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O Vaticano criticou a decisão da Congregação das Missionárias da Caridade de registrar o sári da Madre Teresa de Calcutá, a ponto de o Papa Francisco poder se pronunciar a respeito.

"Santa Madre Teresa de Calcutá é um símbolo universal, amada pelos fiéis, os não crentes, os que acreditam de forma distinta", declarou o cardeal José Saraiva Martins, de 85 anos, ex-prefeito da Congregação das Causas para os Santos, depois de ficar sabendo dos planos as Missionárias da Caridade.

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As autoridades indianas deram permissão para que as Missionárias registrem os direitos de imagem do sári da religiosa, uma medida inédita que fará com que qualquer pessoa que use o sári, no formato que for (fotos, filmes, livros, etc) da religiosa, terá de pagar pelos direitos.

"É um absurdo que se tenha de pagar pelo uso da imagem de seu sári branco com barras azuis", protestou Martins.

Vários outros religiosos expressaram a mesma revolta no Vaticano.

Convertido no "uniforme" das Missionárias da Caridade em todo o mundo, o sári de Madre Teresa é branco (símbolo da pureza) com três barras azuis que representam a pobreza, a castidade e a obediência.

Quando o papa Francisco canonizar a madre Teresa no domingo (4), albaneses e macedônios vão celebrar a nova santa, disputada pelos dois países, em uma discussão tão complexa quanto a História dos Bálcãs.

Por trás dessa batalha, subjazem as rivalidades étnicas e de identidade nacional entre albaneses e eslavos na região onde nasceu a religiosa dos pobres.

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País de maioria muçulmana, a Albânia batizou seu aeroporto, um dos principais hospitais e uma praça em Tirana com o nome da freira. Uma escultura da religiosa domina - do lado albanês - o lago Ohrid, que separa ambos os países.

Na Macedônia, país de maioria ortodoxa, onde há uma forte minoria de albaneses, uma autoestrada e um hospital levam seu nome. Já a casa onde a missionária nasceu foi transformada em museu. A instituição recebe a visita de cerca de 500 pessoas por dia.

Kadare entra no debate

De nome secular - Agnes Gonxha Bojaxhiu -, madre Teresa nasceu em 26 de agosto de 1910, em Uskub (atual Skopje), uma cidade multicultural do Império Otomano. Skopje é, hoje, a capital da Macedônia, mas pertencia à Albânia. Sua mãe era uma albanesa, de uma família de Kosovo.

Já a origem de seu pai até hoje não está tão clara. Ele faleceu quando a religiosa ainda era criança. Os albaneses alegam que ele seria um dos seus, enquanto na Macedônia há os que sustentem a tese de que pertencia aos "valacos", um povo eslavo ortodoxo dos Bálcãs.

"A madre Teresa nasceu em Skopje, mas nunca é designada como macedônia", disse o historiador albanês Moikom Zeqo.

Ela "sempre falou de suas origens albanesas e de sua missão universal", completou o especialista.

Os macedônios preferem fazer referência ao lugar onde ela nasceu, Skopje.

"Sabemos que é uma das nossas", defendeu a diretora da Comissão Nacional de Comunidades Religiosas da Macedônia, Valentina Bozinovska.

Madre Teresa deixou sua terra natal no final da década de 1920 para seguir o noviciado na Irlanda. Depois, partiu para a Índia, em 1929. Desde então, a Segunda Guerra Mundial, a desintegração da Iugoslávia e os conflitos da década de 1990 convulsionaram a região dos Bálcãs.

Sua mãe e sua irmã deixaram Skopje para viver em Tirana na década de 1930, mas a religiosa foi proibida de entrar no país durante a ditadura comunista de Enver Hoxha. Pôde voltar apenas em 1989, quatro anos após a morte do ditador e um ano antes da queda do comunismo, para visitar o túmulo de seus entes queridos.

"A pessoa célebre pertence a toda a humanidade, mas também tem raízes, uma nação à qual estão vinculados por laços de sangue", disse à AFP o escritor albanês Ismail Kadare.

Uma cidadã indiana

Para Maja Vaneska, uma macedônia de 28 anos, "ela nasceu aqui, foi criada aqui, viveu aqui, brincou com os amigos no lugar onde estamos. É um fato que é de Skopje".

Nesse país, estão previstas várias atividades para celebrar sua beatificação, entre elas uma missa em 11 de setembro, com um enviado do papa. Além disso, o Banco Central vai cunhar uma moeda em sua homenagem.

Antes de sua morte em 1997, a religiosa visitou o país quatro vezes.

Para Valentina Bozinovska, a religiosa é um símbolo da "unificação cultural", em um país em que pelo menos 25% da população é albanesa.

Nas palavras da própria madre: "por sangue, sou albanesa; por minha nacionalidade, sou indiana. Por minha fé, sou uma religiosa católica. Em relação ao que foi meu chamado, eu pertenço a este mundo. E, no que diz respeito ao meu coração, pertenço inteira ao coração de Jesus", escreveu.

Quando a Albânia reivindicou seus restos mortais, Nova Délhi respondeu apenas que a religiosa "descansava em seu país, em sua terra".

A polêmica desagrada à diretora do Memorial de Skopje, Renata Kutera Zdravkovska, que destaca o legado da religiosa.

"Acho que ela estaria realmente incomodada com esse tipo de debate", lamentou.

A madre Teresa, que será canonizada no domingo (4) no Vaticano, era o "anjo dos pobres" para alguns, mas outros consideram que defendia métodos arcaicos, que agravavam o sofrimento de muitos. A cerimônia na Praça de São Pedro de Roma será uma celebração para milhões de católicos de todo o mundo, mas para Gautam Lewis este dia será especial pelo afeto que tem pela nova santa.

Aos dois anos, este órfão de Calcutá contraiu poliomielite e foi acolhido pela religiosa. Ele a considera "sua segunda mãe". "A madre Teresa me levava à igreja todos os domingos e supervisionava pessoalmente todo o meu tratamento quando tinham que me operar e a reabilitação da pólio", contou à AFP Lewis, que agora vive em Londres.

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"Lembro-me que me sentia muito protegido com sua presença", afirmou o motorista de 39 anos, que viajará a Calcutá, no leste da Índia, para celebrar a canonização. Por sua vez, o arcebispo da cidade, Thomas D'Souza, espera que a cerimônia ajude a manter a obra da madre Teresa.

"Estimamos que a elevação da madre Teresa ao status de Santa será um novo impulso para sua obra de caridade", disse. Mesmo antes de sua morte, em 1997, a religiosa vestida com seu tradicional sari branco bordado em azul era considerada uma santa.

Mas foi depois que o Vaticano lhe atribuiu um segundo milagre - a cura em 2008 de um brasileiro que sofria de múltiplos tumores cerebrais - que os requisitos para uma canonização se cumpriram.

- Glorificação da dor? -

Mas também há opositores que denunciam as deploráveis condições de higiene dos centros de acolhida fundados pela missionária, as negligências médicas e a conversão forçada dos moribundos. "Seu objetivo final era divulgar sua religião a qualquer preço", declarou à AFP Aroub Chatterjee, um médico bengalês que publicou em 2003 um livro no qual critica a religiosa.

"Converter um moribundo, que está inconsciente, é um comportamento muito baixo, é especialmente repugnante", disse, ressaltando que a madre Teresa o reproduzia "em escala industrial".

Um dos principais opositores da religiosa, o jornalista de origem britânica Christopher Hitchens, já morto, sustentava que ela agravava os sofrimentos dos pobres por sua oposição inflexível à contracepção e ao aborto.

Hitchens, que realizou o documentário "O anjo do inferno", afirmava que a madre Teresa negava aos pacientes cuidados básicos, já que estimava que o sofrimento os aproximava de Deus.

- Sofrimento e pobreza -

Muitos ex-voluntários disseram que nestes centros de acolhida o sofrimento e a pobreza eram glorificados. Os locais também foram acusados de não fornecer cuidados mínimos, apesar dos milhares de dólares recebidos em doações.

Depois de ter sido voluntária há oito anos nas missões fundadas pela madre Teresa, a americana Hemley Gonzalez fundou sua própria ONG em Calcutá, por suas divergências com a organização. Diz ter visto as freiras lavando as seringas com água da torneira para reutilizá-las ou ter sido criticada por cortar o cabelo dos moribundos, já que, de qualquer forma, eles tinham pouco tempo de vida.

Desde a morte de sua fundadora, a rede das Missionárias da Caridade, criada em Calcutá em 1950, cresceu fortemente. Agora administra um total de 758 centros em 139 países, com cerca de 5.000 religiosas trabalhando.

Mas a falta de transparência de seu financiamento e da gestão do dinheiro que recebem de doações também foram questionados pelos opositores deste grupo. Para sua porta voz, Sunita Kumar, estas acusações são estúpidas. "O objetivo da madre Teresa não era construir hotéis cinco estrelas, era ajudar os pobres", indicou.

Passados quase 20 anos, a indiana Monica Besra descreveu como a "luz ofuscante" de uma fotografia de madre Teresa a curou de um câncer, um dos dois milagres reconhecidos pelo Vaticano para a canonização da missionária.

Em 5 de setembro de 1998, dia do primeiro aniversário da morte da mulher que se converteu no símbolo dos pobres de Calcutá (leste da Índia), Besra lutava há tempos contra um tumor ovariano.

Exausta pela doença, a integrante da tribo dos Santsal, do estado de Bengala Ocidental, estava sendo atendida em um centro das Missionárias da Caridade, ordem fundada pela religiosa de origem albanesa madre Teresa.

"Duas irmãs me transportaram até a igreja porque eu estava muito fraca para me levantar e caminhar sozinha", conta Monica Besra à AFP, em sua aldeia de Harirampur, a 300 km de Calcutá. "Mal entrei, uma luz cegante, divina, saiu da fotografia de madre Teresa e me envolveu. Fechei os olhos, não entendia o que se passava. Era indescritível".

Duas freiras colocaram sobre seu estômago uma pequena medalha de alumínio abençoada por madre Teresa e rezaram pela cura da doente. Ao final de algumas horas, a mãe de cinco filhos despertou e foi tomar banho, algo geralmente muito doloroso para ela.

"Eu me levantei da cama me sentindo leve e bem. Olhei para baixo e vi que o inchaço havia desaparecido. Não podia acreditar. Toquei meu estômago, apertei, belisquei. Havia desaparecido. Não estava sonhando". O Vaticano considera sua cura milagrosa, o que permitiu a beatificação de madre Teresa em 2003 na praça de São Pedro de Roma. Besra estava lá para a ocasião.

No ano passado, o papa atribuiu um segundo milagre à Nobel da Paz, a cura em 2008 de um brasileiro que padecia de tumores cerebrais múltiplos, com o que eram cumpridos os requisitos para uma canonização.

- 'Fictício' -

O relato de Monica Besra causa estupor entre os médicos que a atenderam, para quem não se trata de milagre. O tumor estava em uma fase precoce de desenvolvimento e respondeu ao tratamento, protestam.

"A senhora Besra se livrou de seu tumor graças aos medicamentos muito fortes e vários dias de tratamento", declarou, em 2002, o ex-ministro da Saúde do estado de Bengala Ocidental, Partho De. "Não quero faltar com respeito à madre Teresa, mas é uma deformação da verdade dizer que foi um milagre dela", afirmou na ocasião.

Em Calcutá, Prabir Ghosh, secretário geral da Associação do Pensamento Racionalista e Científico indiana, contesta a dimensão milagrosa da história de Besra. "Os milagres atribuídos à madre Teresa para sua canonização são completamente fictícios. As Missionárias da Caridade falsearam os fatos", denunciou.

A ordem de madre Teresa prefere não se pronunciar a respeito. Besra tem consciência das críticas, mas pouco se importa. "Madre Teresa realiza milagres apenas para quem acredita e eu sempre acreditei", conclui.

No domingo, o mundo vai ganhar uma nova santa: Roma se prepara para a canonização de Madre Teresa de Calcutá. A vencedora do Nobel da Paz de 1979, morta há quase 20 anos, deixou uma congregação com milhares de seguidores e um legado de paz e caridade. Assista à reportagem no vídeo:

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O papa Francisco certificou o milagre necessário para santificar Madre Teresa de Calcutá, informou o Vaticano nesta sexta-feira. Com isso, a religiosa que cuidou dos mais pobres receberá a maior honra da Igreja Católica apenas duas décadas depois de sua morte, tornando-se uma santa.

Francisco aprovou um decreto atribuindo um milagre à intercessão de Madre Teresa durante uma audiência na quinta-feira, quando o pontífice cumpriu 79 anos, informou o Vaticano. Não foi fixada uma data para a canonização, mas a imprensa italiana especula que ela poderia acontecer na primeira semana de setembro do próximo ano, para coincidir com o aniversário da religiosa, em meio ao ano santo da misericórdia decretado pelo papa.

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Ganhadora do Nobel da Paz, Madre Teresa morreu em 5 de setembro de 1997, aos 87 anos. Na época de sua morte, a ordem dela, as Missionárias da Caridade, tinha 4 mil freiras, que comandavam quase 600 orfanatos, abrigos e clínicas pelo mundo.

O papa Francisco conheceu Madre Teresa, quando ambos participaram do sínodo do Vaticano em 1994. Na ocasião, o hoje pontífice era arcebispo. Jorge Mario Bergoglio viu nela uma mulher forte, capaz de dar um testemunho corajoso em meio à assembleia de bispos, lembrou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. "Eu teria medo de tê-la como minha superior, já que ela era tão dura", lembrou o pontífice.

Nascida na Macedônia como Agnes Gonxha Bojaxhiu em 1910, a religiosa foi beatificada em 2003, em Roma, após o Vaticano dizer que as orações de uma indiana à freira livraram a mulher de um tumor considerado incurável. O milagre necessário para a canonização é relativo à cura inexplicável em 2008 de um homem no Brasil, que havia ficado um dia em coma, segundo o jornal italiano católico Avvenire. O Vaticano aceitou que as orações da mulher do paciente pela intercessão de Madre Teresa foram responsáveis pela cura. Fonte: Associated Press.

O Papa Francisco, que visitou no domingo (22) a Albânia, brincou sobre o caráter forte de Madre Teresa, figura nacional, dizendo: "Eu teria medo se ela fosse minha superiora". Jorge Mario Bergoglio conheceu a famosa religiosa do sari branco com bordado azul no Sínodo dos Bispos sobre a Vida Consagrada de 1994 em Roma, três anos antes de sua morte.

De acordo com Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, Francisco lembra de ter "admirado a força, o caráter decisivo das intervenções" de Madre Teresa, que não se deixou "impressionar pela Câmara dos Bispos". "Ela dizia o que queria dizer", declarou o papa ao padre que atuou como seu intérprete na Albânia, afirmando que a religiosa o teria dado "medo" se tivesse sido sua superiora, informou o padre Lombardi à imprensa.

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Para sempre associada com a Índia e a cidade de Calcutá, onde fundou a Congregação das Missionárias da Caridade, Madre Teresa nasceu em Skopje (Macedônia) em uma família albanesa. Na Albânia, aeroportos, hospitais, escolas e ruas carregam o nome desta missionária beatificado em 2003, símbolo do diálogo e da tolerância, apesar de um caráter tenaz e, por vezes, difícil de lidar.

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