De "campeão regional" a um "grande potencial". Essa foi a mudança na visão japonesa em relação à economia brasileira nos últimos dez anos. Segundo fontes graduadas do governo japonês, que acompanharam o premiê Shinzo Abe em sua visita à presidente Dilma Rousseff na sexta-feira (1), há uma década o Brasil reunia todas as condições de se firmar como líder econômico da América Latina. De lá para cá, no entanto, outras economias tomaram a dianteira e se mostram mais "vibrantes" hoje em dia.
A avaliação leva em conta uma boa dose de abertura comercial e negociações de acordos com os japoneses para redução de tarifas de importação por México, Peru, Colômbia e Chile - os latino-americanos da chamada Aliança do Pacífico. O Brasil, por outro lado, permanece atado ao Mercosul, não apenas política e ideologicamente, mas também por regras do bloco que não permitem negociação de acordos comerciais em separado desde 2001.
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Integrantes da comitiva e diplomatas próximos ao premiê relataram ao Estado ter havido questionamentos, nas conversas reservadas, sobre os motivos de o Brasil não se libertar de tratados que o vinculam ao Mercosul apesar do baixo dinamismo comercial do bloco. A situação se agrava no momento em que a Argentina entra em situação de default de parte de sua dívida externa e a Venezuela enfrenta fortes turbulências cambiais internas.
Também foi comum ouvir perguntas sobre por que Abe não visitou o Peru, que cresceu mais que o dobro do Brasil em 2013, durante seu giro pela América Latina. Ele passou por todos os outros três latino-americanos em evidência, mas deixou o Peru para uma próxima visita.
China
Acostumados à agressividade econômica da segunda maior economia do mundo, os japoneses repetiram, por onde estiveram, um mantra: não querem competir com os chineses no Brasil. Isso significa, em termos práticos, cuidar de transportes ferroviários de passageiros, e toda a tecnologia e serviços envolvidos nisso, deixando para a China a construção de estradas de ferro para carga.
A "divisão" também ocorre em relação ao pré-sal. Enquanto chineses serão parceiros da Petrobrás na exploração do petróleo, o Japão pretende ajudar na construção de plataformas e embarcações de apoio.
Ontem, por exemplo, a petroleira brasileira assinou um empréstimo de US$ 500 milhões com instituições japonesas para construir oito cascos de navios-plataforma. Na esfera privada, a Vale também fechou dois acordos para finalizar o projeto Xixano, em Moçambique, e financiamento de projetos de ferro, carvão e outros. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.