Em 1929, músicos e dançarinos de cabarés dos EUA perderam seus empregos por conta de uma grave crise econômica. Para não ficarem parados, eles resolveram se apresentar na rua mesmo e a manifestação acabou se tornando um estilo de dança, ou melhor, vários.
Com o passar dos anos, a Dança de Rua foi tomando corpo e assimilando as mais diversas culturas e identidades. No final dos anos 1960, o Soul e o Funk de James Brown enriqueceram ainda mais esse cenário e, nas décadas de 1970 e 1980, a música disco e o rap também contribuíram para o engrandecimento e proliferação dos estilos que compõem o ‘Street Dance’.
##RECOMENDA##Sobretudo nos anos 1970, a cultura negra se estendeu e encontrou outras manifestações artísticas como a poesia e o grafite, formando o movimento Hip Hop. O break, um dos estilos de dança de rua mais conhecidos do mundo, tornou-se um dos pilares desse movimento e, hoje em dia, rompeu os limites do asfalto e é reconhecido como arte.
‘Dono’ do break nacional
Um dos responsáveis pelo crescimento dessa expressão artística no Brasil é o pernambucano Nelson Triunfo. Considerado o pai do Hip-Hop no país, o dançarino, coreógrafo e educador social é um dos precursores da dança de rua brasileira. Atuando desde 1972, 'Nelsão', como também é conhecido, saiu do sertão de Pernambuco para ganhar o Brasil e o mundo com seu estilo único de dançar e a cabeleira inconfundível que se tornou marca registrada. Triunfo ensinou várias gerações não só a executar os passos do break, mas, sobretudo, a viver a atitude Hip Hop.
Ainda garoto, no início da década de 1970, Nelson já se encantava com o mundo da dança no interior pernambucano, em sua cidade, Triunfo. Seu pai tocava forró e o frevo e os musicais que assistia no Cine Guarany, com bailarinos americanos, faziam os olhos do garoto brilhar.
Mas foi em Paulo Afonso, na Bahia, já adolescente, que Nelsão começou a fazer sucesso nos bailes. Suas performances chamaram atenção desde o princípio: “Ninguém entendia nada quando via, mas achava legal. Uns admiravam, outros achavam que eu era doidão”, relembra aos risos, em entrevista exclusiva ao LeiaJá. O dançarino também se lembra da “implicância” da polícia, quando o via dançar junto aos amigos.
Mas nada parou Triunfo. Pelo contrário, ele se mudou para São Paulo e deu início a um movimento muito maior que o garoto nascido no sertão de Pernambuco poderia imaginar. Nelson foi um dos responsáveis por disseminar a cultura Hip Hop no Brasil, sobretudo no campo da dança, e desde então, vem repassando seus ensinamentos: “Influenciei muitos, não só do Hip Hop como de outros segmentos. Sou essa referência, os velhos do meio e os novos gostam muito de mim”.
Porém, o dançarino, na ativa há cinco décadas, não se deixa envaidecer pelo posto de referência: “Pesa. Acho sempre melhor pensar que é uma missão e nunca estive sozinho nela. Penso no coletivo”. E foi pensando coletivamente que Triunfo ensinou incontáveis dançarinos, muitos deles, hoje profissionais da dança e campeões de batalhas. A “missão”, como diz o ‘mestre’, é levada adiante com muito amor, “sempre em busca de conhecimentos” e novos caminhos: “Sou o mais velho e talvez o mais novo pela maneira de pensar, não como uma determinação mas sempre com possibilidades de mudanças”.
[@#video#@]
Batalhas
Uma das características do break é a competição entre os dançarinos, os B-Boys e B-girls. As batalhas são duelos entre os dançarinos que competem para ver quem tem os melhores passos, muitos deles improvisados, e quem dança com maior criatividade, desenvoltura e técnica.
Existem diversas competições do tipo ao redor do mundo, uma das maiores, a Red Bull BC One, foi criada em 2004 e já foi palco para importantes B-boys e B-girls do segmento, muitos deles brasileiros como Pelezinho e Neguin, o único latino americano a conquistar o cinturão de campeão. Os dois integram hoje o Red Bull BC One All Stars, um time de b-boys, surgido a partir das competições, que reúne os principais nomes da cena. Além dos dois brasileiros, o grupo conta com Cico (Itália), Hong 10 (Coreia do Sul), Lil G (Venezuela), Lilou (França), Ronnie (EUA), Roxrite (EUA), Taisuke (Japão) e Wing (Coreia do Sul).
[@#podcast#@]
Neste domingo (21), o Festival de Dança do Recife encerra sua 23ª edição com um final de semana de Batalha de Hip Hop. Serão 32 equipes batalhando no Ginga B'Boys e B1Girls 2018; além das apresentações dos DJs Stanley e Nildo Rufino e dos MCs GabGirl e Dom Pablo. O grupo Brasil Style Bgirl, do Distrito Federal também é uma das atrações do evento que será realizado no Compaz Eduardo Campos, no Alto de Santa Terezinha; das 10h às 21h.
*Fotos: Reprodução/Instagram
[@#relacionadas#@]