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O programa Pátria Voluntária, liderado pela primeira dama Michelle Bolsonaro, teria recebido do governo federal o valor de R$ 7,5 milhões que deveriam ter sido usados na compra de testes rápidos de Covid-19. Segundo o jornal Folha de São Paulo, a doação, feita por uma empresa da iniciativa privada, acabou tendo seu destino alterado em pleno auge da pandemia no Brasil. 

De acordo com reportagem da Folha, a Marfrig, uma das maiores empresas no segmento frigorífico no país, teria doado o valor ao Ministério da Saúde para a compra de 100 mil testes rápidos do novo coronavírus. O montante, no entanto, acabou sendo desviado para o programa Arrecadação Solidária (vinculado ao projeto da primeira dama), que por sua vez repassou os recursos à instituições missionárias evangélicas aliadas da ministra Damares Alves, para a compra de cestas básicas. 

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Ainda segundo a publicação, a Mafrig afirmou ter recebido, no dia 20 de maio, uma comunicação oficial da Casa Civil informando que os valores doados deveriam ser depositados em uma conta da Fundação do Banco do Brasil, gestora dos recursos do Pátria. O comunicado dava conta de que os recursos seriam empregados na compra de testes de Covid-19. Porém, no dia 1º de julho, o governo contatou a empresa questionando sobre o desvio da doação para outras ações de combate aos efeitos socioeconômicos da pandemia, o que foi acatado. 

O Pátria Voluntária foi criado com objetivo de estimular o voluntariado e o crescimento do terceiro setor. Criado em julho de 2019, o programa comandado por Michelle Bolsonaro já gastou R$ 9 milhões dos cofres públicos em publicidade. Segundo a Folha, a Casa Civil foi procurada para dar esclarecimentos quanto as doações da Mafrig mas não se pronunciou. 

O sonho do Marfrig de conquistar o varejo terminou na segunda-feira, 30, com o repasse oficial da Seara ao rival JBS. Com o negócio fechado em junho, o Marfrig abriu mão de um terço de sua receita e se viu livre de R$ 5,85 bilhões em dívidas. O endividamento líquido deve ser reduzido a R$ 5,7 bilhões, ou 3,4 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), no terceiro trimestre.

A decisão de reduzir o tamanho do Marfrig veio no fim do primeiro trimestre deste ano. Castigado por um endividamento líquido de quase R$ 10 bilhões, a empresa se viu obrigada a abrir a possibilidade de vender qualquer um de seus principais ativos para fazer caixa. Segundo o presidente do grupo, Sergio Rial, todas as hipóteses foram analisadas. Entraram na lista a Seara, a operação europeia Moy Park e a Keystone Foods, que fornece para redes fast-food ao redor do mundo e tem o McDonald’s como o principal cliente.

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Após negociações em abril e maio, o Marfrig optou por repassar a Seara para a JBS sem receber um centavo, mas livrando-se de um fardo pesado de obrigações. No entanto, mesmo após o anúncio da operação, o grupo continuou a ser alvo da desconfiança do mercado. Desde o dia 10 de junho, quando o acordo foi firmado, as ações do Marfrig caíram mais de 20% na Bovespa. Fontes de mercado diziam que o ajuste seria insuficiente e que o Marfrig teria de continuar o processo de “desmonte” para ser viável financeiramente.

Fatiamento

É justamente essa informação que tanto o presidente do Marfrig quanto o fundador Marcos Molina negam com veemência. Segundo eles, a temporada de vendas está encerrada. Eles dizem que a Seara foi repassada ao JBS porque era o ativo que mais contribuía para a queima de caixa.

Na tentativa de tornar a Seara mais relevante, o grupo fez de tudo: comprou patrocínio da Copa do Mundo, lançou novos produtos e até adotou marcas herdadas da BRF. A participação de mercado cresceu em alguns segmentos, mas à custa de um ritmo de investimentos que a empresa não podia mais acompanhar.

Apesar de não ter recebido um centavo pelo negócio pelo qual pagou US$ 900 milhões à americana Cargill há quatro anos, Rial e Molina dizem considerar a “venda” da Seara um bom negócio. Dos R$ 5,85 bilhões das obrigações da Seara, o Marfrig conseguiu subtrair R$ 4,1 bilhões de sua dívida líquida. O restante se refere a débitos alocados diretamente na Seara - que é uma empresa independente, explica Rial.

Caso o acordo com a JBS não tivesse saído, Rial e Molina estavam dispostos a vender ativos no exterior - como as operações da Keystone e da Moy Park para a BRF - e no Brasil, com o repasse da operação de bovinos para o frigorífico Minerva. Dentro da nova e mais enxuta estrutura do grupo, isso não faz mais sentido, segundo os executivos. Eles preparam o “Marfrig Day” para o próximo dia 21. Será uma oportunidade para analistas conhecerem os planos da empresa para os próximos cinco anos, com insights sobre a capacidade de expansão dos negócios que ficaram no portfólio.

Grupo enxuto

Com a venda da Seara, a operação de bovinos no Brasil passará a responder por 47% da receita, seguida de Keystone (28%) e Moy Park (25%). Segundo Rial, o grupo tentará mostrar ao mercado que pode ganhar mercado com a Keystone e a Moy Park, especialmente na Ásia. Nas operações nos Estados Unidos e na Europa, o foco será ampliar o número de clientes. O McDonald’s, que já respondeu por 60% da receita em território americano, hoje contribui com 40%, diz a empresa.

Molina e Rial admitem que, para sobreviver, o Marfrig precisou reduzir ambições. Na sede, em São Paulo, um andar já foi esvaziado. Sem a Seara, o número de funcionários cairá de 90 mil para 45 mil e a receita anual deverá ficar entre R$ 17 bilhões e R$ 19 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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