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Da euforia à desolação, o humor dos entusiastas da chamada "revolta dos manés" mudou após a prisão de extremistas no levante contra o Congresso, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Sobre grupos e canais de aplicativos de mensagem pairam os sentimentos de frustração, receio e tensão. Há usuários que só puderam lamentar o desfecho da investida golpista em Brasília.

Os atos de vandalismo no domingo passado tinham por mote uma fala do ministro Luís Roberto Barroso, do STF: "Perdeu, mané". A declaração foi dada em Nova York, quando o magistrado foi abordado por um apoiador de Jair Bolsonaro, candidato derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva. Desde a eleição, nas ruas, nas redes sociais e em plataformas como WhatsApp e Telegram, bolsonaristas põem em xeque a vitória do petista.

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A reportagem do Estadão acompanhou a troca frenética de mensagens em dois grupos no WhatsApp - um deles restrito - e em 15 no Telegram. "Que mistura de sentimentos. Eu sinto raiva, tristeza, decepção. É como estar em luto e não saber quando irá terminar. Sinto muito pelas pessoas de bem que lá estão (presas) e as pessoas de mal soltas por aí", afirmou uma integrante do grupo Peladeiros 1. Há também relatos de desilusão: "Exército nos abandonando mais uma vez".

O grupo, que é fechado, já se chamou Resistência Joinville. Após a prisão dos extremistas em Brasília, dezenas deles mudaram de nome, mensagens foram apagadas e membros debandaram. "Estamos à beira da loucura. Entramos na era do medo", disse uma usuária do Peladeiros 1, grupo especialmente afetado pela ação policial: o organizador e administrador, o influenciador bolsonarista Eduardo Gadotti Murara, de Joinville (SC), foi detido e está preso em Brasília.

Paranoia

Paranoia, desde então, circula entre os usuários. Há o medo constante de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, leia as mensagens - sentimento replicado em grupos, tanto do WhatsApp como do Telegram. É de Moraes a ordem para prender manifestantes em flagrante, pôr fim aos acampamentos na frente de instalações militares, prender Anderson Torres - ex-secretário da Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro - e afastar o governador Ibaneis Rocha (MDB).

No Instagram, Murara é dono de uma página em que fazia "lives" sobre a rotina do acampamento no Quartel-General do Exército em Brasília. Nas postagens, ele convocava apoiadores do ex-presidente a acompanhar os protestos na capital federal e em também em suas cidades.

Nos primeiros dias de janeiro, o influenciador fez a convocação para uma "festa" - código usado por bolsonaristas nas plataformas digitais para os protestos, a "festa da Selma". Tratava-se do ato de Brasília. Catarinenses que não pudessem se deslocar para a capital federal receberam a orientação de procurar o acampamento no quartel de Florianópolis. Murara transmitiu ao vivo a invasão dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes.

Reação

No grupo do WhatsApp, a reação após as forças de segurança retomarem o controle da situação foi imediata. Todas as mensagens enviadas no domingo foram apagadas. O verde a amarelo cedeu lugar a uma imagem de uma bola de futebol.

"Estou preocupada com Eduardo. Não deu sinal", disse um usuário na madrugada de terça-feira (10). Na tarde do mesmo dia, uma usuária perguntou se Murara havia sido preso. Uma pessoa que mantém contato com o influenciador bolsonarista confirmou a informação, o que causou comoção entre os integrantes. Em seguida, uma dezena de mensagens foi apagada.

Outras resistiram. "Esse grupo pode estar sendo monitorado para estimular o povo a falar coisas. Depois recebemos um processo. O povo da esquerda está com sangue nos olhos. Ideal seria desfazer o grupo. Pelo menos este", disse uma usuária. "Pessoal, tem de evitar falar certas coisas aqui. Pode ser que o telefone do Eduardo esteja com o Xandão (apelido dado a Moraes)", respondeu outro usuário.

Tristeza

A tristeza dominou os bolsonaristas. "Já chorei tanto hoje. O povo não merece isso", afirmou uma integrante do grupo. "O mais triste é essa impotência que sentimos. Dói", escreveu outro.

Na quinta-feira (12), o nome de Murara passou a figurar na lista oficial da Polícia Federal dos detidos pelos atos de vandalismo. "Eduardo lutou tanto por nós e agora está preso como um marginal. Que dó dele, gente", afirmou um integrante do grupo ao receber a confirmação da prisão. "Muito difícil que quem foi para a penintenciária conseguirá sair", disse outro. A reportagem não localizou a defesa do influenciador.

Em grupos do Telegram, os relatos se repetem. "Que tristeza. Políticos corruptos e no poder e pessoas de bem presas. Uma vergonha para o Brasil", publicou uma usuária.

A temperatura sobe com a presença cada vez maior de supostos petistas infiltrados nos grupos para provocar bolsonaristas: "Tá com medo do Xandão?", questionou um membro, que trocou a foto de perfil para a de Moraes. Dezenas de usuários trocaram ofensas entre si em seguida.

Dissociação da realidade

Em grupos bolsonaristas, há a crença de que os atos violentos foram causados pela ação de "infiltrados". Para Patrícia Rossini, pesquisadora da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, há uma "dissociação da realidade". "Para algumas pessoas, há uma dissociação entre eles e as pessoas que cometeram os atos violentos. Elas não se veem como parte ou contribuidoras daquele movimento de vandalismo", afirmou.

Essa distopia, afirmou o analista de dados do Rooted in Trust Brazil e pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), João Guilherme dos Santos, ocorre por que se formou uma rede bolsonarista tão grande em diversas plataformas que os usuários perderam o contato com o contraditório. "Não podemos tomar como base que essas pessoas viram a mesma coisa que vimos. Existe uma rede de confirmação social das coisas que elas estão acessando. Há os programas jornalísticos delas, os cientistas delas", afirmou.

Segundo Santos, as redes alimentam como convicções reais informações distorcidas. Esse negacionismo se reflete em campos como política e ciência, afirmou o pesquisador. "Meu Deus do céu. Estão picando as pessoas com o veneno. Muita crueldade", afirmou uma usuária sobre o fato de os presos serem vacinados contra covid ao dar entrada no Complexo Penitenciário da Papuda, onde ficam os homens, ou na Colmeia, onde está as mulheres.

Vagando por entre a lama e as cinzas, os habitantes das aldeias localizadas ao pé do vulcão Semeru, na Indonésia, tentavam neste domingo (5) recuperar os poucos bens que restaram após a erupção.

Pais com seus filhos traumatizados, idosos com colchões nas costas. Agricultores com suas cabras nos braços, vivas por um milagre. Depois da erupção apocalíptica de ontem, todos estão chocados e vagueiam de um lugar para outro, numa aldeia reduzida a nada.

"De repente, o céu escureceu e então veio a chuva e nuvens ardentes", conta Bunadi, um residente da vila de Kampung Renteng, no leste de Java, que diz ter ficado surpreso com a erupção de uma "lama ardente".

A poderosa erupção causou mais de uma dúzia de mortos e numerosos feridos.

As cabanas que compõem o povoado foram arrastadas por enxurradas de lama em chamas e uma chuva de cinzas e escombros, obrigando centenas de famílias a fugir da área sem poder levar nada consigo.

Muitos perderam suas casas.

Refugiadas em uma mesquita, várias mães esperam sentadas no chão, ao lado de seus filhos, dormindo. Tiveram sorte e conseguiram escapar do cataclismo que enterrou vilas inteiras sob as cinzas.

As operações de resgate continuam, mas os habitantes, desesperados, se arriscam a retornar às suas aldeias, apesar do risco que isso acarreta para a sua saúde, com a ideia de recuperar o que for possível.

Em uma casa de Lumajang, pratos, caçarolas e tigelas esperam na mesa, como se o jantar estivesse para ser servido. Mas, em vez de comida, cinzas vulcânicas.

– Arrastados pela lama –

Alguns moradores contam os parentes desaparecidos.

"A torrente de lama levou dez pessoas embora", diz Salim, outro morador de Kampung Renteng.

"Um deles poderia ter escapado. Gritamos para ele correr, mas ele respondeu: 'Não quero, quem vai alimentar minhas vacas?'", explica Salim.

Não muito longe dali, em Sumber Wuluh, os telhados das casas mal se projetam do solo, o que dá uma ideia do volume de lama que inundou a aldeia em muito pouco tempo.

Há vacas mortas no chão e, embora alguns animais tenham conseguido sobreviver, muitos estão mutilados, em carne viva, queimados pela lava.

Um sobrevivente, com um cigarro entre os lábios, foi resgatado por socorristas, cujo uniforme laranja se destaca em uma paisagem cinza-escura que quase parece o inferno.

Sentado nas cinzas, um grupo de vizinhos de Sumber Wuluh olha para a cratera do Semeru, de onde a fumaça continua a emanar.

No meio das árvores queimadas e desfolhadas e das casas e veículos enterrados pela lama, são, juntamente com os poucos animais que os rodeiam, os únicos sinais de vida num panorama de morte e desolação.

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