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Joe Biden reconheceu neste sábado (24) o genocídio armênio, tornando-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a qualificar assim a morte de 1,5 milhão de armênios massacrados pelo Império Otomano a partir de 1915.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan reagiu imediatamente denunciando "a politização por terceiros" deste debate. A Turquia "não tem nenhuma lição a receber de ninguém sobre sua história", declarou por sua vez o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu.

Já o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, considerou que o reconhecimento do genocídio por Biden representa um "grande passo", no 106º aniversário dos massacres entre 1915 e 1917 pelo Império Otomano.

Em uma mensagem em sua conta no Facebook, Pashinyan agradeceu Biden "pelo grande passo em direção à justiça e o apoio inestimável aos descendentes das vítimas do genocídio armênio".

O genocídio armênio é reconhecido por mais de vinte países e muitos historiadores, mas é vigorosamente contestado pela Turquia.

"Os americanos honram todos os armênios que morreram no genocídio que começou há 106 anos", escreveu Joe Biden em um comunicado.

"Estamos afirmando a história. Não estamos fazendo isso para atacar ninguém, mas para garantir que o que aconteceu nunca se repita", acrescentou.

O presidente democrata, que havia prometido durante sua campanha eleitoral tomar a iniciativa nesta questão, informou na sexta-feira seu colega turco sobre sua decisão durante uma conversa por telefone.

Os dois líderes concordaram em se reunir em junho, à margem da cúpula da Otan em Bruxelas.

Ao telefone com o presidente turco, o inquilino da Casa Branca manifestou o desejo de construir uma "relação bilateral construtiva", segundo o breve relatório americano que evoca a necessidade de uma "gestão eficaz dos desacordos".

- "Honrar as vítimas" -

Trata-se de "honrar as vítimas, não atacar ninguém", insistiu uma autoridade americana, que pediu anonimato.

"Continuamos a considerar a Turquia como um aliado crucial dentro da Otan", acrescentou.

Sem citar os Estados Unidos, o presidente turco enviou uma advertência velada a Washington na quinta-feira.

Durante um encontro com conselheiros, ele alertou que continuará a "defender a verdade contra aqueles que apoiam a mentira do chamado 'genocídio armênio' (...) para fins políticos".

Apesar de anos de pressão da comunidade armênia nos Estados Unidos, nenhum presidente americano havia ousado irritar Ancara.

O Congresso dos Estados Unidos reconheceu o genocídio armênio em dezembro de 2019 em uma votação simbólica, mas o presidente Donald Trump, que tinha um relacionamento bastante próximo com Erdogan, se recusou a usar tal palavra, falando apenas de "uma das piores atrocidades em massa do século XX".

Os armênios estimam que um milhão e meio dos seus foram sistematicamente mortos durante a Primeira Guerra Mundial por tropas do Império Otomano, então aliado da Alemanha e da Áustria-Hungria. Eles recordam esse genocídio todos os anos em 24 de abril.

A Turquia, resultante do desmantelamento do Império Otomano em 1920, reconhece massacres, mas rejeita o termo genocídio, evocando uma guerra civil na Anatolia, associada a uma fome, na qual entre 300.000 e 500.000 armênios e turcos morreram.

"Nunca devemos esquecer ou calar sobre esta horrível e sistemática campanha de extermínio", sublinhou Joe Biden durante a sua campanha.

"Se não reconhecermos plenamente o genocídio, se não o recordarmos, se não o ensinarmos, as palavras 'nunca mais' não significarão nada", acrescentou.

O anúncio de Biden não tem significado jurídico, mas pode piorar as tensões com a Turquia, que o secretário de Estado americano Antony Blinken chamou de "suposto parceiro estratégico" que "em muitos aspectos não se comporta como um aliado".

O presidente democrata afirma querer colocar a defesa dos direitos humanos no centro de sua política externa. Seu governo confirmou a acusação de "genocídio" feita nos últimos dias da presidência de Donald Trump contra a China pela repressão aos muçulmanos uigures.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enfureceu a Turquia nesta segunda-feira (24) ao qualificar o massacre de 1915 dos armênios como "uma das piores atrocidades em massa do século XX", mas não utilizou o termo "genocídio".

Por ocasião do aniversário do genocídio de 24 de abril, Trump se somou "à comunidade armênia dos Estados Unidos e do mundo em seu luto pela perda de vidas inocentes e pelo sofrimento de tantos".

"Hoje recordamos e honramos a memória dos que sofreram (...) uma das piores atrocidades em massa do século XX. Devemos nos lembrar das atrocidades para evitar que se repitam".

"A partir de 1915, um milhão e meio armênios foram deportados, massacrados ou caminharam até morrer nos últimos anos do Império Otomano", disse Trump.

Os armênios estimam que 1,5 milhão de pessoas foram assassinadas de maneira sistemática nesta época, no que 20 países e numerosos historiadores qualificam de genocídio.

A Turquia afirma que houve uma guerra civil seguida pela fome, que matou entre 300 mil e 500 mil armênios e outros tantos turcos.

O reconhecimento da "dolorosa História" é uma "etapa crucial para construir um futuro mais justo e tolerante", destacou Trump.

A Turquia denunciou por seu lado a "desinformação" e as "más definições" do presidente americano.

As declarações do papa Francisco durante sua visita à Armênia, que definiu como ''genocídio'' o massacre dos armênios em 1915, foram classificadas pelo vice-premier da Turquia, Nurettin Canikli, como "lamentáveis". Ele disse ainda que a fala indica a persistência da "mentalidade das Cruzadas".

"Não é um ponto de vista objetivo, que corresponda com a realidade", acrescentou. "É possível observar todas as marcas e reflexões características da mentalidade das Cruzadas nas atividades do Papa", concluiu.

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O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, respondeu dizendo que o Papa "não faz cruzadas". "Se escutarmos ele, veremos que não há nada que evoque um espírito de cruzada. Sua vontade é construir pontes, ao invés de muros. Sua intenção real é construir as bases para a paz e a reconciliação", disse, em coletiva de imprensa. "Francisco rezou pela reconciliação de todos, não pronunciou nenhuma palavra contra o povo turco", acrescentou o representante católico.

No primeiro dia de sua visita oficial à Armênia, na sexta-feira, Francisco não se intimidou em usar a palavra "genocídio" para se referir ao extermínio de armênios pelo Império Otomano há cerca de um século, mesmo sabendo que o vocábulo poderia desencadear um mal-estar diplomático com a Turquia, como já ocorreu no ano passado.

A Santa Sé não previa o termo "genocídio" nos discursos de Francisco, porém o líder católico não quis renunciar à palavra e a pronunciou em alto e bom som, na capital Erevan, dentro do Palácio Presidencial e diante das autoridades armênias. Além disso, o Pontífice visitou o Memorial do Genocídio, localizado em Tzitzernakaberd, no dia seguinte, onde disse que "a memória não deve ser diluída, nem esquecida".

 

Em declaração conjunta com o líder da Igreja Ortodoxa Armênia, o patriarca Karekin II, Francisco voltou ao tema neste domingo, dia 26, e disse que o "extermínio de 1,5 milhão de cristãos armênios" foi o "primeiro genocídio do século XX". O governo turco não reconhece o episódio histórico e não admite o uso do termo "genocídio". A Turquia nega que o massacre dos armênios durante a I Guerra Mundial se trate de um genocídio planejado e calcula que o número de vítimas seja bem menor, entre 250 e 500 mil.

O papa Francisco celebra neste domingo (11) uma missa particularmente delicada em memória dos armênios assassinados há 100 anos, criando muita expectativa sobre se pronunciará o termo genocídio, o que incomodaria muito a Turquia.

A liturgia, que será concelebrada pelo patriarca armênio Nerses Bedros XIX Tarmuni, com partes do rito católico armênio e a presença do presidente do país, Serzh Sargsyan, constitui um exercício diplomático arriscado por parte do pontífice argentino.

Grande parte do auditório espera que utilize o termo que os governos de Ancara se negam a pronuncia para descrever as matanças, mas pode que pode colocar em risco seus laços com um aliado potencial na luta contra o Islã radical cada vez mais perigoso para os cristãos da região.

Os armênios acreditam que 1,5 milhão de pessoas morreram entre 1915 e 1917, ao fim do Império Otomano. Muitos historiadores e mais de vinte países, entre eles França, Itália e Rússia, reconheceram o genocídio.

No entanto, a Turquia afirma que foi apenas uma guerra civil, na qual morreram entre 300.000 e 500.000 armênios e outros tantos turcos.

Em 2000, o papa João Paulo II assinou um comunicado conjunto com o patriarca armênio denunciando o "genocídio armênio". Mas nenhum papa pronunciou até agora a palavra genocídio para definir o drama armênio durante uma missa na basílica de São Pedro.

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