Apoiadores da oposição em Belarus se reuniram nesta terça-feira (18) em frente ao centro de detenção onde estaria preso o marido de sua líder, Svetlana Tikhanovskaïa, que denunciou um "sistema podre", no 10º dia de protestos.
Desde a contestada eleição presidencial de 9 de agosto, a pressão aumenta sobre o presidente Alexander Lukashenko, no poder desde 1994. Declarado vencedor com 80% dos votos, enfrenta manifestações diárias e um movimento de greve que afeta cada vez mais setores vitais para a economia do país.
Reunidos nesta terça-feira em frente ao centro de detenção nº1 de Minsk, quase 200 pessoas desejaram um "feliz aniversário" a Sergei Tikhanovski, 42 anos, marido da musa da oposição e detido desde 29 de maio por acusações de "perturbação da ordem pública".
Segurando buquês de flores e balões, os manifestantes pediram sua libertação.
Famoso blogueiro, ele se candidatou à eleição presidencial e fez campanha contra Alexander Lukashenko antes de ser substituído por sua esposa após sua prisão. Em detenção preventiva, pode pegar vários anos de prisão.
Da Lituânia, onde está refugiada com seus filhos, Svetlana Tikhanovskaïa, 37 anos, denunciou em um vídeo postado no YouTube que as acusações contra seu marido foram forjadas para "calar sua boca e não participar da campanha eleitoral".
"Todas essas injustiças e arbitrariedades flagrantes nos mostram como funciona esse sistema podre, no qual uma pessoa controla tudo", disse Tikhanovskaya. "Uma pessoa controla o país por meio do medo há 26 anos. Uma pessoa roubou a escolha dos bielorrussos".
- "Renunciar à violência" -
Svetlana Tikhanovskaya, professora de inglês por formação, substituiu o marido na corrida presidencial em 9 de agosto, reunindo multidões de partidários em seus comícios e recebendo apoio de outros opositores. Ela rejeita os resultados oficiais da eleição e denuncia fraudes.
Depois de pedir ao chefe de Estado que cedesse o poder, declarou na segunda-feira que estava pronta para "assumir suas responsabilidades" e governar o país.
Um "conselho de coordenação" para a transição de poder foi formado pela oposição, cuja primeira reunião será nesta terça, segundo a opositora Maria Kolesnikova. Deve incluir Svetlana Aleksievitch, Prêmio Nobel de Literatura.
Após a eleição, quatro noites de protestos foram reprimidas à força pela polícia, deixando pelo menos dois mortos, dezenas de feridos e mais de 6.700 presos. Os detidos relataram espancamentos e torturas.
A oposição organizou no último domingo o maior protesto da história do país com mais de 100.000 participantes e convocou uma greve que foi aderida por várias indústrias importantes, como a produtora de potássio Belaruskali ou a icônica fábrica de tratores (MZKT), onde Lukashenko foi vaiado na segunda-feira pelos trabalhadores.
Outra manifestação foi organizada nesta terça-feira em apoio ao Teatro Acadêmico do Estado de Minsk, cujo diretor Pavel Latouchko, também ex-ministro da Cultura, foi demitido por convocar publicamente novas eleições e a saída de Lukashenko.
O jornal Komsomolskaya Pravda, por sua vez, relatou dificuldades para imprimir seu número sobre a manifestação histórica de domingo, que atrasará um dia.
Lukashenko, de 65 anos, rejeitou repetidamente a ideia de deixar o poder, garantindo na segunda-feira que nunca entregaria o poder "sob pressão e pelas ruas". Ele concedeu mais de 300 medalhas nesta terça-feira a membros do ministério do Interior "por um serviço impecável".
A situação em Belarus será discutida em uma cúpula extraordinária da União Europeia na quarta-feira.
Nesta terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel, conversaram por telefone. Berlim exortou Minsk a "renunciar à violência" e dialogar com a oposição. O Kremlin advertiu contra "qualquer tentativa de interferência estrangeira", dizendo que espera uma "rápida normalização da situação".