Tópicos | Fórum Estadão 2018

A enxurrada de ações judiciais contra os planos privados e o governo indicam que há muito por resolver na saúde brasileira - tanto no âmbito público quanto no privado. Ações envolvendo custos elevados, novos tratamentos, lentidão no atendimento, falta de transparência e aumentos abusivos abarrotam os tribunais.

Grande parte das demandas judiciais impulsionam a incorporação de novos remédios à lista do Sistema Único de Saúde (SUS) e, volta e meia, políticas públicas inovadoras são adotadas. "A judicialização da saúde é uma clara indicação de que as pessoas querem soluções", avalia José Reinaldo de Lima Lopes, professor de Direito da Fundação Getulio Vargas, especialista em direitos sociais.

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Na Justiça Federal hoje estão registrados 46.692 processos em andamento. Em 2012 eram 13.051 ações, contra 10.486 em 2009. Um aumento de 25%. Já os gastos cresceram de R$ 95 milhões para R$ 355 milhões no mesmo período. Um aumento de 273%, indicando que as demandas se tornaram mais dispendiosas e complexas, já que novos tratamentos e remédios são requeridos, acompanhando o desenvolvimento da medicina e da indústria farmacêutica.

Nos tribunais estaduais estão registrados 210.519 processos, sem contar os Estados da Paraíba, Rio Grande do Sul, Amazonas e Pernambuco - que não apresentaram seus dados ao Fórum da Saúde do Conselho Nacional da Justiça (CNJ), criado para monitorar esse tipo de demanda. Até meados de 2013, o governo do Estado de São Paulo atendia 39.770 ações, com um gasto anual de R$ 904 milhões.

Medicamentos

Há 8,69 ações para cada grupo de 10 mil paulistas, aponta a Secretaria Estadual de Saúde (SES-SP). A exigência mais comum é por medicamentos (3.397 diferentes itens), tanto os incluídos na lista do SUS, mas nem sempre disponíveis, como produtos importados ou sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 2013, a SES-SP atendeu 293 demandas para remédios nestas condições, que somam R$ 48,7 milhões.

Para complicar, os usuários dos planos de saúde, que se deparam com doenças crônicas e procedimentos complexos e mais caros que o usual, facilmente vão parar nos tribunais quando não assistidos pelas seguradoras. Diante da demora da Justiça, esses beneficiários acabam recorrendo ao SUS. Só que nem sempre a rede pública é indenizada pelos convênios.

Um levantamento da SES-SP apontou que 65% das decisões para a aquisição de medicamentos e insumos partem de prescrições de médicos da rede privada. A soma desses desequilíbrios fez o Fórum da Saúde do CNJ estabelecer 45 interpretações da lei, divulgadas em 19 de abril, para auxiliar os juízes.

Anvisa

O mesmo acontece na inclusão de itens na lista da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atualizada a cada dois anos. Na mais recente, de 2012, entraram seis dos dezoito remédios mais pedidos na Justiça. Dois para tratamento de câncer de mama, um para câncer de pulmão e os demais para artrite reumatoide, hipertensão arterial pulmonar e doença de Gaucher, um raro distúrbio genético metabólico.

O terceiro debate dos Fóruns Estadão Brasil 2018 foi dedicado à saúde. Realizado na manhã desta quarta-feira (16) na sede do Insper, parceiro educacional do projeto, reuniu especialistas dos setores público e privado para discutir alternativas para uma área que responde por 9% do Produto Interno Bruto brasileiro e reúne um rosário de queixas de pacientes, médicos, seguradoras, operadoras de planos de saúde e áreas do governo. A mais complexa diz respeito à maneira como o Sistema Único de Saúde e a área de saúde suplementar se relacionam.

"Houve muitos avanços nos últimos 25 anos, desde o início do SUS", afirmou Naercio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper e moderador da primeira mesa, que tratou do sistema público. "O atendimento melhorou e registrou-se queda na mortalidade infantil. Porém ainda há problemas a serem resolvidos."

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Entre as questões levantadas pelos debatedores estavam a necessidade de ampliar a eficiência dos gastos, reduzir a falta de médicos no setor público, resolver as filas de exames e equacionar a questão demográfica, em especial o envelhecimento da população, que demanda tratamentos mais custosos e diferenciados. "Temos de construir modelos assistenciais horizontais, que não atendam só episódios, mas o paciente ao longo de toda a vida", afirma Gonzalo Vecina Neto, do Hospital Sírio-Libanês e da Faculdade de Saúde Pública da USP. "Precisamos construir uma vontade social para que isso ocorra, devemos ampliar o debate."Melhorar gestão é meta para sistema de saúde

A integração entre os sistemas público e privado e uma maior coordenação entre as diferentes esferas de governo é o principal caminho para melhorar a qualidade do sistema de saúde do Brasil. Essa é a visão que se sobressaiu nos debates promovidos nesta quarta-feira (16) pela terceira edição dos Fóruns Estadão Brasil 2018, evento realizado em parceria com o Insper que desta vez abordou os desafios para a área da saúde.

Reunindo representantes do setor público, universidade, empresas e outros segmentos da sociedade civil organizada, o evento promoveu três painéis: "Avanços no sistema público e os desafios dos próximos anos", "Cenário da saúde privada no Brasil e desafios de regulamentação dos planos de saúde" e "Desafios demográficos e o novo contexto de saúde no Brasil". Em todos eles, a necessidade de melhor integração e gestão superou a questão do volume de recursos como principal desafio a ser vencido nos próximos anos.

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André Médici, professor da USP especialista em desenvolvimento social e autor do blog Monitor de Saúde, relatou que uma pesquisa internacional colocou o Brasil no 48º lugar na avaliação sobre a eficiência no gasto com saúde. "Em 2002, 59% da população aprovava as políticas de saúde pública. Em 2014, esse índice caiu para 14%. Existe uma percepção muito grande de que o SUS está piorando. São problemas como demora no atendimento, falta de equipamentos e medicamentos, falta de médicos e profissionais de saúde", afirmou.

Gonzalo Vecina Neto, superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês, afirmou que é essencial integrar as três esferas de governo. Ele usou como exemplo a situação da capital paulista, onde praticamente metade dos equipamentos de saúde pública é do Estado e a outra metade da prefeitura. "São Paulo nunca terá uma saúde melhor sem coordenação entre Estado e município", disse. Ele também apontou a necessidade de maior interligação com a saúde privada, já que quase 30% dos brasileiros - ou 70 milhões de pessoas - possuem assistência médica particular.

Essa integração entre setor público e privado também é defendida pelo médico Reynaldo André Brandt, membro do comitê gestor do instituto de pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. "O sistema privado de saúde é chamado de suplementar, mas é alvo de desejo da maioria da população, o que mostra que existe algo errado nessa formulação", argumentou.

Segundo ele, a Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) já apresentou aos candidatos à Presidência da República uma lista com 12 propostas para o setor. Os tópicos abordam também a necessidade de aumentar o volume e eficiência da aplicação de recursos e fomentar a inovação científica e tecnológica.

Qualidade

O vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirmou que a desaceleração econômica dos últimos anos acabou dominando os debates públicos, deixando a discussão sobre outras políticas nacionais em segundo plano. "Melhorar a qualidade dos serviços públicos, da educação ao meio ambiente, da saúde à infraestrutura, são questões de políticas públicas igualmente relevantes", defendeu.

Ao final do projeto, que ainda vai discutir infraestrutura, meio ambiente e agricultura, as propostas discutidas serão entregues ao futuro presidente da República, aos governadores e prefeitos. O caderno especial com todo o debate será publicado na edição de sexta-feira do jornal O Estado de S. Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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