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Após quase dois anos de reforma agrária "zero" no segundo mandato da presidente cassada Dilma Rousseff, os movimentos do campo ameaçam declarar guerra ao governo Michel Temer. Para atrair apoio, eles agregaram à pauta agrária a reforma da Previdência.

No dia 8 de dezembro, 12 movimentos campesinos apoiados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, lançaram manifesto prometendo usar "todos os meios de pressão e luta" contra as ações de Temer.

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Alexandre Conceição, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que assinou o manifesto, disse que as ocupações serão intensificadas como forma de pressão.

"Não adianta a tentativa de governos de criminalizar ou tentar impedir a organização do nosso povo. Sempre encontraremos formas para seguir lutando pelos nossos direitos e o que se avizinha estimula mais ainda à organização popular", afirmou.

Grupos rivais, como o Movimento Social de Luta (MSL) e a Frente Nacional de Lutas (FNL), se juntaram contra as medidas do governo, como a extinção do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). No dia 6 de dezembro, integrantes da FNL bloquearam uma rodovia na região de Bauru com faixas de protesto contra a influência do deputado Paulinho da Força (SD-SP) no Incra.

A FNL foi criada pelo dissidente do MST José Rainha Junior, levado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP) para um encontro com Temer, em junho. A aproximação com Rainha ajudou o deputado a emplacar Leonardo Góes na presidência do Incra e seu filho Alexandre Pereira da Silva na superintendência de São Paulo.

"O grupo de Paulinho da Força não entende de reforma agrária e muito menos de produção de alimentos. Tanto a SDA (Secretaria de Desenvolvimento Agrário) quanto o Incra estão nas mãos deles como forma de o Temer pagar a conta dos votos que este grupo deu, por meio de seus parlamentares, para o golpe contra a democracia", disse Conceição.

Paulinho negou ter indicado o filho e disse que sua atuação se resumiu à indicação de Góes para o Incra. O órgão afirmou que não foi "ocupado politicamente". "Pela primeira vez na história da autarquia seu presidente é um servidor de carreira", informou, em nota.

Apoio

Aliados do PT, os movimentos do campo apoiam, com estratégias e pessoal, as ações urbanas de grupos de sem-teto em ocupações de prédios abandonados. Integrantes do MST ajudaram a organizar a Comunidade de Famílias por Moradias que, no último dia 10, invadiu um hotel abandonado na região central de Campinas. Nas periferias, os movimentos voltaram a arregimentar pessoal para retomar os acampamentos, esvaziados durante os governos petistas.

No campo, novos grupos estão surgindo, como o Movimento Radicais Livres, que estreou no dia 12 invadindo duas fazendas de celulose em Águas de Santa Bárbara, no interior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Michel Temer editou uma medida provisória para agilizar a concessão de títulos de domínio para assentados e acelerar a venda de terras da União para beneficiários do Programa Nacional da Reforma Agrária. A meta de Temer é entregar 280 mil documentos até o fim de seu mandato, em 2018. Serão priorizados os assentamentos já existentes - são 9.332 mil em todo o País, onde vive 1 milhão de famílias.

A MP 759/2016, em vigor desde sexta-feira passada (23), altera a política de reforma agrária implementada pelas gestões Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. De acordo com informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entre 2000 e 2002, a gestão tucana emitiu 62.196 títulos e, de 2003 a 2015, os governos petistas reduziram as emissões para 22.729. Se cumprir a meta proposta, Temer expedirá, em dois anos, 12 vezes mais titulações do que as gestões do PT.

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A proposta que ainda será analisada pelo Congresso Nacional prevê que o assentado pague pelo lote para receber o título de domínio. Os ocupantes que ainda não têm a titulação e não pagaram pelo lote terão de regularizar o pagamento para ter a posse definitiva. Os pagamentos serão parcelados em até dez anos, mas também podem ser quitados à vista. A base de cálculo será a Planilha de Preços Referenciais (PPRs) do Incra, com desconto variável entre 20% para os lotes maiores e 60% para as áreas menores. Após dez anos da concessão, o assentado poderá negociar a terra.

A MP permite que o beneficiário ocupe cargo, emprego ou função pública, desde que após sua seleção e homologação. A medida mantém a proibição para ingresso na reforma agrária de agentes públicos, mas apenas até a aquisição do lote. A medida libera o já assentado para, por exemplo, prestar concurso público ou concorrer a cargos eletivos.

Em razão de um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU), que identificou distorções na distribuição de lotes, como agentes públicos entre os beneficiários, o Incra estava impossibilitado de encaminhar o processo de titulação. Em setembro, com a suspensão do bloqueio pelo TCU, o órgão deu início ao levantamento das famílias que estão aptas à titulação. Os primeiros 300 títulos foram repassados a famílias do Assentamento Mercedes I e II, em Tabaporã, em Mato Grosso, no dia 29 do mês passado, sem a presença do presidente.

Critérios

 

A MP muda também os critérios de cadastro e seleção das famílias beneficiárias, excluindo do processo a necessidade de o assentado estar acampado, o que na prática elimina a intermediação dos movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), historicamente ligado ao PT. A medida foi antecipada pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 8 de outubro.

Família mais numerosa, família que reside há mais tempo no município do projeto de assentamento e família chefiada por mulher são algumas das prioridades das regras para escolha dos beneficiários da reforma agrária. Caberá aos municípios a organização dos projetos de assentamento.

Além de destoar da política de reforma agrária de seus antecessores, Temer quer transformar a titulação de terras na marca da nova gestão do Incra - será a "reforma da reforma agrária". De acordo com o instituto, a titulação é importante por dar segurança jurídica aos assentados, além de possibilitar acesso a políticas públicas do governo. Com o documento, o assentado pode recorrer ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) e a bancos públicos ou privados para financiar a produção.

Novos assentamentos

 

Segundo o Incra, a MP define também as formas de aquisição de terras para criar novos assentamentos, embora, em momento de ajuste fiscal, a prioridade do governo seja reorganizar e regularizar os assentamentos existentes.

Neste ano, assim como em 2015, o governo federal não adquiriu terras para novos assentamentos. Nos últimos dias de seu governo, a presidente cassada Dilma assinou 25 decretos de desapropriação de imóveis rurais para a reforma agrária e regularização de territórios quilombolas, totalizando 56,5 mil hectares, mas o processo não avançou.

O Incra informou que os decretos assinados por Dilma não tinham previsão orçamentária. "Em 2015, a ex-presidente não assinou nenhum decreto de desapropriação para fins de reforma agrária", informou o órgão, em nota. "O congelamento dos recursos da reforma agrária não se deu no atual governo."

Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, um decreto legislativo articulado com o governo suspendeu os decretos para atender à bancada ruralista.

"Com o fim do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), as políticas públicas do ministério também foram reduzidas, sendo transformado em uma secretaria sem estrutura e orçamento para a execução de políticas para a agricultura familiar."

Críticas

Em nota divulgada pelo MST, Miguel Enrique Stédile, da coordenação nacional, afirmou que a titulação é uma "reforma agrária às avessas", que ampliará a concentração de terras.

"Hoje, os beneficiários recebem a concessão do uso da terra, podendo passá-las para os filhos, mas não podem mercantilizar porque a terra é da União", afirmou.

"Com a titulação, os assentados se tornam proprietários, porém, terão de pagar o preço de mercado atualizado das terras que receberam. Ou seja, o assentado vai ficar com a dívida e, sem infraestrutura para produzir, em pouco tempo venderá a terra." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Lideranças dos assentados e acampados que invadiram nesta segunda-feira, 15, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, afirmaram que os manifestantes vão deixar o local nas próximas horas, antes da solenidade de posse que reconduzirá a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) à presidência da entidade. O evento está agendado para as 19h30 de hoje, com a participação da presidente Dilma Rousseff.

No final desta manhã, cerca de 50 pessoas ligadas ao Movimento Brasileiro dos Sem Terra (MBST) e à Frente Nacional de Luta no Campo e Cidade (FNL) derrubaram o portão da CNA e ocuparam o hall de entrada do prédio. O protesto é contra a nomeação de Kátia para o ministério da Agricultura. Embora ainda não confirmada oficialmente pelo Planalto, Kátia deve comandar a pasta no segundo mandato de Dilma.

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No início da tarde, uma comissão dos manifestantes se reuniu com a superintendência geral da CNA e com dirigentes do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Eles pediram que a entidade intermediasse um contato com o Planalto para tentar agendar um encontro com Dilma. Também pediram que a CNA ajudasse os assentamentos com assistência técnica.

A ocupação na CNA ocorre em um dia em que Dilma recebe representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no Palácio do Planalto. "Ouve-se só o MST, que não nos representa", queixou-se Antonio Carlos dos Santos, da FNL. Esta frente tem como principal liderança José Rainha Júnior, dissidente do MST. Já o MBST, segundo seu coordenador Manoel Conceição, nasceu em Brasília e atua de forma independente ao MST.

"Nosso recado, nós já demos", disse Antonio Carlos. Segundo ele, a pauta de reivindicações que será repassada ao governo também incluirá a "agilização da reforma agrária". "Ela está estagnada", afirmou.

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) estão bloqueando a BR-428, na altura do quilômetro 99, em Santa Maria da Boa Vista, no Sertão de Pernambucano. Os manifestantes são moradores do assentamento Catalúnia.

De acordo com Jaime Amorim, integrante da direção estadual do MST, o protesto cobra a execução e entrega do canal de irrigação que seria implantado na região pelo Governo do Estado e pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

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“Essa obra é uma promessa do ex-governador. Até agora somente o projeto está em execução”, afirmou.

Conforme Amorim, o assentamento Catalúnia é o maior do Estado, e abriga um total de 605 famílias. “O bloqueio de hoje será permanente. A via só será liberada quando os assentados tiverem um retorno sobre as suas reivindicações”, concluiu.

Em evento na noite desta terça-feira com trabalhadores e trabalhadoras rurais, a presidente Dilma Rousseff afirmou o desejo de que os assentados tenham condições de viver. "A terra precisa ser produtiva, não pode colocar em qualquer terra. Não é possível justificar que a terra já foi dada e a coisa está resolvida. O governo não fará isso. Vou acelerar a reforma agrária com terras de qualidade."

A presidente prometeu ampliar crédito e também a assistência técnica aos assentados. Falou da intenção de criar uma agência que trataria da questão dos créditos para a agricultura familiar. "Nós comemoramos nesse ano uma política bem-sucedida de agricultura familiar, com o Pronaf. Estamos saindo de R$ 2,5 bilhões e agora estamos com R$ 18 bilhões. Mas se gastarem mais, eu aumento. Não sei quanto vai ser neste ano, se gastarem mais, vamos aumentar. Queremos ampliar o crédito", disse.

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Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Pernambuco (MTST) foram até a sede da Prefeitura de Ipojuca, no litoral Sul, na manhã desta segunda-feira (24) para tentar negociar para que o mandado de reintegração de posse seja revogado. 

Os manifestantes, que estão assentados em um terreno às margens da BR-109, em Nossa Senhora do Ó, esperam que a prefeitura do município tome providências para resolver o problema habitacional das mais de 800 famílias instaladas no local.

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“Queremos que o prefeito Pedro Serafim faça a doação do terreno que estamos ocupando. Não precisa construir casa para nós, basta o terreno e cada um de nós constrói sua própria casa. Em Igarassu já foram entregues mais de 300 casas ao movimento, em Caruaru também, em Paulista estão sendo construídas mais de 500 e em Petrolina o prefeito (Julio Lossio) anunciou no último sábado que construirá casas para os integrantes do movimento. Esperamos que aqui em Ipojuca seja feito o mesmo”, explicou a coordenadora regional do MTST Maria do Carmo Silva.

Ela ainda comentou que alguns dos assentados recebem recursos do programa de auxílio moradia, mas assegura que o valor não é suficiente para pagar o aluguel de um imóvel na cidade. “O aluguel de uma casa aqui (Ipojuca) custa entre R$ 500 e R$ 600 e tem casas que os donos colocam placas avisando que só alugam para empresas”, disse.    

Maria do Carmo também afirmou que está como pré-candidata a vereadora do município a pedido da população. “As pessoas daqui (MTST) me pediram para lançar minha pré-candidatura, faço isso em benefício deles. Luto há quatro anos para que essas pessoas consigam ter moradia popular. Mas se eu tiver que renunciar para não prejudicar eles eu farei”, garantiu.

De acordo com o coronel Alexandre José, secretário da Segurança Cidadã, o mandado de reintegração de posse será cumprido nesta quinta-feira (27). “Só existe uma possibilidade desse mandado não ser cumprido, é a saída dessas pessoas do local até 0h de quarta-feira (26)”, enfatizou. Ele adiantou que o prefeito proporá, durante o encontro com integrantes do MTST marcado para esta terça-feira (25), o cadastramento das famílias nos programas habitacionais do município.

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