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Quem observa a beleza do Rio Capibaribe em toda sua dimensão nem imagina a história escondida de superação e de legado deixado por uma das primeiras moradoras do conjunto de palafitas localizado especificamente embaixo da Ponte RioMar, no entorno do Shopping Riomar, uma das áreas abrangidas chamada “colônia Zona 1-Pina”, no Recife. A equipe do LeiaJá foi recebida para conversar com a ex-pescadora Maria Helena, 73 anos, que dedicou mais de 65 anos à profissão. Em cadeiras de roda e sem enxergar, dona Maria nos aguardava já em uma mesinha branca numa espécie de pátio entre as casas improvisadas. 

De vestido vermelho florido, sorriso largo no rosto que nem de longe revelava a vida difícil levada ali, a matriarca da região contou a trajetória de sua vida baseada em muita luta, sofrimento, mas também de força de vontade. Ela alternou momentos de alegria e de tristeza ao recordar o tempo em que ativamente pescava. Até os 70 anos, Maria continuava trabalhando no misto de necessidade e paixão. 

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Nascida em Largo da Paz, na comunidade do Bode, próximo da redondeza, ela recordou a perda da mãe, ainda cedo, no começo da adolescência quando tinha 12 anos apenas. Ficou “de um canto a outro”, palavras dela, até se instalar na atual colônia. No entanto, a vida de pescadora começou ainda muito nova, aos 7, quando ia ao lado de outros familiares pegar “o peixe para comer”. Dona Maria ressalta a qualidade do peixe dos tempos passado. “O rio era rico, tinha toda qualidade de peixe. Lagosta, polvo, piquira, xira e caranguejo que só a beleza”. 

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Ela recordou com entusiasmo. “A gente esperava o mar secar porque tinha as horas da maré, hora para encher e para secar. Todo dia a gente pegava unha de velho, sururu e marisco. Era muito crustáceo mesmo, hoje não tem mais isso. Tá se acabado a pescaria todinha, mas se dragar a maré fica rica de novo, mas agora a água é poluída. Antes, a gente só vivia 'estribada', com dinheiro no bolso. Agora a pescaria não dá dinheiro não, mas eram dias bons de pescaria. Agora aparece defunto, lixo, pode melhora [sic], mas eu acho que vou coisar antes”, disse, se referindo à proópria morte. 

Entre as dificuldades, Dona Maria Helena conta que teve 18 filhos, sendo dez abortos espontâneos. Ao todo, ao mundo vieram 8, dois morreram e mais de 20 netos. Hoje, parte da família perpetuou o legado da alegre senhora. “O genro pesca, a filha, os netos pesca e eu tenho a minha aposentadoria, vivo levado umas em cheia e umas em vão”, falou sobre os altos e baixos da vida. 

Lamenta o fato de ter dado uma pausa há cerca de três anos. Há 10 anos, um acidente a fez ter que diminuir o ritmo aos poucos: “Tive que colocar platina”. Dona Maria diz que caiu em um buraco perto de uma rua próxima. “Tinha uns paus lá, eu vinha da beira-rio”. Fala sobre sentir orgulhoso de si mesma. “Eu tenho muito orgulho. Criei os filhos. Sou muito guerreira”. 

Maria tem o sonho de voltar a enxergar, após a possibilidade dita por um médico. O diagnóstico é catarata, que teria sido consequência de muitos anos exposta ao sol. “Sempre eu vivia com muito sol, muita quentura na cabeça. O doutor disse que tinha cura, então estou esperando. Se eu enxergar, eu posso andar”, enfatizou animada.  

Júlio Gomes/LeiaJáImagens 

A matriarca marisqueira tem muita fé. “Tenho tanta fé em Deus, eu pedi com tanta fé em Deus. Como eu tenho esperança em Deus. Eu queria enxergar para viver mais, esse é o meu maior sonho”.

O neto Luan, 21 anos, sente muito orgulho da avó e fala com admiração que é um espelho ali para todos. A filha Sandra Helena, 43 anos, que também mora na palafita, complementou. “Uma mulher muito batalhadora, que criou oito filhos. Trabalhou e é um orgulho muito grande ser filha de Maria Helena. Mesmo com todas as dificuldades, somos todos cidadãos. Eu me orgulho muito e passou de geração em geração. Agradeço a Deus por tudo o que ela fez. Ela representa uma mulher batalhadeira [sic], vitoriosa, que lutou com dignidade”. 

Sandra conta que o dia a dia é muito pesado. “Acordo cedo, fico dependendo da maré. Pode ser 3h ou 4h da manhã. Se for cedo, vai cedo. Eu pego marisco e sururu. São todos os dias, mas a gente que tem que estas disponível para a maré. É no mergulho mesmo, na lama, sem enxergar nada, com a ajuda da baiteira. Depois, limpa, bucha, limpa, cozinha, cata novamente, é um processo grande”. 

No entanto, ela garante que todo o esforço vale a pena. “Vale a pena porque é uma profissão. Antes era vergonha ser pescador, hoje se tem orgulho. Ai de muitos pescadores se não fosse a maré. É o meio de sustentar a nossa família”. 

Júlio Gomes/LeiaJáImagens 

Palafitas

A colônia Z1 do Pina abrange cerca de 2.100 pescadores. Na entrada, nos deparamos com alguns fazendo o covo, uma espécie de isca feita com tela de plástico e madeira. Wilson Galdino, 47 anos, experiente, diz que a batalha é dura para poder ganhar o dinheiro do pão. Às 4h já aguarda a maré e vai três vezes na semana. “Um dia sim e um dia não”. 

Em média, na área, convivem 70 famílias. Cada um tem seu horário e estilo de pescaria. Mariscos e sururu, por exemplo, apenas com a maré seca. Pescador de jangada sai às 5h da manhã e retorna no final da tarde, a depender. Já de barco, pode passar até 15 dias no mar para pegar lagostas e peixes maiores ficando no limite das chamadas paredes. Há de todo tipo: cavala, serra, beijupirá. 

Além do horário puxado, deve haver cuidados pela exposição da pele por causa da irradiação, a parte dental e também o cuidado com o câncer de pele. “Pescar é uma coisa maravilhosa e quando está pescando o peixe é uma alegria só. Tem dias que a gente pega tem dias que não pega”, disse Edson Gomes, 59 anos, um dos diretores da colônia que começou a pescar aos 8 anos de idade, herança do pai João e principalmente do avô Batista. 

Edson lembra que, no barco, o trabalho é em conjunto. Um arremessa a pedra para chamar o peixe e o outro rema. E vice-versa. O presidente da colônia, conhecido como seu Neno, também busca incluir socialmente os marisqueiros e no geral. Consciente da importância da “Veneza brasileira”, como é conhecida a capital pernambucana, ele luta em prol do meio ambiente e de ações para a área.

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Seu Severino, mais conhecido como o ‘Lobo Solitário’ por passar bom tempo do dia contemplando a vista pelo píer em sua cadeira de roda, também faz parte de toda a geração de pescadores. Ele vendia peixe na entrada da Rua São Luís, também na comunidade do Bode. Por um tempo, se tornou pescador. “Uma vida boa, mas também sofrida. Às vezes chove, às vezes faz sol e por aqui vou vivendo”, falou em rápidas palavras. 

Há quem se preocupe com o lado social, de humanidade os moradores da palafita têm sede. O dentista Haroldo Duarte montou um consultório odontológico na área onde atende todas as quintas à tarde para os que não tem condições de ter acesso à odontologia. Ele diz que fazer o bem não tem preço. Muito bem visto entre os pescadores, ele fala sobre a importância de ajudar o próximo. “É enriquecedor como pessoa e Deus ilumina a gente”. Mas ele também atende em outros locais como no Convento Frei Damião de Bozzano e o abrigo Santa Luzia, em Jaboatão dos Guararapes a cada 15 dias. Formado há 23 anos, Haroldo alerta que a saúde começa pela boca. “E assim vivemos aqui fazendo o bem, ajudando o próximo e escutando as ricas histórias dos pescadores”, finalizou.

Um óculos que permite pessoas cegas enxergarem. É essa a proposta dos óculos inteligentes desenvolvido pelo cientista Stephen Hicks, na Universidade de Oxford. Partindo do princípio que alguns deficiente visuais conseguem ver lapsos de luz e movimento, o objeto criado por Hicks, especialista em neurociência, usa justamente essa visão residual para solucionar essa condição.

De acordo com o cientista, o display OLED faz com que os óculos traduzam informações visuais em imagens fazendo com que deficientes visuais enxerguem. Seria mais ou menos como a câmara escura: um objeto fica mais claro quando colocado contra uma parede escura. O projeto foi vencedor do prêmio de inovação Brian Mercer Award Inovation, e ainda não tem previsão de chegar ao mercado.

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