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O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teve uma perda de R$ 670 milhões ao aportar recursos no frigorífico Bertin por meio de seu braço de participações, o BNDESPar. Em valores atualizados, essa quantia equivale a R$ 1,17 bilhão.

O TCU quer agora que os citados, inclusive a JBS (que adquiriu o Bertin em 2009), apresentem em até 90 dias suas alegações ou então reembolsem ao BNDESPar o valor da perda.

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O banco de fomento adquiriu, em 2008, uma fatia de 26,92% da empresa pelo valor de R$ 2,5 bilhões. O objetivo do Bertin era usar o dinheiro para aquisição de outras companhias (numa estratégia de consolidação e internacionalização), investir em modernização, implantar novas unidades industriais e ter capital de giro.

Os técnicos ressaltaram, porém, que o aporte acabou sendo sucedido por uma elevação do endividamento da empresa. No ano seguinte, o Bertin foi incorporado pela JBS, que agora está sendo cobrada pelo prejuízo do banco de fomento.

"Sendo assim, o salvamento do investimento realizado em 2009 por meio da fusão da Bertin com a JBS não se deu unicamente em função da crise de 2008 e seus efeitos, mas da perda de recursos do BNDES já na origem do investimento, por erros de avaliação cometidos pelo banco", diz o relatório do TCU.

A corte de contas também está pedindo explicações ao ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho, ex-membros da diretoria e técnicos do banco por terem aprovado o aporte com base em um relatório "que apresentava falhas e irregularidades". Esse documento, segundo o TCU, foi elaborado em tempo exíguo, sem levar em conta o endividamento do Bertin e sem o embasamento necessário para a complexidade da operação, utilizando principalmente informações fornecidas pelos interessados na operação e sem diligências para auferir os dados.

Segundo os técnicos do TCU, o aporte de R$ 2,5 bilhões foi superestimado pelo BNDES, e o valor correspondia na verdade a uma participação maior do que os 26,92% que ficaram nas mãos do banco.

Já na operação de incorporação do Bertin pela JBS, o relator, ministro Augusto Sherman, entendeu que haveria indícios de que o valor da participação que a BNDESPar detinha na empresa Bertin caiu de R$ 2,5 bilhões para R$ 1,742 bilhão, com uma perda de R$ 758 milhões, ou seja, aproximadamente 30%.

Após a constatação do prejuízo, a conduta dos envolvidos continuará a ser analisada pelo tribunal para eventual responsabilização, o que pode resultar em afastamento, perda de cargo ou pagamento de multas.

Um novo laudo da Polícia Federal (PF) indica que o Grupo Bertin também participou e custeou as obras do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que a Operação Lava Jato afirma pertencer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista nega. A propriedade teria sido reformada por acusados de corrupção na Petrobras, entre eles as empreiteiras Odebrecht, OAS e o pecuarista José Carlos Bumlai - que tem negócios com a família Bertin.

A descoberta decorre da análise da movimentação bancária e dos e-mails do arquiteto Igenes dos Santos Irigaray Neto, que prestava serviços para as usinas do Grupo São Fernando, de Bumlai. Ele já admitiu ter realizado serviços no projeto da reforma do sítio, a pedido da família do amigo pecuarista de Lula - que foi preso pela Lava Jato, em novembro de 2015 e condenado a 9 anos de prisão, em setembro, pelo juiz federal Sérgio Moro.

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Nas mensagens, há registros ainda do suposto envolvimento da Odebrecht na realização das obras e do ex-assessor da Presidência Rogério Aurélio Pimentel.

"Em três momentos distintos verificou-se depósitos na conta de Igenes dos Santos Irigaray Neto tendo como remetente empresa Rema Participações Ltda.", informa o Relatório de Polícia Judiciária 610/2016, com análise de mensagens e e-mails apreendidos na 24ª fase, batizada de Operação Aletheia, que em março levou Lula coercitivamente para prestar depoimento. A Rema pertence ao Grupo Bertin, antiga Transbertin Transportes Ltda e Universe Transportes.

Os comprovantes de depósito para o arquiteto de Bumlai foram encaminhados por meio do e-mail do usuário identificado como "SOLFA", do Grupo Bertin.

Trata-se de José Eduardo Braga, que é um dos sócios da Rema Participações, junto com membros da família Bertin, informa o documento da PF anexado ao inquérito em que Lula é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro.

A propriedade rural foi comprada em 29 de outubro, por R$ 1,5 milhão, por Bittar e Suassuna. O primeiro é filho do ex-prefeito de Campinas do PT Jacó Bittar, amigo de Lula. Em documento enviado a Lava Jato, ele afirmou ter comprado o imóvel e colocado à disposição do ex-presidente para que as duas famílias pudessem conviver, após sua saída da Presidência, em 2010.

Os pagamentos da Bertin para o arquiteto da obra foram realizados em 5 de novembro de 2010, no valor de R$ 40.0008,00, em 29 de novembro de 2010, R$ 18.489,26, e o terceiro em 18 de março de 2011, valor R$ 52.026,74, mostra o relatório. Um e-mail encontrado, em que foi feito o pedido de adiantamento de R$ 40 mil, consta um valor de contrato de R$ 225 mil.

Os sócios da Bertin são investigados desde 2015, quando a Lava Jato descobriu que o grupo ajudou Bumlai na lavagem dos R$ 12 milhões que tomou emprestado do Banco Schahin, em 2004, para o PT. O valor foi repassado para terceiros por intermédio de movimentações financeiras em contas do Grupo Bertin e depois justificadas com falsas compra de sêmen de boi, para inseminação artificial.

Obras

Os registros de e-mail também indicam, segundo a PF, que as obras estavam sendo acertadas, antes mesmo da compra, e que há possíveis contradições entre o que declararam em depoimento Fernando Bittar e outros investigados e as datas e fatos do projeto.

O relatório da PF destaca que e-mail do funcionário do Grupo Bertin Emerson Cardoso, de 19 de outubro de 2010, enviado para Irigaray Neto foi originalmente enviado por Lilian Bittar, mulher de Fernando Bittar, para Ignácio Arab Neto, que era gerente de Obras da Contern Construções Ltda no dia 17 , daquele mês.

Em depoimento, Bittar afirmou que pensando em receber a família Lula, havia um projeto de um anexo no sítio. "Desde inicio ele sabia que reforma em seu sítio, no interesse da família Lula da Silva, não se restringia apenas um anexo, incluindo, além de outras coisas, construção de uma sauna", informa relatório com base na análise das trocas de mensagens entre eles.

Belo Monte

E-mails analisados mostram que um gerente de obras da Contern Construções e Comércio, do Grupo Bertin, participou das tratativas para as obras no sítio desde outubro de 2010, dois meses antes do imóvel rural ter sido comprado pelos sócios e amigos dos filhos de Lula, Fernando Bittar e Jonas Suassuna.

A Contern integra um dos consórcios vencedor do pacote da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A obra é alvo de investigações decorrentes da Lava Jato, em Curitiba. Delatores de empreiteiras do cartel que fatiava obras na Petrobras, como a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e UTC, já confirmaram ao Ministério Público Federal a existência de acerto de propinas nas obras, que beneficiou políticos da cúpula do PT e do PMDB, no governo Dilma Rousseff.

A JBS esclarece, em resposta a questionamento da Bovespa, que não há nenhum acordo secreto entre os controladores de JBS e os de Bertin, referente à operação societária realizada em 2009. A empresa explica que um documento "Anexo A" jamais foi implementado, tendo as partes reconhecido a inexistência de qualquer obrigação recíproca em questão.

O questionamento refere-se a divulgação feita pelo site da revista Carta Capital, em 2 de setembro, sobre anexo ao contrato prevendo a existência de compromissos adicionais aos previstos no acordo de associação celebrado entre os controladores das empresas.

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A companhia destaca que o "Anexo A", cujas diretrizes nele previstas não eram vinculantes, tornou-se ineficaz, tendo em vista que os controladores de ambas optaram pela instalação de Comitê Especial Independente, nos termos do Parecer de Orientação da Comissão de Valores Mobiliários nº 35, de 1º de setembro de 2008 (conforme Fato Relevante publicado em 22 de outubro de 2009). "Tendo a estrutura final da operação seguido os estritos limites do parecer do Comitê Especial Independente, o "Anexo A" não foi considerado na estruturação final da operação e, consequentemente, não foi contemplado nas deliberações societárias que aprovaram a referida operação, sendo juridicamente inexistente, e, por fim, distratado", informa.

A JBS ressalta, ainda, que as tratativas da incorporação foram realizadas entre os controladores de JBS e os de Bertin, sendo que a primeira diz ter acessado e disponibilizado a seus acionistas todos os documentos da incorporação na data de 28 de dezembro de 2009, isto é, quando a Bertin tornou-se subsidiária integral da JBS S.A.

"A companhia entende que tal situação corrobora sua afirmação de que nenhum de seus acionistas minoritários ou o fisco sofreu qualquer prejuízo na referida operação, já que o "Anexo A" nunca se tornou juridicamente eficaz, e, assim, todos os documentos que instrumentalizaram a operação societária realizada e implementada em 2009 foram devidamente informados ao mercado e apresentados à CVM tempestivamente", afirma.

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