Tópicos | Marco Dutra

Acostumado com comédias, o público brasileiro tem a chance de conferir uma das raras produções do gênero terror genuinamente canarinha. Quando eu era vivo é um thriller psicológico, sem vilão e mocinho, mas aborda, sobretudo, a relação entre pai e filho. O novo filme de Marco Dutra (Trabalhar Cansa) homenageia o horror e tem Antonio Fagundes e Sandy Leah no elenco.

Júnior (Marat Descartes) acaba de enfrentar um divórcio e está desempregado. Sozinho, o rapaz se refugia na casa do pai Sênior (Antonio Fagundes), que divide o apartamento com Bruna (Sandy Leah), uma estudante de música. Quando retorna ao local onde viveu a infância, Júnior se incomoda com a mudança da casa. No filme, esse momento pode ser visto através de uma bela sequência fotográfica dos cômodos do local. Para evitar lembranças do passado, o pai havia escondido todos os objetos da falecida mulher. Mas com a volta do filho, as memórias voltam a amedrontar o personagem de Fagundes.

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O suspense é presente em todo o filme. Dutra insere o efeito através de uma trilha sonora instrumental, que oscila entre a calmaria e a agitação de um piano. A câmera também se torna um bom recurso. Dutra dá preferência a planos fechados em detalhes dos personagens e do cenário. O horror também é uma característica da trama, que teve roteiro baseado no livro A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, de Lourenço Mutarelli (O cheiro do ralo). Com imagens macabras feitas em vídeos caseiros, o passado retorna ao presente de Júnior, que acaba apresentando sintomas de loucura com tantas lembranças.

A grande sacada de Dutra foi trazer ao filme certas crenças que dividem opiniões entre os brasileiros. O roteiro ganha uma benzedeira e uma mãe que possui fé em imagens de cera, gerando um ocultismo durante todo o filme. Amante do horror, Dutra faz referência a clássicos do gênero como O Iluminado, livro de Stephen King que ganhou adaptação cinematográfica de Stanley Kubrick. Até mesmo o boneco Fofão aparece em cena. 

A atuação também surpreende. Marat Descartes comanda a insanidade do filme. Em oscilações de humor do personagem Júnior, o ator mostra todo seu talento como protagonista. Conhecido por seus papeis nas novelas da Globo, Antonio Fagundes retorna às telonas mostrando todo seu talento como ator. 

Sandy talvez seja a verdadeira surpresa do longa. Cantora e atriz, a artista carrega um símbolo de inocência entre as gerações dos anos 1990 e 2000. Com papéis de mocinha em novela e seriado, a atriz mostra que pode falar palavrão, “dar uma amaço” no carro, e até ser o símbolo sexual do filme. A escolha da atriz não foi à toa. A personagem Bruna também canta na trama, aliás, as músicas não aparecem como pano de fundo. Elas fazem parte do ocultismo por trás da história.

Com um final inteligente e sensível, Quando eu era vivo se torna uma das marcas do thriller psicológico brasileiro. Por ter um conhecimento vasto no terror, o diretor Marco Dutra desenvolve uma boa história. Sem falar na sua qualidade técnica por trás das câmeras, que é perceptível em todo filme.

 

 

 

 

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