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Um grupo de cientistas brasileiros desenvolveu uma nova técnica que utiliza nanopartículas para inativar o vírus HIV, tornando-o incapaz de fazer ligações com as membranas das células. Embora só tenha sido testado em experimentos in vitro, em tese o método poderia bloquear a infecção pelo vírus, segundo os autores do estudo.

O estudo foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, sob a coordenação de Mateus Borba Cardoso. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (17) na revista científica Applied Materials & Interfaces.

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Segundo os autores, a técnica ainda será aprimorada pela equipe do CNPEM, com o objetivo de desenvolver testes capazes de fazer diagnósticos mais precoces da infecção por HIV e um método inovador para eliminar o vírus de bolsas de sangue doado para transfusão.

De acordo com Cardoso, as nanopartículas utilizadas no experimento são objetos extremamente pequenos, pelo menos 100 vezes menores que a espessura de um fio de cabelo.

"Modificamos essas nanopartículas adicionando à superfície delas grupos químicos capazes de atrair determinadas partículas dos vírus, conectando-se a elas. Com esse espaço na superfície do vírus 'ocupado', ele não consegue ligar-se a receptores da membrana das células, o que seria o primeiro passo para que ele possa infectá-la", explicou Cardoso à reportagem. No experimento, os cientistas sintetizaram nanopartículas de sílica - um componente químico presente em diversos minerais - e as modificaram pela adição de determinados grupos químicos, para que as proteínas do vírus sejam naturalmente atraídas por elas.

Os cientistas então testaram a eficácia antiviral das nanopartículas para dois tipos de vírus: o HIV e o VSV-G, que causa a estomatite vesicular. Para isso, eles usaram uma cultura de células de um rim de embrião humano. As partículas do vírus foram modificadas para expressar uma proteína fluorescente, que muda a coloração das células infectadas, permitindo que os cientistas acompanhem a trajetória da infecção.

Depois de diversos testes, os cientistas infectaram as culturas de células com os vírus HIV e VSV-G modificadas para expressar a proteína fluorescente, o que permitiu observar quais células eram atingidas pela infecção. Segundo eles, as nanopartículas chegaram a reduzir a infecção viral em até 50%.

Segundo Cardoso, a infraestrutura do CNPEM foi fundamental para a realização do trabalho. O CNPEM é responsável pela gestão do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano).

"É uma estrutura única no Brasil, que não deixa nada a desejar diante dos melhores laboratórios do mundo. Isso nos permitiu fazer um trabalho de alta qualidade em uma velocidade competitiva mundialmente. Temos a vantagem de podermos transitar entre o LNLS, o LNNano e o LNBio e interagir com cientistas de alto nível em instalações que estão no estado da arte", declarou Cardoso.

Desdobramentos. Os resultados do novo estudo já deram origem a duas novas linhas de pesquisa para a equipe de coordenada por Cardoso, que envolve sete pesquisadores. Um dos objetivos agora é fazer com que a funcionalização das nanopartículas seja mais específica.

"Depois de descobrir que compostos se ligam preferencialmente ao vírus HIV, os estamos purificando para colocá-los na superfície das nanopartículas. Isso fará que elas se liguem quase exclusivamente a um receptor existente na superfície do vírus", disse Cardoso.

Segundo ele, quando o vírus liga seu receptor a uma célula, infectando-a, ela passa a expressar o mesmo receptor. As nanopartículas deverão então ligar-se quase que exclusivamente ao vírus livre, ou às células infectadas.

"Uma de minhas alunas já desenvolveu a partícula biofluorescente e, quando a nanopartícula se ligar à célula infectada, ela ficará fluorescente e saberemos imediatamente que o vírus está presente. Isso poderá servir como um diagnóstico precoce da infecção por HIV. Alguns testes não detectam inicialmente o vírus, que pode ficar incubado por seis meses. Mas se nosso método funcionar, poderemos ter um diagnóstico independente desse período de latência", explicou.

A outra linha de pesquisa derivada da técnica que usa nanopartículas, também já iniciada, servirá para eliminar o vírus de bolsas de sangue. Para isso, em vez da partícula fluorescente, os cientistas utilizarão partículas magnéticas que se direcionarão ao vírus HIV, ligando-se a ele.

"A ideia é introduzir as nanopartículas magnéticas nas bolsas de sangue. Em algum tempo, elas irão aderir apenas ao HIV e às células infectadas. Nós então aproximamos um imã e as nanopartículas e os vírus serão separadas do sangue, 'limpando-o'", disse Cardoso.

Um estudante de 16 anos de Calgary (oeste do Canadá) foi premiado nesta terça-feira pelas pesquisas que realizou sobre um tratamento que recorre a nanopartículas de ouro para matar células afetadas pelo câncer em pacientes afetados pela doença, anunciou o laboratório francês Sanofi, que promoveu o prêmio.

O estudante do ensino médio de origem indiana Arjun Nair, aluno da Academia Webber de Calgary, aprimorou a terapia por fototermia demonstrando que um antibiótico (17-AAG) permite atacar as defesas de células cancerosas com "nanoprojéteis" e tornar o tratamento mais eficaz.

Um dos problemas que diminuem a eficácia da fototermia na luta contra os tumores são as defesas destes, que produzem "proteínas de estresse" para se proteger do calor.

Nair ganhou o primeiro prêmio de 5.000 dólares canadenses (4.910 dólares americanos) na edição de 2013 do concurso Sanofi BioGENEius Challenge Canada, concedido por um comitê de pesquisadores reunidos em Ottawa na sede do Conselho Racional de Pesquisas canadense (CNRC, na sigla em inglês), chefiado por Luis Barreto, ex-vice-presidente da Sanofi Pasteur.

O estudante também recebeu um prêmio especial pelo projeto que tivesse maior potencial comercial.

O jovem passou dois anos pesquisando. Em 2012 conseguiu usar as instalações de dois laboratórios da Universidade de Calgary e receber os conselhos de seus diretores Simon Trudel e David Cramb, condições excepcionais para um aluno do ensino médio.

Ele conseguiu ainda fazer testes para demonstrar a viabilidade da terapia. Um modelo matemático também foi desenvolvido para avaliar o tratamento sinérgico no plano teórico.

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