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Após mais de 170 horas de trabalhos diante de quatro grupos de jurados ao longo de um ano, o julgamento que já condenou 58 PMs por 73 das 111 mortes no Complexo do Carandiru, em 1992, chega nesta quarta-feira, 02, ao que deve ser o seu último dia. O fim do maior e mais complexo júri do País deve se dar por volta das 11h30 desta manhã.

Depois, os jurados se reunirão na sala secreta para decidir sobre os últimos 15 réus da tropa do Comando de Operações Especiais (Coe), que entrou no 3º andar da antiga casa de detenção e foi acusada de matar oito pessoas.

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A sentença será o encerramento de quatro etapas do júri, fatiado pelos quatro andares do Pavilhão 9. O julgamento começou em abril do ano passado e ganhou importância internacional como resposta tardia a um caso que se arrastou por quase 22 anos na Justiça.

Como provas se perderam e muitas das perícias nunca foram feitas, a ação é um desafio para jurados que precisam escolher entre as teses da acusação e defesa. Uma alega que todos os réus respondem pelas mortes, mesmo sem saber quem matou quem. Outra diz que não é possível condenação sem individualização das condutas. Até agora, os jurados sempre optaram pela condenação.

Mortes

Na segunda-feira, 31, o Ministério Público Estadual (MPE) pediu a absolvição por quatro das oito mortes, por entender que foram provocadas por arma branca, o que deixariam em dúvida se as vítimas não foram mortas pelos próprios presos. Toda acusação se baseou no fato de que os PMs teriam atirado nos detentos com intenção de matá-los.

Além disso, a Promotoria pede aos jurados que não mais os condenem por duas tentativas de homicídio. Como a denúncia já foi oferecida no começo da ação, o conselho de sentença deverá decidir sobre se concordam com o MPE.

Em julgamentos anteriores, os jurados sempre julgaram de acordo com o pedido de absolvição dos promotores. Assim, se eles forem condenados, é provável que recebem uma pena de 48 anos de prisão pelas quatro mortes. Logo, caso sejam considerados culpados, essa poderá ser a menor pena individual de todos os julgamentos.

A maior sentença do Carandiru foi em um julgamento separado do coronel Ubiratan Guimarães, comandante da ação, acusado por todas as 111 mortes. Ele foi condenado a 632 anos de prisão em primeira instância, mas o Tribunal de Justiça o absolveu.

A segunda maior pena é dos 25 PMs da Rota julgados em agosto - a cada um, foi aplicada um pena de 624 anos de prisão por 53 mortes.

Os 15 PMs acusados por 8 mortes no 3º andar do Pavilhão 9 do Carandiru, em 1992, terminaram de ser interrogados no começo da madrugada desta terça-feira, 1º, por volta da meia-noite. Todos responderam às perguntas do juiz Rodrigo Tellini. Alguns se recusaram a responder ao Ministério Público. O magistrado quis saber se os PMs viram mortos no pátio, térreo e escadas do pavilhão e a dinâmica da invasão no terceiro andar.

O júri será retomado nesta terça, 1º, com a fase de debates.

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Na segunda-feira, 31, primeiro dia do júri, parentes e amigos dos 15 PMs adotaram a estratégia de abordar os jurados na porta do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. "Ei, você, que pode ser jurado, absolva já", disse o deputado estadual major Olímpio (PDT), antes da escolha dos seis homens e uma mulher, entre 25 convocados, que formaram o corpo de jurados. Havia cartazes contra o "massacre dos PMs" e um boneco fardado deitado no chão, com tinta vermelha e uma cruz.

Após a condenação de 58 réus nos três primeiros julgamentos, a defesa decidiu que os familiares deveriam participar. PMs cadeirantes, feridos em ação, estiveram na plateia. "Pediram para que nós não viéssemos no outro (júri). Agora, já pediram que a gente viesse. Nós temos vontade de nos manifestar", disse Rute Salgado, mulher do coronel reformado Ariovaldo Sérgio Salgado, que liderou os policiais do Comando de Operações Especiais (COE) no dia da invasão ao terceiro andar do Pavilhão 9.

"Estou indignada com os resultados anteriores. Todos esses que estão sendo julgados hoje dedicaram a vida inteira à PM. Ele (Salgado) sempre foi um homem correto na carreira." Salgado, de 57 anos, trabalhou na PM desde os 15 e foi reformado em 2010, quando era chefe de gabinete do então comandante-geral, Alvaro Camilo. Ontem, ele foi o primeiro a ser interrogado e, como os demais, só respondeu às perguntas do juiz.

Condenação

Uma das perguntas feitas pela Promotoria que o réu deixou de responder é se ele já havia sido condenado por homicídio. Em abril do ano passado, o Tribunal de Justiça decidiu que o júri pelo qual Salgado havia sido condenado a 6 anos e 6 meses no regime semiaberto pela morte de um homem, em Guarulhos, em 1981, seria anulado. A vítima foi levada algemada da casa da mãe até ser morta em um terreno baldio, após um suposto confronto no qual teria dado tiros contra a PM, segundo a polícia. O novo julgamento está marcado para o dia 8.

O réu Sandro Francisco de Oliveira, expulso da PM após um assalto de R$ 1,2 milhão a uma empresa de ônibus em Tatuapé, em 2004, respondeu que já foi condenado a uma pena de mais de 11 anos de prisão, mas se reabilitou. "Salvo vidas até hoje."

O tenente-coronel Armando da Silva Moreira, terceiro a ser interrogado, chegou a responder também às perguntas da Promotoria, mas contradisse os colegas, afirmando que usava um colete. Ele foi o único a admitir que revidou com tiros e fez um detento cair. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os dez policiais militares do Grupo de Ação Tática Especial (Gate) acusados de matar detentos no quarto andar do Pavilhão 9 do Complexo do Carandiru em outubro de 1992 foram condenados pelos jurados por oito homicídios. Nove réus foram sentenciados a 96 anos de reclusão por oito mortes nesta quarta-feira, 19; o réu Silvio Nascimento Sabino recebeu sentença de 104 anos de reclusão por oito mortes porque ele já tinha outra condenação anterior.

Cabe recurso à decisão. Os jurados ficaram reunidos na sala secreta por mais de três horas até o juiz Rodrigo Tellini ler a sentença. Os jurados absolveram os acusados por duas mortes e pelos crimes de tentativa de homicídio contra três presos. Tellini determinou também a perda de cargo público dos acusados.

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Julgamento - O Massacre do Carandiru aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante invasão policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9, na zona norte de São Paulo. Por envolver grande número de réus e de vítimas, o júri foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que aconteceu em cada um dos pavimentos do pavilhão.

O julgamento dos dez PMs acusados pelas mortes registradas no quarto andar do Pavilhão 9 do Carandiru, em outubro de 1992, recomeçou na manhã desta quarta-feira (19) com o promotor Márcio Friggi traçando um perfil dos PMs acusados pelas mortes e das vítimas do massacre naquele pavimento.

Sobre os chamados "matadores", o promotor disse que apenas um deles não tinha registro de mortes em sua carreira. Somente ao comandante da tropa do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), acusado por dez mortes e três tentativas de homicídio no quarto andar, o coronel reformado Wanderley Mascarenhas de Souza, são atribuídos 34 assassinatos na função. De acordo com o levantamento do Ministério Público Estadual (MPE), Souza é responsável por 5 das 15 mortes em uma rebelião em São Paulo em 1982 e por outras 6 mortes de pessoas com doenças mentais em um motim em Franco da Rocha.

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Friggi rebateu também a frase do advogado Celso Vendramini, que defende os dez PMs, que durante a sustentação ao jurados assumiu, com orgulho, que já havia matado bandidos quando era policial militar da Rota, na década de 1980. "Uma coisa é agir em legítima defesa e lamentar. Outra coisa é bater no peito e ter orgulho de matar alguém. Para mim, isso é um discurso bom na boca do assassino", afirmou Friggi.

Sobre o perfil das vítimas, o promotor afirmou que os detentos eram, na grande maioria, jovens, com baixa escolaridade e nordestinos. Friggi citou o caso de Elias Costa, de 19 anos, que tinha o ensino fundamental e estava preso provisoriamente havia menos de um mês, sem condenação, quando foi assassinado.

Outra vítima, Francisco da Silva, de 24 anos, era baiano, ajudante de pedreiro e também não havia sido condenado quando foi morto. José Carlos da Silva, também preso no Carandiru sem ter sido condenado, morreu com oito tiros, dois deles nas costas.

Após a argumentação da Promotoria, que durou duas horas, o julgamento entra agora na fase de tréplica. Depois, deve ocorrer a reunião do conselho de sentença, em que os sete jurados - quatro homens e três mulheres - responderão aos quesitos do julgamento. As perguntas devem ser, por exemplo, se as vítimas foram mortas por disparos, se os acusados são responsáveis em conjunto pelas mortes por causa da invasão ao andar e se os jurados absolvem os réus.

A questão sobre a individualização da autoria das mortes foi uma das mais discutidas pelos promotores. Para o MPE, é desnecessário provar qual PM matou cada detento e os policiais devem ser julgados pela ação em conjunto que resultou na morte das vítimas. Apesar disso, a Promotoria pediu na terça-feira (18) que os policiais sejam absolvidos de duas das dez mortes, o que será decidido pelos jurados.

O julgamento dos policias do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) acusados pelas mortes no 4º andar do Pavilhão 9 do Carandiru em outubro de 1992 entrou para a reta final de debates na manhã desta terça-feira (18), com uma alegação nunca antes levantada em público pelos réus em quase 22 anos de história do massacre de 111 detentos. No interrogatório na segunda, os dez PMs afirmaram que nunca estiveram naquele piso e só chegaram até o 3º andar, o que foi classificado pela Promotoria como a maior "mentira da história dos júris no País".

Primeiro, haverá duas horas e meia para cada lado expor seus argumentos, começando pela acusação. Os promotores partem do entendimento que todos os PMs que entraram no Pavilhão 9 e deram tiro, de acordo com as circunstâncias (rajadas de metralhadora em direção a celas) assumiram o risco de matar e devem ser condenados.

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A defesa alega que os réus não chegaram ao 4º andar - onde ocorreram 10 homicídios e outras três tentativas de assassinato, segundo a denúncia. No 3º andar, foram 8 mortes, com 15 réus do Comando de Operações Especiais (COE).

Se a Promotoria concluir que precisa de mais tempo, os debates podem ser prorrogados com uma hora e meia a mais para cada lado. Dependendo da velocidade das exposições, o julgamento poderá chegar a última etapa: o conselho de sentença. Nesse momento, os sete jurados se reúnem e respondem aos quesitos (se houve a morte, se o réu cometeu o crime e se os jurados absolvem o acusado, por exemplo). Para cada vítima, há uma série de quesitos respondia pelos jurados.

É provável, seguindo os julgamentos anteriores, que o Ministério Público Estadual (MPE) decida pedir absolvição dos réus por uma das dez mortes, causada por golpes de armas brancas. Isso ocorreu nos outros dois primeiros julgamentos em que os PMs foram condenados, quando o MPE desistiu de condenar os réus pelas mortes que não fossem por armas de fogo.

O julgamento desta semana havia sido programado como o quarto e último júri do Carandiru, depois que a etapa final foi cancelada, com a morte em dezembro do coronel da reserva Luiz Nakaharada, acusado por cinco das 78 mortes no segundo andar do Pavilhão 9.

Divididos os réus por pisos onde ocorreram as mortes, os dois primeiros julgamentos do primeiro e segundo andares aconteceram em abril e agosto do ano passado. No segundo, 25 PMs foram condenados a 624 anos de prisão, por 52 mortes.

O advogado Celso Vendramini voltou a defender os policiais militares acusados do massacre, mesmo depois de receber multa no valor de 70 salários mínimos (cerca de R$ 50 mil) por ter abandonado o plenário na terceira etapa do julgamento, em fevereiro.

O júri do 3º andar foi dissolvido no dia 18 de fevereiro quando Vendramini abandonou a sessão alegando que o juiz estava favorecendo o Ministério Público durante o interrogatório de um réu por parte dos promotores.

Com isso, houve uma troca de ordem, pois o grupo de acusados do 4º andar tinha o júri agendado nesta semana. Os outros réus do piso inferior tiveram um júri remarcado para o dia 31.

A terceira etapa do julgamento do Carandiru foi encerrada nesta terça-feira, 18, após o advogado Celso Vendramini, que representa os 15 policiais militares acusados, abandonar o plenário. "O Ministério Público está podendo tudo e eu não estou podendo nada. O tratamento está diferenciado", disse o advogado jogando a toga e o paletó sobre a mesa ao sair do plenário do fórum criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista.

A saída de Vendramini aconteceu durante o depoimento do coronel da reserva Arival Salgado, o primeiro réu a ser ouvido nessa etapa do julgamento. Antes de sair, ele reclamou com o juiz que o promotor Eduardo Olavo Canto Neto estava lendo depoimentos longos que o coronel já havia prestado em outras ocasiões. "O papel dos promotores não é ler depoimento e sim fazer perguntas".

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Para o promotor Canto Neto, o que foi feito foi um "desrespeito à lei e à sociedade". "Eu estava interrogando um dos réus de maneira educada e de acordo com o que prevê o código penal. Provavelmente, o advogado não gostou do resultado das respostas e abandonou o plenário", disse.

Em entrevista à imprensa já após o término do julgamento, Vendramini disse que, na véspera, o juiz o chamou de "mal educado" fora do plenário pelo fato de ele ter discutido durante o primeiro dia com os promotores. Com a dissolução, o tribunal terá de marcar nova data para dar continuidade ao julgamento.

Testemunhas de defesa.

A terceira etapa do julgamento do massacre do Carandiru foi retomada na manhã desta terça-feira, 18, com testemunhas de defesa. Ouvido pela primeira vez em tribunal, o agente penitenciário Francisco Carlos Leme prestou um depoimento confuso e cheio de contradições. Ele foi a última testemunha ouvida antes do interrogatório dos réus.

Arrolado pela defesa dos policiais militares, Leme afirmou que havia 75 mortos no pavilhão 9 antes da entrada da PM. Entretanto, durante o questionamento do promotor Márcio Friggi de Carvalho, o agente disse que o número poderia ser de 25 presos mortos por arma branca no pátio antes da PM entrar."Não contei exatamente, não dá para precisar", disse.

Leme foi ouvido pela Polícia Militar e pela Polícia Civil no ano do massacre, em 1992, mas a informação de que havia corpos no pátio do pavilhão antes da entrada dos policiais não consta no depoimento. Por causa disso, a informação foi recebida com surpresa tanto para o advogado Carlos Vendramini quanto para os promotores.

A outra testemunha arrolada pela defesa foi o ex-secretário de Segurança, Pedro Franco de Campos. Em depoimento curto, Campos reafirmou, como em outras ocasiões, que havia a necessidade de a Polícia Militar entrar no pavilhão para que a rebelião não se espalhasse.

Massacre.

A tragédia no Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante uma operação policial destinada a reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do presídio.

Por envolver grande número de réus e de vítimas, o julgamento foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que aconteceu em cada um dos quatro andares. Na primeira etapa do julgamento, em abril de 2013, 23 policiais foram condenados a 156 anos de reclusão cada um pela morte de 13 detentos. Na segunda etapa, em agosto, 25 policiais foram condenados a 624 anos de reclusão cada um pela morte de 52 detentos que ocupavam o terceiro pavimento do Pavilhão 9.

Na entrada do no Fórum Criminal da Barra Funda, o advogado Celso Machado Vendramini, que defende os 15 policiais que serão julgados pela morte de oito detentos na antiga Casa de Detenção do Carandiru, disse estar tranquilo e certo de que os réus serão absolvidos por negativa de autoria. "Se não houve exame balístico não tem como provar quem atirou em quem. Isso é um absurdo", afirmou. A mesma tese foi usada, e derrotada, nos primeiros dois julgamentos.

De acordo com Vendramini, antes da entrada dos agentes já havia cerca de 20 mortos. "Estava escuro. Os presos atiravam neles e eles revidavam os tiros em direções aos clarões que viam. Nem eles (policiais), sabem se acertaram alguém". O massacre do Carandiru aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos durante uma operação policial para reprimir uma rebelião no pavilhão 9 do antigo presídio. A terceira etapa do julgamento do Massacre do Carandiru começou na manhã desta segunda-feira, 17. A quarta e última etapa do julgamento está prevista para o dia 17 de março.

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O grupo de 25 PMs da Rota acusados pela maioria das 111 mortes na rebelião do Carandiru em outubro de 1992 foi condenado na madrugada deste sábado, a 624 anos de prisão, a segunda maior da história da Justiça brasileira. Eles poderão recorrer em liberdade. Os réus haviam sido denunciados por 73 assassinatos, mas a Promotoria reconheceu no último e quinto dia de julgamento que eles eram culpados apenas por 52 homicídios, todas no 2º andar da cadeia.

A decisão saiu por volta das 4 horas deste sábado, cerca de cinco horas depois dos jurados se reunirem na sala secreta na Fórum Criminal da Barra Funda, em uma espera que deixou colegas e familiares dos réus em vigília na porta do auditório. Na sentença, o juiz Rodrigo Tellini fixou a pena mínima de 12 anos de reclusão para cada uma das mortes - o mesmo critério adotado no primeiro júri do caso Carandiru, em abril, quando 23 policiais foram condenados a 156 anos de prisão por 13 homicídios no 1o andar do Pavilhão 9 do presídio.

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A novidade na nova condenação é a perda do cargo dos policiais na ativa - nove réus segundo os promotores. O ex-comandante da Rota, Salvador Modesto Madia, é um dos que ainda trabalham. A perda do cargo só ocorrerá com o término definitivo de todo o processo - a defesa dos réus já anunciou que vai recorrer. Já a retirada das patentes dos PMs depende de um processo na Justiça militar.

Com dois júris e duas condenações, os promotores dizem crer estar mais próximos de limpar a mancha do massacre do Carandiru na Polícia Militar."No primeiro júri, ninguém acreditava em uma eventual condenação" disse o promotor Fernando Pereira da Silva, após a leitura da sentença.

Ele rebateu as críticas da defesa de que as mortes tenham diminuído em um "passe de mágica". A justificativa foi a área de atuação da tropa, que entrou pelo lado esquerdo do 2º andar. Os corpos de detentos de outros locais ou que morreram a facadas foram retirados do cálculo da acusação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O dia mais decisivo para 25 policiais militares acusados no caso Carandiru, em 1992, foi nesta sexta-feira, 02, com o plenário cheio e uma novidade: o Ministério Público anunciou que eles eram culpados por 52 e não mais pelas 73 mortes no 2º andar do Pavilhão 9 da Casa de Detenção.

Logo no início dos debates, a última fase do júri antes da sentença, o promotor Fernando Pereira da Silva avisou aos jurados que pediria a absolvição dos PMs por 21 mortes. "Não queremos cometer injustiças", disse. Ele levou em conta o fato de que três detentos tiveram suas mortes atribuídas a brigas entre os próprios presidiários, e quatro vítimas morreram em outro pavimento. Além disso, outros 14 detentos foram mortos no corredor direito do andar, e os réus entraram pelo lado esquerdo, segundo as provas no processo.

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A sustentação da Promotoria foi recheada de outros números para demonstrar que houve execução no Carandiru. De acordo com os dados do laudo do Instituto Médico-Legal, dos 52 mortos, 37 tinham perfurações com trajetórias diferentes, e mais da metade das vítimas recebeu 2, 3 ou 4 tiros na região da cabeça e pescoço. Além disso, no andar onde os 25 réus entraram não houve nenhum sobrevivente dentre os detentos que foram alvejados. Entre os réus, segundo o promotor Eduardo Canto, só um não estava envolvido em resistência seguida de morte até 2010. "Eu não sei como (os réus) conseguem dormir. Isso é repugnante", afirmou.

Mas números também foram usados pela defesa para mostrar que a Justiça está equivocada. "Nove mortos só tinham estiletadas", disse a advogada Ieda Ribeiro de Souza, que sugeriu que esses assassinatos fossem investigados entre os detentos.

Segundo Ieda, trata-se de um julgamento político, contra a instituição da PM. "Quem deveria estar aqui é o dr. Fleury (governador de São Paulo em 1992)." Mas a promotoria tentou deixar claro que a intenção era punir os policiais e não a corporação. "Não se trata de um julgamento da polícia de São Paulo, mas de uma conduta criminosa", disse Silva.

Ieda fez referência às duas testemunhas protegidas, ligadas ao sistema penitenciário. Elas foram usadas para convencer os jurados da violência dentro da prisão e de que não havia como estabelecer onde cada detento vivia.

A defesa também exibiu imagens de detentos mortos em rebeliões em presídios, com corpos de homens queimados, esfaqueados e degolados. Familiares dos réus e PMs na plateia ficaram de olhos vidrados. Para a promotoria, as mortes do Carandiru são diferentes, fruto de violência policial.

A expectativa é que a sentença saia entre a madrugada e a manhã deste sábado, 03. (Colaborou Victor Vieira)

A advogada dos policiais militares acusados de participar do massacre do Carandiru, Ieda Ribeiro de Souza, disse aos jurados nesta sexta-feira, 02, que a culpa deveria ser transferida para as autoridades civis. "Quem deveria estar aqui é o dr. Fleury (Luiz Antonio Fleury Filho)", ex-governador de São Paulo em 1992, ano do massacre. Ela ainda criticou o fato de a imprensa ter noticiado que o coronel Ubiratan Guimarães (morto em 2006) era responsável por 111 mortes dentro do presídio, sendo que nove morreram por arma branca.

Ela falou aos jurados por mais de duas horas, tempo em que exibiu vídeos de testemunhas e imagens de corpos de presos mortos no dia do massacre. A advogada também mostrou um vídeo com imagens de presos mortos em outras rebeliões dentro de presídios. As cenas são de cadáveres decapitados, queimados ou asfixiados por lençóis, que deixaram a plateia com os olhos fixados no telão. A tentativa da advogada é mostrar que os corpos empilhados são comuns após tumultos dentro de unidades prisionais. "Me desculpem, mas eu tenho que mostrar aos senhores o que aqueles homens (policiais) combatem lá dentro", alertou Ieda.

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Trecho do depoimento em vídeo do ex-governador em que ele assumira "a responsabilidade política" pelo massacre também foi exibido aos jurados.

A defensora dos PMs encerrou seu argumentou colocando em dúvida ainda eventuais conclusões a partir de exames de balísticas. Segundo ela, na época do massacre o Instituto de Criminalística apontou que não era possível determinar com precisão a origem dos disparos que mataram cada detento. Houve um intervalo de meia hora e por volta das 18h30 a promotoria iniciou a réplica.

Sentença

Segundo o juiz Rodrigo Tellini, os jurados terão de responder a mais de 7 mil perguntas, o que corresponde a cerca de 1.800 séries de quesitos. Cada uma destas séries é composta por quatro questões básicas: materialidade (se houve morte), autoria (quem é o responsável), absolvição (se é culpado) e qualificadores (a pena pode ser aumentada por causa do modo de execução, por exemplo).

O Conselho de Sentença deverá responder aos pontos para cada um dos 25 PMs acusados e para cada uma das 73 vítimas listadas no processo.

Na manhã desta sexta-feira o Ministério Público pediu a exclusão de 21 detentos da acusação, sob o argumento de que eles foram mortos em brigas de presos ou em locais do Carandiru onde não houve atuação da Rota.

Os 25 policiais militares acusados de matar 73 detentos no Carandiru, em outubro de 1992, poderão ter a maior pena da história da Justiça brasileira: 876 anos de reclusão cada um. Em abril, na primeira etapa do julgamento, 23 PMs foram condenados a 156 anos de prisão por 13 mortes. A pena, prevista pelo Ministério Público Estadual, é calculada com os mesmos critérios da sentença do primeiro júri. A sentença deve sair ainda nesta sexta-feira, 02, ou na madrugada do sábado, 03.

Na fase final do julgamento sobre o massacre do Carandiru, que ocorre nesta sexta-feira (2), no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, o promotor Fernando Pereira da Silva pediu a absolvição dos réus pelas mortes de 21 dos 73 detentos no segundo andar do Carandiru em outubro de 1992.

De acordo com a acusação, os 25 PMs acusados responderão apenas pelas mortes no corredor esquerdo do pavilhão, onde ficou provado que houve atuação da tropa. Das 21 vítimas excluídas do rol da promotoria, 14 morreram no corredor direito, quatro morreram em outro local e três foram atingidas por arma branca, o que seria resultado de confronto com outros presos. "Não queremos cometer injustiças", declarou o promotor.

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"A intenção é não prejulgar as vítimas", enfatizou o promotor. "Não se trata de um julgamento da polícia de São Paulo, mas de uma conduta criminosa", completou.

O massacre do Carandiru, nas palavras do promotor Fernando Pereira da Silva, foi "a maior matança consignada mundialmente em um presídio". Ele destaca aos jurados que a Constituição assegura aos presos a integridade física e moral.

Durante a argumentação, o promotor explorou contradições apresentadas durante os depoimentos desta semana e o que foi apresentado pelos acusados em 1992. A promotoria também exibe aos jurados ilustrações que retratam os corpos encontrados com tiros na cabeça e no peito, de cima para baixo, como se tivessem sido executados.

Por volta das 13h40 o julgamento teve uma pausa para almoço e foi retomado depois de cerca de 90 minutos, agora com a apresentação da defesa dos réus, feita pela advogada Ieda Ribeiro de Souza.

O tenente-coronel Salvador Madia, ex-comandante da Rota, que esteve diante do 1º Batalhão de Choque da PM entre 2011 e 2012 durante a última crise de segurança em São Paulo, sentou nesta quinta-feira, 01, no banco dos réus no julgamento de 25 policiais do caso Carandiru. Em depoimento de seis horas, ele evitou detalhar a invasão do 2º andar do Pavilhão 9, em outubro de 1992, e culpou o tempo pela falta de memória. "Depois de 21 anos fica difícil de recordar todos os detalhes."

O juiz Rodrigo Tellini pediu para que o réu reconstituísse a operação apontando com o dedo para uma planta do 2.º andar que era projetada no auditório. Madia preferiu não indicar onde ocorreram os confrontos e o local que os policiais se feriram.

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O réu fez um desabafo contra o preconceito com PMs. "O senhor pensa que não me choquei com aquela foto de um mar de mortos? O senhor acha que eu voltei para casa e tomei um copo de sangue? Pensam que não somos gente, que perseguimos pretos e pobres", disse ao juiz, apontando os réus.

Madia foi o único oficial, dos cinco réus que se dispuseram a falar no júri, a assumir a responsabilidade pelos subordinados. "Eu entrei (no Carandiru) e não neguei. Não fujo da responsabilidade de eles terem entrado. Eu sei que nós não fizemos (o massacre)."

Contradições

A promotoria encontrou contradições entre o relato do tenente-coronel nesta quinta-feira e os que ele havia dado à Justiça Militar e no inquérito. Diante dos jurados, Madia disse que não havia visto homens nus na Casa de Detenção.

A defesa explorou os riscos enfrentados pelos profissionais da Rota, como a falta de segurança pessoal, as ameaças de morte e a distância da família. Madia ainda retomou a questão do preconceito contra Pms.

Nesta sexta-feira, 02, começa a fase de debates e, segundo previsão, a sentença será anunciada até a madrugada desta sexta-feira para sábado.

No primeiro interrogatório do júri do segundo bloco de PMs do caso Carandiru, nesta quarta-feira, 31, o coronel Valter Alves Mendonça, capitão da tropa da Rota que invadiu o 2º andar do Pavilhão 9 da Casa de Detenção, descreveu uma operação de 15 minutos em que não cita nenhuma das 73 mortes pelas quais mais 24 policiais são julgados nesta semana. Mendonça centrou sua versão de que é inocente somente falando por si e sua participação na invasão do Carandiru em outubro de 1992.

Após atravessar a barreira nas escadas, Mendonça disse que atravessou a gaiola (o acesso para o andar com grades de segurança), e pegou o corredor de celas à esquerda, onde teria avistado clarões e vultos de detentos. Lá teria escutado estampidos e sentido o impacto de projéteis no seu escudo balístico, que segurava com a mão esquerda. Na mão da direita, estaria a sua submetralhadora Beretta, com qual revidou com três disparos.

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Os promotores tentaram contradizer Mendonça com seu depoimento na Justiça Militar e na CPI da Assembleia, onde ele não teria mencionado que havia dado uma volta em todos os corredores antes de sair da prisão.

O coronel terminou o interrogatório emocionado e chegou a interromper a fala duas vezes diante

do júri ao comentar sua carreira na PM. Sua mulher e dois filhos estavam na plateia. Ele disse que "espera ter cumprido a função de policial de elite" e ficou com a voz embargada ao falar do pai e de que os dois filhos seguiam a mesma carreira.

Separado

O único réu que será julgado em um júri só para si, o coronel Luiz Nakaharada, foi lembrado pela promotoria. "É um dos meus grandes ídolos", disse Mendonça. O colega será julgado em separado pois é acusado individualmente de 5 das 78 mortes no pavimento que ficou conhecido pela ação mais sangrenta, com 70% das 111 mortes registradas.

Após um intervalo de meia hora, o major Marcelo Gonzáles foi chamado a falar. Ele contou que a direção do presídio foi enfática quanto à necessidade de uso da força para debelar o motim. O julgamento está previsto para acabar nesta sexta-feira, 01.

Os réus do segundo julgamento sobre o massacre do Carandiru começaram a ser ouvidos nesta quarta-feira, 31. A expectativa é de que sejam interrogados cinco dos 23 policiais militares presentes no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, ao longo deste terceiro dia de júri. Segundo o Tribunal de Justiça do Estado, a defesa ainda não informou o nome de todos os réus que prestarão depoimento. O primeiro a ser interrogado é o capitão Valter Alves Mendonça, que à época do massacre era capitão da Rota.

Nesta etapa, 26 PMs são acusados de assassinar 73 detentos no 2º andar do Pavilhão 9 do Complexo Carandiru, em outubro de 1992. Nessa terça, 30, a advogada de defesa, Ieda Ribeiro Souza, entregou o atestado de óbito de um dos réus. Outros dois PMs que respondem ao processo apresentaram atestados médicos e não compareceram ao julgamento.

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O capitão relembrou que a notícia da rebelião no Carandiru chegou a ele via rádio e que pediu a seus subordinados para aguardar ordens. Pouco tempo depois, foi chamado ao presídio pelo coronel Ubiratan Guimarães.

"O Secretário de Segurança (Pedro Franco) nos disse que, se fosse necessário entrar no Pavilhão 9, que estávamos autorizados", contou Mendonça. Ele disse que, ao entrar no complexo, passou pelo pátio e viu corpos, um deles sem cabeça. Segundo o oficial, seu grupo era responsável por entrar no segundo andar do pavilhão. Mendonça contou que ouviu clarões e disparou tiros quando um sargento foi atingido.

"Naquela época não havia arma não letal, coletes e nenhum tipo de proteção. Só revólveres e submetralhadoras", disse o capitão, que no dia usava uma submetralhadora e um escudo protetor, além de um revólver.

Terminou por volta das 20h o vídeo da segunda testemunha de defesa, exibido aos sete jurados no plenário do Fórum Criminal da Barra Funda,que participam do julgamento do Massacre do Carandiru. O julgamento será retomado na quarta-feira, 31, às 10h, com interrogatórios dos réus. A defesa não quis revelar os nomes dos PMs que serão ouvidos.

Neste segundo dia de julgamento, a defesa dos PMs acusados por 73 mortes na invasão ao Complexo do Carandiru em 1992 tentou mostrar que, para as autoridades, a ação no presídio era necessária na rebelião. Para isso, a advogada Ieda Ribeiro de Souza não poupou um novo depoimento do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho e do ex-secretário da Segurança Pública Pedro Franco de Campos, ambos ouvidos no primeiro júri, em abril, quando 23 réus foram condenados a 156 anos de prisão.

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Muito da fala de Fleury foi repetição do depoimento anterior, como qualificar o avanço da Rota no Carandiru como uma conduta "legítima e necessária". "Eu não dei a ordem para a entrada da PM, mas, se estivesse no meu gabinete, teria determinado a invasão", disse. Desta vez, porém, a promotoria procurou tentar explorar as contradições com entrevistas dadas pelo ex-governador na época do massacre e o discurso atual. "Nós esperamos que a conduta da polícia seja diferente caso ocorra outras rebeliões", disse Fleury, em uma coletiva cinco dias depois do massacre.

Neste segundo dia de julgamento, a defesa recuperou em vídeo os depoimentos de dois juízes, dados ao júri em abril. Os hoje desembargadores Ivo de Almeida e Luís Augusto França corroboram a ideia de que foi preciso ocupar a Casa de Detenção. "Quando chegamos, houve tentativas de negociação. Mas não conseguimos sucesso. Daí, a necessidade da invasão", contou Ivo. O desembargador alegou também não ter ouvido rajadas de metralhadoras no dia.

A defesa ainda ouviu por quase duas horas duas testemunhas protegidas, de acordo com um procedimento do Tribunal de Justiça para pessoas que sentem coagidas ou ameaçadas. Elas deram depoimento com o plenário vazio.

Terminou por volta das 19h a apresentação do primeiro vídeo exibido a pedido da defesa dos 26 policiais que são julgados na segunda etapa do julgamento sobre o massacre do Carandiru. O vídeo com declarações do desembargador Ivo de Almeida, que participou, também como testemunha de defesa, da primeira etapa do júri em abril deste ano, levou cerca de 1h15 minutos.

Os jurados assistem agora ao vídeo do depoimento do desembargador Luiz Augusto San Juan França.

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A previsão do juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, responsável pela segunda etapa do julgamento do Carandiru, é que a sentença seja divulgada na sexta-feira.

O ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, e o ex- secretário estadual de Segurança, Pedro Franco de Campos, prestaram depoimento na manhã desta terça-feira, 30, durante o segundo dia do julgamento sobre o massacre do Carandiru. Os dois já haviam participado, também como testemunhas de defesa, da primeira etapa do júri, em abril deste ano, e mantiveram as suas versões sobre o episódio de outubro de 1992 - quando estavam à frente do Estado e da pasta.

O ex-secretário foi o primeiro a depor e disse, logo no início do seu depoimento, que "reitera todas as declarações feitas no julgamento anterior". Na primeira etapa do júri, Franco afirmou que autorizou a entrada da PM no Carandiru e disse que tomaria a mesma atitude hoje. "Nenhuma dúvida de que havia necessidade de ingresso da PM na Casa de Detenção", reiterou.

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Fleury, assim como no julgamento em abril, afirmou que a entrada no presídio foi "legítima e necessária". Em seu depoimento, o ex-governador relatou que quando chegou ao Carandiru, havia focos de incêndio e a notícia de presos mortos, o que teria justificado a entrada da polícia. "Eu não dei a ordem para a entrada da PM, mas se estivesse no meu gabinete, teria determinado a invasão".

Após intervalo para o almoço, o júri foi retomado com a oitiva da segunda testemunha protegida. Assim como aconteceu pela manhã com o outro depoimento em sigilo, apenas os promotores, a advogada de defesa, o juiz e os jurados ouvem a testemunha. A imprensa não tem acesso ao depoimento.

Para esta terça estão previstos ainda as declarações, em vídeo, de outras duas testemunhas convocadas pela defesa dos 26 PMs acusados de matar 73 detentos do 2º andar do Pavilhão 9 do presídio: os desembargadores Ivo de Almeida e Luiz Augusto San Juan França.

O primeiro dia do julgamento dos acusados por 73 das 111 mortes no Complexo do Carandiru, em outubro de 1992, começou nessa segunda-feira, 29, com o ex-chefe da Rota coronel Salvador Madia e seu superior na ação, coronel Valter Alves Mendonça, sentados lado a lado, nas duas primeiras cadeiras dos 23 assentos reservados aos réus. Ao todo, serão julgados 26 policiais, mas três não compareceram.

Os dois PMs mais graduados na invasão ao 2.º andar do Pavilhão 9 do Carandiru, assim como o resto de sua tropa, permaneceram calados a maior parte da sessão, que começou com duas horas de atraso, depois da escolha dos sete jurados - todos homens, com idade média acima dos 35 anos.

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Reservados, os PMs tiveram apenas uma reação de indignação no depoimento da única testemunha de acusação ouvida diante dos jurados, o perito Osvaldo Negrini Neto, que vistoriou o local do crime e concluiu que não houve confronto. "Não tive notícias de policiais feridos", disse o perito, no que imediatamente os PMs se mostraram revoltados e a advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, se levantou para acalmá-los.

Ela também pediu que a testemunha não respondesse a pergunta da promotoria, se o que havia visto nas celas tinha sido "um massacre". O juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo considerou a pergunta subjetiva e a rejeitou. Fora do fórum, a testemunha se expressou: "O que houve foi um morticídio".

O perito ainda destacou que as cápsulas das balas foram removidas do 2.º andar. "Embora eu tenha visto celas com marcas de bala, não vi vestígios de estojo ou projétil", disse Negrini. A partir da análise dos rastros do tiroteio, o perito concluiu que os disparos partiram dos PMs para dentro das celas. "Foi possível comprovar que não havia disparos no sentido contrário. Não havia buracos de tiros no corredor. A maioria estava dentro das celas."

Laudo

A defesa tentou desconstruir o laudo técnico de Negrini. A advogada dos PMs questionou sobre o método usado para garantir que os 73 detentos foram mortos nas celas onde foram encontrados. Negrini disse que a quantidade de vestígios de disparos equivalia ao número de presos da cela. Em seu depoimento, ele ainda descreveu o ambiente do massacre como um "mar de cadáveres", em que havia vários objetos queimados e sangue escorria pelas escadas. Apesar do relato das cenas, os réus não esboçaram reação.

Eles se mantiveram sentados e só conversaram nos intervalos, quando se cumprimentavam e abraçavam as poucas pessoas da plateia, como um dos 23 PMs condenados no júri anterior, em abril deste ano, a 156 anos de prisão. Os réus se sentaram do lado da plateia, para assistir aos vídeos das testemunhas reprisados do júri anterior. Foram programadas três gravações: de dois ex-detentos que sobreviveram ao massacre, Antônio Carlos Dias e Marco Antônio de Moura, e do diretor de disciplina do Carandiru em 1992, Moacir dos Santos. "Fomos brutalmente espancados", contou Dias no vídeo.

Para evitar problemas, desta vez os jurados tiveram de passar por um exame de saúde - dois acabaram dispensados. O primeiro julgamento, em abril, chegou a ser suspenso depois que um dos jurados passou mal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A primeira testemunha a ser ouvida no segundo julgamento sobre o massacre do Carandiru é o perito da Polícia Técnica Científica, Osvaldo Negrini Neto, que trabalhou no caso. Questionado pela acusação, Negrini confirmou que os buracos de tiros eram vistos de dentro das celas do Carandiru e não nos corredores.

"Foi possível comprovar que não havia disparos no sentido contrário da marcha dos policiais. Só alguns poucos no corredor. A maioria (dos disparos) estava dentro das celas". A afirmação do perito desmente, segundo a promotoria, a versão dos réus, que afirmaram que os confrontos com os detentos aconteceram nos corredores do 2º andar do complexo penitenciário.

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A pedido da promotoria, Negrini detalhou o trabalho de identificação dos vestígios de projéteis pela perícia e de remoção dos corpos dos detentos do Carandiru. Segundo ele, não havia luz e foi necessária uma lanterna para trabalhar no ambiente. Ele identificou uma gosma vermelha na escadaria que ligava o segundo pavimento ao primeiro. O perito contou ainda que não encontrou cápsulas dos projéteis na cena do massacre. "Embora eu tenha visto celas com marcas de bala, não vi vestígios de estojo ou projétil".

Negrini relatou que a falta de higiene e de luz prejudicou o trabalho da perícia. Segundo a testemunha, havia entre os técnicos da vistoria o medo de contágio da AIDS, doença pouco conhecida na época e que era muito comum entre os presos.

Depois de uma breve pausa no julgamento, por volta das 16h o perito começou a ser interrogado pela advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza.

Nesta segunda-feira, 29, primeiro dia do julgamento, depõem as testemunhas de acusação. Depois da oitiva de Negrini, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, dois ou três depoimentos em vídeo - de testemunhas que falaram no primeiro júri, em abril deste ano - serão assistidos. A previsão é de que as testemunhas de defesa comecem a ser ouvidas nesta terça-feira, 30.

Os 26 policiais militares acusados pela a morte de 73 detentos no 2.º andar do Pavilhão 9 do Complexo do Carandiru, em 2 de outubro de 1992, poderão ter a maior pena da história da Justiça brasileira: 876 anos de reclusão cada um. O júri que deve começar nesta segunda-feira, 29, é a segunda etapa do julgamento dos acusados pela invasão da Casa da Detenção. Em abril, 23 PMs foram condenados a 156 anos de prisão por 13 mortes.

A pena, esperada pelo Ministério Público Estadual (MPE), é calculada com os mesmos critérios da sentença do primeiro júri. Na época, o juiz José Augusto Nardy Marzagão aplicou a pena mínima de 12 anos para cada homicídio e não considerou nenhuma causa de aumento de pena. O juiz que vai presidir a nova etapa, Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, poderá adotar outros critérios. De qualquer modo, segundo a lei penal, os réus podem ficar até 30 anos presos.

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O recorde anterior era a sentença do capitão Ubiratan Guimarães, que comandou a invasão ao Carandiru. Ele foi sentenciado a 632 anos de prisão, mas teve a pena anulada em 2006.

A maioria dos réus desta segunda etapa, 8 dos 26 PMs, tem a patente de 3.º sargento. Ainda respondem ao processo três soldados, três cabos, um 2.º sargento, três 1.º sargentos, um subtenente, dois 2.º tenentes, um 1.º tenente, um major, dois tenentes-coronéis e um coronel. Segundo a promotoria, nove dos PMs ainda estão na ativa.

Entre os mais graduados estão o capitão Valter Alves Mendonça, que comandou a ação no 2.º andar, e o tenente-coronel Salvador Madia, ex-comandante da Rota, entre 2011 e 2012. A previsão, segundo o Tribunal de Justiça, é de que o julgamento termine em cinco dias.

Testemunhas

Surpreendida com uma intimação na sexta-feira, 26, a testemunha mais aguardada na primeira parte do julgamento, o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, será ouvida outra vez. A defesa não abriu mão de ouvi-lo, apesar de outros testemunhos já apresentados poderem ser reprisados em vídeo. "Estarei lá", disse Fleury ao jornal O Estado de S. Paulo.

No primeiro júri, Fleury negou que deu ordem para a invasão. Agora, ele ressalva que não esperava falar pela segunda vez. "A advoga de defesa (Ieda Ribeiro de Souza) entendeu que eu devo ser ouvido novamente, então estarei novamente. Ela descumpriu o que havia sido acertado (de usar a gravação). É um direito da defesa."

A defesa alega que as mortes foram por estrito cumprimento de dever legal. No entanto, Ieda diz que não espera que Fleury dê uma versão diferente da anterior. Entre as testemunhas, estão dois desembargadores que podem ter seus depoimentos exibidos em vídeo. Além de Fleury, a defesa fez questão do novo depoimento do ex-secretário de Segurança Pedro Franco de Campos e de uma testemunha protegida.

A testemunha sigilosa será ouvida com o plenário vazio e vai comparecer independentemente de intimação. Ieda não revelou qual sua importância nem por que foi solicitado a aplicação de um provimento do Tribunal de Justiça para pessoas "que reclamarem de coação, ou grave ameaça".

O MPE pediu a exibição de vídeos de ao menos três testemunhas de acusação já ouvidas. A promotoria convocou seis vítimas sobreviventes - uma delas teve a morte confirmada e outras duas estão com o depoimento gravado. Foram chamadas mais duas pessoas que estiveram no júri anterior: o perito Osvaldo Negrini Neto e o diretor de disciplina da prisão, Márcio dos Santos (em vídeo). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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