Tópicos | Memória da Copa

Sem apito e sem prancheta. Longe de teorias e teoremas táticos. El Profesor não foi bicampeão mundial como o italiano Vittorio Pozzo. Ou disputou e venceu tantos jogos quanto o alemão Helmut Schön. Nem o mais jovem treinador, tão pouco o mais velho. O mal-acostumado uruguaio Alberto Supicci simplesmente não conheceu mais nada senão vitórias em Copa do Mundo.

Quase meio século depois da Guerra contra Oribes e Rosas e da batalha no Monte Caseros – travada, no Uruguai, entre Brasil e Argentina –, nascia Alberto Supicci. Em 1982, na pequena Colônia de Sacramento, de cara virada para Buenos Aires, mas separados pelo Rio da Prata. O garoto ainda via os traços dos confrontos e havia aprendido que os duelos são vencidos através de ataques.

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Alberto Supicci até tentou jogar futebol, era um meia-esquerda. Entretanto, a genialidade do uruguaio coloniense não estava nas pernas, como do compatriota montevideano Héctor Scarone. Supicci era melhor como líder. Não demorou para se tornar o treinador do Uruguai.Técnico Alberto Supicci, conhecido como El Profesor. Foto: El Grafico/Wikimedia Commons

Supicci tinha sob comando uma seleção de calibre. Bicampeã dos Jogos Olímpicos (1924 e 1928). Precisava apenas de poder de fogo e coragem para não deixar escapar o título da primeira Copa do Mundo, e em casa.

Na estreia do Mundial, diante do Peru, em  18 de julho de 1930, o Uruguai esbarrou no paredão chamado Pardón – nome, no mínimo, irônico. Os mandantes da Copa do Mundo entraram em campo no Estádio Centenário – com as obras ainda inacabadas – com direito a desfile de bandeiras e às presenças dos presidentes Jules Rimet (Fifa) e o uruguaio Juan Campisteguy. A Celeste sofreu, suou e demorou 60 minutos para balançar as redes. Castro marcou o único gol da vitória por 1x0.

O Uruguai precisava de mais ofensividade. No duelo seguinte, El Profesor a encontrou em Scarone, atleta mais velho do grupo e bastante criticado pela imprensa local. Atacante e técnico calaram as reclamações ainda no primeiro tempo da partida contra a Romênia, que havia vencido o Peru por 3x1. Aos 7, gol  de Dorado. Scarone ampliou aos 24. Anselmo dilatou a diferença aos  30. Cinco minutos depois, Cea fechou a goleada por 4x0. O segundo tempo foi apenas um passeio de qualidade e brincadeiras.

Não dava mais para segurar o Uruguai. Na partida seguinte, nas semifinais venceu a Iugoslávia por 6x1, com três gols de Cea. Na final, diante da eterna rival Argentina, Alberto Supicci teve o maior desafio. Superado com um 4x2 e de virada no Estádio Centenário, de Montevidéu, e aos olhos de 70 mil pessoas.

Em 1932, El Profesor abandonou o comando da seleção uruguaia – que dois anos depois rejeitou o convito para o Mundial da França como boicote, já que os europeus havia se negada a viajar à América do Sul na edição anterior. Alberto Supicci ainda viu sua pátria desdenhar o torneio em 1938. Quando voltou à disputa, em 1950, no Brasil, o Uruguai até chegou a empatar com a Espanha por 2x2, mas sobre os cuidados do técnico Juan Lopez.

El Profesor foi o único técnico que venceu todos os jogos disputados em uma Copa do Mundo. Dirão, “mas foram apenas quatro jogos”. Quatro vitórias, três elásticas! Talvez, resmungarão que a seleção era muito boa. A própria imprensa uruguaia reclamava do time. Fato é que Alberto Supicci foi o único treinador com 100% de aproveitamento. Hoje, dá nome ao tímido Estádio Profesor Alberto Suppici com capacidade para 9 mil pessoas, em Colonia de Sacramento.

No futebol atual, brincos, alianças e óculos não são permitidos. Mas, na década de 30, época com poucas regras no esporte bretão, casos curiosos entravam em cena. Na Copa do Mundo de 1934, vencida pela Itália, dois atletas resolveram inovar no visual. O italiano Luigi Bertolini usava faixas na cabeça. Na Suíça, Leopold Kielholz marcou três gols no Mundial usando óculos. Que estilo!

Italiano Luigi Bertolini.

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Luigi Bertolini foi um dos principais nomes da Juventus-ITA, na década de 30. Faturou cinco campeonatos italianos, de 1932 a 1936. A boa fase da Velha Senhora fez com que quase meio time da seleção italiana na Copa de 1934 fosse do time de Turim. Na Azzurra, o meia Luigi tinha um motivo nobre para as bandagens na testa. As bolas da época tinham costuras grosseiras, e costumavam machucar a pele dos jogadores no momento do cabeceio.

Já o atacante Leopold Kielholz tinha problemas de visão e, por isso, usava óculos nos jogos. Participou de duas Copas do Mundo pela Suíça, colocando a Squadra Nazionale na sétima colocação em 1934 e na sexta no Mundial seguinte. Foi o primeiro suíço a marcar pela seleção nacional na competição.

Isso sem falar no lendário Leônidas da Silva, que na Copa do Mundo da França, em 1938, marcou um gol descalço. O tento foi marcado na vitória do Brasil por incríveis 6x5 frente

 a Polônia, na primeira rodada do Mundial.

Em tempos de arenas modernas e chuteiras de última linha, dá uma nostalgia lembrar causos simplóri

 

 A modernidade, a evolução do marketing, o desejo pela venda e pelo lucro fizeram com que um simples objeto esférico, feito apenas para ser chutado, ganhasse nome e vida. Hoje, conhecemos a Brazuca, a bola da Copa do Mundo do Brasil, mas a primeira a receber alcunha foi a Telstar, em 1970, no México. Antes dela, as pelotas eram de couro, marrom e o avanço era lento comparado aos tempos atuais.

Entre 1930 e 1966, as bolas tiveram 12 ou 18 gomos, costura aparente e firme, e até cadarço. Não havia a leveza das produzidas atualmente. Pelo contrário, eram pesadas e não pegavam efeito. Na Copa da Itália, Orsi, da seleção mandante, marcou um gol com efeito. No dia seguinte, o jogador tentou por diversas vezes repetir o feito e não conseguiu. Talvez porque a bola tenha ficado torta ao fim daquele jogo.

Aquela esfera de couro começou a ganhar identidade com a chegada da Adidas à Copa do Mundo, no México, em 70. A marca alemã transformou a bola em um negócio lucrativo, e viu o torcedor criar um sentimentalismo pelo objeto. É viva na memória dos apaixonados por futebol, Pelé rolando a bola na entrada da área para o torpedo de Carlos Alberto. O capitão do tri arrematou com força a bola, que tinha 12 gomos pentagonais pretos e 20 hexagonais brancos. O modelo foi repetido quatro anos depois na Alemanha Ocidental com a Telstar Durlast.

Bolas dos Mundiais de (a partir da esq.) 1930, 1938 e 1966. Fotos: Uniformesclub (1), MDBR (2) E Ben Sutherland (3)/Wikimedia Commons


O tango, gênero musical argentino, cedeu seu nome às bolas das Copas de 1978 e 82 – na Argentina e na Espanha. Foram as últimas a serem confeccionadas em couro e eram bem semelhantes com doze círculos iguais. A diferença é que a última era mais moderna, com material sintético com costuras especiais para não ficar tão pesada nos jogos com chuva.

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Entre 86 e 98 houve pouca evolução no design. Azteca, Etrusco Unico, Questra e Tricolore distinguiam-se apenas em detalhes e cores. O grande avanço ficou guardado para 2002, na Coreia do Sul e no Japão. Na Ásia veio uma bola moderna, mais leve – criticada pelos atletas, mas elogiada pelos torcedores -, e inspirada na cultura do continente. A bola foi concebida após um trabalho de três anos da Adidas e ganhou as lojas do mundo todo.

A Alemanha, sede da empresa fabricante das pelotas, teve a Teamgeist como a estrela principal em 2006. Demorou o mesmo tempo que a última para ser criada e foi configurada com 14 gomos. Já na África do Sul a Jabulani tinha 11 cores, no entanto, ela ganhou destaque pelas críticas dos goleiros por ser ainda mais leve e com menos gomos, pronta para chutes com efeito.

Neste ano, no Brasil, a dona do jogo se chamará Brazuca. Não chegou a ser criticada, mas já é histórica. É a primeira bola a ter apenas seis gomos e é o formato mais uniforme já alcançado pela Adidas. Em seu design, seis painéis inspirados nas fitas da sorte do Senhor do Bonfim que simbolizam a paixão e alegria do futebol brasileiro. E que assim seja ao final da Copa do Mundo de 2014, com o Brasil alegre devido a conquista do hexa.

Há quase 84 anos, o mundo recebia a primeira Copa do Mundo. A competição iniciou com um mínimo de estrutura e uma porção extra de bizarrices. Dentre jogadores que atuavam com chapéu, times que só aceitavam entrar em campo com a própria bola e gols com autoria indefinida, perpetuou o boliviano Ulises Saucedo.

Comandante da seleção do País na Copa de 1930, o boliviano se destacou em outra função. Isso porque, quando a Bolívia não atuava, Saucedo estava à disposição para arbitrar os jogos do Mundial. Trabalhou em seis partidas. Foi técnico em duas e atuou na arbitragem em outras seis. Não se destacou como treinador e teve uma participação polêmica.

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Os fatos mais curiosos do jogo entre Argentina e México, em 19 de junho de 1930, foram praticados pelo boliviano. Ulises Saucedo foi o responsável pelo apito daquele confronto. Alguns dizem que a partida teve cinco penalidades máximas. À época, porém, não havia marcações no gramado. E o juiz e técnico da Bolívia errou na contagem de passos, a fez superior aos 11 metros determinados pela Fifa. O que eram pênaltis, tornaram-se faltas sem barreiras. O México ainda converteu um, mas perdeu por 6x3 para forte time de Stabile.

A simpática seleção boliviana de 1930 desembarcou no Uruguai após golpe de Estado na Bolívia. O time, que já não era tão bem preparado, entrou na Copa do Mundo ainda mais fragilizado. Na estreia, em 7 de junho, os 11 atletas da seleção comandada por Ulises Saucedo estava prontos para entrar em campo com uma mensagem e cada jogador vestia uma letra. No entanto, um dos atletas que vestia a letra “U” não pôde participar da foto e ficou registrado o: “VIVA URUGAY”. O time perdeu por 4x0 para a Iugoslávia.

Na partida seguinte, a equipe já estava eliminada. Assim como o adversário, o Brasil. E ambos entraram em campo vestindo branco. O árbitro da partida, o francês Jonh Balway sorteou quem mudaria o uniforme e a Bolívia deu azar de ser a escolhida. Para piorar não tinha um padrão reserva. Então, os bolivianos atuaram com a camisa azul – emprestada pela seleção uruguaia – perderam o jogo por 4x0.

 Os bolivianos foram eliminados. O País ainda voltou a disputar uma Copa do Mundo em 1950, quando “herdou” a vaga da Argentina. Entretanto, foi mal novamente e terminou o torneio na última colocação. A Bolívia ainda se classificou em 1994. Perdeu um jogos e empatou outro. Já eliminado, o time comandado por Francisco Azkargota foi derrotado pela Espanha na última rodada. Mas fez a nação comemorar pela primeira vez na história um gol em Mundial: Erwin Sanchez soltou uma bomba de fora da área e enganou o goleiro Zubizarreta. Os bolivianos deixaram os Estados Unidos na 21º colocação – à frente apenas de Camarões, Marrocos e Grécia –, no entanto, mais satisfeitos do que nunca.

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