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Maria Thereza Antunes descobriu aos 32 anos que estava grávida do terceiro filho; o primeiro homem. A gestação foi uma surpresa. Mas ocorreu de forma tranquila e sem nenhuma intercorrência. Guilherme só foi um pouco apressado e chegou quase um mês antes do previsto, no dia 7 de julho.
##RECOMENDA##Na maternidade, a família esperava ansiosa para conhecer o garoto. Guilherme nasceu saudável, mas era um pouco diferente das outras crianças. Era mais mole, quieto, pouco chorava e tinha os olhos mais puxados. As características chamaram a atenção dos pais, um casal de médicos, que mesmo assim preferiram acreditar que estava tudo certo.
“Eu sabia que havia algo com o meu filho, mas não queira aceitar. As pessoas chegavam na minha casa e rapidamente iam embora. Quando o meu sogro dizia que ia nos visitar, eu saía de casa, para que ele não visse o meu filho. Até aceitar eu passei pela fase da culpa, da negação e até da depressão”, relembra Maria Thereza.
Guilherme chegou em uma época onde pouco se sabia sobre a Síndrome de Down. Os livros sobre a alteração genética eram limitados e difíceis para ter acesso. “Diziam que ele iria morrer cedo e coisas desse tipo. Era assustadora a falta de informação”. Só no dia 15 de setembro, dois meses após o nascimento de Guilherme, foi que Maria Thereza encarou de fato a realidade.
“O pediatra que acompanhava Guilherme chamou primeiro o meu marido para conversar e explicar a situação. Eles achavam que eu não sabia de nada. Mas eu sabia, só não queria aceitar. Foi então que o médico sugeriu que fizéssemos o cariograma, exame que detecta a síndrome, e foi confirmado. Essa é a data que eu considero o verdadeiro nascimento do meu filho”, relata.
Com o auxílio de tratamento, iniciado em São Paulo, já que no Recife era difícil encontrar esse tipo de acompanhamento na época, o garoto começou a se desenvolver como qualquer outra criança, só que alguns aspectos um pouco mais tarde. Guilherme andou aos dois anos e três meses; também aprendeu a falar. Frequentou escola, natação e adora praia. Hoje aos 32 anos vive a fase da adolescência e das descobertas. É carinhoso. Beija a mãe a todo momento.
O recomeço
Entender a situação do filho e a falta de informação sobre a Síndrome de Down despertou em Maria Thereza o desejo de ajudar outras famílias a encarar a realidade de forma mais tranquila e esclarecida. Em fevereiro de 1986 ela fundou a Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Síndrome de Down (Aspad).
O espaço funciona na Rua Professor Barreto Campelo, bairro da Torre, Zona Norte do Recife. Na terça-feira são oferecidas aulas de dança. Na quarta e quinta-feira os alunos participam de aulas de reforço. Também há espaço para as mães, que contam com oficinas e outras atividades dentro da Aspad.
“No inicio eu notava que de 200 famílias associadas, apenas dez eram formadas por pais e mães. Na maioria o homem abandonava a casa por não conseguir encarar a situação do filho com Síndrome de Down. Isso começou a mudar, a partir do momento que as pessoas começaram a se informar”.
A esteticista Luiza da Silva, de 73 anos, foi buscar auxílio na Aspad. Ela é mãe de Leonardo, de 35 anos. Um garoto quieto, mas com um olhar encantador. Léo, como é chamado pelos amigos, frequentou escola, aprendeu a ler e hoje participa das atividades da associação. Fez malhação e atualmente pratica outros exercícios físicos.
“Passamos por uma fase muito difícil. Quando Léo nasceu, o ginecologista disse que era culpa exclusiva minha. Me senti arrasada. Eu urrava na maternidade, só fazia chorar. Foi então que uma outra médica veio e conversou com a minha família, e explicou toda a situação. Disse que ele era apenas uma criança especial”.
Leonardo andou aos três anos, mas com nove meses já sabia falar. Luiza fez de tudo para cuidar da inclusão do filho. “Ele estudou em colégio regular, mas eu enfrentava muita dificuldade dentro do colégio, além de pagar mais caro por ele ter a sídrome. Mas faço tudo que posso pelo meu filho”.
As causas
A Síndrome de Down, também conhecida como trissomia do cromossomo 21, é um distúrbio genético que ocorre quando existe um cromossomo extra no par 21. “É um acidente genético natural e universal, em qualquer idade, raça ou classe social”, explica Maria Thereza. De acordo com a médica, as causas ainda não foram comprovadas.
O diagnóstico concreto da síndrome só é feito após o nascimento, através do exame do cariótipo. Antes disso, um ultrassom morfológico fetal pode apontar o distúrbio, mas sem total comprovação.
Um dos principais tratamentos para crianças com Síndrome de Down é a estimulação desde muito cedo. “Existem pontos importantes para a evolução dessas pessoas. A estimulação precoce, a credibilidade, oportunidade e você acreditar nelas. Elas são muito sensíveis e percebem quando são valorizadas”, alerta Maria Thereza.
Conviver com a síndrome é mais do que possível. “Aqui no Recife temos exemplos de pessoas que conseguiram estudar e se formar. Temos Humberto Suassuna formado em educação física, Amanda Morais uma pedagoga com pós-graduação e Bruno Ribeiro formado em turismo”.
Confira no vídeo uma ação especial realizada esta semana pela ONG Novo Rumo:
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