Tópicos | Caso Rubens Paiva

O suposto resgate de Rubens Paiva por terroristas em dois carros teria ocorrido em meio a tiroteio, às 4h de 22 de janeiro de 1971. Sem detalhes como locais por onde o preso e sua escolta teriam passado, diz o documento: "O Sr RUBEM (sic) não conseguiu identificar a casa e, ao regressarem, na pista de descida do Alto da Boa Vista, lado da Usina, o Volkswagen da equipe do DOI foi interceptado por dois outros Volks, um branco e outro verde ou azul-claro. Estes, violentamente, contornaram a frente do carro do DOI, cujos ocupantes (sic) dispararam as suas armas de fogo contra a Equipe. Esta abandonou o carro rapidamente, refugiou-se atrás de um muro e respondeu ao fogo".

O documento continua: "O Sr RUBEM fugiu pela porta da esquerda, atravessou a rua e abrigou-se atras de um poste, enquanto os elementos estranhos dispararam suas armas por trás dos seus carros sobre o carro do DOI. O carro do Destacamento incendiou-se. O Sr RUBEM correu para dentro de um dos carros que logo partiram em alta velocidade".

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A papelada do Arquivo Nacional sobre o ex-deputado Rubens Paiva e sua "fuga" inclui o resultado da perícia feita no carro incendiado de onde o ex-deputado teria fugido. O documento é assinado pelos então primeiro-tenente Armando Avolio Filho, comandante do Pelotão de Investigações Criminais, do 1.º Batalhão de Polícia do Exército (Batalhão Zenóbio da Costa), pelo terceiro-sargento perito Lucio Eugênio de Andrade e pelo comandante da unidade, coronel José Ney Fernandes Antunes. Aponta 18 perfurações, "com os bordos voltados para o interior" e diz que foram encontrados no local estojos de munição calibre 45.

Essa última afirmação contradiz outra dos próprios militares. No relatório de 22 de janeiro sobre a suposta fuga, o capitão Campos afirma que no momento em que a equipe do DOI saiu do carro, durante o suposto tiroteio, "foram deixados no seu interior dois carregadores de metralhadora 9 mm Beretta". Décadas depois, já como coronel, Avolio foi acusado de tortura. Ele negou a acusação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Documentos oficiais sobre o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado e morto em 1971 por integrantes da repressão política no País, comprovam a mobilização da ditadura para tentar montar uma história que a livrasse da acusação de responsabilidade no caso. Guardada no Arquivo Nacional, a papelada inclui correspondência entre os então ministros Orlando Geisel (Exército) e Alfredo Buzaid (Justiça).

Os papéis incluem ainda o relatório de uma sindicância da Força sobre a suposta "fuga" do ex-parlamentar e autos de uma perícia no carro que, em versão fantasiosa, conduziria Paiva quando fugiu. Contraditoriamente, parte dos papéis comprova que o oposicionista estava em poder de militares quando "desapareceu" - na verdade, morreu sob tortura, segundo grupos de defesa de direitos humanos comprovaram, há anos.

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A morte de Paiva após seu sequestro é um dos focos da Comissão da Verdade, criada para investigar crimes da ditadura. O órgão recebeu na semana passada documentos entregues à Polícia Civil do Rio Grande do Sul por familiares do coronel da reserva Júlio Miguel Molinas Dias, de 78 anos, assassinado em suposto assalto em 1.º de novembro em Porto Alegre. A documentação inclui registro de entrada do ex-deputado no Destacamento de Operações de Informações (DOI) do Rio de Janeiro, que o militar integrou, e pode ajudar a elucidar o caso. Sua descoberta reforça indícios já presentes no material do Arquivo, que aponta militares que poderiam ser chamados à comissão para esclarecer o caso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Os documentos que comprovam que o ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971, durante a Ditadura Militar, foi preso pelo Exército, serão entregues pelo governo gaúcho à Comissão Nacional da Verdade. Relatórios e manuscritos do arquivo pessoal do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, 78 anos, assassinado no dia 1º de novembro quando chegava em casa, em Porto Alegre, estão sob a guarda da Chefia de Polícia do RS. Eles foram entregues à polícia pelas duas filhas do coronel, cuja morte ainda é investigada.

"Esses documentos, num primeiro momento, pertenciam a uma linha investigativa do próprio crime que vitimou o coronel. Estamos com todo o cuidado em guardar esse material, já que trata-se de documentos históricos e, em nenhum momento, cogitamos a possibilidade de não repassar essas informações", explicou o secretário chefe da Casa Civil do RS, Carlos Pestana. O repasse às comissões da Verdade estadual e federal ocorrerá na próxima terça-feira, no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Representantes de Brasília estarão presentes.

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Segundo o coordenador interino da Comissão da Verdade do RS, Aramis Nassif, uma equipe já está analisando o material. "Estamos fazendo uma avaliação e uma filtragem do que possa interessar historicamente. Há nesse montante muitos documentos de ordem pessoal que não nos interessam. Mas existe pelo menos um que é relevante, que são as são as anotações feitas pelo coronel e que comprovam que o deputado Rubens Paiva esteve preso no DOI Codi no Rio de Janeiro."

Documentos entregues à polícia gaúcha pelas filhas do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, 78 anos, assassinado no dia 1.º de novembro quando chegava em casa, em Porto Alegre, devem trazer luz a dois episódios ainda não esclarecidos da ditadura militar brasileira: a morte do deputado cassado Rubens Paiva, em 1971, e o atentado ao Riocentro, durante a comemoração do Dia do Trabalhador, em 1981.

Estão em posse da Chefia de Polícia do Rio Grande do Sul fichas, relatórios e manuscritos que trazem novas evidências de que Paiva foi morto por agentes do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

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Entre os materiais, chama a atenção um ofício datado de 20 de janeiro de 1971 - dia do desaparecimento de Paiva -, que contém uma relação de objetos pessoais que pertenciam ao deputado, como um chaveiro, documentos de identificação, dinheiro, relógio e roupas. O relatório identifica ainda que Paiva chegou ao DOI-Codi do Rio naquele dia trazido por uma equipe do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa).

A versão oficial do Exército é que Paiva teria sido resgatado no momento em que agentes do DOI-Codi o levaram para tentar localizar uma casa onde estariam outros militantes de esquerda. A fuga teria ocorrido, segundo os militares, às 4 horas de 22 de janeiro de 1971.

"(Os novos documentos) são a confirmação e a confissão por via indireta de que o pessoal do DOI-Codi manteve o Rubens Paiva preso e, certamente, o assassinou e desapareceu com o seu corpo. As pessoas que estavam lotadas no DOI-Codi do Rio, e isso é fácil descobrir, terão que explicar à Comissão da Verdade o que fizeram com o corpo e quem o assassinou", afirma o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke.

Alçado a chefe do órgão quase uma década depois do desaparecimento de Paiva, o coronel Dias, antes de se aposentar, recolheu esses documentos e guardou consigo. Porém, seu arquivo pessoal vai além.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem - mas que não quiseram se identificar -, há ainda entre os documentos uma espécie de relatório escrito de próprio punho, no qual Dias relata minuto a minuto a repercussão no dia do atentado ao Riocentro.

"Quando houve o escândalo do Riocentro, o Exército abriu um IPM (Inquérito Policial Militar), que foi presidido pelo coronel Dickson Grael. Na época, ele deu uma declaração que causou estranheza, algo como 'farei um inquérito e doa a quem doer'. Pouco depois ele foi dispensado", conta Krischke.

Mais tarde, Grael publicou um livro no qual aponta como um dos responsáveis pelo atentado o colega Dias.

Nesta quinta-feira (22), o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, afirmou que não leu o material entregue pelas filhas do coronel à polícia, mas que ficou sabendo do seu teor e os classificou como "importantes". A ideia é que eles sejam analisados pela Comissão Estadual da Verdade e repassados à Comissão Federal na próxima semana. "Esses documentos não são particulares, mas do Estado brasileiro", destaca Krischke. Para ele, o conteúdo deve ser imediatamente estudado, avaliado e tornado público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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