao menos, minimizado. Para os dois professores, há sim alternativas que podem ser planejadas e uma delas a elaboração de um projeto urbanístico de assentamento, pavimentação e drenagem, que deve ser adotado em conjunto e pensando a cidade como um todo.
Segundo o professor da UFPE, é preciso ainda que haja uma manutenção constante e sistemática de rios, galerias e riachos, além de um forte trabalho no que diz respeito à contenção da destruição de riachos e aterramento de mangues, que também são áreas de escoamento de águas. “Nos últimos 400 anos, o Recife viveu um processo histórico de estreitamento dos seus riachos. Nos últimos 50, o avanço dessa destruição foi ainda maior com o aumento da capacidade tecnológica das máquinas para construir ruas e casas. A alternativa é tentar recuperar o antigo espaço das águas e, no mínimo, não realizar mais aterramentos”, explica.
Confira no vídeo abaixo os pontos abordados pelo professor Jaime Cabral sobre como o Recife pode minimizar os problemas com alagamentos por meio de políticas públicas.
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