Tópicos | guerra na Ucrânia

Andriy Sanin, de 51 anos, rejeita se resignar. Mais de um ano após a invasão russa na Ucrânia devastar a sua cidade, Mariupol, o vice-presidente do clube homônimo acredita que a agremiação vai se reconstruir. Uma parceria com um time brasileiro foi o que reforçou essa crença do ucraniano.

Ele procurou ao redor do mundo clubes com os quais poderia fazer uma parceria envolvendo o Mariupol FC, que perdeu toda sua estrutura, estádio e dispensou funcionários e jogadores no mês seguinte ao início da guerra. Até que encontrou a Associação Atlética Batel, modesta equipe que disputa a terceira divisão paranaense.

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"Começamos a ver opções pelo mundo e, claro, quando pensamos em futebol vem à cabeça o Brasil. A gente ficou sabendo que no Sul do Brasil existem cidades com descendentes de ucranianos, com três ondas de migração, a primeira delas no século passado. Quando soubemos disso, nos interessamos muito", contou ele em entrevista por vídeo ao Estadão. "Conseguimos entrar em contato com o Batel e eles apoiaram nossa ideia".

O Batel vai se transformar de maneira provisória no Mariupol. Adotará o nome, uniforme, escudo e bandeira do time ucraniano num gesto simbólico e que permite que os torcedores da equipe do país europeu vislumbrem um recomeço.

"Foi o encontro perfeito", resume o presidente do Batel, Alex Lopes. "Nossa atitude é para prestar uma homenagem e espalhar a mensagem de paz e união por meio do futebol. Sei que há muitas formas de ajudar, como temos visto pelo mundo todo, mas a nossa parte vai ser vestir a camisa e bater no peito que o futebol brasileiro e ucraniano andam lado a lado, e estão cada vez mais unidos".

O Batel fica em Guarapuava, cidade próxima a Prudentópolis, município onde 75% dos cerca de 52 mil habitantes são descendentes de imigrantes ucranianos, de acordo com último levantamento do IBGE. Lá está concentrada a maior comunidade da Ucrânia na América Latina. Comunidade que cresceu à medida que refugiados ucranianos procuraram uma nova casa com o conflito que se tornou uma guerra longa e sangrenta.

Não se sabe em quais jogos e por quanto tempo o Batel representará o Mariupol. A ideia é realizar amistosos com grandes clubes do Brasil. Está nos planos enfrentar Santos e Athletico-PR. "Não seria lindo disputar um amistoso contra o Santos, que parou uma guerra com Pelé? Quão simbólico não seria essa mensagem de paz no futebol?", vislumbra o presidente do time paranaense, ou melhor, ucraniano, no momento.

Também está no planejamento do Batel transmitir seus jogos para a Ucrânia. "Ficamos muito felizes que as equipes brasileiras também nos apoiem. É difícil segurar as lágrimas", diz Senin, emocionado, em bom ucraniano.

Como todos que moravam em Mariupol, ele deixou a cidade para não ser um dos centenas de milhares de mortos. Mudou-se para a capital Kiev e trabalha remotamente. "Kiev foi muito atacada, o que impactou na infraestrutura da cidade. A energia oscilou, às vezes não temos água, mas tudo isso parece uma coisa pequena pra quem é de Mariupol", compara o dirigente. "Estamos preparados para sobreviver nessas condições. Somos ucranianos, somos fortes, sabemos como lidar com tudo isso".

MARIUPOL EM RUÍNAS

Devastada por bombardeios, Mariupol está hoje ocupada pelos russos após um longo cerco na guerra na Ucrânia. Recentemente, recebeu o presidente Vladimir Putin pela primeira vez desde o início da invasão.

A cidade portuária tornou-se conhecida em todo o mundo depois de ser quase reduzida a ruínas nos primeiros meses do conflito, antes das tropas russas tomarem o controle da cidade. Em março do ano passado, centenas de pessoas morreram no bombardeio a um teatro onde crianças se abrigavam com suas famílias.

Mísseis e bombas também destruíram a sede do Mariupol. Oficialmente, o clube foi dissolvido. Os jogadores encontraram novas equipes e a maioria dos funcionários deixou o país. Antes de se refugiarem, conta Sanin, arriscaram a vida e recolheram alguns documentos do clube. "Pedaço a pedaço, o clube continua a sobreviver pensando no futuro", crê o dirigente.

O vice-presidente do Mariupol é otimista. Acredita que o exército ucraniano vai ganhar a guerra e que o país poderá reaver todas as terras perdidas para os russos. "No ano passado, vimos contra-ataques bem-sucedidos do exército ucraniano. Esperamos que aconteça o mesmo esse ano em outras regiões", afirma.

Assim que a guerra terminar, seu primeiro objetivo é retornar a Mariupol. Quer encontrar uma nova sede para o clube e começar a reconstruí-lo. Depois, pretende visitar o Brasil. Quer agradecer a acolhida e retribuir de alguma maneira. "O futebol nos dá mais esperança. Tenho certeza de que o clube e a cidade vão continuar a existir".

A comunidade russa na Alemanha organizou, neste fim de semana (9 e 10), várias manifestações para denunciar que seus membros sofrem discriminação desde que começou a guerra na Ucrânia.

No domingo (10), cerca de 600 pessoas que portavam bandeiras tricolores russas se juntaram no centro de Frankfurt sob o lema "contra o ódio e a intimidação", constatou a AFP.

A passeata começou no bairro onde estão os grandes bancos e se aproximou de um protesto em apoio à Ucrânia que reuniu cem pessoas, mas ambos os grupos foram mantidos separados por um cordão policial.

Os organizadores da manifestação pró-russa tentavam chegar ao principal cemitério da cidade para depositar flores nos túmulos dos soldados soviéticos mortos durante a Segunda Guerra Mundial.

No início do protesto, havia um cartaz que dizia "Verdade e diversidade de opiniões mais que PROPAGANDA".

Em Hanôver, no norte do país, centenas de pessoas convocadas pela comunidade russófona se concentraram", indicou a polícia local à AFP.

Os manifestantes organizaram um comboio de veículos sob a estreita vigilância da polícia e quase 3.500 pessoas se reuniram em uma contra-manifestação de apoio à Ucrânia, informaram as forças de segurança.

As autoridades alemãs temem que aconteçam conflitos entre russos e ucranianos em seu território.

Na Alemanha, há quase 1,2 milhão de pessoas originárias da Rússia e uma colônia de 325.000 ucranianos, aos quais se soma a recente chegada de cerca de 316.000 refugiados da guerra.

Desde que a invasão russa na Ucrânia começou em 24 de fevereiro, a polícia registrou mais de 383 denúncias de delitos anti-russos e 181 infrações anti-ucranianas.

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