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Um jornal chinês apresentou neste domingo um pedido de desculpas na primeira página por ter defendido um de seus repórteres, que está preso por ter informado os problemas financeiros de um grande grupo industrial, novo episódio na polêmica sobre os meios de comunicação na China.

O jornal Xinkuaibao, publicado em Ghangzhou (sul), defendeu durante a semana o repórter Chen Yongzhou, em um raro gesto de desafio da imprensa chinesa. Chen havia sido detido alguns dias antes como suspeito de ter prejudicado a reputação de uma empresa".

Neste domingo (27), o jornal desautorizou o repórter. "Este jornal não foi suficientemente rigoroso no controle dos fatos denunciados na primeira versão da matéria", afirma, mas no canto da primeira página e com caracteres pequenos.

"Depois do incidente, o jornal adotou medidas inadequadas que afetaram muito a confiança pública nos meios de comunicação", acrescenta.

No sábado, o canal de televisão estatal CCTV exibiu um depoimento do repórter, com o uniforme verde de detento, no qual afirmava ter "fabricado" textos e admitia ter cometido erros e mostrava arrependimento.

Nas imagens, muito bem editadas, o jornalista de 27 anos também afirmava ter "atuado por cobiça", mas que estava "dividido entre o interesse pessoal e a ética profissional".

Este ano caminha para ser um dos mais violentos para os profissionais de imprensa do País, por causa dos casos relacionados à cobertura jornalística das manifestações de junho. O Relatório para a Liberdade de Imprensa 2012-2013, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), mostra que de outubro de 2012 a setembro de 2013, foram registrados 136 casos de ameaças, atentados e agressões, censura judicial e assassinatos contra jornalistas no exercício da profissão, crescimento de 172% em relação aos 50 casos verificados nos 12 meses encerrados em setembro de 2012.

O relatório 2012-2013 contabiliza cinco mortes. No relatório anterior, foram registrados seis casos de assassinato. Mas os casos de hostilidade à imprensa durante os protestos que tomaram as cidades brasileiras a partir de junho, sobretudo agressões e intimidações, contribuíram para elevar as ocorrências monitoradas pela Abert. Os casos relacionados às manifestações mereceram registro à parte no relatório.

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"Infelizmente, 2013 ficará marcado como um ponto negro, pelo aumento explosivos do ocorrências", afirma o presidente da Abert, Daniel Slaviero. "Quando um profissional é impedido de fazer seu trabalho, a maior prejudicada é a sociedade", completa. No relatório, a Abert chama a atenção para o caráter histórico das manifestações e para a diversidade das reivindicações, mas critica a hostilidade contra a imprensa, com "agressões e intimidações à população e a jornalistas, além de atos de vandalismo contra veículos de comunicação".

"Em sua maioria, a violência contra profissionais de imprensa partiu de grupos minoritários de manifestantes, de vândalos e de policiais", diz a introdução do documento. Nesta terça-feira, 15, o relatório da Abert será lido na 43.ª Assembleia Geral da Associação Internacional de Radiodifusão (AIR), que vai até quinta-feira, 17, no Rio, e será aberta nesta segunda-feira, 14. De acordo com Slaviero, vice-presidente do Comitê Permanente de Liberdade de Expressão da AIR, o aumento do número de casos contra a liberdade de imprensa no Brasil serve de exemplo internacional.

"Isso mostra aos outros países que é preciso haver vigilância permanente, pois os casos podem ocorrer em qualquer país, mesmo nas democracias", diz o presidente da Abert. O mesmo vale para o Brasil. Por um lado, o fato de as agressões a jornalistas durante os protestos terem partido tanto de grupos minoritários de manifestantes como de policiais sugerem que a liberdade de imprensa é um valor menos solidificado na sociedade do que se pensava. Por outro, demonstra que essas liberdades não são valores absolutos, atingidos plenamente.

"Apesar de ser um valor enraizado na sociedade, as liberdades de expressão e de imprensa são um processo, que precisa de consolidação e vigilância permanente, para não haver retrocessos", completa Slaviero, chamando atenção para os quatro casos de censura prévia assegurada em por decisões judiciais como foco de preocupação.

A Organização para as Nações Unidas – ONU – comemorou, há algumas semanas, o Dia Mundial para a Liberdade de Imprensa. A data, que poderia ser de festa, foi de denúncia. Nos últimos tempos, centenas de jornalistas foram assassinados em todo o mundo, a maioria deles em países que estão vivendo situação de conflito, como a Síria, Somália, México e Honduras. Nos últimos dez anos, 600 profissionais foram mortos, silenciados por agressores que, em sua maioria absoluta, não foram responsabilizados por esses crimes. No Brasil, apesar de não estarmos em guerra, este ano já foram assassinados quatro profissionais de Comunicação, o que eleva o país ao terceiro lugar nesse ranking macabro. Além desses profissionais, ainda há outros sete nomes de radialistas e pequenos empresários do ramo da Comunicação que foram, igualmente, mortos. No ano passado, foram onze crimes, quase o dobro de 2011, quando desapareceram seis outros colegas. Desde 2008, 22 profissionais foram mortos.

“O quadro é de perplexidade e indignação”, considerou o senador José Sarney (PMDB-AP) ao analisar o atual estágio alcançado pela violência no País. “Embora o Brasil tenha apenas 3% da população mundial, aqui ocorrem 12% dos homicídios. Os cerca de 50 mil assassinatos por ano equivalem a 26 assassinatos por 100 mil habitantes, quando nos países desenvolvidos, essa relação é de 2 para 100 mil. É de se ressaltar que expressivo número de processos de investigação instaurados vai a arquivo, sem apresentar resultados”.

Em recente audiência no Congresso, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Celso Schröder, denunciou que em outros países a violência contra profissionais é mais comum na cobertura de guerras e conflitos. No Brasil, 60% dos crimes são contra jornalistas que atuam nas editorias de Política. Nessa mesma linha, a representante da categoria no Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, Maria José Braga, defendeu a federalização desses crimes, ou seja, que as investigações, que na maioria das vezes não chegam a nenhuma conclusão, passem a ser feitas pela Polícia Federal. “Uma das motivações dos crimes contra os profissionais da comunicação é a impunidade”, disse. “Uma investigação mais isenta, fora dos interesses locais, com o objetivo de reduzir a impunidade reinante no País, quando se trata de crimes contra esses profissionais. Em vários casos, estão envolvidos policiais civis ou militares.”

Pelo menos 22 jornalistas foram mortos pelo governo durante a ditadura de 1964 a 1985. Tentar colocar ponto final em uma discussão política com o assassinato do jornalista denunciante é recurso que não deveria ser tolerado em um Brasil que pretende ingresso no Primeiro Mundo. A crítica a autoridades e outras esferas políticas não deveria ser encerrada com o argumento, no passado, da tortura, hoje, da bala.

O Brasil se encontra, junto com o Equador, em uma reduzida lista de dez países do mundo onde a liberdade de imprensa corre perigo, elaborada pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, em inglês).

O CPJ divulgou nesta quinta-feira em Nova York seu relatório anual "Ataques à Imprensa" no qual denuncia "um aumento sem precedentes no número de jornalistas assassinados e presos no último ano" e uma "legislação restritiva e censura estatal" que colocam em risco o jornalismo independente.

Quanto à lista de "Países em Risco", que identifica os 10 Estados do mundo onde a liberdade de imprensa enfrentou maiores perigos em 2012, o Comitê incluiu Equador, Brasil, Síria, Somália, Irã, Vietnã, Etiópia, Turquia, Paquistão e Rússia.

Para produzir a lista, o CPJ examinou seis indicadores de liberdade de imprensa: mortes, prisões, legislação restritiva, censura estatal, impunidade nos ataques contra a imprensa e quantidade de jornalistas exilados.

No caso do Brasil, o Comitê denunciou os "altos índices de assassinatos e impunidade" arraigados no país, assim como um "padrão de censura judicial".

"Os obstáculos no Brasil são, em particular, alarmantes, dada a sua condição de líder regional e sede de uma vasta e diversa rede de meios de comunicação", afirmou a escritora Karen Phillips no site do CPJ.

Em dezembro passado, o Comitê havia constatado a "preocupante alta" dos casos de jornalistas mortos de maneira violenta no Brasil, que registrou em 2012 quatro casos, seu maior número em mais de uma década.

Sobre o Equador, o outro país latino-americano incluído na lista, o CPJ denunciou o "uso de leis restritivas para silenciar a dissidência" por parte do governo do presidente Rafael Correa.

O relatório lembra o caso dos jornalistas Christian Zurita e Juan Carlos Calderón, autores do livro "El gran hermano" sobre o suposto enriquecimento da família de Correa e considerados culpados de difamar o presidente, o que lhes custou uma milionária condenação por perdas e danos.

Embora Correa tenha posteriormente os indultado, o CPJ afirmou que o presidente equatoriano cumpriu "com sua meta de intimidar a imprensa nacional".

O CPJ é uma organização independente baseada em Nova York e que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto afirmou que, por ser um direito pleno, a liberdade de imprensa e de expressão não permite regulamentações por parte do Estado nem pode ser objeto de emenda constitucional. "É uma expressão dos direitos e garantias individuais, o que é uma cláusula pétrea, que não pode ser mudada nem por emenda à Constituição", afirmou ele.

Britto participou nesta quarta-feira (5) da cerimônia de lançamento do livro "Sete anos de debates", editado pelo Instituto Palavra Aberta, que trata de todas as conferências legislativas sobre liberdade de expressão realizadas de 2006 até agora. Também falaram, durante a cerimônia, Patrícia Blanco, presidente executiva do Palavra Aberta; José Roberto Whitaker Penteado, diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); e o deputado Milton Monti (PR-SP), presidente da Frente Parlamentar da Comunicação Social.

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Ayres Britto contou que depois de sua aposentadoria, no mês passado, participou de seis debates sobre a liberdade de expressão. Em todos eles afirmou que, por decisão do STF, a liberdade é plena. Portanto, entre ela e o cidadão o Estado não pode se intrometer nem mesmo na criação de um Conselho de Jornalismo, como quis fazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2004, Lula mandou ao Congresso proposta criando o Conselho. Foi criticado por querer controlar os meios de comunicação e teve de retirar a proposta.

"O conteúdo da expressão é insusceptível de normatização pelo Estado", insistiu Ayres Britto. "Quanto às questões periféricas e laterais, essas podem ser modificadas por lei. Entre elas estão o direito de resposta, indenização, os crimes penais como calúnia, injúria e difamação". Ayres Britto contou ainda que nos debates dos quais participou depois de sair do Supremo notou forte interesse da sociedade pelo trabalho do Judiciário. Disse que o julgamento do processo do mensalão - transmitido pela TV - pode ter contribuído para isso. "O cidadão notou que o Supremo está levando a Constituição para o meio da sociedade, está fazendo a Constituição cair na real."

Whitaker disse que a ESPM decidiu manter o curso de Jornalismo mesmo depois que o STF decidiu que a antiga Lei de Imprensa era inconstitucional, acabando com a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. "Não havendo a obrigatoriedade do diploma sempre haverá a obrigatoriedade da competência". Já o deputado Milton Monti afirmou que é preciso sempre estar vigilante para preservar a liberdade de imprensa e expressão. "Assim como nos organizamos, o outro lado (contrário à liberdade), também se organiza", afirmou ele.

A presidente Dilma Rousseff comemorou hoje, durante a cerimônia do 17º Prêmio Direitos Humanos, no Palácio do Planalto, o direito às divergências no País e a liberdade de imprensa. "O Brasil devorou, digeriu todos esses artifícios autoritários, e conseguiu construir uma democracia. Nós temos de nos orgulhar disso. Somos um país em que divergir não é mais sinônimo de exceção. É possível divergir no nosso país, é possível liberdade de imprensa com as suas características. Eu inclusive disse durante a campanha eleitoral que eu preferia o barulho às vezes extremamente dolorido da imprensa livre do que o silêncio das ditaduras", discursou Dilma, sob fortes aplausos.

Dilma ressaltou também que os regimes de arbítrio e de exceção provocam "efeitos duradouros sobre a sociedade". "Além das vítimas dos processos ditatoriais, como nós conhecemos aqui no Brasil, (esses regimes) também deixam marcas muito fortes em atitudes arbitrárias, inclusive do poder público, em relação à sociedade", afirmou.

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Ao final da cerimônia, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que o governo está preparando todas as bases necessárias para a instalação da Comissão da Verdade. A comissão pretende "examinar e esclarecer" as violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, sendo composta por sete membros indicados pela presidente da República. "Não temos prazos instituídos, mas em 2012 com certeza teremos a Comissão da Verdade funcionando no Brasil", informou.

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