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"Sou um grande pescador; confiante na misericórdia e na paciência de Deus, no sofrimento, eu aceito": foi a resposta do cardeal Jorge Bergoglio ao ser eleito Papa, indicou nesta quarta-feira a agência especializada no Vaticano I-MEDIA.

Este episódio ocorrido em 13 de março, no segundo e último dia do conclave na Capela Sistina, foi relatado pelo arcipestre da basílica de São Pedro, o cardeal Angelo Comastri, que participou do conclave, em um documentário produzido pelo Centro Televisivo do Vaticano (CTV) que sairá em DVD em 2 de abril na Itália.

Apenas as primeiras imagens deste filme de 50 minutos foram reveladas à imprensa durante uma apresentação organizada nesta quarta-feira: imagens aéreas do Vaticano e da fumaça branca que saiu da chaminé da Capela Sistina em 13 de março às 19h06 local.

O filme em italiano tratá imagens da primeira aparição do Papa Francisco na loggia da basílica de São Pedro e toda a sequência deste momento histórico: o helicóptero levando Bento XVI do Vaticano para Castel Gandolfo, o Vaticano durante o período vacante do trono apostólico e o novo Papa Francisco tomando a palavra diante de seus fiéis na noite de sua eleição.

O documentário termina com imagens gravadas recentemente pelo CTV: as do encontro histórico entre os dois Papas, em 23 de março em Castel Gandolfo, a residência de verão perto de Roma.

A primeira mulher pastora que se casou com outra mulher na Noruega renunciará às funções pastorais, em protesto contra a discriminação sofrida por gays e lésbicas, que, segundo ela, existem na Igreja Luterana da Noruega.

"Ficou insustentável para mim representar uma Igreja que ainda pratica a exclusão", declarou Hilde Raastad na edição do jornal norueguês Aftenposten desta quarta-feira.

Em 1997, Raastad se converteu na primeira mulher pastora na Noruega a se casar com outra mulher.

Oficializando uma prática já em andamento, a Igreja protestante (luterana) autorizou a ordenação de homossexuais dez anos depois, ao mesmo tempo em que concedeu aos bispos e às autoridades clericais a possibilidade de negar um ministério às pessoas que vivem com alguém do mesmo sexo.

Indicando que em várias ocasiões lhe negaram um posto, embora por vezes tenha sido a única candidata, Hilde Raastad disse que enviou uma carta ao arcebispo de Oslo para pedir que anule sua ordenação.

"Considero que a homofobia é um pecado", explicou ao Aftenposten. "Uma igreja local não pode escolher pessoas em função da cor de sua pele ou de sua etnia. Da mesma maneira, não pode excluir ou julgar pessoas baseando-se em sua orientação sexual".

Em sua primeira Semana Santa como Papa, Francisco terá uma nova oportunidade de mostrar sua proximidade dos fiéis, participando do lava-pés em uma prisão romana à benção "Urbi et Orbi".

A multidão, tradicionalmente numerosa no Vaticano nesta que é uma das mais importantes celebrações da vida cristã, deverá ser ainda maior este ano, atraída pelo novo Papa que já conquistou seus fiéis com gestos espontâneos e estilo simples que marcaram as primeiras semanas de seu pontificado.

Francisco surpreenderá já na quinta-feira: o tradicional "lava-pés" em ocasião da Quinta-feira Santa não será celebrado na Basílica se São João de Latrão, mas em um centro de detenção para menores em Casal del Marmo, na periferia de Roma.

Sinal da importância que o Papa jesuíta dá à proximidade com os mais marginalizados, Francisco celebrará a missa, lavará os pés e se reunirá com uma dezena de jovens detidos. Com este gesto, o Papa lembra o de Jesus, que lavou os pés de seus discípulos em sinal de humildade.

O ex-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio já tinha o hábito de celebrar este momento em uma prisão, hospital ou hospício para os pobres e marginalizados.

Em uma coletiva de imprensa, o porta-voz da Santa Sé, o padre Lombardi, não especificou se o Papa lavará os pés de jovens mulheres. Lavar os pés de mulheres, o que já foi feito pelo cardeal Bergoglio em Buenos Aires, pode ser mal interpretado pelos tradicionalistas.

Segundo a "vontade expressa" de Francisco, a cerimônia será "extremamente simples" e a missa não será exibida ao vivo.

Na mesma manhã, na Basílica de São Pedro, celebrará a missa crismal para centenas de padres. Será uma oportunidade para firmar os objetivos de seu pontificado. No ano passado, Bento XVI fez declarações sobre as divisões internas na Igreja durante esta mesma missa.

Outro momento significativo da Semana pascal, na sexta-feira, Francisco, após recitar no início da tarde a Paixão de Cristo na basílica do Vaticano, presidirá à noite a "Via Crucis" no Coliseu.

Enquanto que, no ano passado, Bento XVI, muito cansado e sentando no anfiteatro, ouvia as meditações de um casal italiano sobre os problemas da família contemporânea, Jorge Bergoglio deve participar da procissão.

Ele poderá carregar a cruz de madeira por pelo menos uma das 14 estações do percurso que representa o Calvário em Jerusalém, da condenação à morte de Jesus.

Antes mesmo de sua renúncia, as meditações foram encomendadas por Bento XVI ao Patriarca Maronita libanês Bechara Rai, que pediu a dois jovens libaneses para escrevê-las.

Essa é uma forma de ressaltar o drama do Oriente Médio, com a guerra na Síria, a difícil coexistência entre muçulmanos e cristãos, a ascensão do Islamismo e a fuga de muitos cristãos para o Ocidente.

Essas meditações devem se concentrar na defesa da vida, ameaçada por intolerância, guerras, opressão, mas também, de acordo com a Igreja, pelas leis (aborto e eutanásia) que não defendem de forma suficiente os direitos dos mais fracos. Essas concepções são defendidas por Francisco.

Sábado, Francisco continuará sua maratona desgastante com a Vigília Pascal, que celebra na noite de Páscoa a Ressurreição de Jesus. Um momento solene, pontuado por ritos milenares como as bênçãos da água e do fogo. Também é tradição que o Papa batize muitos adultos.

Domingo, dia das grandes multidões na Praça São Pedro, Francisco celebrará a missa de Páscoa antes de realizar da varanda central da basílica a bênção "Urbi et Orbi" ("à cidade e ao mundo").

No ano passado, o Papa Bento XVI desejou boa Páscoa em 65 línguas, do aramaico, língua falada por Jesus, ao kirundi, língua do Burundi.

A mulher do agente da Defesa Civil Paulo Roberto Filgueiras, de 37 anos, que morreu durante o resgate de vítimas da enchente em Petrópolis, na região serrana do Rio, fez um desabafo na tarde desta segunda-feira, ao ser impedida de passar por uma entrada lateral da Catedral Metropolitana, onde será celebrada a missa de sétimo dia das 33 vítimas da tragédia.

Acompanhada pelo cunhado, Fábio, que usa cadeira de rodas, e a sogra, Edna, Jennifer Filgueiras tentou seguir por um caminho mais fácil, mas foi impedida por seguranças da Presidência da República. "Há um desrespeito total. Nós estamos de luto e somos barradas para entrar. O que é isso? O luto das famílias não interessa. Petrópolis caiu e o interessante é receber a presidente. E a família tem que fazer um escândalo para conseguir entrar na missa", desabafou Jennifer na porta lateral da igreja.

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Ela contou que estava perto de Paulo Roberto quando ele foi soterrado por um deslizamento, que derrubou um muro sobre o agente. "Ele morreu salvando pessoas e esqueceu de salvar a própria vida", lamentou. Jennifer disse que pretende continuar o trabalho do marido à frente da ONG Anjos da Serra, fundada há cinco anos.

Marcada para as 17 horas, a missa só começou às 18h30, depois da chegada da presidente Dilma Rousseff.

Pela primeira vez na história milenar do catolicismo, o Papa Francisco encontrará neste sábado (23) seu antecessor, Bento XVI, em Castel Gandolfo, onde ele reside desde a sua renúncia, uma oportunidade única para se tratar os muitos desafios que a Igreja enfrenta.

Os dois homens de branco - Ratzinger, Papa emérito desde 28 de fevereiro, continua a vestir uma batina branca - estarão protegidos dos olhos da imprensa na tranquilidade da residência pontifícia de Castel Gandolfo, perto de Roma.

A hora de chegada do Papa foi anunciada para as 11h15 GMT (8h15 no horário de Brasília), mas não a de sua partida, sinal que eles terão todo o tempo que quiserem. Eles devem almoçar juntos, e a discrição é a palavra de ordem.

Os assuntos a serem discutidos são muitos em uma igreja de 1,2 bilhão de fiéis: a "nova evangelização", as perseguições contra os cristãos, a reforma da Cúria, as divisões internas, os escândalos envolvendo dinheiro e sexo, incluindo os terríveis casos de pedofilia. os dois sacerdotes devem falar do "Vatileaks", o caso dos vazamentos de documentos confidenciais, sobre o qual cardeais aposentados investigaram de forma paralela e prepararam um relatório que foi apresentado ao novo Papa.

Antes de renunciar, Bento XVI assegurou sua "obediência incondicional" ao futuro Papa e disse que iria se retirar do mundo. Anunciou que estaria ao lado do novo pontífice em oração e, segundo o Vaticano, estaria pronto para dar conselhos.

Os dois homens têm temperamentos completamente diferentes: enquanto Joseph Ratzinger se mostrava tímido diante da multidão, mesmo sendo caloroso em privado, Jorge Bergoglio é espontâneo, vai até as pessoas e as abraça.

O novo pontífice se distingue por um estilo informal e se mostra mais próximo dos pobres e da simplicidade. Ainda sim, é inflexível em sua doutrina. Sobre as questões da sociedade, Joseph Ratazinger e Jorge Bergoglio compartilham posições conservadoras, seja quanto ao casamento homossexual, o aborto ou a eutanásia.

Quanto aos sinais de simplicidade (anel de prata, etc) do novo Papa, sua importância não deve ser exagerada, segundo os vaticanistas. Bento XVI quis manter as tradições, mas viveu de forma simples.

Nos arredores do Vaticano, os cartazes e cartões postais com o retrato de Bento XVI tendem a perder espaço para os do sorridente Jorge Bergoglio e do midiático João Paulo II. Karol Wojtyla, beatificado em 2012, sete anos após sua morte, e que pode ser canonizado em breve, continua a ser o "gigante de Deus" aos olhos dos católicos.

A popularidade adquirida por Francisco em apenas uma semana e a insistência sobre seus gestos simbólicos de ruptura com as tradições podem ser vistas com maus olhos por uma parte do Vaticano, onde consideram injusto o aparente esquecimento do Papa alemão, indicam fontes informais, apesar de Francisco não perder a oportunidade de expressar seu "afeto" por seu predecessor.

"Este pontificado será enraizado nos ensinamentos de Bento XVI, que foi a principal força intelectual da Igreja nos últimos 25 anos. Sua herança continuará a influenciar este pontificado", considera Samuel Gregg, do instituto de pesquisa americano Aston.

Semelhanças podem ser traçadas entre os discursos dos dois papas, por exemplo sobre a necessidade de privilegiar aspectos positivos da doutrina ao invés das condenações.

De acordo com o jornalista alemão Peter Seewald, maior especialista de Joseph Ratzinger, "está claro desde o início que o novo Papa se inscreve nos passos de seu predecessor".

Ao jornal Corriere della Sera, Seewald afirmou que "Bento preparou o caminho (...) Ele é um grande admirador de São Francisco de Assis. Depois de São Bento (fundador do monaquismo ocidental), é Francisco de Assis que está em segundo lugar para ele: dois reformadores da Igreja, cada um em seu território, em seu caminho próprio".

"João Paulo II estabilizou o barco da Igreja na tempestade, Bento a purificou, deu instruções à tripulação e a recolocou no caminho certo. Agora Francisco irá ligar o motor para fazer a Igreja se mover", afirma Peter Seewald.

Quando se estabelecer em maio em um antigo monastério na colina do Vaticano, o Papa emérito estará a poucos passos do gabinete de Francisco. Uma coabitação inédita terá início, e os encontros serão possíveis nos jardins do pequeno Estado.

Emocionados e com a esperança de uma mudança, milhares de latino-americanos se reuniram neste domingo na praça de São Pedro, no Vaticano, para o primeiro Angelus de Francisco, o carismático papa argentino que seduz o mundo com sua simplicidade.

"É o Papa de todos, não é mais argentino", afirma Diego Delfina, um operário argentino de 33 anos que vive em Ancona, em meio a um mar de bandeiras, a maioria argentinas, mas também de México, Peru, El Salvador, Chile e Brasil.

"Espero que mude muitas coisas em uma Igreja justamente criticada", acrescenta em meio a uma multidão entusiasta que grita "Viva o Papa! Viva o Papa!".

Assim como ele, muitos fiéis veem essa necessidade de dar novos ares à Igreja católica e de aproximá-la mais dos crentes, especialmente dos mais pobres, dos quais o agora Papa sempre esteve perto.

"Ele não vai mudar a Igreja, mas vai refrescá-la, dar a ela uma força nova", disse o padre Francisco, um sacerdote colombiano, vestido com seu austero hábito cinza de franciscano.

"Somos os pobres, os que acreditamos mais na Igreja, especialmente na América Latina. Os europeus nos evangelizaram e nós somos o fruto", acrescenta agitando uma bandeira de seu país.

A argentina Maria Paola Daud, de 40 anos, está convencida de que este Papa é "o que faltava" à milenar instituição.

"Não era esperado, mas em cinco minutos conquistou a todos", acrescenta diante dos olhares atentos de seus filhos, Francisco e Jesus.

A saída do novo pontífice à janela do apartamento pontifício no terceiro andar do palácio apostólico, que havia permanecido fechada desde 24 de fevereiro, quatro dias antes da renúncia de Bento XVI, provoca o primeiro grande aplauso.

"Irmãos e irmãs, bom dia", afirma como em sua primeira aparição o Papa, apenas uma pequena figura longínqua, aos 150.000 fiéis, turistas e curiosos que, segundo o Vaticano, lotam a grande esplanada, protegidos por numerosos policiais.

Na linguagem simples que o caracteriza, o Papa fala aos peregrinos da misericórdia e do perdão de Deus, contando anedotas e provocando risadas de seu atento auditório, embora, para a decepção de muitos, apenas em italiano.

Como quando se refere a um livro do cardeal emérito Walter Kasper que leu nos últimos dias e afirma: "Não pensem que estou fazendo publicidade do livro do cardeal, não é isso".

Depois se despede, pedindo para que rezem por ele e desejando "boa tarde e um bom almoço", com uma familiaridade inédita para um pontífice.

"Esta simplicidade que o Papa tem me emociona. Pode-se ver que é uma pessoa que quer transmitir ao povo a proximidade com seu Papa", explica irmã Luisa, uma jovem religiosa chilena da comunidade de Santa Marta.

"Precisávamos de um Papa que tivesse outro carisma", acrescenta, destacando a grande quantidade de jovens que estão acolhendo bem este pontífice. "Os jovens são a força da Igreja", afirma.

Os fiéis, que começaram a lotar a praça desde a manhã, gritam seu nome, Francisco, mas também seus apelidos, "Pancho", "Paco" ou "Quico", segundo seus países de origem.

O cardeal sul-africano, Wilfrid Napier, afirmou que os pedófilos devem ser tratados como "doentes" e não como criminosos, em um entrevista à BBC exibida neste sábado.

"De acordo com a minha experiência, a pedofilia é realmente uma doença, não é uma questão criminosa, é uma doença", declarou o arcebispo de Durban, um dos participantes do conclave que elegeu na quarta-feira o Papa Francisco.

"É uma enfermidade psicológica. O que fazemos diante de uma doença? Temos que tentar curá-la. Se eu, como indivíduo normal, decido conscientemente violar a lei, devo ser castigado", acrescentou o arcebispo de 72 anos, conhecido por suas posições conservadoras.

No início de 2000, Napier foi muito criticado por sua passividade ante o escândalo de padres pedófilos e por se negar a expulsar os culpados da Igreja sul-africana.

O cardeal indicou que conhecia dois sacerdotes, vítimas de abusos sexuais na infância, que se transformaram em pedófilos.

"Não me digam que essas pessoas são penalmente responsáveis da mesma forma que alguém que escolhe fazer isso", disse o arcebispo durante a entrevista. "Não acredito que se possa pensar que uma pessoa merece ser castigada, quando ela mesma foi ferida", acrescentou.

Barbara Dorries, estuprada em sua infância por um padre pedófilo e membro de um grupo de vítimas com sede nos Estados Unidos, respondeu aos comentários de Napier: "Que seja uma doença, mas também é um crime e os crimes devem ser castigados, os delinquentes devem responder por suas ações passadas e presentes".

"Os bispos e os cardeais encobriram estes crimes e permitiram que os pedófilos continuassem atuando, que não fossem presos, mantiveram esses atos como um segredo na Igreja", denunciou Dorries.

Acaba de ser anunciado o nome do novo líder da Igreja Católica. Jorge Mario Bergoglio, 76 anos, até então arcebispo de Buenos Aires, filho de italianos, foi escolhido pelos outros 114 cardeais para ocupar a vaga deixada por Bento XVI , que renunciou no dia 28 de fevereiro deste ano. Bergoglio será o 266º papa da história.

O novo pontíficie, que escolheu o nome de Francisco I, o que pode siginifcar uma atenção maior aos pobres, seguindos os passos de São Franscisco de Assis fez seu primeiro discurso para a multidão na Praça de São Pedro. "Boa noite a todos. Você sabe que conclave poderia encontrar um bispo em Roma, mas parece que meus irmãos cardeias foram encontrar um novo representante quase no fim do mundo (referindo-se a América do Sul). Antes de mais nada, gostaria de fazer uma oração para o nosso bispo emérito Bento XVI. Oremos todos juntos para ele e que Nossa Senhora o proteja", disse ele, antes de rezar um Pai Nosso.

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Com uma convocação de "unidade" aos católicos aconteceu nesta terça-feira o primeiro ritual do histórico conclave para eleger o sucessor de Bento XVI, o papa que renunciou em um momento crucial para a Igreja Católica.

Milhares de fiéis dos cinco continentes acompanharam a missa solene "Pro Eligendo Pontifice" na basílica de São Pedro, presidida pelo decano do colégio cardinalício Angelo Sodano, na presencia dos 115 cardeais eleitores que escolherão o 266º Sumo Pontífice.

Em sua homilia, Sodano incentivou os cardeais a "colaborar para edificar a unidade da Igreja" e a "cooperar com o sucessor de Pedro".

"Todos nós temos que colaborar para edificar a unidade da Igreja", afirmou durante a homilia.

"Estamos convocados a cooperar com o Sucessor de Pedro, fundamento visível de tal unidade eclesiástica", afirmou o influente cardeal em seu discurso, tal como correspondeu, há oito anos, ao então cardeal Joseph Ratzinger, antes de virar Bento XVI.

"Eu os exorto a se comportarem de maneira digna, com toda humildade, mansidão e paciência, suportando-se reciprocamente com amor, tentando conservar a unidade do espírito por meio do vínculo da paz", disse Sodano, em referência à carta do apóstolo Paulo aos Efésios.

"Queremos agradecer ao Pai que está nos Céus pela amorosa assistência que sempre reserva a sua Santa Igreja e, em particular, pelo luminoso pontificado que nos concedeu com a vida e as obras do 265º sucessor de Pedro, o amado e venerado pontífice Bento XVI, ao qual neste momento renovamos toda nossa gratidão", afirmou o cardeal.

"Queremos implorar ao Senhor que, através da solicitude pastoral dos pais cardeais, queira em breve conceder outro Bom Pastor a sua Santa Igreja", completou.

A menção do influente cardeal, que não participará no conclave por ter completado 80 anos, ao agora emérito Bento XVI, após a inesperada renúncia praticamente sem precedentes, gerou uma grande ovação entre os presentes.

Os cardeais entraram em procissão, vestidos com os paramentos vermelhos e mitras, no majestoso templo especialmente iluminado para a ocasião, entoando cantos gregorianos.

A cerimônia foi acompanhada por fiéis e turistas na Praça de São Pedro em quatro telões gigantes e exibida pela televisão a vários países.

A missa inaugura o ritual de um conclave estritamente pautado, mas sem nenhum favorito claro.

Vários nomes são citados, todos eles conservadores, como o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, considerado o candidato da cúria e que pode ser o primeiro papa nascido na América Latina.

Os cardeais seguiram no início da manhã para a Casa de Santa Marta, a residência dentro do Vaticano na qual ficarão totalmente isolados do resto do mundo antes do conclave.

Alguns deles se despediram dos seguidores na rede social Twitter.

"Último tuíte antes do conclave: que nosso Pai ouça e responda com amor e misericórdia a todas as orações e sacrifício para um resultado frutífero. Deus nos abençoe!", escreveu o cardeal sul-africano Wilfried Napier.

Durante a tarde, às 16H15, os cardeais se reunirão para uma oração e depois devem seguir para a Capela Sistina, onde entoarão o hino "Veni Creator Spiritus", que invoca o Espírito Santo para que guie a decisão.

A clausura total começará após o grito de "Extra omnes" (Todos fora!), momento em que as pessoas alheias ao conclave deixarão o local e as portas da capela serão fechadas, deixando apenas os cardeais.

Os religiosos prestam juramento de silêncio sobre tudo o que será falado durante o conclave.

A partir deste momento, a única indicação que o resto do mundo terá sobre o que acontece no conclave será a fumaça que sairá da chaminé situada à direita da Basílica de São Pedro.

Os cardeais votarão quatro vezes por dia a partir de quarta-feira, mas podem decidir organizar uma primeira votação na tarde desta terça-feira, como aconteceu no último conclave, há quase oito anos.

Neste caso, a fumaça será negra. Mas quando um candidato alcançar os 77 votos necessários para ser eleito e aceitar assumir a responsabilidade, a fumaça será branca e estará acompanhada pelo som dos sinos de São Pedro, seguido pelo restante das igrejas de Roma.

O novo pontífice escolherá então o nome com o qual deseja governar e vestirá pela primeira vez a sotaina branca para ser apresentado a Roma e ao mundo. Ele pronunciará sua primeira mensagem "urbi et orbi" na sacada do Palácio Apostólico.

Os cardeais foram incentivados nesta terça-feira a "colaborar para edificar a unidade da Igreja" e a "cooperar com o sucessor de Pedro" durante a missa solene celebrada na basílica de São Pedro antes do conclave para a eleição do sucessor de Bento XVI.

A convocação foi feita pelo cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, durante a missa "Pro Eligendo Pontifice", durante a qual ele recordou "o luminoso pontificado" de Bento XVI, o que gerou muitos aplausos na basílica.

"Todos nós temos que colaborar para edificar a unidade da Igreja", afirmou durante a homilia.

"Estamos convocados a cooperar com o Sucessor de Pedro, fundamento visível de tal unidade eclesiástica", afirmou o influente cardeal em seu discurso, tal como correspondeu, há oito anos, ao então cardeal Joseph Ratzinger, antes de virar Bento XVI.

"Eu os exorto a comportar-se de maneira digna, com toda humildade, mansidão e paciência, suportando-se reciprocamente com amor, tentando conservar a unidade do espírito por meio do vínculo da paz", disse Sodano, em referência à carta do apóstolo Paulo aos Efésios.

"Queremos agradecer ao Pai que está nos Céus a amorosa assistência que sempre reserva a sua Santa Igreja e, em particular, pelo luminoso pontificado que nos concedeu com a vida e as obras do 265º sucessor de Pedro, o amado e venerado pontífice Bento XVI, ao qual neste momento renovamos toda nossa gratidão", afirmou o cardeal.

"Queremos implorar ao Senhor que, através da solicitude pastoral dos pais cardeais, queira em breve conceder outro Bom Pastor a sua Santa Igreja", completou.

A missa é o primeiro ato de uma eleição que está sendo acompanhada por vários meios de comunicado diretamente da basílica.

Todos os cardeais presentes em Roma, eleitores ou não, participam na cerimônia, uma das mais intensas dos últimos anos.

O Vaticano negou-se a credenciar para o conclave o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, autor de um livro sobre as intrigas e os antagonismos do caso Vatileaks, indicou Nuzzi em sua conta no Twitter.

"Uma decisão marcada pela escuridão, muito longe da transparência e da liberdade de imprensa", denunciou em sua mensagem o autor de "Sua Santitá" ("Sua Santidade").

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O livro, escrito a partir de dezenas de faxes e cartas ultrassecretas dirigidas ao papa Bento XVI, contribuiu para alimentar o escândalo Vatileaks, que levou à condenação por roubo do mordomo do Papa, Paolo Gabriele.

Nuzzi pediu seu credenciamento on-line na semana passada na internet para cobrir o conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI para a rede de televisão privada italiana La7. Mas nesta segunda-feira recebeu uma resposta negativa, sem especificar os motivos.

Um documentário realizado pelo jornalista, chamado de "La scelta del papa" ("A escolha do papa"), será transmitido pela televisão no dia 23 de março.

Em dezembro, Bento XVI indultou o mordomo, que foi libertado após 117 dias de prisão.

O pontífice renunciou ao seu cargo no dia 28 de fevereiro, alegando falta de forças para seguir à frente da Igreja católica.

Cerca de 5.600 jornalistas estão credenciados para cobrir o conclave, que começará na terça-feira à tarde na Capela Sistina.

O conclave que se reunirá no dia 12 de março no Vaticano é uma assembleia de cardeais regida por regras muito rígidas, durante a qual os cardeais se isolam do mundo exterior para evitar pressões até terem escolhido um novo Papa.

A palavra "conclave" vem do latim, "cum clavis", e significa precisamente "fechado à chave".

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O sistema de fechar os cardeais teve início no Concílio Lyon II (1274).

A partir de terça-feira, 115 cardeais com menos de 80 anos dos 117 que compõem o corpo eleitoral (um indonésio e um britânico não participarão) se fecharão no recinto da cidade do Vaticano, declarado zona de Conclave.

Antes, todo o Colégio Cardinalício, incluindo os maiores de 80 anos, terão realizado as chamadas congregações ou assembleias para debater o estado da Igreja e definir o perfil do sucessor de Bento XVI, após sua histórica renúncia no dia 28 de fevereiro.

O novo Papa será eleito em uma das votações que serão realizadas na Capela Sistina.

Durante a duração do Conclave, os cardeais serão proibidos de utilizar qualquer tipo de comunicação com o exterior, sem telefone ou computadores. Não poderão enviar mensagens eletrônicas ou alimentar suas contas nas redes sociais.

O Vaticano ordenou inclusive uma limpeza eletrônica para detectar qualquer possível mecanismo transmissor ou receptor camuflado no âmbito da clausura e colocou um aparelho que restringe os sinais de rádio dentro da Capela Sistina e nas áreas próximas a ela.

No início do conclave, os cardeais farão um juramento de silêncio. Além dos cardeais, todos os funcionários do serviço que têm acesso a eles também deverão jurar que manterão segredo sobre tudo o que tiver relação com as reuniões, sob pena de excomunhão.

O conclave terá início com uma missa votiva "Pro elegendo papa", após a qual os cardeais se dirigirão em procissão até a Capela Sistina, local da eleição, cantando o "Veni Crator" para invocar a ajuda do Espírito Santo, segundo a Constituição Apostólica.

Além disso, o mestre de cerimônias pronuncia o "Extra omnes!" ("Fora todos!", ordenando que aqueles que não tenham a ver com a eleição saiam do recinto).

As portas se fecham e ficam sob a proteção da Guarda Suíça.

Para ser eleito, um cardeal precisará de uma maioria de dois terços, ou seja, 77 votos. O voto é secreto. Os cardeais não têm direito de se abster nem de votar em si mesmos.

Na Capela Sistina serão realizadas duas votações matutinas e duas vespertinas. Duas vezes ao dia, uma depois de cada rodada, os papéis são queimados. A cor da fumaça que sairá da chaminé anuncia ao mundo o resultado: preta, se ainda não houver uma decisão, e branca, se um novo Papa tiver sido eleito.

Nos três últimos conclaves (dois em 1978 e outro em 2005), para desespero dos jornalistas, o sistema não funcionou corretamente e a fumaça que deveria ser branca apareceu como cinza. Na última destas ocasiões foi incorporada uma estufa auxiliar com o objetivo de queimar produtos químicos que tingissem claramente a fumaça da cor correta, embora tampouco tenha funcionado.

Um repique de sinos de São Pedro se somará ao anúncio do evento, e assim tudo será mais claro para a imprensa e para os milhares de católicos que seguirão o evento.

Se depois do terceiro dia nenhum candidato alcançar o mínimo exigido, a Constituição estabelece uma pausa de 24 horas, que será dedicada "à oração, ao colóquio (...) e a uma breve exortação espiritual".

Se ocorrerem outras sete votações inúteis, será feita outra pausa de um dia.

O último ato do conclave é a pergunta que três cardeais fazem ao eleito: "Aceita sua eleição como Sumo Pontífice?". Após a resposta afirmativa, segue outra pergunta, "Quo nomine vis vocari?" ("Como quer ser chamado?").

Depois de ser parabenizado pelos cardeais, o sucessor do Papa alemão, que poderá escolher livremente seu nome, se dirigirá a uma pequena sala contígua onde o esperam três hábitos papais (de tamanhos pequeno, médio e grande) para se vestir. Costuma ser chamada de "Sala das Lágrimas", já que parece que todos os eleitos, sem exceção, choram ali em relativa intimidade diante da magnitude da responsabilidade que acabam de assumir.

Em seguida, o novo Papa vai à sacada da basílica de São Pedro depois que o protodiácono, neste caso o cardeal francês Jean Louis Tauran, anunciar aos fiéis: "Habemus papam!" para ser apresentado à multidão reunida na gigantesca praça de São Pedro no Vaticano.

O cardeal camerlengo, o italiano Tarcisio Bertone, será, após o fim do papado de Bento XVI, uma espécie de "Papa interino", encarregado de gerenciar a Igreja até que o novo pontífice seja eleito. Seus poderes, no entanto, são reduzidos.

Todos os mais altos cargos do governo da Igreja, isto é, a Cúria Romana, devem se demitir de suas funções quando o Papa morre, segundo a Constituição Apostólica promulgada em 1996 por João Paulo II.

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A regra também vale em caso de demissão. Somente o cardeal camerlengo continua a postos para administrar o que acontece na Igreja.

"Na morte do pontífice, todos os chefes dos dicastérios da Cúria Romana, o cardeal secretário de Estado, os cardeais prefeitos, os bispos presidentes, assim como os membros desses ministérios, deixam seus cargos. As únicas exceções são o Camerlengo da Santa Igreja e o Grande Penitenciador, que continuam resolvendo o que acontece diariamente", indica o artigo 14 da Constituição.

A palavra "camerlengo" é derivada do italiano "camera", que significa câmara, quarto. Ela equivale, em português, à expressão "adido à câmara". O camerlengo é uma função puramente administrativa, que só ganha importância na morte ou, no caso, na demissão de um Papa.

Ele é encarregado de gerenciar o Vaticano e, com a ajuda dos cardeais presentes, reunidos em congregação geral, ele marca a data do funeral, no caso da morte do Papa, e convoca o Conclave.

Mas o camerlengo e os cardeais não podem tomar nenhuma decisão que exceda a duração do período de vacância do trono de São Pedro, onde imperam prerrogativas exclusivas do Papa, como por exemplo a nomeação de novos cardeais.

É o camerlengo que é encarregado de constatar e notificar a morte do Papa. Até Pio XII, morto em 1958, o camerlengo constatava o óbito do chefe da Igreja batendo com um pequeno martelo de prata em sua testa, para garantir que o pontífice estava, de fato, morto.

Monsenhor Bertone deverá simbolicamente tomar posse das funções papais, o Palácio Apostólico do Vaticano, os palácios do Latrão, sedes da diocese de Roma, onde o Papa é por tradição o bispo, e de Castel Gandolfo, residência de verão dos papas.

Esta última será, contudo, ocupada do Joseph Ratzinger, situação inédita na história recente da igreja.

Número dois do Vaticano, Bertone, 78 anos, foi nomeado camerlengo em abril de 2007.

Originário de Romano Canavese, uma pequena região italiana do Piemonte, o salesiano Tarcisio Bertone colaborou durante sete anos (1995-2002) com Ratzinger quando ele foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, antes de ser nomeado em 2006 Secretário de Estado do Vaticano, espécie de "chefe do governo" da Santa Sé.

A decisão de Bento XVI de renunciar a seu posto é um evento quase inédito na história da Igreja, o único precedente conhecido remonta há mais de sete séculos com a renúncia voluntária do Papa Celestino V.

Outros papas se retiraram do Pontifício em circunstâncias históricas particulares, mas sem uma renúncia propriamente dita.

São Celestino V renunciou a sua função no mesmo ano de sua eleição, em 1294. Ele vivia como eremita até a sua nomeação como Papa e não se sentiu preparado para assumir a liderança da Igreja.

Nascido em 1215, de origem humilde, Pietro del Morrone vivia como monge beneditino em Abruzzo quando o conclave de Perugia anunciou sua eleição, em julho de 1294. A escolha de um desconhecido devia acabar com a guerra entre os guelfos e gibelinos pela sucessão de Nicolau IV, morto dois anos antes.

Pietro del Morrone adotou o nome de Celestino V e transferiu a corte para Nápoles. Mas o novo Papa rapidamente expôs as razões que o impediam de desempenhar suas funções: sua humildade e saúde. Ele abdicou em 13 de dezembro de 1294, em acordo com seus cardeais.

Em 24 de dezembro, o cardeal Bento Gaetani foi eleito para sucedê-lo sob o nome de Bonifácio VIII, mas tentou manter Celestino a seu lado. O monge tentou escapar e se juntar novamente à sua ordem, que passou a adotar o nome de "Celestinos", mas foi capturado pelos guardas do Papa. Celestino V morreu em 1296 e está sepultado na igreja de sua ordem em Aquila.

Além disso, outros papas deixaram seus cargos em outras circunstâncias. O Papa Martinho I, preso e exilado na Grécia em 653 pelo imperador do Oriente, tacitamente aprovou a eleição de outro Papa, Eugênio I. Três séculos depois, em 964, o Papa Bento V, apresentado como um antipapa, foi deposto pelo imperador Otto I, e aceitou a sentença, renunciando ao papado.

Sabe-se também que o Papa João XVIII morreu em Roma em 1009 como um simples monge de São Paulo, que o Papa Silvestre III, expulso por seu rival Bento IX, em 1045, passou a se ocupar apenas de sua diocese, e que Bento IX abdicou em favor do Papa Gregório VI.

Finalmente, depois de Celestino V, o Papa Gregório XII renunciou durante o Concílio de Constança, em 1415, e aposentou-se como um simples cardeal-bispo. Era a época do Grande Cisma do Ocidente, e a Igreja tinha três papas concorrentes.

A possibilidade de renúncia de um papa já havia sido assinalada por vários Papas do século XX, e, finalmente, pelo Papa João Paulo II, que previu expressamente na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, publicada em fevereiro de 1996. Ele não o fez, apesar de um longo período de doença.

Joseph Ratzinger já havia indicado em um livro-entrevista, "Luz do mundo", que um Papa "tem o direito e, dependendo das circunstâncias, o dever de se retirar" se sentir que sua força "física, psicológica e espiritual" o escapa.

Bento XVI deixará de ser Papa nesta quinta-feira (28), às 19h00 GMT (16h de Brasília), quando sua histórica renúncia se tornará efetiva após oito anos de um pontificado no qual precisou encarar enormes escândalos e controvérsias.

A seguir, alguns desses escândalos:

- O nazismo e a Alemanha (Auschwitz, maio de 2006): durante sua peregrinação ao campo de extermínio de Auschwitz, Bento XVI atribuiu a responsabilidade dos crimes do nazismo a um grupo de criminosos que abusaram do povo alemão para se servir dele "como instrumento de sua sede de destruição e de dominação". Esta frase na boca do Papa, de origem alemã, com a qual parece eximir seu povo, criou polêmica.

- O Islã e a violência (discurso de Ratisbona, setembro de 2006): o tema da conferência do Papa em uma universidade bávara se concentra nos vínculos entre a fé e a razão. Mas a citação de um imperador bizantino do século XII sobre os laços do Islã e a violência provocou uma onda de indignação no mundo muçulmano. Esta crise levou Bento XVI a multiplicar seus chamados ao diálogo entre as religiões, "respeitando suas diferenças".

- Povos autóctones e conversão (Brasil, maio de 2007): durante sua viagem ao Brasil, o Papa afirmou que a evangelização dos povos autóctones da América "não levou em nenhum momento a uma alienação das culturas pré-colombianas e não impôs uma cultura estrangeira", guardando silêncio sobre os massacres que acompanharam a evangelização da América. Dez dias depois, após a polêmica levantada por suas declarações, Bento XVI evocou os sofrimentos e injustiças daqueles povos durante a conquista do continente.

- Aborto e política (Brasil, maio de 2007): a bordo de um avião que o levava ao Brasil, o Papa justificou as ameaças de excomunhão de certos bispos contra os políticos que legalizam o aborto. O presidente Luiz Inacio Lula da Silva, hostil ao aborto como cidadão, ressaltou que deveria responder "como chefe de Estado" a um problema de saúde pública.

- Missa em Latim e Vaticano II (julho de 2007): Bento XVI liberalizou por decreto papal a missa em latim, ou Missa Tridentina, de acordo com a liturgia romana anterior à reforma do Concílio Vaticano II, dando andamento à reivindicação dos católicos tradicionais, o que inquietou os progressistas dentro da Igreja. O Papa afirmou que o Concílio Vaticano II contribuiu para a continuidade da história da Igreja Católica, embora os progressistas o interpretem como uma ruptura.

- Integrismo e negacionismo (janeiro de 2009): um decreto papal levanta a excomunhão de quatro bispos integristas, dos quais um, o britânico Richard Williamson, manteve publicamente posturas negacionistas do Holocausto dos judeus pelos nazistas. Esta decisão gerou uma enorme controvérsia, assim como profundas tensões com o mundo judeu e mal-estar com parte dos católicos, o que obrigou o Vaticano a se retificar.

- O preservativo e a Aids (março de 2009): em um avião que o levava à África, o Papa declarou que não era possível resolver o problema da Aids (...) com a distribuição de preservativos, que, "pelo contrário, agravavam o problema". A indignação por estas declarações foi geral, desde os responsáveis políticos até representantes de associações civis.

- Pio XII (dezembro de 2009): Bento XVI proclama venerável o papa Pio XII, questionado por seu silêncio durante o Holocausto perpetrado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, o que provocou fortes protestos das comunidades judaicas de Berlim e Roma, entre outras.

- Pedofilia (início de 2010): a revelação da magnitude dos casos de pedofilia no clero irlandês, conhecida durante o outono boreal de 2009, a qual se somaram novas revelações em diversos países da Europa, assim como nos Estados Unidos, começaram a salpicar o Papa com artigos na imprensa alemã e americana que questionavam seu silêncio e inação diante destas denúncias.

Lobby gay: As escandalosas denúncias, publicadas pelos meios de comunicação da Itália, ofuscaram a última semana do pontificado. Segundo estas publicações, o Papa decidiu renunciar ao cargo depois de receber um relatório ultrassecreto de 300 páginas, preparado por três cardeais veteranos, que descreve as lutas na Cúria Romana pelo poder e pelo dinheiro, assim como o sistema de chantagens internas baseadas nas fraquezas sexuais, o chamado "lobby gay" do Vaticano, o que foi desmentido oficialmente e com firmeza pela hierarquia da Igreja.

Apesar da guinada radical na luta contra a pedofilia durante os oito anos do papado de Bento XVI, os abusos cometidos por sacerdotes ainda são um dos mais importantes temas pendentes da Igreja Católica, que mancham não apenas a sua imagem no mundo, mas também a relação com seus próprios fiéis.

"Compartilho totalmente a afirmação de que Bento XVI foi o Papa da 'tolerância zero'", afirma à AFP o sacerdote espanhol Antonio Pelayo, colaborador da publicação especializada Vaticaninsider.

"Nos últimos anos do papado de João Paulo II houve hesitação. Pensava-se que era melhor ajudar estes sacerdotes, não dar publicidade ao tema. Mas quando Joseph Ratzinger era cardeal, não compartilhava esta linha, e quando foi Papa tampouco. É justo reconhecer isso", lembra.

Uma opinião compartilhada pelo prestigiado vaticanista italiano Marco Politi, apesar de um fim de papado marcado por novas revelações que parecem deixar em um segundo plano os esforços dos últimos oito anos.

"Durante seu pontificado, o Papa Ratzinger deu o sinal para uma guinada radical, condenando sem desculpas os crimes e os bispos que permaneceram inertes, pedindo publicamente perdão às vítimas e se reunindo com elas em todo o mundo", escreve Politi em seu blog, lembrando, no entanto, os "contragolpes subterrâneos" a esta política dentro do Vaticano.

Mas, nos dias anteriores ao conclave para eleger o novo Papa após a histórica decisão de renunciar de Bento XVI, as associações pedem novamente justiça e exigem que os cardeais suspeitos de encobrir casos de pedofilia não participem do encontro.

Há vários nomes no alvo, como o do cardeal de Los Angeles Roger Mahony, destituído de suas funções por ter protegido sacerdotes acusados de abusos sexuais, o do ex-arcebispo da Filadélfia Justin Francis Rigali, o do cardeal belga Godfried Danneels ou o do irlandês Sean Brady.

"O cardeal Roger Mahony não tem que se apresentar no conclave", pediu recentemente a ONG italiana "La caramella buona", que protege os menores. Algo que contradiz as vozes autorizadas do Vaticano, como a do ex-promotor contra a pedofilia do Vaticano, Charles Scicluna, que na segunda-feira lembrou na imprensa italiana que os cardeais têm "o direito e o dever" de participar.

Ainda na segunda-feira, embora se trate de um caso que não envolva menores, a renúncia do cardeal Keith O'Brien, o representante máximo da igreja católica no Reino Unido, acusado de atos impróprios, coloca novamente no olho do furacão o comportamento sexual de alguns sacerdotes.

Mudança de rumo

"Durante este pontificado, a atmosfera dentro da Igreja no tema dos abusos de menores realmente mudou. O Vaticano aceitou processos, abriu investigações em profundidade e agiu com mão de ferro contra os sacerdotes condenados", lembra Scarpati.

Foi o caso dos escândalos que explodiram durante o papado de Ratzinger, começando pelo da igreja da Irlanda em 2009, quando um relatório revelou que por mais de três décadas os líderes eclesiásticos protegeram os autores de abusos e não os denunciaram à polícia. Não foram os únicos, e também ocorreram casos na Alemanha, Bélgica, Holanda e, mais recentemente, no Chile.

Uma das decisões mais emblemáticas de Bento XVI foi a de obrigar em maio de 2006 Marcial Maciel, o fundador da congregação mexicana Legionários de Cristo, falecido dois anos depois, a "renunciar de qualquer ministério público" e "a se retirar para uma vida de oração e penitência" pelas acusações de pedofilia contra ele.

Entre outras medidas, o Papa reforçou em 2010 as sanções contra a pedofilia com procedimentos acelerados para os casos mais urgentes, o aumento de dez para vinte anos do período de prescrição ou a condenação da pornografia infantil.

"O que ainda precisa ser feito é que todas as conferências episcopais sejam coerentes com esta linha do Papa, e com o próximo que vier. Será muito difícil voltar atrás pela grande pressão da opinião pública dentro e fora" da Igreja, afirma o espanhol Antonio Pelayo.

A Igreja católica latino-americana permanece "viva e dinâmica" ante uma paralisia na Europa e, por isto, oferece uma grande contribuição ao novo papado, afirmou neste domingo o cardeal Raymundo Damasceno, presidente da Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB).

"A Igreja na América Latina vive um momento muito especial, de entusiasmo missionário muito grande, que vai ao encontro das pessoas, nas periferias das cidades, em nossas comunidades", disse Damasceno à AFP.

A Igreja latino-americana está levando um "suplemento de vida" à Igreja na Europa, "que vive um processo de secularização muito forte e sofre uma crise de vocações religiosas", completou.

Damasceno, de 75 anos, que viajará na segunda-feira a Roma, onde permanecerá até a eleição de um novo Papa, é um dos 118 cardeais que integram a lista de possíveis sucessores de Bento XVI.

A lista inclui cinco brasileiros.

O presidente da CNBB considera "fundamental" que o novo papa seja uma pessoa "com experiência pastoral, aberto ao diálogo com o mundo contemporâneo e sensível aos problemas sociais" que o planeta enfrenta hoje.

A origem ou idade do novo pontífice não devem ser critérios definitivos.

"A Igreja latino-americana terá sua influência, mas não significa que terá que ser um papa de origem latino-americana ou caribenha", disse.

"Deus me pediu para dedicar-me à oração e à meditação", afirmou neste domingo o Papa Beto XVI para milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para sua última oração do Angelus como pontífice, mas ele explicou que não abandonará a Igreja.

"Neste momento de minha vida sinto que a palavra de Deus está dirigida a mim. O Senhor me chama a subir ao monte, a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação", disse um emocionado pontífice diante de 100.000 pessoas, que o interromperam várias vezes com aplausos e gritos de "obrigado".

"Se Deus me pede isto é justamente para que possa continuar servindo à Igreja com a mesma dedicação e amor como qual tenho feito até agora, mas de uma maneira mais adequada a minha idade e a minhas forças", explicou o Papa alemão, que em abril completará 86 anos.

O Papa, que deixará o pontificado em 28 de fevereiro, um gesto inédito na história recente da Igreja, recebeu o carinho da multidão reunida na praça, que exibia cartazes e faixas, incluindo uma escrita em italiano: "Querido Papa, vai fazer falta".

O Angelus foi pronunciado da sacada de seu aposento privado no palácio apostólico, como é comum nos meses de verão, pois no inverno costuma acontece na sala Paulo VI, que tem capacidade para 10.000 pessoas.

Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, mais de 100.000 pessoas compareceram à Praça de São Pedro, nada comparável com a multidão registrada por João Paulo II nos meses anteriores a sua morte em abril de 2005.

Como é habitual durante a saudação dominical, o Papa falou em vários idiomas para agradecer aos peregrinos, incluindo em português.

"Estaremos sempre perto", concluiu o pontífice.

"Vim para manifestar meu apoio e pedir a bênção", contou o seminarista brasileiro João Paulo, de 26 anos.

Centenas de voluntários ajudaram os peregrinos e turistas que compareceram à audiência histórica, que também coincide com um dia de eleições legislativas vitais na Itália.

Na quarta-feira, 27 de fevereiro, o pontífice presidirá a última audiência geral, que também acontecerá na Praça de São Pedro, um dia antes de sua renúncia.

Bento XVI partirá em 28 de fevereiro de helicóptero para Castelgandolfo, a 30 km de Roma, às 17H00 e às 20H00 (16H00 de Brasília) a renúncia ao papado será efetiva, explicou Lombardi.

Todos os atos do Papa previstos para depois de 28 de fevereiro foram anulados.

Mas a despedida está sendo acidentada. Nos últimos dias, a imprensa italiana divulgou escândalos e comportamentos pouco éticos na Cúria Romana que abalaram os quase oito anos de pontificado de Bento XVI.

Segundo o jornal La Repubblica e a revista Panorama, o Papa decidiu renunciar depois de receber um relatório secreto de 300 páginas, elaborado por três cardeais veteranos e considerados inatacáveis.

No documento, eles descreve lutas internas pelo poder e o dinheiro, assim como o sistema de chantagens internas baseadas nas fraquezas sexuais, o chamado "lobby gay" do Vaticano.

Ao contrário do habitual, o Vaticano reagiu no sábado com firmeza e criticou as "informações falsas", "boatos" e "calúnias" publicadas pela imprensa. Também afirmou que esta é uma manobra para "condicionar" o Conclave que escolherá o novo Papa.

Segundo a imprensa, o relatório foi entregue ao Papa em dezembro e havia sido encomendado pelo chefe da Igreja Católica após a explosão do escândalo "Vatileaks", o vazamento de cartas e documentos confidenciais do pontífice e que acabou com a condenação do mordomo de Bento XVI, que acabou perdoado posteriormente pelo pontífice alemão.

O Vaticano iniciou neste sábado uma verdadeira contraofensiva para rebater "informações falsas", "boatos" e "calúnias" publicadas pela imprensa sobre uma trama de corrupção, tráfico de influências e sexo na Cúria Romana, que seriam uma manobra para "condicionar" o Conclave que escolherá o novo Papa.

"Se no passado eram as chamadas potências, ou seja os Estados, que queriam condicionar a eleição do Papa, hoje se trata de envolver a opinião pública", lamenta em um comunicado pouco comum a Secretaria de Estado.

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"Através dos séculos, os cardeais tiveram que enfrentar múltiplas pressões na hora de eleger o pontífice por parte de diferentes poderes, enfrentando lógicas de tipo político e mundano", completa a nota da instituição vaticana presidida pelo cardeal Tarcisio Bertone.

Atualmente, "tenta-se alterar a opinião pública por meio de argumentos e avaliações que não percebem o sentir espiritual que a Igreja está vivendo", completa a nota.

"É deplorável que ao aproximar-se o início do Conclave (...) se multiplique a divulgação de notícias não verificadas nem verificáveis e inclusive falsas, que causam graves dano a pessoas e instituições", ressalta o comunicado.

Poucas horas antes, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, rebateu "a desinformação e, inclusive, as calúnias", sobre possíveis intrigas na cúpula da Santa Sé e a existência do chamado "lobby gay", denunciado pelo jornal La Repubblica, uma das publicações de maior tiragem no país.

"Há quem tenta aproveitar o movimento de surpresa e desorientação, após o anúncio de que o Papa Bento XVI abandonará seu cargo, para semear a confusão e desprestigiar a Igreja", declarou Federico Lombardi, em um editorial divulgado pela Rádio Vaticano.

"Aqueles que apenas pensam em dinheiro, sexo e poder, e estão acostumados a ver as diversas realidades com estes critérios, não são capazes de ver outra coisa, nem sequer na Igreja, porque seu olhar não sabe dirigir-se para cima ou descer com profundidade nas motivações espirituais da existência", completou com tom indignado.

As denúncias, publicadas pelo jornal La Repubblica e a revista Panorama, importantes publicações da Itália, afirmam que o Papa decidiu abandonar o cargo depois de receber um relatório secreto de 300 páginas, elaborado por três cardeais veteranos e considerados inatacáveis.

No documento são descritas as lutas internas pelo poder e o dinheiro, assim como o sistema de "chantagens" internas por conta do homossexualismo.

A contraofensiva do Vaticano coincide com a conclusão por parte do Papa Bento XVI da semana de retiro espiritual iniciada em 17 de fevereiro.

Para um grupo de cardeais, o Papa prometeu "a proximidade espiritual" após a formalização de sua renúncia, no dia 28 de fevereiro.

Com termos muito religiosos, o pontífice refletiu sobre "o maligno" e fez uma advertência sobre os "males deste mundo, o sofrimento e a corrupção".

A saída do Papa gerou reações em todo o mundo, em particular na Itália, onde começam a chegar os cardeais de todos os continentes que participarão em março na eleição do novo pontífice.

Segundo o La Repubblica e a Panorama, o relatório foi entregue ao Papa em dezembro e havia sido encomendado pelo chefe da Igreja Católica após a explosão do escândalo "Vatileaks", o vazamento de cartas e documentos confidenciais do pontífice.

O cardeal e ex-arcebispo de Los Angeles Roger Mahony, acusado de ter acobertado o escândalo envolvendo padres pedófilos, pode ser aconselhado a não viajar a Roma para participar do conclave que irá eleger o próximo Papa.

A afirmação foi feita pelo cardeal italiano Velasio de Paolis em entrevista ao jornal Reppublica.

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O Papa Bento XVI anunciou que sua renúncia ao cargo em 28 de fevereiro. O conclave será convocado na primeira metade do mês de março para escolher seu sucessor.

"É possível que aconselhemos Mahony a não vir, mas deve vai se tratar de uma intervenção privada da parte de alguém com grande autoridade", afirmou o cardeal De Paolis, especialista em direito canônico.

"A prática comum é recorrer à persuasão. Não podemos fazer mais para eventualmente dissuadi-lo de ir votar", declarou o cardeal De Paolis falando de uma "situação desconcertante".

"Mas as regras em vigor devem ser cumpridas e o cardeal Mahony tem o 'direito-dever' de participar e votar no próximo conclave", acrescentou o cardeal De Paolis, que é jurista, presidente emérito da delegacia de casos econômicos e comissário papal para os Legionários de Cristo.

"Por último, é sua consciência que vai decidir se ele deve vir ou não", estimou ainda o cardeal De Paolis, julgando improvável que o Papa Bento XVI venha a se envolver neste caso.

O sucessor do cardeal Mahony à frente da arquidiocese de Los Angeles, Monsenhor José Gomez, o retirou de todas suas antigas funções "administrativas e públicas". O ex-arcebispo (no posto até 2011) é acusado de ter acobertado dezenas de padres acusados de pedofilia na década de 1980.

Uma associação de católicos americanos, a Catholics United, enviou uma petição na semana passada para se opor à participação de Mahony no conclave.

"Prezado cardeal Mahony,fique em casa", pede a petição on-line. "Sua participação em escândalos de pedofilia da Igreja e sua proibição de liderar um ministério pela arquidiocese de Los Angeles deveria ser, para você, uma indicação de que você não deve participar do próximo conclave", diz a petição.

Em 2007, a arquidiocese de Los Angeles, então comandada pelo cardeal Mahony, aceitou pagar 660 milhões de dólares a 500 supostas vítimas.

O acordo previa também a publicação de dossiês pessoais de padres acusados de abuso.

Documentos comprometedores publicados pela imprensa mostravam trocas confidenciais entre Roger Mahony e um alto conselheiro, onde refletiam sobre os meios para impedir que os padres pedófilos caíssem nas mãos da polícia.

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