Luzinete Oliveira, 64 anos, sonha em ingressar em uma graduação. Foto: Cortesia
##RECOMENDA##Nos dias 3 e 10 de novembro, mais de 5 milhões de pessoas devem fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Desse universo, 0,2% são idosos, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Eles representam aproximadamente 9.840 brasileiros, muitos deles ultrapassando as barreiras da idade em busca de realizar o sonho de ingressar no ensino superior.
Um fator colabora para que mais gente lute pelos objetivos não conquistados na juventude: as pessoas estão vivendo cada dia mais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida ao nascer em 2019 é de 80 anos para mulheres e 73 anos para os homens. “A busca por um envelhecimento diferenciado vem motivando os idosos a buscar resgatar sonhos que ficaram em segundo plano em suas vidas em virtude de outras escolhas que tiveram maior prioridade, como entrar no mercado de trabalho apenas com o notório saber para assim prover financeiramente uma família”, comenta a psicóloga clínica e neuropsicopedagoga, Márcia Karine Costa Monteiro.
Para ela, o desejo dos idosos de ingressar na universidade não é somente uma forma de adquirir novos conhecimentos, mas também uma oportunidade de ocupar o tempo ocioso e mostrar ao mundo a capacidade que tem, independente de qualquer coisa. “As pessoas da terceira idade apresentam uma disposição maior para enfrentar desafios. A busca pelo aprendizado é algo bastante significativo, pois permite aumentar o conhecimento e experimentar novos 'poderes'. Os idosos que estão em busca de conhecimento universitário estão escolhendo viver mais e melhor porque estão ocupando a mente com experiências desejadas anteriormente e isso impulsiona a vida”, diz a psicóloga clínica e neuropsicopedagoga.
Luzinete Oliveira faz parte desse percentual. Depois de 45 anos fora das salas de aula, ela resolveu tirar o sonho de ser assistente social do papel e está a todo ritmo na preparação para os dias de prova do Enem. Para conhecer o funcionamento estrutural do Exame, a senhora participou da edição de 2018 como treineira e agora, aos 64 anos de idade, vai disputar uma vaga na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Minha vida foi muito difícil porque trabalhava para ajudar meus pais. Depois me casei tive um casal de filhos. Na adolescência deles o pai deixou a casa. Fui pai e mãe deles”, contou Luzinete, que ainda ressaltou o orgulho que sente em ver os filhos formados pela UFPE e agora, com a sensação de dever cumprido, está dedicando as horas do dia em busca do seu diploma.
Ela ganhou uma bolsa de estudos em um cursinho preparatório, onde ainda faz isoladas em literatura e redação. Não perde um dia de aula, nem mesmo nos finais de semana. “Estou me esforçando ao máximo. Tenho aulas, passo o dia todo no curso. Aos sábados participo de tutoria das 8h às 17h e nunca perdi um aulão, sempre aos domingos”, contou a idosa.
Dona Luzinete está muito confiante da sua preparação, tanto que busca até elevar a confiança dos colegas que andam nervosos com a proximidade e importância do Enem. “Estou ajudando alguns amigos que estão muito ansiosos, eles tem que confiar no seu potencial. Estou muito confiante de passar e estudar, principalmente na UFPE. Nunca é tarde para realizar nossos sonhos. A esperança é a certeza daquilo que sonhamos, eu vou conseguir”, concluiu Luzinete Oliveira.