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O papa Francisco recordou nesta quinta-feira (3) aos jovens "a urgência dramática" do aquecimento global e defendeu uma "ecologia integral", no segundo dia de sua visita a Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

"Devemos reconhecer a urgência dramática de cuidar da casa comum. No entanto, isso não pode ser feito sem uma conversão do coração e uma mudança da visão antropológica subjacente à economia e à política", afirmou o pontífice durante um encontro com estudantes na Universidade Católica de Lisboa.

"Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas ou com tímidos e ambíguos compromissos", insistiu Francisco, 86 anos, depois de ouvir os depoimentos de vários jovens na instituição fundada em 1967 e presidida por jesuítas.

Francisco voltou a defender o conceito de "ecologia integral", uma marca de seu pontificado desenvolvida na encíclica "Laudato Si" (2015), dedicada à defesa do meio ambiente, que vincula ecologia e justiça social, integrando estreitamente o ser humano com a natureza

"Temos necessidade duma ecologia integral, de escutar o sofrimento do planeta juntamente com o dos pobres; necessidade de colocar o drama da desertificação em paralelo com o dos refugiados; o tema das migrações juntamente com o da queda da natalidade", afirmou.

"Não queremos polarizações, mas visões de conjunto", acrescentou o papa diante das 6.500 pessoas que compareceram ao evento, segundo as autoridades locais.

O líder espiritual de 1,3 bilhão de católicos iniciou na quarta-feira a visita de cinco dias a Lisboa para participar da jornada de encontros festivos, culturais e religiosos, um evento que reúne centenas de milhares de jovens de todos os continentes.

Após um primeiro dia dedicado às autoridades e ao clero local, Francisco presidirá durante a tarde de quinta-feira uma grande cerimônia de boas-vindas aos peregrinos em um parque no centro da cidade, ocupado pela JMJ.

Antes, o pontífice visitará Cascais, uma cidade histórica que fica 30 quilômetros ao oeste de Lisboa, onde se encontrará com jovens da rede internacional de ensino Scholas Occurrentes.

Depois das edições no Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019), esta é a quarta JMJ para o papa Francisco, que tem a saúde cada vez mais frágil. Hospitalizado três vezes desde 2021, atualmente o pontífice argentino precisa de uma cadeira de rodas ou de uma bengala para seus deslocamentos.

Considerada a maior reunião internacional de católicos, a JMJ foi criada em 1986 por iniciativa de João Paulo II. Esta edição deveria ter acontecido em 2022, mas foi adiada devido à pandemia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou os países ricos pela crise climática ao discursar para uma multidão, na tarde desta quinta-feira (22), em Paris, no encerramento do evento Power Our Planet. A participação no evento ocorreu a convite de Chris Martin, vocalista da banda britânica Coldplay. 

"Não é o povo africano que polui o mundo, não é o povo latino-americano que polui o mundo. Na verdade, quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial. E, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta Terra", afirmou Lula, que foi muito aplaudido durante o discurso.

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O festival Power Our Planet é um evento paralelo à Cúpula para o Novo Pacto Financeiro Global, que busca ampliar esforços para ajudar países pobres e emergentes a lidarem com os problemas das mudanças climáticas. O evento foi realizado no Campo de Marte, em frente à Torre Eiffel, e também contou com a presença de líderes do Timor-Leste, Barbados, Gana e Quênia, além da prefeita de Paris, Ane Hidalgo.

  Lula destacou a Amazônia em números, ao lembrar que a maior floresta tropical do planeta está inserida em oito países sul-americanos e abriga mais de 400 povos indígenas e seus mais de 300 idiomas. "A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e responde por 40% das florestas tropicais do planeta. Representa 6% da superfície e tem o rio mais caudaloso da Terra", ressaltou o presidente.  Um dos momentos mais aplaudidos foi quando Lula reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento na floresta até 2030. 

"Quando tomei posse, em 1º de janeiro, assumi a responsabilidade de que, até 2030, teremos desmatamento zero na Amazônia. A Amazônia é um território soberano do Brasil, mas, ao mesmo tempo, pertence a toda humanidade. E, por isso, faremos todo o esforço para manter a floresta de pé", afirmou.

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Ao encerrar seu discurso, Lula fez o convite para que a comunidade internacional compareça à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em 2025, que será realizada em Belém.  Agenda em Paris Lula chegou a Paris ainda pela manhã. O presidente está na capital francesa para participar da Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento, promovida pelo presidente Emmanuel Macron.

  A cúpula conta com a participação de mais de 300 entidades públicas, privadas ou não governamentais, incluindo mais de 100 chefes de Estado. Nela, Lula vai defender que o combate às mudanças climáticas precisa ser acompanhado de ações contra a pobreza. 

No primeiro compromisso do dia, ele se reuniu com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. No encontro, os dois líderes falaram sobre a cúpula do Brics – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que ocorre entre os dias 22 e 24 de agosto em Johanesburgo, na África do Sul. De acordo com a Presidência, Lula e Ramaphosa também discutiram opções para solução pacífica do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Lula também se reuniu com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, e com a ex-presidente do Brasil e atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff. Com o cubano, Lula tratou sobre as potencialidades para aumentar a cooperação em áreas de interesse dos dois países e sobre assuntos relativos à conjuntura mundial. O presidente também tinha audiências com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, e com o presidente da COP28 nos Emirados Árabes, Sultan al Jaber.

Lula ainda terá um encontro bilateral com Macron nesta sexta-feira (23), após o encerramento da cúpula, quando o presidente brasileiro fará seu discurso oficial. A comitiva de Lula só deve retornar ao Brasil no fim de semana. 

Itália

Antes de desembarcar em Paris, Lula cumpriu uma agenda de dois dias em Roma, na Itália. Ele se reuniu com o presidente Sergio Matarella e com a primeira-dama Giorgia Meloni.

Lula também visitou o papa Francisco, no Vaticano, onde discutiram temas como combate à fome e guerra na Ucrânia. Ainda na Itália, o presidente visitou o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, em retribuição à solidariedade do italiano quando Lula esteve preso em Curitiba, em 2018 e 2019.

Em um ano de eventos climáticos extremos em todas as partes do mundo e de mais recordes de calor, governos internacionais anunciaram uma série de metas e acordos para tentar mitigar a crise ambiental.

Definida como "blá-blá-blá" por jovens ativistas pelo clima, como a sueca Greta Thunberg, a COP26 produziu apenas avanços discretos, mas parece ter feito políticos e empresas perceberem o risco que o planeta vive.

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Especialistas entrevistados pela ANSA apontam que a própria pandemia de Covid-19 fez com que muitos entendessem a gravidade do problema.

"O mundo foi impactado por uma pandemia e, além de tudo isso, já está sendo impactado por uma mudança climática. A pandemia reacende a fragilidade humana, e isso vem com essa discussão mais acalorada e emocionada em relação ao clima - que pode, com toda a certeza, extinguir a raça humana", destaca a professora de Direito Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas Benedita de Fátima Delbono em entrevista à ANSA.

Já o coordenador do programa de Política e Economia Ambiental do FGVces, Guarany Osório, ressalta que a "Covid veio nos mostrar que crise coletiva é ruim para todo mundo em todos os sentidos: do indivíduo, do coletivo e dos negócios, para as bolsas, para os bancos centrais". "Há uma mobilização de dizer que estamos em uma emergência e precisamos mudar a rota. Veio tarde, mas está vindo", acrescenta.

Osório ainda pontua que há uma "importância de timing" sobre esse assunto ter vindo à tona com tanta força neste ano porque "o que acontece atualmente é que nós, como humanidade, estamos em uma trajetória de emissões que vai testar o aumento da temperatura acima de 1,5°C ou 2°C, indo em uma rota acima do que é mais seguro com base científica".

"A gente está entrando nos prazos finais para que a gente tenha compromissos suficientes para mudar essa rota e, com atraso, esse tema vai subindo na agenda. De um lado, tem essa busca para a gente entrar em uma rota segura de emissões e evitar que apertar alguns gatilhos de não retorno - e aí vai ficar muito caro fazer a mudança. Outro ponto é que esses últimos anos são recheados de eventos extremos com maior frequência", acrescenta Osório.

O presidente do Conselho Técnico-Consultivo do CDP América Latina e professor de Finanças e Sustentabilidade do Coppead/UFRJ, Celso Lemme, avalia ainda que é possível ver os resultados da COP26 tanto "com o copo meio cheio como meio vazio", mas ressalta que houve progressos que podem ajudar o mundo a manter o aumento da temperatura global abaixo do 1,5°C.

Em entrevista à ANSA, Lemme diz que foi importante o fato de os líderes globais "detalharem e escreverem" explicitamente as responsabilidades de cada um no cumprimento dessa meta, apesar de alguns recuos de última hora.

"A intensificação mais clara de responsabilidade é positiva, porque isso é um esforço conjunto. Se nós nos matarmos aqui, não vamos a lugar nenhum. E não é empurrar as responsabilidades para os desenvolvidos, porque já destruíram muito e têm mais dinheiro, nem empurrar para os em desenvolvimento, que querem degradar o ambiente", ressalta o professor da UFRJ.

Para Delbono, porém, é "muito difícil responder" se tudo o que foi prometido sairá do papel porque "os governantes sempre ficam no dilema entre economia e meio ambiente".

"Enquanto os países não conseguirem entender que a economia está atrelada ao meio ambiente, eu vou ter uma ideia controvertida dos impactos na economia. Se houver esse entendimento, nós vamos conseguir acabar com o que a gente chama de 'energia suja' e passar a ter essa energia limpa porque nós temos recursos para isso", acrescenta a especialista.

Brasil - Na contramão do mundo em 2021 ao aumentar suas emissões de gases de efeito estufa, o Brasil vive um momento bastante delicado por conta das políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro.

Para a professora do Mackenzie, o país "teve realmente um retrocesso" com o "desmatamento da Amazônia e a mineração, além da "questão do garimpo ilegal no rio Madeira, por exemplo, que está acabando não só com o rio, mas com todo o entorno".

"O Brasil regrediu nos últimos anos em relação à defesa do meio ambiente, que deveria ser algo ímpar para a própria política econômica", pontua. Segundo Delbono, também é preciso que os "brasileiros tenham uma consciência ambiental para que possam pressionar o governo a mudar".

"O problema é que nosso país carece muita dessa noção, carece de entender a importância do meio ambiente. A gente coloca a comida na mesa, mas não entende de onde vem essa comida", reflete.

Já Osório destaca à ANSA que o país tem uma série de "vantagens comparativas com outras nações", mas não usa tanto esse potencial.

"Temos uma biodiversidade gigantesca, a energia renovável - muito sol, muito vento, muita terra pra biomassa -, todo esse potencial. Por outro lado, a gente está vendo desmatar a Amazônia, e as conexões já estão feitas sobre como desmatar a Amazônia é ruim para o mundo, e mais ainda para o Brasil - até porque ela é a caixa d'água do Sudeste", ressalta.

De acordo com Osório, essa é uma "corrida estratégica" porque "vai ficar muito mais caro" se adaptar depois caso o Brasil continue nessa rota. 

Da Ansa

Poucos dias antes do início da COP 26 em Glasgow, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) lançou um apelo para que "se aja agora" diante da crise climática que, segundo esta categoria profissional, põe a sobrevivência humana em risco.

Principal organização internacional de ginecologia e obstetrícia, a FIGO representa centenas de milhares de profissionais de saúde materna e infantil em mais de 130 países no mundo.

Em artigo publicado no portal do "International Journal of Gynecology and Obstetrics", esta federação internacional alerta para o impacto da mudança climática na reprodução humana.

No texto, seus autores destacam que esta crise resultou em "uma emergência de saúde pública que afeta, de maneira desproporcional, grávidas, crianças e pessoas procedentes de comunidades desfavorecidas e marginalizadas, pessoas de cor e a reprodução humana".

"A mudança climática também pode prejudicar os cuidados médicos ao longo da gravidez e depois do parto naqueles países com poucos recursos", explicam.

Segundo o artigo, a exposição ao calor e à poluição provocam "um maior risco de mortalidade, de um peso insuficiente do bebê e de nascimentos prematuros, assim como de um aumento significativo do risco de anomalias congênitas do feto".

Os autores advertem, ainda, sobre o perigo que as catástrofes naturais, como inundações e furacões, representam para crianças e mulheres, grávidas, ou não.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou nesta quinta-feira, 28, que o Brasil será "um parceiro fundamental" no combate à crise climática, mas evitou responder questões sobre possíveis represálias ao País por causa do desmatamento na Amazônia. Durante uma coletiva de imprensa, a assessora do presidente Joe Biden reforçou que a questão ambiental será prioridade para o novo governo.

Nesta quarta-feira, 27, Biden assinou uma série de decretos voltados para o combate à crise climática. Dentre os principais anúncios, está a convocação de uma cúpula global sobre o clima para 22 de abril, data em que é celebrado o Dia da Terra.

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Ao ser questionada se os EUA convidarão o presidente Jair Bolsonaro para a cúpula, a porta-voz da Casa Branca respondeu que nenhum convite foi feito até agora.

Em resposta a uma pergunta sobre a possibilidade de Biden visitar o Brasil, Psaki disse que o novo chefe da Casa Branca ainda não planejou nenhuma viagem internacional.

Em carta enviada a Biden em 20 de janeiro, dia da posse do democrata, Bolsonaro disse estar pronto para continuar a parceria com os EUA na questão ambiental.

"Estamos prontos, ademais, a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso Diálogo Ambiental, recém-inaugurado", escreveu o presidente brasileiro.

Durante a campanha eleitoral de 2020, Biden chegou a sugerir que poderia aplicar sanções ao Brasil por causa do desmatamento na Amazônia. A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, também já criticou o política ambiental do governo Bolsonaro.

O príncipe William vai lançar, em 2020, um prêmio ambiental que recompensará com milhões de euros as soluções criadas para combater a crise climática, informaram os serviços do neto da Rainha Elizabeth II.

Com apoio de uma coalizão de organizações e empresas, o prêmio Earthshot beneficiária cinco ganhadores por ano ao longo dos próximos 10, "com o objetivo de encontrar, pelo emnos, 50 soluções para os desafios mais significativos que o mundo enfrentará daqui até 2030", detalhou o Palácio de Kensington em nota.

No vídeo de apresentação, o famoso naturalista britânico David Attenborough introduziu a iniciativa como "o prêmio ambiental mais prestigioso da História".

O objetivo do príncipe britânico, de 37 anos, segundo na ordem de sucessão ao trono, é "dissipar o pessimismo atual sobre o meio ambiente e substitui-lo pelo otimismo e a ação", explica.

Serão premiados cientistas, ativistas, economistas, empresas, ou gorvernos que contribuam para propor soluções para a crise climática, "especialmente para as comunidades mais expostas à mudança climática".

Não foi especificada a data da primeira entrega dos prêmios.

A rainha da Inglaterra Elizabeth II celebrou em sua mensagem de Natal, nesta quarta-feira (25), o compromisso das novas gerações diante da crise climática, após um 2019 marcado por inúmeras mobilizações inspiradas na ativista Greta Thunberg.

"Os desafios que muita gente enfrenta no presente são, talvez, distintos dos que minha geração enfrentou, mas estou surpresa com a maneira como as novas gerações demonstram um senso de dever diante de problemas como a proteção do meio ambiente e do clima", elogiou a monarca, de 93 anos, que não citou o nome de Greta em seu discurso.

Escolhida personalidade do ano pela revista "Time", a adolescente sueca de 16 anos inspirou milhares de jovens ao redor do mundo que foram às ruas pedir aos dirigentes que tomem medidas ambiciosas para fazer frente à mudança climática.

Em seu tradicional discurso natalino, Elizabeth II também disse que ela e seu marido, príncipe Philip, "orgulham-se" da chegada de um novo membro à família Real com o nascimento em maio de Archie, filho do príncipe Harry e de Meghan Markle.

Estas palavras contrastam com a ausência de Harry e Meghan nas fotografias que decoravam o escritório da soberana durante sua intervenção televisiva.

O duque e a duquesa de Sussex não passarão as festas de fim de ano com a família Real. Harry e Meghan foram para o Canadá, onde a americana viveu por sete anos quando trabalhava como atriz na série "Suits".

Elizabeth II também falou de um ano cheio de obstáculos depois que a sociedade britânica se dividiu por causa do Brexit.

"Podemos fazer coisas positivas quando deixamos de lado as diferenças do passado e no unimos através da amizade e da reconciliação", afirmou.

"Com frequência, são os pequenos passos, em vez dos passos de gigante, que trazem as mudanças mais duradouras", defendeu a rainha, após um 2019 no qual se comemorou o 75º aniversário do desembarque da Normandia e meio século após a chegada do homem à Lua.

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