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Pontos em relevo que, combinados, formam 63 sinais para serem lidos com as pontas dos dedos. Há quase 200 anos, o braille passou a permitir a escrita e a leitura por pessoas cegas e com baixa visão. Nesta quarta-feira (4), Dia Mundial do Braille, a Agência Brasil conversou com especialistas que mostram que o país melhorou a acessibilidade, mas ainda precisa avançar. 

“Eu costumo dizer que a humanidade teve grande conquista com a invenção da escrita e, durante esse tempo todo, houve tentativas de desenvolver uma escrita para cegos. A grande conquista veio com o braille. A partir desse momento, as pessoas cegas passaram a participar da história”, diz a coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro do Conselho Mundial e do Conselho Ibero-americano do Braille, Regina Oliveira. 

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Segundo Regina, o braille é ferramenta fundamental para a alfabetização e a independência de cegos e pessoas com baixa visão. Ela nasceu com glaucoma e, aos 7 anos, perdeu por completo a visão. Ainda pequena, teve seu primeiro contato com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, onde foi alfabetizada em braille. 

A importância do Sistema Braille, de acordo com Regina, está tanto no acesso a informações de cosméticos, medicamentos, contas de consumo, quanto na privacidade para consultar um extrato bancário, a fatura do cartão de crédito, além dos estudos. “Não há outra maneira de alfabetizar a criança cega a não ser por meio do braille. Mais tarde, pode usar outros formatos, como o livro digital falado, leitores de tela, mas aí a pessoa vai ouvir, ler, só consegue ler por meio do braille, e isso é bastante importante”.

O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, mostra que existem no Brasil mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 506 mil cegas e cerca de 6 milhões com baixa visão. Entre as pessoas cegas, 110 mil com 15 anos ou mais de idade não são alfabetizadas. Entre as pessoas com baixa visão, 1,5 milhão não sabem ler ou escrever. Isso significa dizer que cerca de uma em cada quatro pessoas (25%) com alguma deficiência visual era considerada não alfabetizada. Um índice maior do que o da população em geral, que em 2010 era de aproximadamente 8% para essa faixa etária. 

“Infelizmente são poucas as  instituições especializadas para dar suporte. O atendimento da sala de recursos, a meu ver, é insuficiente. Há poucos professores com conhecimento do braille nas redes de ensino públicas e privadas do país”, diz a professora do Instituto Benjamin Constant Margareth de Oliveira Olegario Teixeira, que integra o Grupo de Pesquisa em Educação e Mídia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (GRUPEM/PUC-Rio), 

Houve avanços. Desde 2019, por exemplo, pelo Programa Nacional do Livro Didático Acessível (PNLD/Acessível), os livros didáticos passaram a ser impressos em braille e letras ampliadas em português. Os alunos cegos e com baixa visão passaram a receber os mesmos livros que o restante dos alunos da classe.

Segundo Margareth e Regina, no entanto, ainda faltam tanto imprimir mais livros e materiais em braille, quanto o amplo acesso a equipamentos como a Linha Braille, que ainda é muito cara. Essa linha é um equipamento que exibe em braille o que está na tela de computadores, tablets e celulares. “Para mim, está no campo do sonho de consumo”, diz Margareth. Regina ressalta que o Brasil é muito rico em legislação. “A grande questão é colocar essa legislação em vigor, fazer tudo funcionar”. 

Margareth reforça que o braille não deve ser substituído por leitores de tela ou outros recursos. “Os recursos digitais de informática não substituem o braille", complementa. Para ela, pessoas cegas têm direito ao braille. "Muitas vezes, quer ler uma partitura, uma cifra de música, precisa desse contato com o braille. [O sistema] facilita a compreensão de alguns recursos, facilita, por exemplo, o estudo de língua estrangeira”, diz. 

O Sistema Braille foi criado em 1825 pelo francês Louis Braille, cego aos três anos de idade devido a um acidente que causou a infecção dos dois olhos. A versão mais conhecida data de 1837.O sistema permite a comunicação em várias línguas.

O sistema, formado por símbolos alfabéticos e numéricos, possibilitam a escrita e leitura, por meio da combinação de um a seis pontos. A leitura, com uma ou ambas as mãos, se faz da esquerda para a direita. Os pontos em relevo obedecem a medidas padrão e a dimensão da cela braille corresponde à unidade de percepção da ponta dos dedos.

No Brasil, o braille foi introduzido por José Álvares de Azevedo, idealizador da primeira escola para o ensino de cegos no país, o Imperial Instituto de Meninos Cegos, atual Benjamin Constant. No dia 8 de abril, aniversário de Azevedo, é comemorado o Dia Nacional do Braille.

A Copa do Mundo mobiliza grande parte das pessoas a acompanharem os jogos, seja em casas, bares, restaurantes ou até nos estádios. Esse processo é simples: ligar a televisão e assistir aos jogos ou se dirigir até o local da competição. Para as pessoas cegas, esse processo não é tão fácil quanto se imagina.

A escassez de acessibilidade é algo que as acompanha até em grandes competições mundiais. A falta de narração detalhada e audiodescrição são fatores que desafiam até os torcedores mais assíduos.  Apesar da Copa do Mundo do Catar trazer novidades na transmissão, como acessibilidade para pessoas com deficiência, o recurso ainda não está disponível para todos, visto que é oferecido no Brasil em transmissão por assinatura, como a operadora Claro em parceria com o Sportv e o BePlay e não está disponível na TV aberta. Audiodescrição, Libras e legendas fazem parte dos serviços. Basta que o telespectador aponte o celular para o QR Code na tela da TV pelo canal Claro + e acesse o link da transmissão acessível pelo BePlay.  

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Para o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comude) em uma entrevista, Ronaldo Tavares, a audiodescrição nas transmissões é um ponto importante que merece atenção dos veículos de comunicação. Essa é uma função que descreve, em forma de áudio, as imagens que aparecem na tela. Assim, as pessoas cegas podem entender o que se passa na televisão. Os desafios são constantes, mas a paixão pelo futebol fala mais alto. O rádio é um aliado nos jogos, por causa dos detalhes narrativos. 

Existe a Lei Brasileira de Inclusão, nº 13.146, que busca “assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”, como está descrito nas disposições gerais da lei. A Convenção Internacional da ONU também trata dos direitos das pessoas com deficiência.  

Começa nesta quinta-feira (25) no Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, em Vitória (ES), curso de fotografia para pessoas cegas. Maior nome da fotografia feita por pessoas com deficiência visual no Brasil e duas vezes fotógrafo oficial dos Jogos Paralímpicos, João Maia considera válido o projeto que formará, de uma só vez, 12 fotógrafos.

A maioria das 12 pessoas cegas que participarão da experiência é formada por alunos de canto e teatro do projeto Cena Diversa, do coletivo Companhia Poéticas da Cena Contemporânea, que trabalha com cinema, teatro, fotografia e vídeo. O projeto foi idealizado e proposto por Rejane Arruda, presidente da Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil) e diretora do coletivo e da Escola de Fotógrafos Cegos (EFC). O projeto tem patrocínio da ES Gás, por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba.

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O curso terá duração de oito meses e incluirá oito módulos do ensino da fotografia, com oficinas, aulas, debates e imersão dos participantes na captação de imagens. “O nosso objetivo é a transmissão do olhar e da poética de uma fotografia contemporânea para eles. A gente aposta nessa transmissão de uma poética visual para essas pessoas que nunca enxergaram imagens”, disse Rejane. As aulas serão às quintas e sextas-feiras, com o acompanhamento de uma equipe composta por quatro fotógrafos.

Serão feitas muitas descrições, procedimentos práticos, nos quais elementos como o toque, a vivência no espaço, metáforas, serão usados para transmitir essa poética aos alunos, “até o ponto de, ao fim dos oito meses, eles se tornarem autônomos e conseguirem construir os próprios dispositivos para a experiência fotográfica”, esclareceu Rejane.

Inclusão

A SOCA Brasil trabalha com inclusão desde 2019. Rejane comentou que as 12 pessoas selecionadas nunca haviam pensado antes em fazer fotografia e, muito menos, em se transformar em fotógrafos. “A ideia é formar 12 fotógrafos cegos. É que eles percebam o que opera uma poética da imagem, por meio da escrita fotográfica, e os próprios dispositivos para que, ao fim do curso, tenham autonomia. Aos poucos, vão percebendo que cada um pode ter um estilo, como autor de uma obra. A meta é a imagem como obra. Não uma fotografia instrumental, mas fotografia arte. A gente aposta que eles são bons contribuintes, bons artistas, exatamente por não enxergarem. Essa é a hipótese do projeto. Porque não enxergam, eles fotografam melhor do que a gente. Eles têm uma imprevisibilidade no olhar. Isso gera bons produtos, boas estéticas”, disse a presidente da SOCA Brasil.

Os 12 alunos receberão, durante o curso, bolsa no valor de R$ 360 por mês, concedida pela ES Gás. Os futuros fotógrafos farão uma itinerância por espaços urbanos onde moram, que frequentam, onde circulam, para trabalhar com a cidade. “A cidade vai ser clicada no cotidiano dos alunos”, informou Rejane Arruda. A curadora Bárbara Bragato selecionará 32 fotografias de toda a produção feita ao longo do curso, para estampar estruturas cúbicas que serão espalhadas pelo Parque do Moscoso, em Vitória. Com o título Quando fecho os olhos vejo mais perto, a exposição ficará aberta ao público durante um ano, a partir de junho de 2023.

Referência

Referência nacional na fotografia para deficientes visuais, João Maia participará de um bate-papo com os futuros fotógrafos, em data a ser agendada. Em entrevista à Agência Brasil, Maia reiterou a validade da Escola de Fotógrafos Cegos, “porque o conhecimento tem que ser compartilhado. Se você tiver uma metodologia que agregue conhecimento, é muito importante para as pessoas com deficiência”.

Atualmente, João Maia dá oficinas de fotografia para pessoas com e sem deficiência, inclusive no exterior. “Temos que democratizar a fotografia”. Ele lembrou que, hoje, os ‘smartphones’ têm acessibilidade e as câmeras dos celulares são muito mais acessíveis do que as profissionais. “Então, mexemos aí com muita autonomia”. Isso não significa entretanto, que uma pessoa com deficiência visual não consiga operar um equipamento profissional.

Considerou que ações como a da Escola de Fotógrafos Cegos da SOCA Brasil são “importantíssimas”. João Maia está concluindo, no momento, pós-graduação em fotografia. "Acho que em qualquer espaço posso estar”. Para ele, cabe ao professor quebrar paradigmas e se adaptar às necessidades de qualquer aluno com deficiência visual. “São sempre válidas as ações que trazem conhecimento para pessoas com deficiência”. Destacou que, no decorrer da experiência, se alguém quiser investir mais em sua capacitação, fazendo um curso técnico, bacharelado ou pós-graduação, esse aluno com deficiência deve ficar à vontade, porque não existem barreiras. “Barreiras eu encontro todo dia no meu caminho, mas se eu for me preocupar com essa barreira, não vou crescer profissionalmente. Hoje, não paro de estudar porque o conhecimento é que vai me diferenciar de qualquer outra pessoa, com ou sem deficiência”.

Emoção

João Maia enxerga cores pelo olho esquerdo. Até 15 centímetros, ele consegue perceber o que tem à frente, embora sem formato. Quanto mais se distancia, porém, mais perde a definição do que está ali. Quando viaja para cobrir uma Paralimpíada, como ocorreu na edição de 2020 no Japão, realizada em 2021, Maia leva sempre um assistente para guiá-lo, descrever o ambiente. Mas toda a concepção da imagem e do que ele quer transmitir em termos de emoção é de responsabilidade exclusiva sua. “Eu sou responsável por isso”.

A emoção e o som, a comunicação entre os atletas, as equipes, são transformados por Maia em imagens, como ocorreu na final do futebol de 5 nas Paralimpíadas de Tóquio, entre Brasil e Argentina. “Minha fotografia é muito sonora e eu tento traduzir toda essa emoção em minhas imagens. Eu fico feliz quando a gente tem ações que possibilitam à pessoa com deficiência sair de sua zona de conforto. Nada impede que uma pessoa com deficiência visual fotografe para seu lazer ou possa, inclusive, ser um fotógrafo profissional. Fiquei muito feliz de saber que o meu trabalho é referência no país e fora dele. Hoje, sou um fotógrafo especializado em esporte paralímpico. Esse é o meu diferencial”.

Na avaliação de João Maia, a fotografia nada mais é do que emoção. “É memória, é algo que te traz sentimentos. É usar os outros sentidos que estão tão aguçados, como audição, tato, olfato, paladar. A fotografia é isso”, afirmou.

João Maia é considerado referência na lista de fotógrafos cegos, onde estão também, entre outros nomes, o esloveno naturalizado francês Evgen Bavcar, professor de Estética na Universidade de Sorbonne e que já expôs em vários museus pelo mundo; e o americano Pete Eckert, que fez trabalhos para a Volkswagen e a Playboy, além do autoral que o fez reconhecido internacionalmente com as suas light paintings (fisiogramas ou pinturas de luz).

A Prefeitura do Recife (PCR) entregou nesta sexta-feira (13), Dia Nacional dos Cegos, 27 unidades do Orcam My Eye 2.0, um dispositivo assistivo para estudantes e professores que possuem alguma deficiência visual. A entrega simbólica dos aparelhos na rede de ensino da capital pernambucana aconteceu o Instituto dos Cegos Antonio Pessôa de Queiroz (IAPQ), nas Graças.

Ao todo, a rede possui 13 alunos cegos, 124 com baixa visão, oito professores cegos ou com baixa visão, além de dez servidores com o mesmo laudo. Deste total, dois professores atendem no IAPQ e serão beneficiados com a entrega, além dos alunos do Instituto que fazem parte do programa de Educação Especial da PCR.

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Como funciona 

O aparelho consegue detectar textos em português, inglês e espanhol, com possibilidade de escolher entre voz masculina e feminina, além de ter comandos para pausar, adiantar ou retroceder a leitura. Outro recurso é que o dispositivo consegue ainda identificar cores e tonalidades, reconhecer pessoas e gêneros, rostos, informar a data e hora com um simples gesto de girar o pulso, cédulas de dinheiro (reais e dólares) e identificar produtos pelo código de barras.

Após o reconhecimento, ele retransmite a informação discretamente no ouvido do usuário, oferecendo uma maior independência às pessoas cegas e com baixa visão.

A Microsoft desenvolveu uma linguagem de programação física para tornar a codificação acessível a qualquer pessoa com deficiência visual. O Code Jumper permite que os usuários conectem blocos coloridos para acionar diferentes comandos e construir programas totalmente funcionais.

A pessoa que lidera o projeto é Cecily Morrison, cientista da computação do laboratório de pesquisa da Microsoft em Cambridge. Ela tinha uma razão pessoal para pensar sobre o problema de ensinar crianças deficientes visuais a codificar - seu filho nasceu cego há seis anos.

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Ela e seus colegas da Microsoft decidiram rapidamente que o que as crianças precisavam era algo físico, que elas poderiam ter em suas mãos. Então, em vez de digitar em laptops, esses alunos usam as cápsulas de plástico, conectando-as com grossos fios brancos e depois ajustando seus botões.

Esses componentes físicos são usados ​​para criar programas de computador que possam contar histórias, fazer música e até mesmo contar piadas. A música também faz parte do processo - cada bloco pode ser programado para tocar uma determinada nota e os jovens codificadores podem colocá-los em sequências diferentes.

A ideia é promover uma introdução básica aos conceitos de programação, e as crianças podem então passar a aprender outras linguagens de codificação mais sofisticadas. Depois de quatro anos de desenvolvimento, o Code Jumper está agora prestes a ser vendido para escolas no Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália e Índia.

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José Carlos, carinhosamente chamado de Carlão, realiza testes com o óculos 3D. Ele acredita que o dispositivo traz benefícios para sua mobilidade / Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

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Caminhada lenta, mas rica em detalhes. Cada passo representa uma descoberta regada a diferentes sensações. As mãos que tocam as paredes e as vibrações que chegam aos ouvidos parecem dar forma a ambientes antes invisíveis. Tudo ocorre de maneira extremamente cautelosa em um corredor onde há pessoas que assistem encantadas ao passeio de José Carlos Amaral, 35 anos. Carlão, como é carinhosamente chamado pelos amigos, possui total deficiência visual, mas auxiliado por um óculos que pode representar uma das principais alternativas em prol da mobilidade dos cegos no Brasil, o rapaz caminha de forma independente e cuidadosa pelo Campus Recife do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), no bairro da Cidade Universitária, Zona Oeste recifense, onde vivencia experiências e amizades oriundas de um projeto científico desenvolvido na unidade.

De um aparelho ocular batizado de Synesthesia Vision, nasceram a esperança e a vontade de estudantes e professores em propiciar, gradativamente, um recurso que pode dar mais autonomia a pessoas com deficiência visual. O objeto utiliza um recurso chamado de áudio binaural tridimensional que é capaz de transformar distâncias em sons.

Em 2015, professores do IFPE iniciaram uma pesquisa para desenvolver um projeto de tecnologia assistiva destinada a cidadãos com deficiência visual. Gilmar Gonçalves de Brito, desde 1991 servindo ao Instituto, é um dos docentes que criaram o óculos 3D que, por meio de ondas sonoras, indica a uma pessoa com deficiência visual a existência de obstáculos próximos a ela. Técnico em eletrônica e doutor em geotecnia, Gilmar se inspirou nas experiências de sua irmã, uma bióloga que pesquisava a vida dos morcegos; eles identificaram que os animais, apesar da baixa visão, conseguem se locomover guiados por ondas sonoras.

Parceira de Gilmar durante o desenvolvimento da pesquisa, a professora Aida Araújo Ferreira, que soma quase 15 anos como docente do IFPE, destaca que antes de o projeto ser concretizado, foi estudada a viabilidade de colocá-lo em prática. Além disso, os pesquisadores identificaram que existem várias ferramentas responsáveis por facilitar a mobilidade dos cegos, mas a proteção se resume da cintura até o chão, como no caso da bengala. Com o óculos 3D, entretanto, a proteção pode ser da cintura até a altura da cabeça dos usuários; a bengala, porém, deve continuar sendo utilizada, pois as ferramentas se complementam.

Professor Gilmar, Carlão e a professora Aida realizando conexão do óculos com o aparelho celular / Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“A ecolocalização foi a inspiração. Gilmar tem muitas ideias, inventa muitas coisas e eu trabalho na gerência do projeto, e assim a gente vai juntando os diferentes conhecimentos. Na prática, o óculos gera um som que faz com que o cego sinta o ambiente a partir dos efeitos sonoros. O óculos funciona a partir de três sensores ultrassônicos que percebem obstáculos da altura da cintura até a cabeça e emitem efeitos sonoros para que o cego perceba. Quanto mais próximo estiver do objeto - distância de até quatro metros -, o som é maior”, explica a professora Aida. Confira, a seguir, como são os sons do dispositivo:

“A gente começou a pesquisa e antes de tudo, analisamos viabilidade e descobrimos na literatura diversas iniciativas. Aprofundamos essa pesquisa inicial e fizemos uma proposta de projeto que foi aprovado no IFPE para trabalho de iniciação científica com estudantes do nível técnico”, complementa a professora, que carrega em seu currículo o título de doutora em ciência da computação.

Sons que fazem sentir o espaço

Vítima de uma catarata congênita, José Carlos perdeu a visão por completo ainda na adolescência. Na vida adulta, apesar das limitações de mobilidade, conseguiu desenvolver sua autonomia, além de ser aprovado para trabalhar no IFPE.

Como Carlão é servidor do Instituto, atuando há dois anos na função de tradutor de Braille, recebeu o convite para testar o óculos 3D. O projeto ainda é considerado um protótipo e passa, corriqueiramente, por adaptações sugeridas por Carlos e outros usuários para que a usabilidade melhore cada vez mais.

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“Quando entrei aqui, conheci Gilmar e ele conversou comigo sobre o projeto. Achei muito interessante. A primeira vez que ouvi o sinal dos sensores foi um pouco atordoante. Tudo era muito difuso, o som vinha de todos os lados. Mas depois, quando você assimila, vai fazendo os ajustes. Requer um aprendizado, não é só colocar óculos. Ainda estamos adequando e todas as vezes que os alunos fazem os ajustes, eu testo e opino para o que pode melhorar”, relata Carlão.

O usuário do óculos ressalta o quanto a ferramenta pode contribuir para as pessoas com deficiência visual. “Traz muita contribuição, porque várias vezes as pessoas com deficiência visual não são oportunizadas a ser independentes, por causa da questão da segurança e da mobilidade. Esse projeto vem para promover mais segurança e para proporcionar autonomia. Eu, por exemplo, já tento resolver minhas atividades com autonomia há mais de 15 anos”, comenta José Carlos. Quando perguntado sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos cegos no Brasil, Carlão opinou no áudio a seguir:

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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil há mais de 6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual. Desse quantitativo, cerca de 500 mil são cegas. “Os problemas enfrentados pelos cegos, infelizmente, ainda são muitos. Os principais são as calçadas esburacadas, postes, orelhões, caixas de Correio no meio da passagem, fiteiros, barracas de lanche com teto baixo, carros e até caminhões estacionados em calçadas, dentre outros. No que tange às telecomunicações, as emissoras de televisão divulgam informações visuais que não são descritas para que as pessoas cegas possam ter acesso à informação que está sendo veiculada”, descreve o presidente da Associação Nacional dos Cegos, Antônio Muniz.

Quando a formação propaga inclusão

O professor Gilmar expressa satisfação em ver o andamento dos testes do projeto científico. Reflete claramente o sentimento de que um educador, ao ser lançado ao desafio de produzir conhecimento, precisa também compartilhar soluções para os problemas enfrentados nos grupos sociais brasileiros. “Sempre fiz trabalhos voltados para comunidades. Achava que a gente poderia usar nossos conhecimentos técnicos para ajudar os cegos, já que enfrentam dificuldades até hoje, mesmo com todas as tecnologias já existentes. Nós somos servidores públicos e o nome público é bastante abrangente. Acho que parte da nossa função é desenvolver tecnologias e empregar nossos conhecimentos para a inclusão. São projetos que dão retorno. Se a gente pode fazer alguma tecnologia que ajude a população, temos que fazer”, diz o educador.

Desde início do projeto em 2015, nove estudantes já participaram das atividades de melhoramento do protótipo. Um deles, o técnico em eletrônica Jonathan Kilne dos Santos, 20, mesmo concluindo sua formação no IFPE, retornou ao Instituto para continuar dando suporte ao Synesthesia Vision. Ele é responsável por melhorar o desenho do óculos, e ao ver sua adaptações se tornarem palpáveis, sente o prazer de um trabalho bem feito.

“No começo, a gente tinha um óculos feio, era gigante! Eliminei boa parte do peso tirando a bateria e trocando pelo celular. Adquirimos uma impressora 3D e assim pudemos modelar os nossos óculos. Ver saindo da tela do computador para algo palpável é maravilhoso. Toda vez que vejo Carlão utilizando o óculos, me dá vontade de adicionar mais coisas para melhorar. Ainda precisamos evoluir a conexão dos óculos com alguns aplicativos ao redor”, diz Jonathan.

Aluno do quarto período do curso de análise de sistemas, João Victor Brito, de 18 anos, aprende as técnicas da produção científica e o conceito de trabalho em equipe. Essa junção, ao final das aulas, contribui para a função social da educação disseminada nos institutos federais, que é transformar conhecimento em benefícios para a sociedade.

“No projeto, existem duas equipes, uma responsável pela montagem e outra pelo aplicativo. Tenho aula da grade curricular pela manhã e à tarde venho para o laboratório com o intuito de aperfeiçoar o código do aplicativo que trabalha em conjunto com o óculos”, descreve o estudante.

Em um dos testes realizados com o dispositivo, a equipe do projeto científico visitou a cidade de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco, onde os integrantes vivenciaram os sorrisos de quem, pela primeira vez, poderia sentir o mundo através dos sons. “Encontramos dois estudantes cegos. Um deles é Matheus, que testou o óculos e a sensação de felicidade dele foi muito clara. O sorriso foi uma sensação inexplicável”, relembra João Victor.

Segundo os professores responsáveis pelo projeto, ainda não é possível determinar quando o óculos estará definitivamente pronto para uso e produção na indústria. A finalização apenas será possível no momento em que todos os testes viáveis forem realizados, havendo adaptações posteriormente. A perspectiva é que o custo do produto industrializado seja igual ou menor do que a quantia da produção atual: R$ 300 por peça. Até então, cinco exemplares foram fabricados. Mais informações sobre o projeto podem ser vistas no site do Synesthesia Vision.

Reportagem integra a série “Além da técnica: a função social dos Institutos Federais”, que conta história dos dez anos dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, traçando um paralelo entre a contribuição dos projetos de extensão das instituições e o respaldo na sociedade, seja na forma de inclusão de classes mais baixas na educação, como também no benefício direto da população pelas pesquisas realizadas nos institutos. A seguir, confira as demais matérias da série:

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O Instagram anunciou que está lançando novos recursos que facilitarão o uso do aplicativo para pessoas com deficiências visuais. As alterações permitirão que os smartphones descrevam fotos, seja automaticamente usando inteligência artificial ou lendo descrições personalizadas adicionadas pelos próprios usuários.

Os usuários poderão inserir suas próprias descrições de foto para que as pessoas que usam leitores de tela - software que descreve os elementos exibidos no celular - possam ouvi-las em voz alta enquanto navegam em seu feed ou um perfil.

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Se não houver descrição, o Instagram identificará automaticamente o que está em uma foto usando a tecnologia de reconhecimento de objetos e lerá a informação automática em voz alta quando alguém passar por ela.

As descrições de texto alternativo não estarão visíveis automaticamente e os usuários precisarão entrar nas configurações avançadas de uma foto para incluí-las nos posts.

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No noroeste da Síria, uma dezena de deficientes visuais escrevem em smartphones. Estão aprendendo a seguir as instruções de um guia vocal graças a um aplicativo criado por um ex-combatente rebelde que perdeu a visão por um ferimento em campo de batalha.

Com seus amigos, Ahmed Talha, de 24 anos, criou um sistema para smartphones em árabe, inspirado em um programa similar em inglês. O aplicativo permite aos deficientes visuais navegarem pela internet no telefone. Pode descrever, por exemplo, a página aberta na tela ou ler as mensagens que aparecem.

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"O que eu queria para os cegos é que tivessem os melhores aparelhos, as melhores ferramentas", declarou à AFP este jovem, que também participou da criação da associação "Corações-Videntes", que propõe formações e atividades lúdicas para tirá-los do isolamento.

No edifício da associação, na pequena localidade de Anjara, no oeste da província de Aleppo, o ex-rebelde escuta com interesse um colaborador que ensina um grupo a usar o programa.

"Abram o Whatsapp", diz o instrutor Mohamed Ramadan a um público de idades variadas.

Sentados em carteiras escolares, os alunos teclam em seus telefones, dos quais saem vozes artificiais metálicas.

Esperança

Em um país devastado desde 2011 pela guerra, Ahmed Talha abandonou os estudos de informática para empunhar armas contra o regime do presidente Bashar al Assad.

Em 2014 recebeu uma bala na cabeça. Sobreviveu, mas perdeu a visão.

"Não me abandonei. Continuei vivendo", afirma Talha, com uma cicatriz no olho direito.

O ex-combatente é casado com duas mulheres e é pai. Agora acaba de se comprometer com uma terceira, deficiente visual como ele. Também retomou os estudos.

Seu olho direito ainda capta uma luz fraca. Por isso gosta de ficar sob os raios de sol.

"Me permite sentir um certo calor. Me ajuda muito, me dá esperança", explica.

"Você segue entre trevas, mas é romântico. É como uma vela acesa no meio de um quarto grande", acrescenta na janela de sua casa, com a cara banhada pelo sol.

Sua primeira esposa, Samia, com o rosto oculto sob um niqab (véu islâmico integral) preto, afirma que a cegueira de seu marido não impede que eles levem uma vida normal.

"Vamos ao mercado juntos, visitamos amigos, passeamos à noite", diz a jovem.

A associação funciona há meses graças a oito colaboradores, um financiamento modesto dos fundadores e algumas doações de particulares.

"O objetivo é tirar os cegos do isolamento", explica à AFP o diretor, Ahmed Jalil.

Os meios são mais que limitados, lamenta. Há muitos civis com deficiências físicas devido à guerra e aos ataques aéreos.

Hoje só uma quinzena de pessoas participam das atividades da associação: apoio psicológico, cursos para aprender a caminhar com bengala, torneios de xadrez e partidas de futebol e handebol com bolas com sinos.

Também propõe formações para aprender a usar computadores, embora só disponham de um.

Um novo aplicativo gratuito ensina pessoas com deficiência visual a tocarem violão sem a necessidade da leitura de partituras ou cifras em braile. Chamado Samsung Áudio Acordes, o serviço é uma iniciativa inédita no Brasil e está disponível gratuitamente para dispositivos da marca com Android, por meio da Google Play.

O aplicativo se destaca por facilitar o processo de aprendizado das pessoas com deficiência visual não apenas por eliminar a necessidade de partituras em braile, mas principalmente por possuir uma tecnologia única baseada em um sistema de voz que dita os acordes das músicas no momento exato em que eles devem ser tocados.

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Isso permite que os cegos possam continuar segurando o violão ao mesmo tempo em que o aplicativo indica qual a partitura a ser reproduzida. A Samsung diz que o aplicativo é totalmente acessível para pessoas com diferentes níveis de deficiência visual e oferece aos iniciantes um áudio dicionário que ensina a tocar os acordes.

Além disso, por meio da plataforma, é possível salvar as músicas favoritas e compartilhá-las com os amigos por meio das redes sociais. Em breve, os usuários também poderão acessar aulas em áudio, que ensinam a tocar violão desde o nível básico. Estão disponíveis 30 opções de canções de gêneros como pop, rock, sertanejo, cantiga, samba e MPB.

"O aplicativo é um esforço da empresa para oferecer às pessoas com deficiência visual a oportunidade de seguirem com o sonho de aprender a tocar violão. Seu desenvolvimento foi pensado de forma a oferecer total suporte e acessibilidade, mesmo para aqueles que estão em seus primeiros acordes", comenta a diretora de marketing corporativo e de consumer electronics da Samsung Brasil, Andréa Mello.

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"Mãos na parede", o primeiro circuito de murais para cegos, foi inaugurado nesta terça-feira (10), em Santiago, com o objetivo de aproximar a arte de todas as pessoas.

Através de placas táteis e uma audiodescrição das obras por meio de um aplicativo, as pessoas cegas podem a partir de agora acessar seis murais instalados no Bairro Lastarria, uma das áreas mais turísticas de Santiago.

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Um deles é "La Debutante", do famoso artista chileno Roberto Matta, localizados no acesso ao Museu de Artes Visuais (MAVI). De um lado do mural, foi instalada uma placa tátil que representa uma tradução em escala do trabalho do artista surrealista, juntamente com uma descrição na linguagem Braile.

O circuito abarca vários quarteirões em torno deste bairro próximo ao centro de Santiago e inclui obras como "El jugador del palín", de Francisco Maturana, e "Ganza", de Javier Barriga.

Inicialmente, o programa de inclusão contemplou derrubar as barreiras físicas que impediam as pessoas portadoras de deficiências de acessar as obras. Depois, com a iniciativa "Mãos na parede", buscaram-se "maneiras de acessar distintos sentidos para desfrutar a arte", explica à AFP Cecilia Bravo, diretora executiva do MAVI.

"Muitas pessoas acham que essas placas táteis são somente um aporte para as pessoas que não enxergam, e não é assim. Essas peças táteis permitem que percebamos a obra com outro sentido, tanto as pessoas que enxergam como as que não enxergam", acrescenta Bravo.

No Chile, segundo o II Estudo Nacional da Deficiência, 16,7% da população é portadora de deficiência, o equivalente a 2,8 milhões de pessoas.

“Sou cega há 54 anos, desde que nasci”. Essas são as palavras de quem nunca viu as cores do mundo, apenas sente o que ele tem a oferecer. No entanto, nem sempre o que é dado torna a vida de um cego fácil, pelo contrário, aumenta os obstáculos de cada dia. Este é o caso de Vitória Marinho, uma bibliotecária que precisa enfrentar as barreiras de cada calçada, transporte público inadequado e falta de estrutura em acessibilidade para deficientes. 

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Um trajeto de 150 metros, aparentemente simples, se torna uma saga cheia de riscos. Acompanhando Vitória, é possível ver que irregularidades nas calçadas não são apenas desníveis ignoráveis, mas um sério problema que pode ser causa de acidentes. Por anos, ela faz a mesma rota e não para de colecionar histórias em que sofreu para voltar a salvo para casa. 

Vitória ainda conta sobre a tamanha falta de empatia com a condição dos cegos. “Infelizmente, as pessoas só entendem um pouco sobre como é nossa vida quando alguém próximo também se torna deficiente”, mas garante que “a gente vai vivendo, se aperfeiçoando e lutando pelos nossos direitos, afinal, precisamos ter conhecimento para podermos exigir das autoridades com propriedade”.

Veja o relato da relação de Vitória com os problemas empregados pela cidade aos deficientes visuais:  

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A Fundação Cultural do Pará (FCP) promove no período de 20 a 24 de novembro a Semana do Braille, que terá uma programação especial, com oficinas, palestras temáticas e torneio de dominó. A programação foi criada em comemoração aos 43 anos da Seção Braille, que busca incentivar o conhecimento, a leitura e a educação.

Haverá oficina de audiodescrição com Aline Corrêa, palestra sobre inclusão de pessoas com deficiências visuais em bibliotecas e um torneio de dominó, que é uma das formas de distração. O espaço conta com o apoio de voluntários que trabalham com leitura viva voz, transcrições e cotejamento de textos.

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A Seção Braile possui 2.112 títulos, entre literatura brasileira e estrangeira, periódicos, livros didáticos, dicionários em Braille, livros gravados em cassetes e digitalizados em CD-Rom, periódicos em Braille e falados. Entre os serviços oferecidos estão a impressão em Braille, empréstimos de livros, digitalização de textos, acesso à internet por meio de computadores com sintetizador de voz, gravações em áudio de textos ou trabalhos escolares, lupa eletrônica e impressão de textos em negrito para pessoas com baixa visão.

A Seção Braille da Fundação Cultural do Pará funciona de segunda a sexta, das 8 às 17 horas, no subsolo do Centur, na Avenida Gentil Bittencourt, número 650. Informações pelo número 3202-4310.

Com 53 mil habitantes cegos, a cidade de São Paulo tem apenas oito semáforos sonoros - voltados para pessoas com deficiência visual -, sendo a metade na região do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. Entre os que estão nas ruas da capital, nenhum equipamento funciona na totalidade da travessia. Em um deles, na zona sul da cidade, o botão sequer existe mais.

Em meio ao apagão de semáforos na cidade - motivado, entre outras razões, por roubo de fios, segundo a Prefeitura - foi danificado até o equipamento sonoro diante da ONG Laramara, instituição voltada para cegos na Barra Funda, na zona oeste. Segundo a entidade, as botoeiras existem desde 1996 na Rua Conselheiro Brotero mas, há quase dois meses, pararam de emitir a sirene, sinalização sonora que autoriza a travessia do pedestre.

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O deficiente visual Leonardo Gleyson Ferreira, de 29 anos, é analista de sistemas na ONG e explica como atravessa a via onde trabalha, assim como as outras ruas de São Paulo, sem os semáforos sonoros. "Primeiro, dou um tempo para ver se alguém se prontifica. Depois, se eu estiver percebendo que tem alguém próximo, peço ajuda. Não tendo ninguém por perto, aí corro o risco mesmo e atravesso com base nos próprios sentidos", diz.

Segundo ele, também não há sinalização tátil nas calçadas que indique a presença do semáforo sonoro. Como, então, se sabe onde estão os equipamentos acessíveis? "As pessoas usam porque isso é falado na comunidade. Elas sabem onde têm porque, entre nós, avisamos."

Pernambucano, Ferreira nasceu cego e veio a São Paulo com o pai em busca de tratamento. Após ser submetido a um transplante de córnea, enxergou com o olho direito dos 4 aos 15 anos, mas voltou a perder a visão em 2002. Diariamente, sai de trem de Franco da Rocha, na região metropolitana, para trabalhar na capital. "Será que São Paulo é mesmo uma cidade democrática, que permite acesso a todos? Hoje estamos excluídos do mobiliário urbano", queixa-se.

Os semáforos sonoros também estão em outros pontos da capital e não funcionam plenamente. Na Rua Vergueiro, por exemplo, em frente ao Centro Cultural São Paulo - onde há um acervo em Braille -, o equipamento opera parcialmente.

Ao pressionar por três segundos, uma voz avisa: "Aguarde o bipe sonoro para iniciar a travessia". Caso seja necessário esperar mais alguns segundos, o semáforo volta a informar: "Aguarde mais um momento" ou "Respeite a sinalização". O sinal sonoro que autoriza a travessia, porém, não é emitido - o que impede uma pessoa com deficiência visual de atravessar.

O especialista em orientação e mobilidade João Álvaro de Moraes Felippe diz que o equipamento também é importante para pessoas com baixa visão e idosos. "Se junto ao sinal visual houver o sinal sonoro, isso contribui para a segurança de todos. Se alguém que enxerga for atravessar e estiver distraído, no celular ou olhando em outra direção, a orientação sonora só beneficia", defende.

Planos - Em 2013, a Prefeitura anunciou o Plano São Paulo Mais Inclusiva, com intenção de instalar 125 semáforos sonoros para pessoas com deficiência. O plano não saiu do papel. Hoje, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) considera que há apenas sete e exclui da conta equipamento na Rua Pensilvânia, no Brooklin, zona sul, mas não diz por quê.

A cidade chegou a ter mais semáforos sonoros, que foram retirados. Na gestão passada, explica a empresa, a CET desenvolveu testes em caráter experimental com faróis sonoros em alguns locais. "Como no período de testes os equipamentos apresentaram problemas e não garantiam a segurança dos usuários, a companhia decidiu retirá-los", informou. A CET disse ainda que faz levantamento sobre o funcionamento de semáforos do tipo e trabalha para ampliar a quantidade de botoeiras sonoras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Entre os dias 21 e 30 de abril, junto ao terceiro Encontro Internacional de Audiodescrição, será realizado no Recife a IV Edição do Festival VerOuvindo. O evento tem como objetivo promover maior acessibilidade do público deficiente visual e auditivo ao conteúdo cinematográfico.

Nos dez dias do festival haverá promoção de debates, experimentos e estudos ligados à acessibilidade no audiovisual. A programação inclui a exibição de curtas e longas nacionais e regionais, além de uma Mostra Competitiva de projetos ligados à área, Masterclasses, mesas redondas, oficinas e bate-papo após as sessões. 

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Uma das inovações do festival esse ano será um óculos modificado para auxiliar o público com necessidades especiais, oferecendo audiodescrição e Libras. O novo recurso será utilizado durante a apresentação do filme "Shaolin do Sertão", de Halder Gomes, no domingo (30). Além disso, a acessibilidade comunicacional do evento agora abrange todas as pessoas com deficiência sensorial, a partir da inclusão de legendas para surdos e ensurdecidos. Outra novidade é a adição da categoria para iniciantes na Mostra Competitiva de Curtas com Audiodescrição. 

As inscrições para participar do júri popular da Mostra ainda estão abertas. Ela acontece no dia 27 de abril, a partir das 17h30, no Cinema do Museu, e contará com duas categorias: iniciante geral. O júri popular será composto por cinco pessoas com deficiência visual e quatro sem deficiência. O vencedor escolhido pelo júri levará R$ 500 e o troféu de Melhor Audiodescrição do VerOuvindo 2017. Para mais informações, acesse o site do VerOuvindo.com 

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Serviço

IV Edição do Festival VerOuvindo
Sexta (21) a Domingo (30) | 14h
Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175 - Boa Vista) | Cinema do Museu (Rua Henrique Dias, 609 - Derby) | Paço do Frevo (Rua da Guia, s.n. - Recife)
Gratuito
(81) 1234 5678

O primeiro Mapa Tátil Urbano de Sinalização do Nordeste para deficientes visuais foi inaugurado no centro do Recife, na manhã desta terça-feira (20). O equipamento foi instalado no hall da Casa da Cultura, no bairro de São José, e servirá para informar ruas e avenidas próximas, paradas de ônibus, pontos de táxi, serviços e pontos turísticos da região central da capital pernambucana. 

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Em Pernambuco, cerca de dois milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência visual. Dessas, 20 mil não enxergam absolutamente nada e 350 mil apresentam grande dificuldade. A iniciativa do Mapa Tátil não só beneficia deficientes visuais, mas pessoas com as mais variadas necessidades. Ela também permite visitantes com baixa-visão ganhem autonomia e mais segurança no centro do Recife. 

O equipamento conta com textos em braille e fontes adequadas à baixa visão, auxiliando na escolha de caminhos para chegar a um determinado local. Para Klesley Bastos, um dos idealizadores do projeto e sócio da empresa Id Design Inclusivo, a expectativa é de que com a instalação desse do mapa, outros locais sejam incentivados e se tornem mais inclusivos. Projeto tem incentivo do Funcultura e produção executiva da Janela Gestão de Projetos.

"A ideia é que esse tipo de projeto não seja feito só depois do equipamento público ou privado esteja pronto. É preciso pensar na inclusão na origem do equipamento cultural, até porque os custos são reduzidos dessa forma", alertou Bastos. O projeto surge como uma forma de dar continuidade ao Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, aderido pelo Governo do Estado, em 2012, com o slogan “Viver sem Limites”. 

Presente no lançamento na manhã desta terça, o superintendente Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (SEAD), Paulo Fernando, destacou a iniciativa como um passo importante para a acessbilidade no Recife. "Eu acho que é um início. Iniciativas como essa fazem com que outros espaços também possam garantir mais inclusão, não só para nós cegos, como também para outros deficientes", afirmou.

Já o deficiente visual José Diniz, presidente da Associação Pernambucana de Cegos, pontuou que apesar da instalação desse mapa ser essencial para os cegos conhecerem os espaços públicos do Recife, o local escolhido não foi muito bom. "Eu acho a iniciativa muito boa, a gente pode conhecer o Recife com os dedos. Mas não gostei da escolha da Casa da Cultura", disse. Para ele, o melhor local seria a região do centro da cidade, nas proximidades do Marco Zero.

Klesley Bastos explicou que o projeto inicialmente seria instalado no Museu do Trem do Recife, mas após uma sugestão da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), a Casa da Cultura foi escolhida por causa do fluxo de pessoas diariamente. Segundo Basto, um segundo projeto já foi aprovado pela Prefeitura do Recife e deverá ser instalado na Torre Malakoff, na Praça do Arsenal. 

O diretor de Responsabilidade Social da UNINASSAU, Sérgio Murilo, destacou a importância em garantir do direitos às pessoas com necessidades especiais. "Esse mapa possibilita que as pessoas com deficiência possam entender um pouco e conhecer mais a sua cidade e quais deslocamentos elas podem fazer dentro do espaço urbano". 

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A capital paraense vai sediar pela primeira vez o Grand Prix Infraero de Judô para Cegos. O campeonato será realizado de 11 a 13 de novembro no ginásio do Sesi, localizado na avenida Almirante Barroso, em Belém. O torneio é organizado pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV). Em Belém, o campeonato de judô para cegos conta com a participação da Associação de Cegos do Pará (Ascepa), Associação Souza Filho de Artes Marciais (Asfam) e Federação Paraense de Judô (Fepaju).

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O Grand Prix Infraero de Judô para Cegos terá a participação de 300 atletas do Brasil. O Estado do Pará será representado por pelo menos 50 atletas. Esse é o quarto ano consecutivo que o Pará garante a participação de atletas na competição.

Em entrevista ao LeiaJá, Ana Cecília Moreira, coordenadora da Associação Souza Filho de Artes Marciais (Asfam), falou sobre o projeto e destacou a participação de atletas representando a academia em uma competição nacional. "A associação existe há seis anos e quando iniciamos o projeto não queríamos ser só mais uma academia de artes marciais em Belém, buscamos ter um diferencial. Então, os nossos treinos são voltados para portadores de algum tipo de deficiência. Poder proporcionar essa oportunidade para um atleta com deficiência de estar participando de uma competição nacional de judô é muito gratificante. Aprendemos muito com todos que fazem parte do projeto, é uma verdadeira lição de vida", contou.

Para a coordenadora, o projeto traz um novo aprendizado diariamente justamente por reforçar que uma pessoa com deficiência pode ser um atleta. "A Asfam veio para mostrar que é possível a pessoa portadora de alguma deficiência sair de casa e ultrapassar os seus limites e até mesmo se tornar um atleta. Muitos pais nem imaginavam que poderiam ter um filho atleta, um filho campeão brasileiro de judô, e hoje a Asfam é uma incentivadora desse sonho", disse.

Com apenas 17 anos e praticando judô desde 2011, Larissa Oliveira, que integra a equipe de judô da Asfam, já foi campeã brasileira por três vezes e esse ano terá sua estreia no adulto categoria de alto rendimento. Larissa contou que, mesmo tendo experiência de outras competições, a ansiedade é grande principalmente porque vai estar competindo em sua cidade. "Treinei durante o ano todo para o Grand Prix de Judô, então a expectativa é grande por ser o momento que vou estrear no adulto alto rendimento e porque vou representar o Pará", informou.

Participando de um campeonato nacional pela primeira vez, Breno Souza, que também é atleta de judô, destacou a importância da competição. "Estou muito feliz de saber que Belém vai sediar o campeonato de judô para cegos. Se trata de um evento muito importante que vai ter a participação de atletas que competiram na paralimpíada Rio 2016. É a minha primeira vez participando de um campeonato então estou muito feliz mas ao mesmo tempo nervoso. A equipe se preparou bastante e esperamos trazer a medalha de ouro para nossa academia", afirmou.

Em 2015, a Associação Souza Filho de Artes Marciais (Asfam) conquistou pelo quarto ano consecutivo o prêmio de melhor equipe de judô para cegos no campeonato de Porto Alegre. Atualmente, a Asfam atende 175 alunos que são portadores de alguma deficiência e é a única academia de artes marciais em Belém que treina pessoas com deficiência intelectual.

O Núcleo de Esporte e Lazer (NEL) da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) também realiza um trabalho especial para alunos com deficiência atendidos pela rede pública desenvolvendo atividades nas modalidades bocha, futebol de 7, atletismo, judô, goalbal, natação e vôlei sentado. Entre as ações anuais do NEL estão os Jogos Escolares Paralímpicos do Pará, que existem há 12 anos e que têm obtido resultados positivos em todas as modalidades das Paralimpíadas. De 2011 a 2014, os paratletas paraenses conquistaram 105 medalhas de ouro, 82 de prata e 82 de bronze nas Paralimpíadas Escolares Nacionais. O melhor resultado ocorreu em 2013, com a conquista de 111 medalhas. Este ano, 59 paraenses já foram selecionados para participar das Paralimpíadas Escolares Nacionais, no Rio Grande do Norte, entre 23 e 28 de novembro. O NEL trabalha em parceria com o Núcleo de Articulação e Cidadania (NAC) do Governo do Estado.

Horário

Início: 8h30

Previsão de término: 18h

Associações participantes

Distrito Federal: UNIACE (DF)

Espírito Santo: ILBES (ES);

Goiás: ADVEG (GO);

Maranhão: CEDEMAC (MA);

Mato Grosso: AMC (MT), ICEMAT (MT);

Mato Grosso do Sul: ADVIMS (MS), AJCS (MS), CAIRA (MS), ISMAC (MS);

Pará: AEPA (PA), ASCEPA (PA), ASFAM (PA), UEEJAA (PA);

Paraná: ABASC (PR);

Pernambuco: ACACE (PE);

Rio de Janeiro: ADVERJ (RJ), CEIBC (RJ), INSTITUTO REAÇÃO (RJ);

Rio Grande do Norte: ADEVIRN (RN);

Rio Grande do Sul: ACERGS (RS);

Rondônia: ASDEVRON (RO);

São Paulo: AMEI (SP), APADV (SP), CAD (SP), CESEC (SP), PROVISÃO CAMPINEIRA (SP), PRÓ-VISÃO (SP), ROGÉRIO SAMPAIO (SP);

Sergipe: BOTO CINZA (SE)

Categorias

Adulto e Iniciante.

Por Raiany Pinheiro (com participação de Lorena Oliveira e informações da Agência Pará).

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Lutar contra um agressor invisível pode soar como um pesadelo. Mas para a americana Christella Garcia, medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos Rio-2016, é uma experiência "maravilhosa".

"Faz todo sentido", garantiu Garcia à AFP imediatamente após derrotar a adversária brasileira Deanne Almeida na disputa do bronze da categoria 70 kg, no sábado no Rio de Janeiro.

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Garcia, que nasceu praticamente cega, tem a impressão de que sobre o tatame sua deficiência deixa de ser significante.

"Você está segurando e sente o corpo do adversário e a forma como se move", descreve a judoca de 37 anos. "Vence quem quer mais".

Nos Jogos Paralímpicos, o judô acolhe os atletas com deficiência visual, alguns com visão limitada, outros, como Garcia, como cegueira completa. Há algumas mudanças surpreendentes no habitual decorrer das lutas.

Os lutadores podem, sem saber, sair dos limites do tatame, e os árbitros precisam guiá-los de volta para o centro. Diferentemente das lutas normais, nas quais o relógio é visível, um sino toca alto quando falta um minuto para o término do combate.

Os judocas em seus quimonos brancos ou azuis lutam tão feroz e habilmente como os atletas com visão e o espectador pode facilmente esquecer que trata-se de uma luta de cegos, até que o árbitro gentilmente guia os concorrentes até o tatame.

- "Intuição" -

Outro vencedor da medalha de bronze no sábado, o americano Dartanyon Crockett, começou a praticar judô quando terminou o ensino fundamental.

Aprender um esporte em que ser lançado ao ar ou sufocado enquanto se está deitado no tatame são partes integrais do judô e não são fáceis para um jovem que nasceu cego.

"Parte de praticar o judô para os visualmente incapacitados é colocar a si mesmo em situação de medo, situação incômoda", declarou Crockett, de 25 anos. "Trata-se de sair de sua zona de conforto".

O técnico de Crockett, Eddie Liddie, garante que ensinar também é um enorme desafio, em um esporte que envolve dezenas de técnicas, muitas delas sutilmente diferentes uma das outras.

"Estou tão acostumando a mostrar (os movimentos) para que eles possam ver", explica o treinador sobre os treinos com judocas que enxergam. "O que aprendi foi fazer com que coloquem seus corpos em certas posições e que aprendam por repetição".

Uma vez superada essa curva de aprendizagem, o judô pode ser mais natural para os cegos.

Talvez as diferenças mais notáveis entre o judô regular e o Paralímpico é que os judocas agarram seus oponentes o tempo todo, ao invés de se separarem para procurar um melhor posicionamento, como fariam judocas com visão.

Isso significa que os dois atletas cegos literalmente se apoiam um no outro. Para a venezuelana Naomi Soazo, que conquistou o ouro em Pequim e o bronze no Rio, essa conexão é o ponto de partida.

"Quando você segura o adversário, você sente seus movimentos. Com isso você intui e sente o que ele está fazendo", afirma.

De fato, uma vez que agarra a adversária, Soazo pode lutar perfeitamente com outra judoca faixa preta e com visão perfeita. "Não há diferença", garante.

Essa confiança nela mesma vai além do tatame.

Garcia afirma que dominar o esporte a ajudou a ganhar a luta de sua vida: agora "não me considero uma deficiente visual", declara orgulhosa. "É só uma característica: sou uma garota. Tenho cabelo preto. Gosto de pastel e sou cega".

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A equipe masculina da Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo (Ueejaa-PA) ficou com a medalha de prata no Campeonato Regional Centro-Norte de Goalball. A disputa foi contra o time da União dos Atletas Cegos do Distrito Federal (Uniace-DF), que venceu por 14 a 4, garantindo o tetracampeonato regional. O segundo lugar dos paraenses garante classificação para o Campeonato Copa Loterias Caixa 2016. A competição se encerrou no domingo, no ginásio da Escola de Educação Física da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em Belém. As informações são da Agência Pará.

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Pela primeira vez a equipe paraense disputou a final do evento. “Quando garantimos a vaga na final foi muito emocionante, uma verdadeira vitória, ainda mais jogando em casa. Meu coração ficou na boca”, contou o paratleta Alexsandro Lopes, que já participou de jogos pela Seleção Brasileira de Goalball durante um ano.

Leandro Moreno, jogador titular da Uniace, foi campeão mundial com a seleção masculina, em 2014, e prata dos Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012. Ele aprovou o evento no Pará. “O calor foi bem difícil. Podemos dizer que os jogos pegaram fogo. Foram competições quentes”, disse.

Outro time paraense premiado na competição foi o feminino da Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo, que levou o bronze em cima da equipe do Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac-MS). O jogo terminou em 5 a 3 para as paraenses, que ficaram pela quarta vez com o bronze. “Foi um jogo de muitas defesas. Mesmo não valendo vaga para a competição nacional fizemos questão de buscar mais essa medalha. Ficamos muito felizes em garantir essa premiação em um campeonato no Pará”, disse a paratleta Lorena Oliveira.

Para Ana Carolina, 19 anos, o bronze teve um gostinho especial. Jogando goalball há cerca de dois anos, é a primeira medalha dela. “Estou muito feliz pelo nosso terceiro lugar. Só a gente sabe o quanto batalhou em cada jogo contra times fortes para garantir essa colocação. Fizemos o que podíamos e fomos atrás desse bronze”, contou.

Durante a premiação e cerimônia de encerramento, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), Sandro Laina, pediu uma salva de palmas ao Pará e agradeceu ao governo pelo apoio incondicional durante o evento. O governador Simão Jatene falou aos paratletas sobre a superação que cada um vive diariamente. “Quem colocou esse uniforme já é campeão, por isso todos saem daqui com a vantagem da vitória. O maior troféu foram vocês que nos deram: a possibilidade de acompanhar os jogos aqui no Pará. O esporte tem a capacidade de despertar sentimentos como solidariedade, disciplina, amizade e ética, além da capacidade de superação, por conta dos limites físicos. Muitas vezes as pessoas acham que seus problemas são grandes e aqui a gente vê meninos e meninas que dão uma lição de vida”, disse.

Após a entrega das premiações de artilharia, e dos três primeiros lugares, os paratletas dançaram carimbó. Os três primeiros colocados da categoria masculina e os dois primeiros na categoria feminina estão classificados para o Campeonato Copa Loterias Caixa 2016, que ocorre de 18 a 23 de outubro em Jundiaí (SP).

Resultados do Centro-Norte Goalball

Masculino:

1 - União dos Atletas Cegos do Distrito Federal – Uniace-DF

2 - Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo – Ueejaa-PA

3 - Instituto dos Cegos do Mato Grosso – Icemat-MT

Feminino:

1 - União dos Atletas Cegos do Distrito Federal – Uniace-DF

2- Associação Mato-grossense dos Cegos – AMC-MT

2 - Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo – Ueejaa-PA

A artilharia do Regional Centro-Norte de Goalball ficou com Tiago Lima, do Icemat-MT, e Jéssica Vitorino, da Uniace-DF.

A Associação Pernambucana de Cegos (APEC) realizará o Curso de Audiodescição, que promete trabalhar a técnica que traduz em palavras as informações visuais e proporciona acessibilidade e inclusão de pessoas cegas às artes, educação, entre outras atividades. O início da qualificação está previsto para o dia 9 de abril, com aulas que seguirão até dezembro.

Os encontros serão realizados aos sábados, duas vezes por mês, nos turnos manhã e tarde, no horário das 8h às 17h. O curso pode ser feito por qualquer pessoa e alguns dos temas que serão abordados são análise em audiodescrição, teoria dos quadrinhos, educação e cultura, eventos e web.

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É importante que os alunos tenham finalizado o ensino médio, possuam domínio do idioma português e tenha acesso à internet. As inscrições devem ser feitas de segunda a sexta, nos horários das 8h às 12h e das 13h às 17h, na sede da APEC, que fica na Rua Conselheiro Silveira e Souza, 85, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife.

A matrícula custa R$ 50, além de oito mensalidades no valor de R$ 200 cada. Outras informações sobre o curso podem ser obtidas pelos telefones (81) 3227-3000 ou 3366-3111.

O Project Annuit Walk, óculos inteligentes que ajudam deficientes visuais a se locomoverem com mais segurança, criado por um grupo de estudantes e coordenado pelo pernambucano Marcos Penha, está entre os 18 vencedores do prêmio The World Summit Youth Award, competição global das Organizações das Nações Unidas (ONU). O dispositivo, cujo protótipo custou cerca de R$ 45, identifica obstáculos acima da linha da cintura da pessoa, região que normalmente não é alcançada pela bengala. Assim que o aparelho detecta um obstáculo próximo à pessoa cega, ele emite um sinal que aumenta quando o objeto se aproxima.

O sinal é sentido por meio de vibrações de uma pulseira ou colar, como o toque de um telefone em modo vibracall. A intensidade da vibração pode ser regulada de acordo com a sensibilidade de quem usa o aparelho. “Inicialmente, queríamos desenvolver um óculos que substituísse a bengala-guia. Quando fomos a campo, mudamos o projeto. Os cegos não queriam deixar a bengala. É o senso tátil deles. Por isso, tem um peso psicológico muito grande”, destacou Emily Shuler, que participa da equipe de desenvolvimento.

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A partir de testes com 276 cegos, em sua maioria da Associação Pernambucana de Cegos (Apec), os pesquisadores constataram que a bengala não conseguia identificar obstáculos acima da linha da cintura. “Com a bengala, eles reconhecem um pneu, mas acham que é um carro. O carro tem uma certa altura e, se for um caminhão, eles vão em frente e batem. Isso ocorre também com os orelhões”, explicou Penha, coordenador do projeto.

Os desenvolvedores perceberam que precisavam de um dispositivo barato, já que aparelhos similares, como a bengala eletrônica, que também funciona com sensores, tinha custo muito elevado e precisava ser importada. “Para um cego importar, é um processo complicado. Quando avaliamos, os valores chegavam a R$ 3 mil ou R$ 4 mil. E um cão-guia pode custar R$ 25 mil”, lembrou o coordenador.

Os pesquisadores do projeto brasileiro, então, buscam investidores para conseguir produzir os óculos em escala industrial. Para Lucas Foster, fundador da ProjectHub, rede global de economia criativa, parceira do prêmio internacional, o projeto brasileiro vencedor é uma demonstração do potencial inovador do País, principalmente nas áreas da inclusão social, acessibilidade, diversidade cultural e sustentabilidade. “A preocupação de usar inovação com essas características é algo que aparece muito no Brasil, diferentemente de outros países desenvolvidos, que já estão falando de outros aspectos, como inteligência artificial. Aqui existe uma juventude mais engajada e insatisfeita com a realidade, querendo propôr mudanças”, acrescentou.

O prêmio recebido pelos brasileiros reconhece projetos com potencial de impacto nas metas da ONU em seis diferentes categorias: luta contra a pobreza, fome e doença, educação para todos, empoderamento das mulheres, valorização da cultura local, meio ambiente e sustentabilidade e busca da verdade. Cada categoria tem três vencedores selecionados por um júri técnico. Todos os trabalhos inscritos foram iniciados e executados por pessoas com até 30 anos, nascidas em países membros da ONU e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O certame é realizado pela organização não governamental The International Center for New Media, com chancela da ONU. O projeto brasileiro pode ser conhecido em www.annuitwalk.com

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