Na última quinta-feira (14), um cavalo desabou de exaustão em plena Avenida Agamenon Magalhães, que corta o centro do Recife. A situação do animal comoveu populares do local, que ajudaram comprando alimentos e protegendo o cavalo do sol. O cavalo foi resgatado mas não resistiu e morreu no último sábado (16).
Quem acompanhou a história, divulgada nas redes sociais, ficou indignado. A agonia e a morte de Agamenon, como foi chamado, alertou para a falta de cuidado com os animais na capital pernambucana.
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Agamenon foi avistado caminhando cambaleante pela via até que, em frente à sede do Ministério Público do Trabalho (MPT), finalmente desabou. Com o asfalto quente pelo sol, o cavalo, magro e desidratado, tentou diversas vezes se levantar, mas não conseguiu. Por causa do esforço, o bicho ganhou várias feridas no focinho e nas pernas.
A defensora da causa animal Goretti Queiroz participou do resgate de Agamenon. Foi ela que recomendou que os funcionários próximos comprassem frutas e água para o bicho. “É o tipo de animal que é explorado a vida inteira, que faz trabalho forçado diariamente e que quando está mais idoso e doente é abandonado”, explica Queiroz. Segundo ela, o animal possuía uma ferida nas costas possivelmente oriunda das celas e arreios colocados no cavalo para puxar carga.
Na mesma manhã de quinta-feira, Agamenon recebeu uma injeção anti-inflamatória e foi resgatado pelo Centro de Vigilância Ambiental (CVA). “Na sexta-feira à tarde estive lá, comprei quatro litros de soro vitaminado e fui vê-lo. Ele estava comendo, então fiquei super animada, achando que ele ia ter forças para levantar”, lembra Goretti Queiroz.
No sábado, entretanto, Goretti recebeu a informação de que o cavalo havia falecido. Para a ativista, a raiz do problema está na falta de regulamentação da lei da tração animal, sancionada pelo prefeito Geraldo Julio em 2013 para entrar em vigor em março de 2014. Na época, carroceiros fizeram uma série de manifestações e a prefeitura recuou.
Até o momento, espera-se a regulamentação da lei. A Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais do Recife (Seda) informa que a medida ainda está em fase de regulamentação, que envolve a participação de várias secretarias, como a de Mobilidade e Controle Urbano e a de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Não há previsão para a lei ser regulamentada.
Durante os protestos de 2013, uma grande crítica feita ao processo de criação da lei era a falta de diálogo com os carroceiros. Estes profissionais, porém, se mostraram contrários às diversas alternativas, como o pagamento pelo animal e carroça e uma capacitação profissional. Eles reclamavam que a prefeitura pretendia pagar um valor muito baixo.
Enquanto o impasse não é resolvido, cenas de maus tratos aos animais continuarão sendo observadas na cidade e outros cavalos correrão o risco de ter o mesmo destino que Agamenon. Só neste ano, Goretti Queiroz fez o resgate de outros quatro cavalos. Todos conseguiram ser adotados.