Chegou ao fim nesta quinta-feira uma das mais vitoriosas carreiras do judô brasileiro. Bicampeão mundial da categoria meio-leve (até 66kg), em 2005 e 2007, João Derly se aposentou dos tatames nesta noite, em evento que reuniu amigos, companheiros, e uma "seleção das Américas" no clube que defendeu por toda a carreira, o Sogipa, de Porto Alegre. Na última luta, o judoca venceu o costa-riquenho Murilo Ozman, num rápido ippon.
Primeiro brasileiro a ser campeão mundial de judô - e também o primeiro a ser bicampeão -, João Derly encerra a carreira sem nenhuma medalha olímpica e com o corpo desgastado por uma série de lesões nos últimos anos. Ele, porém, não considera que as seguidas contusões foram um adversário em sua trajetória no judô.
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"Acho que o meu corpo estava me dizendo que estava chegando a hora de parar. Às vezes, nós temos que ouvir o nosso corpo e não adianta tentar passar por cima dele. Não tenho mais idade para isso. Comecei a ter lesões mais sérias, então acho que isto era um aviso", disse Derly.
Ainda garoto, aos 7 anos, depois de um ano praticando judô no seu colégio, Derly ingressou na Sogipa. Aos 15, ele já era campeão brasileiro adulto. Promessa do judô brasileiro, foi campeão mundial júnior em 2000 e virou realidade. Em 2001, terminou em sétimo o Mundial adulto de Munique.
Depois de ir mal nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003, resolveu mudar de categoria, passando do ligeiro (até 60kg), para o meio-leve. Perdeu a seletiva para Henrique Guimarães e ficou de fora dos Jogos de Atenas.
Sua melhor fase começou em 2005, com o título mundial no Cairo (Egito). No ano seguinte, porém, passou pela primeira cirurgia, no ombro. Em 2007, faturou o bicampeonato mundial e o ouro no Pan do Rio. Chegou a Pequim como favorito, grande nome do judô brasileiro. Mas falhou na segunda rodada, derrotado por Pedro Dias.
A partir daí começou o calvário de lesões. Em 2009, rompeu os ligamentos cruzados e o menisco no joelho esquerdo. Só voltou em 2011, mas logo foi o outro joelho que apresentou os mesmos problemas. Ao retornar, já não havia mais como passar Leandro Cunha no ranking mundial.
A decisão por se aposentar veio no início do ano. O plano, porém, era parar depois do Mundial de 2013, mas o fim da carreira acabou sendo antecipado - ele pretende se aventurar na política. De qualquer forma, ele pensa em continuar acompanhando e incentivando o judô brasileiro.
"Eu já tenho um projeto social desde 2005. Ali eu me realizo muito, vendo a gurizada amadurecer e crescer em competições. Mas não só dentro do tatame. O projeto se chama Instituto Podium exatamente por isso, para criar vencedores fora do esporte. O pódio do esporte é seletivo - primeiro, segundo e terceiro lugares - mas no pódio da vida cabe muito mais gente. Quero ser um grande motivador dessa gurizada", avisou Derly.
Ao se despedir, emocionado, distribuiu agradecimentos e prometeu seguir ligado ao esporte. "Eu tenho que agradecer a algumas pessoas, a meus pais, meus irmãos, família, esposa, pessoas que fizeram parte de toda minha carreira, minhas conquistas. Aos meu amigos, colegas de treino, alguns aqui, outros na arquibancada, ao meu professor Kiko, a esse clube maravilhoso, que toda minha carreira sempre me deu suporte, condições de treino. Acabou a competição, mas tem muito esporte ainda na minha vida", prometeu.