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Presa em abril passado no bojo de uma operação contra tráfico internacional de cocaína entre Brasil e Portugal, a doleira Nelma Kodama passou a noite desta quinta-feira (20) na sede da Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Salvador após desembarcar de Lisboa. A "Dama do Mercado", que ficou seis meses detida em Portugal, passa na manhã desta sexta (21), por exame de corpo de delito e deve ser encaminhada ao Complexo Penitenciário da Mata Escura, na capital baiana.

A informação foi confirmada pelo escritório Nelson Wilians Advogados, que representa Kodama. Na quarta-feira (19), a banca informou que a doleira havia renunciado ao processo que tentava barrar sua extradição para "se apresentar e colaborar com a Justiça". "Esse é um passo importante para a apuração e esclarecimento dos fatos. Dessa forma, ficará mais fácil comprovar que ela não tem ligação com o tráfico internacional de drogas", disse o advogado Santiago Andre Schunck.

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Kodama voltou à mira da PF oito anos após ser presa na primeira fase da extinta Operação Lava Jato, em 2014. Em 19 de abril deste ano, a doleira foi alvo da chamada Operação Descobrimento, quando agentes da Polícia Federal vasculharam 46 ordens de busca e apreensão e nove mandados de prisão preventiva nos dois países.

Segundo divulgou a corporação à época, a investigação mirou numa suposta organização criminosa integrada por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar o entorpecente), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).

'Amada Amante'

Kodama se tornou conhecida ao ser presa, na primeira fase da Lava Jato quando tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros escondidos na calcinha. Em 2019, ela voltou aos holofotes depois de publicar uma foto em seu perfil no Instagram com vestido vermelho, sapato 'Chanel' e a tornozeleira eletrônica.

Outra aparição emblemática da doleira se deu durante um depoimento à CPI da Petrobras em 2015, em que cantou trecho de "Amada Amante", música do Rei Roberto Carlos para explicar como era sua relação com o doleiro Alberto Youssef.

Kodama teve extinta sua pena de 15 anos de prisão decretada na Operação Lava Jato graças ao indulto natalino concedido no final de 2017 pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).

A doleira Nelma Kodama e o seu ex-namorado, o advogado Rowles Magalhães, eram a "alta cúpula da organização criminosa" que fazia parte de um esquema de tráfico internacional de cocaína estabelecido entre Brasil e Portugal desarticulado na terça-feira, 19, pela Polícia Federal, após um ano e dois meses de investigação. Ainda segundo o delegado responsável pelo caso, Adair Gregório, os dois presos "passavam a imagem, na sociedade, de terem uma atividade lícita e bem-sucedida".

A PF deflagrou, no início da manhã desta terça-feira, uma operação que teve como alvo o tráfico internacional de cocaína. A cidade de Salvador era uma rota obrigatória. No aeroporto da capital baiana, pousavam aviões acondicionados com droga em São Paulo que voavam para Portugal. O grupo criminoso teria feito, pelo menos, cinco viagens entre os continentes.

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Batizada de "Descobrimento", a operação expediu 43 mandados de busca e apreensão a serem cumpridos em cinco Estados brasileiros. Sete pessoas foram presas preventivamente em São Paulo, Mato Grosso e Pernambuco. Outras duas pessoas foram detidas em Portugal. Entre elas, está a doleira Nelma Kodama, encontrada em um hotel de Lisboa.

Em 2014, Nelma já havia sido presa, no âmbito da extinta operação Lava Jato, com 200 mil euros escondidos na calcinha, em Milão, na Itália. Ex-namorado de Nelma, o advogado Rowles Magalhães foi preso em São Paulo.

A defesa dos dois, feita pelo advogado Adib Abdouni, afirmou ao Estadão que a prisão do ex-casal se "baseia na necessidade de que os dois se mantenham em cárcere, porque viajam frequentemente ao exterior, mas que a princípio, não há elementos para a manutenção da prisão, que pode ser substituída por medidas diversas". Nelma deve ser extraditada para o Brasil, mas ainda não há data para que isso ocorra.

De acordo com a PF, o grupo criminoso era formado por doleiros, fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação, transportadores responsáveis pelos voos e pessoas que abriam a fuselagem das aeronaves para esconder o entorpecente. As investigações para frear o tráfico internacional de drogas tiveram início em fevereiro do ano passado, quando policiais identificaram a presença de 595 quilos de cocaína escondidos em diferentes partes da fuselagem de uma aeronave. Naquela manhã, o avião apresentou panes elétricas depois de pousar em Salvador, vindo de Jundiaí, em São Paulo. O jatinho seguiria voo para Portugal em seguida.

Depois da pane, a Polícia Federal localizou os quilos de entorpecente que provocaram o problema elétrico, segundo Adair Gregório. A empresa portuguesa de táxi aéreo proprietária do avião, não é relacionada, até o momento, ao esquema de tráfico internacional de drogas. O piloto da aeronave chegou a ser ouvido pela polícia, mas nenhum vínculo entre ele e a cocaína alocada na fuselagem foi encontrada.

Tráfico continuou depois da apreensão

As investigações apontam que a responsável direta pela droga era uma facção criminosa paulista - o nome não é compartilhado pela PF. Mas o delegado Adair Gregório suspeita que haja envolvimento de outras facções brasileiras, pois a droga apreendida em fevereiro de 2021, em Salvador, estava prensada com "várias logomarcas".

"Existem alguns casos em que as drogas são exclusivas de uma facção e outros casos em que há um consórcio de pessoas que contratam a aeronave para levar a droga", afirmou o delegado.

A aeronave onde os policiais identificaram os quase 600 quilos de cocaína, um jato executivo Dessault Falcon 900, já tinha despertado a suspeita da PF em um voo que teve escala em Fortaleza, em 2020. "Ela chegou a ser abordada, mas não foi localizada a cocaína", conta Adair Gregório. A pane elétrica identificada no jatinho foi fundamental para o desmonte do grupo criminoso.

Os criminosos teriam realizado, pelo menos, cinco viagens entre Europa e Brasil para fazer o transporte de drogas antes da apreensão da PF no Aeroporto Internacional de Salvador. A capital foi escolhida como rota, afirma Gregório, pela localização territorial. "É onde os aviões costumam parar para reabastecer. Mas eles não permaneciam na Bahia por longos períodos", afirmou.

No Estado, os policiais bateram à porta de um doleiro que atuava em Vitória da Conquista. As investigações o identificaram como um dos responsáveis pela movimentação financeira do grupo. Ele seria a pessoa indicada por pagar os voos que partiam de São Paulo com destino à Europa. A PF não informou quantos e quais materiais foram apreendidos na casa dele.

A PF teve apoio, ao longo das apurações, do Ministério Público Federal (MPF), da Agência de Combate às Drogas dos Estados Unidos e da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária de Portugal.

Ex-secretário de Estado de Mato Grosso é preso

O ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso e também ex-prefeito de Glória D’Oeste, região de fronteira com a Bolívia por Mato Grosso, Nilton Borgatto, também foi preso na manhã desta terça-feira, 19, na operação "Descobrimento" da Polícia Federal. Segundo a PF, ele era uma peça curinga dentro da estrutura da quadrilha internacional.

Borgatto também era peça importante no cenário político no Estado. Antes de ser eleito prefeito por dois mandatos, ele foi secretário municipal em Porto Esperidião (2001/2008) também na região de fronteira da Bolívia. Entre 2017/2019, foi assessor especial do então vice-governador Carlos Fávaro.

Em março deste ano ele foi um dos secretários de Estado que se desincompatibilizou do cargo para disputar as eleições de outubro. E, desde então, já se declarava pré-candidato a deputado federal.

O PSD soltou nota informando que vai aguardar as investigações. O diretório do partido informa que: "tomou conhecimento das medidas judiciais contra o ex-secretário Nilton Borgato na manhã desta terça-feira (19), através da imprensa". Ainda segundo a nota, o "PSD vai aguardar o desenrolar das investigações, respeitando o direito de ampla defesa, assegurado pela Constituição Federal, antes de tomar qualquer decisão". O governador Mauro Mendes não quis comentar a prisão.

Borgatto foi preso em seu apartamento, num prédio de luxo na região central de Cuiabá. Foi ouvido no inquérito da PF e levado para exame de corpo de delito. Em seguida foi para o Centro de Custódia da capital onde aguardará audiência.

No apartamento, a polícia encontrou R$ 29,3 mil, US$ 4 mil e diamantes acondicionados em saquinhos zip lock, debaixo do colchão da cama.

O advogado de defesa do ex-secretário, Luiz Derze, afirmou que fará um estudo completo do processo para identificar qual medida judicial irá adotar. "Pode ser um habeas corpus ou um pedido de revogação da prisão", disse ele, acrescentando que "qualquer encaminhamentos que possa adotar será depois de uma análise com calma".

A força-tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná denunciou, nesta segunda-feira, 28, Célio da Rocha Mattos Neto por suposta participação em organização criminosa, operação de instituição financeira irregular, gestão fraudulenta e evasão de divisas. As informações foram divulgadas pela força-tarefa da Lava Jato.

As investigações apontaram que Rocha Mattos era o gerente de transações internacionais do grupo comandado pela doleira Nelma Kodama. Ele teria sido um dos responsáveis pela simulação de importações para países como China, Israel, Hong Kong, Itália, Taiwan, Espanha, Reino Unido, Índia e Chile "para justificar a remessa de enorme quantidade de dinheiro ilegalmente ao exterior".

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Somente no período de janeiro de 2012 a março de 2014, a organização criminosa enviou US$ 60.096.211,28 para o exterior, por meio de 1.058 operações de câmbio envolvendo empresas e offshores de fachada.

"Nelma estabeleceu uma organização criminosa especializada em operar à margem do sistema financeiro oficial, com nítida divisão de tarefas", sustenta a Procuradoria.

Segundo a denúncia, "subordinados (de Nelma) diretos e indiretos eram responsáveis pela contabilidade, criação de empresas, realização de operações internacionais e serviam como 'mulas' de dinheiro em espécie".

A Procuradoria destaca que outros subordinados da doleira, como Iara Galdino da Silva, Luccas Pace Junior, Cleverson Coelho de Oliveira, Juliana Cordeiro de Moura e Rinaldo Gonçalves de Carvalho já foram processados e condenados nos autos n° 5026243-05.2014.404.7000.

Agora o gerente de transações internacionais do grupo criminoso é o alvo de denúncia.

Várias correspondências trocadas entre Rocha Mattos, clientes e outros integrantes da organização criminosa "indicam uma participação ativa do denunciado no gerenciamento desses valores ilícitos e nas operações de 'dólar cabo' feitos pela organização".

Além do pedido de condenação à pena de prisão, o Ministério Público Federal pleiteia reparação de danos no valor de US$ 3.004.810,56, equivalente a 5% do valor total evadido.

"Essa denúncia é mais um esforço das autoridades públicas contra crimes que maculam o sistema financeiro e escondem dinheiro oriundo de diversos crimes, como o de corrupção", afirma o procurador da República Julio Noronha, membro da força-tarefa Lava Jato no Paraná.

Início da Lava Jato

Essa denúncia remete ao início da operação, quando, em 2013, investigações começam a monitorar as conversas do doleiro Carlos Habib Chater, ligado ao doleiro Alberto Youssef, investigado e processado por crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro no caso Banestado.

Por meio de grampos telefônicos, foram identificadas quatro organizações criminosas que se relacionavam entre si, todas lideradas por doleiros.

A primeira era chefiada por Chater (cuja investigação ficou conhecida como "Operação Lava Jato", nome que agora é usado para se referir a todos os casos); a segunda, por Nelma Kodama (cuja investigação foi chamada "Operação Dolce Vita"); a terceira, por Youssef (cuja apuração foi nomeada "Operação Bidone"); e a quarta, por Raul Srour (cuja investigação foi denominada "Operação Casa Blanca").

Em 17 de março de 2014, foi deflagrada a primeira fase ostensiva da Lava Jato.

Defesa

A reportagem busca contato com a defesa de Célio da Rocha Mattos Netto, mas ainda não obteve retorno.

A doleira Nelma Kodama teve sua pena de 15 anos de prisão decretada na Operação Lava Jato extinta, graças ao indulto natalino concedido no final de 2017 pelo ex-presidente Michel Temer. Conhecida como a "Dama do Mercado", ela vai tirar a tornozeleira eletrônica. A decisão foi do juiz federal Danilo Pereira Júnior, da 12.ª Vara Federal de Curitiba.

"Declaro extinta a punibilidade, ante a concessão do indulto natalino, quanto à pena privativa de liberdade imposta à executada Nelma Mitsue Penasso Kodama", escreveu o magistrado em sua decisão desta terça-feira, 6.

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"Providencie a Secretaria a desativação da tornozeleira eletrônica no sistema (SAC24), e desde já autorizo a própria executada a remoção do equipamento, responsabilizando-se, no entanto, pelo encaminhamento/entrega a este Juízo Federal, pessoalmente ou por SEDEX, no prazo de 5 dias."

A doleira foi presa no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos/Cumbica, na madrugada de 15 de março de 2014, quando tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros escondidos na calcinha.

No mês passado, Nelma Kodama publicou uma foto em seu perfil no Instagram com vestido vermelho, sapato "Chanel" e a tornozeleira eletrônica, mostrou a Coluna do Estadão.

Entre suas emblemáticas aparições, está um depoimento à CPI da Petrobras em 2015, em que cantou trecho de "Amada Amante", música de Roberto Carlos para explicar como era sua relação com o doleiro Alberto Youssef.

"Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga", disse. "Tem até uma música do Roberto Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela", disse, durante o depoimento.

Em seguida, a doleira cantarolou "Amada Amante", sucesso do Rei da Jovem Guarda em 1971.

De vestido vermelho, sapato 'Chanel', e tornozeleira eletrônica, a doleira Nelma Kodama publicou uma foto em seu perfil no Instagram, mostrou a Coluna do Estadão.

A doleira foi presa no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos/Cumbica, na madrugada de 15 de março de 2014, quando tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros escondidos na calcinha.

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Entre suas emblemáticas aparições, está um depoimento à CPI da Petrobrás em 2015, em que cantou trecho de uma música de Roberto Carlos para explicar como era sua relação com o doleiro Alberto Youssef.

"Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga", disse. "Tem até uma música do Roberto Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela.", disse, durante o depoimento.

Em seguida, a doleira cantarolou 'Amada Amante', sucesso do Rei da Jovem Guarda em 1971.

Dois anos depois de deixar a prisão em Curitiba e cinco dias antes de ver 38 imóveis leiloados pela Justiça, Nelma Kodama diz achar a venda dos apartamentos "injusta", mas que não guarda ressentimentos da Operação Lava Jato. Uma das primeiras presas na operação, a ex-doleira deseja ainda "boa sorte" ao ex-juiz federal Sérgio Moro, que a condenou a 18 anos de prisão, no Ministério da Justiça e traz ainda sugestões de nomes de Curitiba para ele compor sua equipe na Esplanada. Delegado Márcio Anselmo, responsável pela sua prisão, é um deles.

"Desejo a ele boa sorte, que consiga, de fato, prender os corruptos que saquearam os cofres públicos", afirmou Nelma, lembrando que política é "muito complicado" e diferente da magistratura.

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A ex-doleira classifica como "extremamente competentes" Erika Marena, indicada para coordenar o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, e Luciano Flores, que assume o comando da PF no Paraná. De quebra, apresenta suas sugestões.

"Acho que ele (Moro) deveria convocar o Márcio Anselmo, que tem uma expertise muito grande, principalmente em crime financeiro e é uma pessoa que admiro muito. Fica a sugestão." Anselmo foi delegado da PF responsável por iniciar as investigações da Lava Jato e pela prisão de Nelma. Outra "sugestão" da ex-detenta é Newton Ishii, o "japonês da Federal", que aposentou neste ano. "Ele é magnífico".

Conhecida pelo episódio em que cantou "Amada amante", de Roberto Carlos, na CPI da Petrobras, quando questionada sobre seu relacionamento com o doleiro Alberto Yousseff, Nelma ficou presa de março de 2014 a junho de 2016, quando fechou acordo de delação premiada com os procuradores da Lava Jato.

Os hóspedes de um hotel em Jaguaré, na zona oeste de São Paulo, talvez não saibam, mas podem estar em um quarto de propriedade de Nelma Kodama. A Justiça determinou o leilão na próxima segunda-feira, dia 10, das 38 unidades que pertencem à ex-doleira, condenada por lavagem de dinheiro, organização criminosa, evasão de divisas e corrupção ativa.

O valor de cada quarto é de R$ 152 mil - bem menor que os 200 mil euros (mais de R$ 850 mil em valores atualizados) que Nelma levava na calcinha quando foi presa pela Polícia Federal, no aeroporto de Guarulhos, tentando deixar o País, em 2014.

"No meu coração, acho que é injustiça", lamenta Nelma a respeito do leilão dos apartamentos. "Eu queria as unidades para a minha sobrevivência, para ter uma renda. No final da minha vida, eu doo", afirmou. Hoje ela cumpre pena em regime semiaberto diferenciado, no qual usa tornozeleira eletrônica.

"Ninguém assaltou, como, por exemplo, ex-governadores do Rio de Janeiro fizeram com a saúde pública. Não acumulei R$ 100 milhões, R$ 200 milhões tirando dinheiro de merenda, segurança pública. Todos os dias eu levantava e ia trabalhar".

A renda de Nelma vem hoje de sua empresa, em que atua como "personal advisor", e faz consultoria de finanças pessoais e empresariais, gestão de carreira e consultoria de imagem.

Os advogados da ex-doleira chegaram a recorrer da venda dos imóveis no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o pedido foi negado pelo ministro Edson Fachin. Até o fim da semana, pretendem entrar com um novo recurso na Corte.

A defesa pede que passem a valer os termos da primeira delação de Nelma, fechada com a Polícia Federal - em que ela poderia ficar com os apartamentos do prédio no Jaguaré e com o apartamento em que vive.

Por causa do imbróglio entre PF e Ministério Público, a doleira fez um segundo acordo, em que os imóveis seriam leiloados, mas posteriormente, o Supremo decidiu que a PF também poderia fechar acordos de colaboração.

O valor inicial dos apartamentos, cobrado na primeira etapa do leilão, nesta terça-feira, 4, era de R$ 190 mil. Mas como apenas uma unidade foi vendida - para um morador de Brasília -, os outros podem ser arrematados por R$ 152 mil no site do leiloeiro, na próxima segunda-feira. As unidades do apartamento tampouco serão suas primeiras: em 2015, um Porsche branco de Nelma foi a leilão, pelo valor de R$ 200 mil.

Depois de dois anos atrás das grades, de rebolar e cantar Roberto Carlos, em rede nacional durante interrogatório da CPI da Petrobras, a doleira Nelma Kodama voltou nesta segunda-feira, 20, para sua casa, em São Paulo. Conhecida como a "Dama do Mercado", ela fechou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato e deixou hoje a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e colocou uma tornozeleira eletrônica.

Figura emblemática do escândalo Petrobras, Nelma foi presa em 15 de março de 2014 tentando embarcar para a Itália com 200 mil euros escondidos na calcinha. Condenada no mesmo ano a 18 anos de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro, pela lavagem de R$ 221 milhões em dois anos e enviado para o exterior outros de U$S 5,2 milhões por meio de 91 operações de câmbio irregulares, ela anunciou publicamente, em maio de 2015, que faria delação.

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"Eu sou doleira, comprava e vendia moedas no mercado negro. E isso vai constar no termo de colaboração que estou firmando", afirmou a doleira, em abril de 2015, quando deputados da CPI da Petrobras - que agora é investigada pelo recebimento de propinas - visitaram Curitiba, para ouvir os alvos presos da Lava Jato.

Ex-namorado do doleiro Alberto Youssef, figura central da Lava Jato, e de outros doleiros investigados pela Polícia Federal, Nelma cantou trecho de uma música de Roberto Carlos para explicar aos deputados da CPI, no dia 12 de maio, como era sua relação afetiva. "Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga", disse. "Tem até uma música do Roberto Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela."

Em seguida, a doleira cantarolou ‘Amada Amante’, sucesso do Rei da Jovem Guarda em 1971.

Na mesma audiência, a "Dama do Mercado" negou que tivesse tentado fugir do País, quando foi presa embarcando para a Itália e explicou que os euros não estavam na calcinha. "O dinheiro estava no bolso e não na calcinha", disse a doleira, que levantou da cadeira para exibir os bolsos de trás da calça aos parlamentares.

Dolce Vitta

Nelma é alvo da primeira fase da Lava Jato, que apurava uma quadrilha de doleiros usada pelos familiares do ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010, para lavar parte dos R$ 4 milhões que ele teria recebido de propinas no mensalão.

Em seus e-mails e mensagens interceptados pela PF, Nelma gostava de usar pseudônimos como Greta Garbo, Cameron Diaz e Angelina Jolie. A operação que a tinha como alvo foi batizada de Dolce Vitta.

Em depoimento prestado a Lava Jato no dia 1.º de setembro de 2014, a "Dama do Mercado" afirmou que queria contar toda a verdade porque era uma mulher com os dias contados para morrer. Ela se diz doente e afirma que passou por 20 cirurgias nos últimos anos.

As revelações da doleira podem abrir os focos de investigação da Lava Jato. Nelma confessou que fazia operações de câmbio para comerciantes da 25 de Março, principal centro do comércio informal de São Paulo.

Ouvida pela CPI da Petrobras em Curitiba, onde está presa, a doleira Nelma Penasso Kodama disse, nesta terça-feira (12), que não participou da operação de desvio e lavagem de dinheiro da Petrobras em benefício de partidos políticos. Quando perguntada quem comandava o esquema, ela preferiu não responder. “Vou me reservar o direito de permanecer calada”, disse ela, que repetiu a mesma frase quando os deputados questionaram sobre a participação de políticos.

Embora tenha negado envolvimento no caso da Patrobras, Kodama confirmou que operava esquemas ilegais no Brasil. "Eu sou doleira, comprava e vendia moedas no mercado negro. E isso vai constar no termo de colaboração que estou firmando", disse. Ela reconheceu os crimes, mas reclamou da pena imposta. “Eu não me sinto injustiçada, mas não concordo com a dosimetria da pena”, disse aos deputados da comissão.

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Ela foi condenada pelo juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, a 18 anos de prisão e multa por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Estima-se que ela movimentou R$ 221 milhões em dois anos, inclusive enviando para o exterior cerca de U$S 5,2 milhões por meio de 91 operações de câmbio irregulares.

O interesse da CPI sobre a atuação dela é porque ela foi companheira do doleiro Alberto Youssef, um dos principais investigados da Lava Jato, entre 2000 e 2009. Nelma foi usada por Youssef em movimentações financeiras. "Eu intermediava as operações de cambio, que é a de dólar-cabo, que é a evasão de divisas e eu estou confessando”.

Conhecida como 'Dama do Mercado', ela usava pseudônimos como Greta Garbo, Cameron Diaz e Angelina Jolie. Presa em marco do ano passado, quando tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros escondidos sob a roupa, ela negou que estivesse tentando fugir do país. "O dinheiro estava no bolso e não na calcinha".

Sobre a atuação como doleira, ela disse que não achava errado.  “Eu não via que estava fazendo nada errado. Era como compra e venda de dólares. A operação feita do doleiro acontece por causa dos impostos envolvidos no pagamento de empresas no exterior. Eu não achava isso errado porque achava os impostos muito altos”, declarou. "Quando um importador compra uma mercadoria na China, por exemplo, parte do pagamento é feito pelo Banco Central e ele usa o doleiro para pagar o que é por fora, sem impostos, que geralmente é 60% do total”, explicou.

Kodama não respondeu a muitas das perguntas dos deputados por estar negociando uma delação premiada.

Bancos

A doleira disse ainda que a corrupção acontece por falha do mercado financeiro e que envolve bancos, outras instituições financeiras e até o Banco central. "O dinheiro [usado nas operações fraudulentas] vinha das próprias instituições financeiras, dos bancos. Do Banco do Brasil, por exemplo, na agência de Rio Branco", disse, que pretende detalhar mais o envolvimento dos bancos na delação.

Kodama foi a primeira pessoa a ser ouvida nesta terça pela CPI. Nessa segunda (11), Youssef disse que o conhecimento do Palácio do Planalto - em referência à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula - sobre o esquema de corrupção na Petrobras é uma assunção dele. "A opinião é minha, agora, provas, eu não tenho", disse aos parlamentares.

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