Nada menos do que US$ 7,735 bilhões saíram do País nos primeiros 20 dias de dezembro, apontam dados divulgados nesta quinta-feira, 26, pelo Banco Central (BC). Se os números não melhorarem até o fechamento do mês, essa será a maior saída mensal registrada após janeiro de 1999, quando começou a era do regime de câmbio flutuante. Naquele mês, o saldo fechou em US$ 8,587 bilhões negativos.
É até possível que nos últimos dias de 2013 a entrada de recursos seja maior do que a saída, o que diminuiria o volume negativo. Mas especialistas dão como certo que a conta deste ano fechará no vermelho, pela primeira vez desde a crise financeira internacional de 2008.
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A principal via de saída de dólares do País no último mês do ano foram as operações financeiras. Essa conta já vinha negativa, mas o movimento se acentuou a partir da quarta-feira da semana passada, dia 18, quando o Fed (Federal Reserve, banco central americano) anunciou a redução dos estímulos financeiros.
Da decisão do Fed até a sexta-feira seguinte, 20, a saída líquida foi de cerca de US$ 4 bilhões só no segmento financeiro. No total, a saída por essa conta chegou a US$ 6,311 bilhões até o dia 20.
Um saldo negativo nas operações financeiras costuma ser interpretado como um movimento de evasão de divisas do País. Apesar disso, representantes do BC têm minimizado as saídas dessa conta e assegurado que não se trata de fuga de capital.
O outro componente do fluxo cambial, o movimento de moeda estrangeira no comércio, também não deu refresco no período. O saldo ficou negativo em US$ 1,423 bilhão em dezembro até o dia 20, com as exportações somando US$ 13,657 bilhões e as importações, US$ 15,080 bilhões.
Com os dados atualizados nesta quinta pelo BC, o resultado acumulado no ano já estava negativo em US$ 11,216 bilhões. A continuar desse tamanho, o saldo de 2014 será o terceiro pior da era do câmbio flutuante. Perderá para 1999, quando as saídas líquidas foram de R$ 16,182 bilhões, e 2002, com saldo negativo de US$ 12,989 bilhões.
Confirmando-se o resultado negativo, 2013 será o primeiro ano que as saídas vão superar as chegadas de dólares desde 2008, quando o saldo fechou negativo em US$ 938 milhões. No ano passado, ficou positivo em US$ 16,7 bilhões. Em 2011, com US$ 65,3 bilhões, foi o melhor desde 2007. Em 2010, o resultado foi de US$ 24,3 bilhões.
"Trata-se de um movimento preocupante, que deverá reforçar a tendência de desvalorização do real ante o dólar", comentou o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências. De fato, o dólar passou a manhã em queda mas, depois da divulgação do resultado ruim do fluxo pelo BC, houve uma inversão e a moeda encerrou o dia apontando para uma trajetória de alta. Ao final do dia, o dólar encerrou cotado em R$ 2,36.
Salto avalia que o comércio exterior brasileiro pode se beneficiar da alta do dólar. A rentabilidade das exportações deverá melhorar e as importações ficarão mais contidas. Isso resultará num saldo comercial maior em 2014. A consultoria estima US$ 8,2 bilhões, ante US$ 2,5 bilhões este ano.
Por outro lado, ele acredita que há efeitos "recessivos" associados à alta do dólar. Ele cita uma evolução mais tímida da absorção doméstica, o que deverá resultar em taxas de crescimento modestas, na casa dos 2% a 2,5% no médio prazo.