Um ano e quatro meses após deixarem o terreno em Itaquera, na zona leste de São Paulo, os moradores da Copa do Povo ainda não sabem quando, de fato, terão casa própria. Ocupada às vésperas da Copa do Mundo pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a área de 155 mil metros quadrados, perto do estádio de abertura do evento, a Arena Corinthians, chegou a abrigar cerca de 5 mil famílias, protagonistas de diversos protestos por moradia na época em que os holofotes estavam voltados para a região.
Hoje, uma placa informa a quem passa por ali que serão construídas 2.650 unidades habitacionais. As obras do Condomínio Copa do Povo, nome do empreendimento, porém, não têm prazo para começar.
##RECOMENDA##Quando foi invadido, em maio de 2014, o terreno estava sem uso havia 20 anos. "Era um período de muita visibilidade. Várias famílias procuraram o movimento porque estavam enfrentando preços abusivos de aluguel na região por causa da Copa do Mundo", afirma Josué Rocha, da coordenação do MTST, uma liderança que atua diretamente na Copa do Povo.
Após protestos com barricadas e confrontos com a Polícia Militar, os sem-teto conseguiram do governo federal o compromisso de incluir a ocupação no programa Minha Casa Minha Vida Entidades, modalidade voltada para movimentos sociais. Inicialmente, a ideia era construir 3,5 mil moradias no local, mas o número de unidades já foi reduzido em quase 25%. "Foi o que coube no terreno", diz Rocha.
Projeto
A compra do terreno foi assinada em setembro, com recursos da Caixa Econômica Federal, mas o Ministério das Cidades, responsável por administrar o programa, ainda não recebeu o projeto para aprovar a construção de 12 condomínios, formado por prédios de oito a dez andares, áreas de lazer e apartamentos com sacada.
A expectativa do MTST é de que, até o mês que vem, todos os licenciamentos com a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado estejam resolvidos. Só então poderia ser iniciado o processo de contratação para obra.
Até lá, os antigos moradores da Copa do Povo vão continuar organizando reuniões periódicas e mutirões de limpeza e segurança do terreno.
Fora dos barracos, o grupo se divide entre os que foram morar de favor em casa de parentes e amigos ou pagam aluguel - caso do porteiro Edson Oliveira Santos, de 50 anos, que divide um apartamento com a mulher e quatro filhos na região. "Sobra muito pouco no fim do mês, quase nada", diz.
Santos diz que passou quatro meses com a família em um dos barracos da Copa do Povo. Muitas vezes, forrava o chão com lona para dormir. "Mas era melhor estar morando lá do que pagando aluguel", afirma.
Natural de Maceió, ele veio para São Paulo na década de 1990 em busca de emprego. "Nunca tive oportunidade para comprar uma casa. A expectativa é de um dia conseguir nossa moradia", diz o porteiro, que, nas palavras dele, ficou "animado" após a compra do terreno. "Sempre pedem para a gente ter paciência. O difícil é começar a obra, mas, se começar, termina."
Sem prazo
O Ministério das Cidades afirma que, na época da ocupação, União, Estado e Município assinaram um protocolo na 3.ª Vara Cível do Fórum Regional de Itaquera para viabilizar o projeto. "Não há previsão de prazo para a obra, pois o projeto está em processo de licenciamento e aprovação pelos órgãos competentes e os envolvidos em sua efetivação - governos federal, estadual e municipal - estão modelando suas responsabilidades."