A evacuação do campo improvisado de migrantes de Idomeni, iniciada na terça-feira pela Grécia na fronteira com a Macedônia, terminou nesta quinta-feira, segundo anunciou à AFP uma autoridade policial.
No terceiro dia de operação de desmantelamento do campo, "transferimos 783 pessoas, e terminamos. Não há mais ninguém no campo, apenas as tendas das organizações humanitárias", indicou a fonte. As autoridades contabilizavam 8.424 refugiados e migrantes no campo na segunda-feira, na véspera do início da operação.
No total, a polícia embarcou desde terça-feira em ônibus para os centros de acolhimento na região cerca de 4.000 pessoas. As outras 4.000 "partiram por conta própria para esses centros ou se instalaram em hotéis ou locais da região", informou o responsável.
O campo de Idomeni ficou lotado depois que os países dos Bálcãs fecharam em fevereiro suas fronteiras para frear a entrada constante de multidões que fogem das guerras e da miséria no Oriente Médio, na Ásia e na África, em direção a países da Europa central ou setentrional. A enxurrada humana criou tensões na Europa sobre a maneira de enfrentar a pior crise migratória do continente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Na terça-feira, a televisão pública Ert 1 e a agência estatal ANA mostraram imagens de migrantes esperando a transferência em ônibus. Alguns acenavam para as câmeras e muitos carregavam seus pertences em sacos de lixo ou os empilhavam em carrinhos de bebê. Uma refugiada, que se apresentou como uma professora síria, proveniente da cidade de Idlib, disse que saía por conta própria do campo para ficar perto da fronteira junto ao seu marido.
"Espero há três meses para integrar o programa de realocação" da UE. "Tentei milhares de vezes", mas não funciona, afirmou. "Acredito que é uma mentira para nos deixar abandonados na Grécia para sempre", declarou à AFP. "Tudo está indo bem, graças a Deus. Inclusive melhor que o esperado. Os imigrantes estavam cansados e provavelmente perceberam que a fronteira não seria aberta", estimou na terça-feira uma fonte policial.
A ONG Oxfam defendeu o direito dos migrantes de obter uma "informação completa" sobre sua situação e receber atendimento médico. "Pessoas vulneráveis (...) são tratadas como peões de xadrez", denunciou a Oxfam em um comunicado. Muitos migrantes são mulheres e crianças desesperados para se reunir com seus maridos e pais que partiram antes, pagando traficantes, com a esperança de se instalar em algum país da União Europeia com melhores perspectivas econômicas que a endividada Grécia.
Idomeni foi aberto no ano passado por grupos de ajuda humanitária para receber, no máximo, 2.500 pessoas em sua viagem para outros países da Europa. Mas o campo chegou a abrigar mais de 12.000 pessoas - principalmente sírios, iraquianos, iranianos e pessoas procedentes do Magreb -, após o fechamento da "rota dos Bálcãs". Nas últimas duas semanas, 2.500 pessoas já aceitaram deixar o local e cerca de 800 as imitaram no domingo (22) e na segunda-feira (23), quando já circulavam rumores sobre a iminência da evacuação.
O governo de esquerda do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tenta há meses persuadir os migrantes a abandonar Idomeni e insiste em enfrentar a crise evitando o uso da força. Segundo dados oficiais de Atenas, 54.000 migrantes estão atualmente bloqueados na Grécia.
Neste ano, 190.000 migrantes e refugiados chegaram por mar à Europa, pela costa da Itália, Grécia, Chipre e Espanha, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Outros 1.359 fizeram por via terrestre.