A Corregedoria da Polícia Militar do Rio instaurou inquérito policial militar (IPM) para apurar as circunstâncias do sumiço do pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 47 anos, após ele ter sido levado por PMs à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha, na zona sul, no dia 14, para "averiguação". Todos os PMs que estão sendo investigados estão afastados da UPP e cumprem expediente administrativo na sede da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), no Complexo do Alemão, zona norte. A cúpula da segurança admitiu nesta quarta-feira, 31, que já trabalha com a hipótese de que Amarildo esteja morto.
Os policiais militares, que já foram interrogados pela Polícia Civil, serão novamente ouvidos pela Corregedoria da PM. O órgão vai receber cópias do procedimento da 15ª Delegacia de Polícia (Gávea), que apura o caso como desaparecimento. Em 17 dias de investigação, o delegado Orlando Zaccone ouviu os depoimentos de dez PMs (entre eles um oficial da UPP) e de parentes da vítima. Também foram analisadas imagens de câmeras de segurança da Rocinha. A última vez que o pedreiro aparece é entrando na UPP. Não há registro de saída dele do local.
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Nesta quarta-feira o procedimento da 15ª DP, com o relatório de Zaccone, foi encaminhado à Divisão de Homicídios, que abrirá inquérito. "Será tratado dessa forma", disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, ao ser perguntado se Amarildo já é considerado morto. O governador Sérgio Cabral (PMDB) prometeu uma solução para o caso: "Vamos descobrir onde está o Amarildo".
Os estudantes Anderson Gomes, de 21 anos, e Ana Beatriz Gomes, de 13, filhos do pedreiro, estiveram nesta quarta no Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF) da Polícia Civil, no centro, para ceder amostras de sangue para exame de DNA. O objetivo é descobrir se é de Amarildo uma mancha de sangue encontrada no banco de trás da viatura da PM que conduziu o pedreiro até a sede da UPP Rocinha. Segundo Zaccone, o resultado do teste deve ficar pronto na próxima sexta-feira, 02.
Outros desaparecidos
A ONG Rio de Paz realizou um ato público na Praia de Copacabana para cobrar solução para o sumiço de Amarildo e dos outros 35 mil casos de desaparecimento registrados no Estado do Rio desde 2007.
Foram espalhados na areia dez manequins cobertos com tecido transparente, que representavam as vítimas. Os ativistas também estenderam na areia uma faixa que perguntava "Onde está Amarildo?". O fundador da ONG, Antônio Carlos Costa, explicou que o tecido de filó que envolvia os corpos faziam alusão à incerteza de não se conhecer o paradeiro dessas pessoas. Faixas vermelhas representavam o sangue das vítimas, que muitas vezes são torturadas antes de mortas, e máscaras mostravam que "os desaparecidos deixam de ser vistos como humanos e passam a ser considerados números".
O protesto foi finalizado com o enterro de manequins na areia e a reprodução de um cemitério clandestino, destino de grande parte dessas vítimas. "O Rio está cheio deles, onde jazem corpos de pessoas cujas famílias esperam suas voltas para casa".
(Colaboraram Clarice Cudischevitch e Luciana Nunes Leal)